domingo, 29 de abril de 2007

OUTRO LIVRO
(antes que o mês acabe)


Definitivamente eu não tenho mais o que fazer. Então: aos livros!
Por sorte eu ando garimpando alguns de ótima qualidade e baratinhos, senão eu teria ido à bancarrota. Digo isso pela coleção que estou comprando em pequenas doses e começando a ler. Os preços variam de R$4,90 a R$6,90 e só tem clássicos do pensamento universal. Um dos melhores, ou pelo menos o que me deu mais prazer de ler até agora foi Belfagor, O arquidiabo /A Mandrágora. Não tinha idéia ainda de que Maquiavel pudesse ser tão divertido. Usa de extremo bom humor para fazer apontamentos e críticas à sociedade machista medieval e às hipocrisias do clero, através das histórias do arquidiabo Rodrigo, que vem à Terra para experimentar as agruras do casamento e do caso do moço que usou de vários artifícios para conquistar uma mulher casada. É o tipo de livro que se leva uma hora para ler (já que não dá vontade de parar) e quando se termina, quer começar de novo.

Belfagor , O arquidiabo / A Mandrágora
Autor: Maquiavel
Páginas: 130
Editora: Escala

sexta-feira, 27 de abril de 2007

MEU LIVRO DO (mesmo) MÊS

Não adianta, esse é pra fã mesmo! Fã do Verdão, fã de futebol, fã do Mário Prata e fã de um bom conto.
Palmeiras - um caso de amor, mistura, com um ótimo bom humor, a história do time com a história de um casal que tinha tudo para dar errado. Ela, palmeirense, filha de outro palmeirense doente, se apaixona por um corintiano. Só que, para ficar com ela e conquistar a confiança do sogro, o "gambá" tem que se passar por palestrino. Já viram esse enredo em algum lugar? Pois foi esse conto que inspirou o filme "O casamento de Romeu e Julieta".
Para quem não tem o bom gosto de ser palmeirense, o livro vale pelo autor.

Palmeiras - um caso de amor
Autor: Mário Prata
Páginas: 120
Editora: Ediouro

quinta-feira, 26 de abril de 2007

O ROMANTISMO QUE GARÇA AINDA INSPIRA


“Me dá um beijo então, aperta minha mão. Tolice é viver a vida assim, sem aventura. Deixa ser pelo coração. Se é loucura então melhor não ter razão”
(“O último romântico”- Lulu Santos)

Só mesmo os ares de Garça para me fazer escrever sobre um tema sobre o qual eu nunca havia arriscado nem uma linha: romantismo (e não me refiro ao estilo literário, o que acho que seria até mais fácil). Depois de ter falado tanto do Lula, do Alckmin, do Palmeiras, da Língua Portuguesa, sobre “santidade” e de passagens e lugares memoráveis da cidade nos anos 80, acho que só estava faltando falar sobre pequenas histórias românticas e inocentes que vi e ouvi em Garça. Quem me deu essa dica foi um amigo de longe, que conheço apenas virtualmente, já que ele acompanha as notícias da nossa cidade através da internet (assim, no site do jornal Comarca, ficou conhecendo meus escritos). Não o chamo de senhor porque ele conserva um espírito jovem, e assim tomo a liberdade de chamá-lo simplesmente por Juca. Nascido em Tapiratiba (divisa de São Paulo com Minas Gerais), passou, com a família por várias cidades até desembarcar aqui no “sertão”- a Alta Paulista era assim chamada.

Juca, que como eu, tem um carinho enorme por essa terrinha, me mandou alguns relatos sobre como era Garça entre o final dos anos 40 e metade dos anos 60 – época em que viveu aqui, entre idas e vindas por motivos de saúde e trabalho. Tempos em que, com a proximidade do Natal, o comércio ficava aberto até a meia-noite, tempos de “muito trabalho, muitas loucuras, muitos bailinhos, muito futebol, muitos namoros”, como ele mesmo escreveu. Respondi-lhe que assim que li suas histórias, foi como se eu tivesse sido transportada para uma daquelas novelas de época, bem românticas, com uma inocência que quase não se vê mais hoje. A cada passagem relatada, imaginava moças com vestidos rodados e rapazes com brilhantina no cabelo, flertando à porta do Cine São Miguel; a praça Pedro de Toledo – lugar de encontros e desencontros – lotada. Minha mãe e minhas tias contaram que nessa praça havia o footing: moças andavam circulando a fonte em um sentido e os moços, no sentido oposto. Assim, a cada volta, quando se encontravam, podiam trocar olhares, ou, dependendo do caso, um papelzinho de bala amarrado. Esse papelzinho era como um código e só era dado se a paquera estivesse surtindo efeito. Hoje, algo do gênero acontece em torno no lago, mas no lugar de um inofensivo papel de bala, as moças escutam cantadas furadas de elementos que colocam o som do carro lá nas alturas.

Achamos por bem deixar de lado os nomes das “personagens”; mais importante do que citar essa ou aquela pessoa é poder nos remeter às pequenas aventuras desses tempos – dos quais tenho saudades sem ao menos tê-los vivido. Porém vivi, e creio, muito bem vividos, os anos 80 e 90 – assim me lembro de pequenas passagens cujos protagonistas eram meus primos e amigos. Passeando pelas histórias do Juca, não pude deixar de traçar um paralelo entre essas épocas. Deve ser mal de gente saudosista. Era uma vez, numa Garça mais romântica...
Casais surgiam e acabam no cinema. Juca contou que uma vez, sem intenção, um “certo rapaz” deixou sua namorada plantada na frente ao Cine São Miguel, porque foi do outro lado da rua conversar com uma ex – que apesar de ser ex, ainda era sua amiga. O namoro acabou ali. Esse rapaz havia trabalhado numa tipografia na Rua Heitor Penteado e por ali, às vezes passava uma outra ex-namorada sua. E como parecia ser costumeiro na época, não era necessária a comunicação verbal, apenas alguns olhares e acenos bastavam. Eles não estavam mais juntos, mas ela permaneceu presente por algum tempo. Depois, soube-se que a tal moça havia se casado. Mais uma vez a fachada do Cine São Miguel serviu de cenário, quando, passeando como dois pombinhos, a moça e o marido encontraram o tal rapaz, pensativo, refletindo sobre que rumo tomar na vida. Mesmo com o marido torcendo o nariz, a moça foi cumprimentar seu ex. Típico encontro inesperado para se guardar com carinho. Sem querer ser trágica, mas isso acontecesse nos dias atuais, poderia até sair briga.

Alguns anos depois, quando eu era pré-adolescente e quando havia a iminência de o cinema ser fechado, umas primas minhas e algumas amigas foram assistir à sessão de domingo à noite. O filme não poderia ser mais bobo: “Querida, estiquei o bebê”. Até hoje me recuso a acreditar que elas pagaram para ver aquilo. Eu não quis ir, achei que seria desperdício de tempo e dinheiro, mas perdi a chance de dar umas boas risadas do que elas passaram. Mal viram o filme, já que um grupo de meninos, colegas nossos, não as deixavam em paz, era um tal de cutucar, puxar cabelo, fazer barulhos estranhos e jogar pipoca. Acho que era o jeito dos pré-aborrecentes paquerarem.

Aliás, certos sujeitos têm meios estranhos para conseguir uma aproximação. Digo isso por causa de uma das minhas “leis”, uma coisa que sempre tive na cabeça – sobretudo no carnaval - e que nunca quebrei, minha mãe já dizia e aconselho às demais moças: nunca namore, paquere ou sequer troque idéias com um cara fantasiado de mulher, palhaço ou neném. É passar ridículo à toa. Só que um primo meu, muito animado e falastrão, que vivia em Goiás, lá pelos anos 80, e que fazia questão de vir a Garça todo carnaval, conseguiu ficar com uma moça, mesmo estando vestido de neném. Com direito a mamadeira, gorrinho e fralda. Até hoje isso rende assunto na família! Ele costumava burlar a vigilância do Tênis para entrar de graça. Certa vez chegou até a entrar pela janela do salão de berimbau, aquela alta, da lateral. Falando em Tênis nos anos 80, uma amiga conta que, nas férias, costumava-se fazer esses berimbaus praticamente todos os dias, de terça a domingo. O clube estava sempre cheio. Muitos jovens que viviam em outras cidades, principalmente em São Paulo, vinham para cá para rever os parentes e à noite, davam a Garça um movimento diferente. Os (e as) jovens garcenses parece que ficavam atiçados quando viam placas de fora e caras novas. Batia a curiosidade, a vontade de se enturmar e fazer amizade. Muitos namoricos começaram a acabaram ali também. Creio que muitos deles devem ter durando apenas alguns bailinhos.

Daí, no meio dos anos 90, quando chegou a minha vez de freqüentar berimbaus, eles aconteciam somente aos sábados. Minhas primas e eu só podíamos ir dois sábados não e um sim e ficávamos no máximo até as 2:00. Como ninguém da nossa turma ainda não dirigia, nossos pais revezavam para nos buscar a porta do Grêmio. Também já não havia pessoas de fora entre nós. Eram sempre as mesmas caras, geralmente as mesmas que encontrávamos na escola na segunda-feira. Mas nem por isso era menos divertido. E ainda posso afirmar, que mesmo tendo sido isso nos anos 90, as situações ainda preservavam uma certa ingenuidade. Como já mencionei certa vez, para um menino tomar coragem para conversar com alguma menina, levava muitos berimbaus. E como nós tínhamos aquele sistema de “2 não, 1 sim”, a dificuldade e a expectativa eram ainda maiores. Houve uma época em que o DJ do Grêmio lia ao microfone os bilhetinhos que as pessoas deixavam na mesa dele. A gente se divertia muito tentando adivinhar, através dos recados lidos, quem estava a fim de quem.

Isso me lembra do finado Correio Elegante. Será que isso ainda se usa hoje em dia? A última vez que tive notícias de um Correio Elegante foi em 1994, na minha 8º série, numa festa junina no Grupão (ou João Crisóstomo, como queiram). Uma menina que fazia o tipo “a mais popular da escola” mandou um bilhetinho desses, em forma de coração, para um namoradinho que eu tinha. E na minha cara! Hoje eu rio disso, mas na hora eu fiz o menino rasgar o bilhete em mil pedacinhos. Mas houve um período em que o jornal Folha de Garça publicava recadinhos. Era uma página inteira, só com mensagens de amor, amizade e congratulações, que as pessoas deixavam lá durante a semana. E na rádio Centro Oeste FM, as sextas-feiras eram o “Dia do Ouvinte”. Passávamos as tardes na cozinha da casa das primas fazendo pipoca e bolo, ouvindo a programação e telefonando para a rádio para oferecer músicas e recados.

O Juca ainda contou um caso de um moço amigo seu que queria terminar o namoro, mas não sabia como. Então bolaram o seguinte plano: esse moço combinou um encontro com a namorada, mas, propositalmente, antes que ele chegasse, o Juca devia chegar no lugar do encontro primeiro e, com uma desculpa qualquer, puxar conversa com a moça. Assim, quando o moço chegasse, ele poderia se fazer de ofendido e teria uma boa razão para terminar. Foi assim que aconteceu. Já minhas amigas, quando queriam descobrir alguma mentirinha de certos meninos bobos, usavam a abençoada invenção de Graham Bell, e por nossa sorte quase ninguém ainda tinha identificador de chamadas. Passavam uns trotes, fingindo ser outras meninas interessadas neles. Tudo bem comportado, como: “aonde você costuma ir?”, “onde você estuda?”, “você está a fim de alguém?”. Se algum caísse na conversa, era sinal para que elas já se desencantassem e mandassem o sujeito passear. Essas turminhas a que me refiro (nós e as vítimas desses trotes, entre eles o fulano do Correio Elegante) ainda permaneceram amigas por um tempo, até que cada um seguisse seu caminho – alguns até já se casaram. Lembro-me que toda essa molecadinha costumava andar de bicicleta nos sábados e domingos à tarde e se encontrar na frente do Banco Bradesco. Tínhamos entre 13 e 14 anos e mal sabíamos o significado das palavras paquera e namoro, estávamos ocupados demais sendo apenas “moleques”, discutindo, fazendo intriguinhas e nos zoando mutuamente.

Hoje não temos mais o Cine São Miguel, não há mais berimbaus, ninguém sabe o que é um footing, não se escrevem mais bilhetes e quase ninguém mais freqüenta praças. Agora pré-adolescentes querem passar logo dos 13, 14 anos. Parece que têm pressa para queimar uma etapa tão divertida para pôr em prática o “ficar”. Não se conquista mais com uma conversa interessante, mas sim levantando o som do carro. Frases importantes dão lugar a torpedos. Antes, voltava-se para casa às 2:00, hoje muitos estão saindo nesse horário. Tantas mudanças em tão pouco tempo. Tanto no comportamento das pessoas quanto na cidade. Acho que até a metade da década de 90, mesmo nossos amigos que dirigiam, faziam questão de curtir as coisas de Garça. Lembro-me das festas do Grêmio, dos carnavais, dos bailes de Aleluia (ainda se respeitava a quaresma, pois não saíamos nesse intervalo), dos bailes de aniversário do Tênis. Era muita coisa, tínhamos que ficar programando aonde ir e quando ir, para não “gastar” nossas saídas (o velho esquema “2 não, 1 sim”). Depois, quando foi nossa vez de aprender a dirigir, as pessoas começaram com o vício de ir para outras cidades. Bastava um tirar a carta de motorista para sumir de Garça. Marília e Bauru são os principais destinos. E não condeno quem tem essa mania, só acho triste ver como Garça deu uma esvaziada.

Quem não quer pegar o carro, vai para a internet. Foi o que eu fiz durante um bom tempo. As praças passaram a ser virtuais. Conversava com amigos pelo teclado, em pleno sábado à noite. Será que custava muito a gente sair de casa e nos encontrar de verdade? E o desânimo? Reclamávamos que em Garça já não tinha mais nada, mas compactuávamos com isso. Triste demais. Acho que se alguém daqueles bons e velhos tempos de “Garça cheia” visse isso, ficaria doente. Mas aí parei com essa bobagem. As últimas “artes” de que me lembro, são de quando eu saía com uma prima e umas amigas, entre 97/98, de carro, para roubar rosas. Roubar é feio. Pegávamos emprestado permanentemente sem avisar. O detalhe é que as rosas eram para os pretendentes DELAS e quem tinha que fazer o serviço sujo era EU. Faço de conta até hoje que elas me escolhiam para essas missões porque me achavam mais rápida, mais habilidosa, mais esperta e até mais cara-de-pau. Que Deus tenha me perdoado, mas até o jardim da igreja Matriz nós andamos cobiçando. Mas os guardinhas e os cachorros sobravam para mim. Mas tudo tem sua fase. Houve o tempo das moças de vestido nas praças, das caminhadas em torno da fonte, dos encontros na frente do cinema. Houve o tempo em que o pai da moça mandava o irmão sair junto com o casal para vigiar o namoro e depois passar o “relatório” em casa. Houve o tempo dos berimbaus, dos trotes engraçados, das tardes de pipoca e bicicleta. Houve o tempo em que minhas amigas me incumbiam de pegar flores alheias. Gostaria de saber o que os adolescentes de agora têm para contar de Garça. Será que nossa cidade ainda inspira algum romantismo? E não me refiro apenas à relação de namorados, mas de amigos, de relacionamentos fraternais.

Pode parecer coisa de gente “velha” ou tradicionalista demais, mas faço parte da resistência: fico sempre por aqui. Não vou mais a bailes, não suporto mais carnaval e não mexo mais em jardins. Só que pouca gente leva a sério quando digo que ainda freqüento praças em noites madrigais com o namorado. E ainda gosto de andar a pé (e não tem a ver com o fato de eu ser uma péssima motorista) e contemplo as tardes no lago. Não sei se para os outros, Garça é sinônimo de romantismo, mas para mim continua sendo. Não só pelo que passou, mas por hoje também. Acho que enquanto tivermos o lago, as cerejeiras, bancos de praça e turmas de amigos que apreciem uma reunião com vinho, um bom filme e boa conversa, sempre teremos romantismo nessa cidade.
Sinceramente não importa se é a Garça do Juca, a Garça dos meus pais, a Garça dos meus primos, a Garça da minha turma ou a Garça dos que estão chegando agora. Sei que sempre vou gostar muito de todas elas.
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Veridiana Sganzela Santos (sganzela@yahoo.com.br) é jornalista, palmeirense, uma eterna saudosista e apaixonada por essa cidade e membro da APEG (Associação de Poetas e Escritores de Garça)

sexta-feira, 13 de abril de 2007

MEU LIVRO DO MÊS

Já que eu não tenho mais nada de útil para fazer, só me resta ler!
Resolvi começar a deixar aqui umas indicações de livros a quem interessar possa. Mas não pensem que só porque eu disse "do mês" que religiosamente todo mês vai ter um livro comentado aqui. Pode ser que eu leve mais de trinta dias para acabar com um livro. Ou não. Só não posso prometer regularidade. E já que em "Como é que chama o nome disso?" eu citei a obra do Alberto Villas, eis a carinha do filho dele. Ótimo, leve, bem humorado. Não dá vontade de parar de ler. É praticamente um inventário de coisas, produtos, brincadeiras, programas de TV, costumes, roupas, comidas e outros ítens de décadas passadas. Bom para saudosistas, curiosos e afins.

O Mundo Acabou!
Autor: Alberto Villas
Páginas: 299
Editora: Globo
"COMO É QUE CHAMA
O NOME DISSO?" *
A bizarrice é tanta que eu prefiro ir direto ao ponto: no dia 13 de março, uma menina sueca de 6 meses foi batizada como Metallica. Como diz uma amiga minha: tirando o cartão de crédito de uns e outros, tudo nessa vida tem limite! Por mais que eu goste de Metallica, acho que daria um nome desse, no máximo, para uma cachorra ou gata. O casal, que vive no condado de Gotenborg, pôde batizar a filha, mas ainda não conseguiu convencer as autoridades do local a providenciar os documentos da criança. Representantes do governo alegam que a menina vai ser alvo de piadas e que não é bom que ela seja associada à banda. O pai acha que isso não passa de implicância porque as pessoas acharam o nome feio. Além disso, já existe outra Metallica na Suécia. E esses pais achando que foram criativos... Seja como for, não existem mais nomes normais hoje em dia?

Estou começando a proferir frases como “no meu tempo não era assim...”, e isso assusta. Mas realmente, no meu tempo Metallica e Creedence Clear Water eram apenas nomes de bandas de rock. Sou da geração de Vanessas, Rafaéis, Rodrigos, Andrés, Tatianas, Carolinas, Fernandas, Fabrícios. Nomes normais, simples e bonitos. Nomes com raízes, com significado, com origens latinas ou gregas. Nomes que não nos levam a perguntar “como é?”. Li a notícia desse batizado por acaso, passeando pela internet. Caí no Fórum da Rock Brigade e li outros exemplos de pais que judiaram dos filhos: No nordeste (e isso deu no Fantástico) um menino foi brindado com o nome de “Roléston”, em homenagem aos velhinhos Rolling Stones. Essa acho que muita gente sabe: o jogador Odivam tem esse nome por causa do pai, fã da música do Roberto Carlos, “O divã”. Na cidade de Ipitanga (BA) tinha um garçom chamado Óxito. A mamãezinha dele estava pensando em quê? Na capital dos Estados Unidos. Se lembram do jogador Capitão que passou pela Portuguesa e pelo São Paulo? Foi batizado de Oliúde. Já mataram a charada? Elementar: Hollywood! Certa vez, na faculdade conheci um Rock. E ele ainda teve que explicar: não é Roque, é Rock mesmo!

Além do mundo da música e entretenimento, temos os elementos da natureza. Quem já não viu um filho de hippie com nome de Orvalho, Cristal, Manhã? Eu já conversei com uma Raio de Luar. Romântico, mas nada prático. Houve um tempo em que os órgãos públicos desse país eram muito permissivos, o que acabou por originar uma onda de “Máicon” Jacksons, Lady Dis e Hitlers. Imaginem, Hitler! Para começo de conversa, isso nem nome é. Assumo que sou “das antigas” e não sei se lamento ou se fico aliviada por saber que não é só brasileiro que tem um dom especial para escolher certos nomes.

O curioso é que nessa mesma semana li o livro do jornalista Alberto Villas, “O mundo acabou!”. Uma ótima pedida para os saudosistas dos anos 50/60/70 e indicado para pessoas – como eu – que têm saudades de um tempo que não viveram. Em uma das passagens do livro, ele comenta: “Não nasce mais Valdir nesse mundo. O último Valdir de que tenho notícias nasceu há cinqüenta e poucos anos...”. Pelo menos eu sei que não lamento sozinha o sumiço dos nomes normais, inofensivos, discretos. E antes que me venham com aquele discurso clichê de que vivemos em uma democracia e as pessoas são livres para escolher os nomes de seus rebentos, peço que leiam, se possível, uma lista de chamada escolar ou um daqueles cadernos de votação (onde o eleitor tem que assinar antes de ir para a urna) e saberão do que estou falando. Ninguém é dono da verdade, nem todos gostam das mesmas coisas e o que pode ser bonito para mim, pode ser feio para você, mas convenhamos: Creedence, Roléston, Odivam? O que houve com Mário, César, Jorge? Soam como nomes de senhores. Mas pense: seu filho, um dia, vai ser um senhor.

No livro, o Alberto Villas ainda diz: “Existem nomes de uma pessoa só. Você conhece outro Fagner? E um segundo Djavan?”. Não sei de outro Djavan além daquele cantor que eu adoro, mas conheço outro Fagner sim – meu amigo da APEG – e acho um barato saber dessas raridades. Raridades que não deveriam ser. Tipo Vicente! Tirando a cidade do litoral, eu só conheço um Vicente (um amigo corintiano sofredor). Só conheço uma Lúcia, uma Lígia, uma Cinira, uma Isaura – minhas tias. Acho que do final dos anos 80 para cá houve uma invasão de “inglesinhas e francesinhas” nos cartórios.

Futuros pais ponham a mão na consciência e pensem que um nome traz toda uma carga de significados e pode até dizer muito sobre a personalidade de uma pessoa. A mãe da Metallica usou esse discurso para justificar sua escolha: disse que o nome era ideal porque a menina já era decidida e sabia o que queria. Bem, até onde sei, os integrantes do Metallica não foram 100% do tempo decididos e questionaram várias vezes se a banda deveria chegar ao fim ou não. Ainda bem que não chegou. Mas essa onda de homenagens exageradas pode estar com os dias contados.

Já que é para homenagear com música, então que peguemos exemplos de algumas do legionário Renato Russo: Clarisse, Andrea, Maurício. Aliás, faço minhas as palavras desse poeta: “Meu filho vai ter nome de santo. Quero o nome mais bonito...”.
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* “Como é que chama o nome disso?” é o título de um livro de Arnaldo Antunes
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Veridiana Sganzela Santos (sganzela@yahoo.com.br) é jornalista, palmeirense, torce por um mundo livre de nomes esdrúxulos e é membro da APEG (Associação de Poetas e Escritores de Garça).