quinta-feira, 6 de março de 2008

MAIS 4 ANOS DE FARRA NA TERRA

O mundo vai acabar. Acho que disso muita gente desconfia, mas e a data? Dessa vez parece que vamos para o andar de cima – ou de baixo – no dia 21 de dezembro de 2012. Fiquei surpresa quando li isso, sem querer, procurando por sinopses de documentários na TV paga. Na semana passada o The History Channel exibiu mais um episódio da série “Decifrando o Passado”, desta vez falando sobre os “novos” palpites sobre o fim dos nossos dias na Terra. As teorias vêm de várias fontes, como o calendário maia, a Bíblia e o oráculo chinês. Na verdade fiquei mais irritada por ter perdido o documentário do que com a chegada do fim do mundo.

De acordo com a Wikipedia (um tipo de enciclopédia virtual super resumida para preguiçosos), o caso é o seguinte: “No dia 21 de Dezembro, final do Calendário maia, há rumores que haverá o Apocalipse ou juízo final. Os rumores indicam que a Terra e o Sol se alinharão com o centro da Via Láctea, onda há um enorme buraco negro, com isso o eixo da Terra mudará e o clima irá mudar, haverá muitos terremotos, enchentes e outras catástrofes. Cientistas já confirmaram que o alinhamento realmente acontecerá, só resta saber se o mundo irá mesmo entrar no juízo final”.

Aliás, até hoje eu tento entender que fascínio é esse que o juízo final exerce sobre as pessoas. É uma mistura de medo com um prazer estranho e curiosidade. Lembro que minha avó contava que já na sua juventude havia esse temor/encantamento por tal assunto. Já chutaram inúmeras vezes a data do último dia e numa dessas, um avião a jato cruzou o céu deixando aquela característica trilha de fumaça no céu. Pronto, o pânico estava instalado! Minha avó disse que muita gente se assustou, inclusive ela – aviões a jato eram ainda novidade, eram praticamente desconhecidos. Já saíram por aí falando que o céu estava se rasgando. Eu acho que as pessoas gostam de ter medo, deve haver alguma satisfação misteriosa no frenesi generalizado.

De tanto assistir reportagens a esse respeito, confesso que me deixei impressionar também, e já sonhei (ou melhor, “pesadelei”) várias vezes com o fim do mundo, com aquela cena clássica de um céu avermelhado de onde caíam enormes bolas de fogo, pessoas correndo apavoradas; um vendaval empoeirado, seco e quente levantava carros e destelhava casas... Se o juízo final vai realmente ser desse jeito, eu não sei, só sei que já vi essa cena demais e não estou a fim de ver ao vivo. Além disso, para que temer tanto o final dos tempos? Ainda temos mais quatro anos para aproveitar. E isso de dizer que quatro anos passam depressa é relativo: dentro desse tempo dá pra fazer uma faculdade, aprender novos idiomas, viajar bastante, fazer novos amigos, morrer de amor e dar a volta por cima, adotar um animal perdido, fazer trabalho voluntário, renovar a fé em Deus (ou seja lá qual for o nome que você queira que Ele tenha), escrever pelo menos uma poesia, descobrir qual o seu signo ascendente, passear sob a chuva, fazer luau, finalmente perceber que dinheiro não compra tudo, fazer uma tatuagem, perder a vergonha de dançar, reencontrar amizades do passado, ter a coragem de trocar um emprego rentável mas monótono pela carreira dos nossos sonhos – ainda que os lucros não sejam aquelas maravilhas, entender as loucuras de Nietzsche, formar uma nova família... Dá pra se fazer tudo aquilo que nos dê a impressão de que essa conversa de fim de mundo não passe de pura especulação.

Talvez as pessoas precisem acreditar que um dia todo mundo será julgado, como se fosse em um tribunal; que Deus, lá do alto de sua magnitude, vai apontar o dedo no nosso nariz e jogar na nossa cara todos os nossos deslizes, nossas faltas, omissões e pecados e, em seguida, vai nos aplicar castigos crudelíssimos. Não confundam! Esse não é Deus, é Zeus. Não precisamos ficar imaginando e temendo que no dia 21 de dezembro de 2012, ou seja lá que dia for, todos nós vamos presenciar o mundo se acabar. Não creio que sejamos julgados e condenados especialmente nesse dia. Somos testados a todo instante, todos os dias temos chances de nos fazer melhor. Não precisamos esperar o fim do mundo se aproximar para sermos bonzinhos e nos arrepender daquilo que fizemos ou deixamos de fazer. E tem mais: todo bonzinho é tonto. Tirem o “zinho”, sejamos simplesmente bons.
Além do que, a Terra não vai morrer de morte súbita. Ela está morrendo lentamente. Não vai ser de morte “morrida”, vai ser de morte “matada”.