quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

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HÁ FÉRIAS E FÉRIAS...

Me disseram que seria interessante se eu falasse sobre as férias. Eu até gosto, mas não de todas. Existem as férias que eu não quero mais, mas ainda vou falar sobre elas. Vou começar pelas boas, das que sinto saudades e que, de alguma forma, contribuiram para fazer de mim um pouco do que sou hoje. Então, assim como as viagens de férias, vou por partes:
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1) Das férias em Garça:
saudosista que sou, vou começar lembrando das férias que passava nas casas dos meus avós, junto com os inúmeros primos. Férias para mim era sinônimo de encontrá-los todas as tardes para a Sessão Aventura, que passava na Globo. A sala da casa da vó era nossa, era o nosso cineminha onde víamos os clássicos dos anos 80: De volta para o futuro, Star Wars, Os Goonies, Os Caça-Fantasmas, Curtindo a vida adoidado... E lá pelo meio do filme sentíamos aquele cheirinho de café vindo da cozinha. Além dos filmes, tínhamos as guerrinhas de almofadas, os jogos de "Stop", as briguinhas, a jabuticabeira do quintal. Parece besteira, mas guardei esses momentos com carinho - eles não vão mais voltar, os primos estão grandes, alguns casados, outros com filhos, talvez nem se lembrem tanto assim dessas cenas. Não tem problema. Elas estão seguras comigo!
2) Das férias "educativas": Da infância para a adolescência, minhas férias começaram a sair dos limites da cidade. Sempre serei grata a meus pais por terem me dado férias em lugares que antes eu só conhecia em livros: cidades históricas, museus, igrejas recheadas de ouro (ostentação pura dos anos do Brasil-colônia, mas que, exageros à parte, enchem os olhos), o monte avistado por Cabral, ao sul da Bahia; as obras de Aleijadinho, em Minas; a casa do Marechal Deodoro da Fonseca, em Maceió; o Forte dos Reis Magos, no Rio Grande do Norte; o Maracanã, no Rio (bom, não deixa de ser um lugar histórico, pelo menos para quem gosta de futebol). Tempos bons que, também creio, não voltarão. Me atrevo a dizer que foi uma mistura de férias com aulas de história. Perfeito! Aprecio as duas coisas!
3) Das férias forçadas (a adolescência ficou bem lá para trás): Não disse que tinha uma parte ruim nisso? Tem um tempo que estou em férias forçadas - é um jeito menos deprimente de dizer a palavra desemprego (um mal que pega muita gente, mas isso é outra conversa). Não tem graça nenhuma, dispenso esse tipo de descanso. Enquanto uns não sabem o que são férias há tempos (ou porque não podem ou porque são workaholics mesmo), eu quero me livrar dessas "férias" para, depois, poder partir, finalmente, para o ítem 4:
4) Das férias desses meus dias: Quero férias do marasmo, da pasmaceira, da mesmice. Quero férias de ser dependente, de ter receio de arriscar, de só ficar sonhando. Tem uma música da Legião Urbana (eles, de novo!) que diz: "Às vezes faço planos, às vezes quero ir pr'algum país distante, voltar a ser feliz". Pois bem, quero mesmo ir poder, algum dia, ir a um país distante, olhar o por-do-sol em outro céu, evoluir, ouvir outros sons, andar em outras ruas, conhecer outros costumes, outros sabores, outros sotaques... Que fique bem claro que adoro o lugar onde estou, mas tenho ambições cujo roteiro corta o oceano (e não quero cruzar esse tanto de água só para curtir férias, não! Afinal de contas eu falei em evoluir!). Na verdade quero férias de mim - do que tenho sido e não quero mais ser.
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(escrito em 14 de julho de 2006)

E LÁ VAMOS NÓS OUTRA VEZ...
"Fica V.Sa. intimado (a), sob as penas do art. 347 do Código Eleitoral, a comparecer ao Cartório dessa Zona Eleitoral (...) Art. 347 - Recusar algum cumprimento ou obediência a diligências, ordens ou instruções da Justiça Eleitoral ou opor embaraços à sua execução: Pena - detenção de três meses a um ano e pagamento de 10 a 20 dias-multa".
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Pois é, não escapei. É desse jeito que começa e termina o "convite" que recebi hoje. Mais uma vez mesária em dia de eleição. Não, não estou reclamando de ter que trabalhar num domingo de manhã. Não estou reclamando de ter que me levantar às 6 e pouco, nem de passar o dia com sono, nem de ter que almoçar correndo, nem de ficar olhando para o relógio o tempo todo para ver se as benditas 18:00 já chegaram. Isso é o de menos. Para ser bem sincera, até que a gente consegue se divertir um pouco! Eu disse "um pouco"! Nas horas de pouco movimento dá para trocar umas idéias com outros mesários, dá para brincar de procurar nomes estranhos na lista de votantes, até brincar de forca eu já brinquei entre uma votação e outra! Mas isso não tira a minha atenção de uma coisa: o brasileiro ainda não sabe votar! Não digo todos, detesto generalizações. Mas nessa época sempre se ouve essa frase clássica: "brasileiro não sabe votar!" Tem gente que chia, acha que não é bem por aí, mas é sim... Uma das "vantagens" de ser mesário é poder conferir que isso é uma triste verdade. Essa vai ser a quarta eleição que vou passar assistindo a jovens chegando à urna com ressaca e votando em qualquer um, adolescentes de 16, 17 anos votando pela primeira vez com aquela cara de "eu não tenho certeza de nada", pessoas muito simples votando em quem mandaram ou pagando com o voto a cesta básica que lhes foi dada de "presente". Tem gente ainda que chega bem diante da urna e pergunta: "e agora, o que eu faço?", "em quem eu voto mesmo?", "que número eu tenho que apertar?", "quem é esse mesmo?", "meu filho me falou para votar nesse aqui, o que você acha?" - eu ouvi essas frases e não pude fazer nada! Ficamos de mãos atadas... só podemos dizer "se o senhor não sabe em quem votar, então aperte qualquer número e confirme".Adianta alguma coisa o Brasil ser considerado A MAIOR DEMOCRACIA DO MUNDO? Adianta ter o status de primeiro país a ter adotado a urna eletrônica (com tecnologia 100% nacional)? Eu não sei... esses títulos até que dão um pouco de orgulho (de novo eu disse "um pouco"), mas depois eu vejo pessoas vendendo seus votos, sendo influenciadas, não se importando em votar em qualquer um, achando que votar em branco ou anulando vão resolver alguma coisa, não sabendo nem o nome de quem podem eleger!! Já que somos uma democracia assim tão grande, por que não se discute política nas escolas e dentro de casa? (infelizmente hoje vejo sendo discutida na igreja, de um modo bem parcial, mas isso é outra história). Quando eu era criança costumava ouvir as conversas dos meus pais e tios sobre política, gostava muito - embora não entendesse tudo - mas esse hábito que levei durante a adolescência e até hoje, fez de mim alguém que não se desespera diante de uma urna, muito menos que se deixa comprar. Não sou exemplo para ninguém, só digo que lamento que esse costume esteja se perdendo. Por outro lado, o que ainda não se perdeu foi o hábito de ignorar a política alegando que ela é chata, se conformar com tudo e votar no escuro - afinal, político é tudo corrupto mesmo, né? - e o que eu acho o pior de tudo: o velho e infalível " vote em mim e eu garanto um emprego para o seu filho". E assim caminha a maior democracia do mundo...

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(escrito em 06 de julho de 2006)
PÃO E CIRCO

Copa do Mundo de novo! Esses últimos quatro anos passaram voando, mas muita coisa aconteceu de 2002 para cá, muita lama passou por debaixo da ponte. Me refiro especialmente à ponte do Brasil. Só esse ano presenciamos o maior escândalo político da história do país, o quase desfacelamento do Partido dos Trabalhadores, os atos de vandalismo do MST, a guerra entre traficantes e o exército no Rio de Janeiro, as rebeliões nos presídios por todo Estado de São Paulo... Sem contar que estamos em ano de eleição! Isso quer dizer que seria muito interessante e necessário acompanhar a quantas andam os nossos canditados (particularmente me divirto muito vendo Lula sendo detonado por Alckmin nos duelos verbais através da imprensa), mas para quê? Estamos em época de Copa!
Estamos na época de ganharmos nosso pão e circo e de, automaticamente desviarmos nosso olhar de Brasília para a Alemanha. Não estou aqui levantando uma bandeira contra a Copa - muito pelo contrário, sou apaixonada por futebol e gosto muito desse clima - mas não consigo mais assistir aos noticiários sem ter uma overdose desse assunto. O noticiário mais antigo, respeitado (?) e de maior audiência do Brasil - o Jornal Nacional - não "vira o disco" desde o dia 09! Ontem assisti o que, para mim, foi a gota que faltava: gastaram pelo menos uns 2 minutos do jornal mostrando Robinho, Júlio César, Fred e Kaká jogando vídeo-game! Como assim?! 2 minutos em televisão é muito tempo, no Jornal Nacional então, é uma eternidade! É um tempo muito valioso para ser gasto assim, bestamente. Não tem nada mais acontecendo pelo mundo? Não tem nada mais acontecendo no Brasil? Agora o que é Nacional se resume em seleção?
Na semana passada houve em Vancouver o Fórum Mundial-Urbano, promovido pela ONU. Os estudos apresentados nesse fórum apontaram que pelo menos 1/3 da população do planeta vive em favelas. São mais de 250 mil favelas espalhadas pelo mundo! São - sem exagero - milhões e milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da miséria. Só no Brasil "ostentamos" a maior da América Latina (Rocinha, no Rio). Os estudos discutem as causas, a situação e as consequências do crescimento dessas cidades dentro de cidades. Já é sabido que acabar com as favelas é uma utopia. Nem em uma centena de anos elas vão deixar de existir. Vão continuar abrigando miseráveis, traficantes, analfabetos, doentes, pessoas que saem dos campos com a ilusão de que nas grandes cidades vão ter uma vida um pouco melhor. As favelas vão continuar destoando da paisagem e agredindo o meio ambiente. Não tem como sumir com as favelas, mas deve haver meios de brecar esse processo, minimizar esses danos, aumentar a expectativa de vida das pessoas que vivem lá. Tá, e o que a Copa tem com isso? NADA! Essa é a questão! Nada acontece, nada se discute, nada se debate, só porque estamos em época de Copa! Fiquei sabendo desse fórum da ONU pela imprensa escrita, porque não me lembro de ter visto, pelo menos em nenhum canal aberto, alguma discussão a cerca desse tema.
E quem não tem acesso aos canais pagos? E quem raramente lê um jornal? Nem toma conhecimento do que se passa no resto do mundo, ou dentro do próprio país. Perde a chance de discutir e trocar conhecimento. Hunf, mas que conhecimento? Cultura de Jornal Nacional?
Pergunte a um cidadão que só vive de Jornal Nacional se ele sabe se ainda está rolando algum escândalo em Brasília. Não, meio difícil... Agora pergunte o que os jogadores da seleção andaram fazendo nos dias de folga. Mais fácil, né? Tudo bem, dessa vez passa... afinal, estamos na Copa.
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(escrito em 01 de julho de 2006)
Anos de trevas? Aqueles ou esses?

Descaradamente estou aderindo à moda de exaltar agora os nos 80 e faço isso com o maior prazer do mundo. Ao contrário de muita gente que já era adulta nessa época, eu tenho ótimas recordações desses anos e poderia gastar linhas e mais linhas elencando tudo de bom que essa “charrete que perdeu o condutor” produziu. No entanto, do que mais sinto falta é da inocência de da vontade de não crescer jamais que as crianças ainda cultivavam (e eu me incluo nesse meio). Lembro-me de ter ouvido o famoso trecho de Que País é Esse?, da Legião Urbana: “Nas favelas, no Senado, sujeira pra todo lado. Ninguém respeita a Constituição, mas todos acreditam no futuro da nação” – aquilo era um verdadeiro grito de guerra para os adolescentes e jovens dos anos 80 e eu, como era a mais nova da família, aprendia a cantarolar esses versos, entre outras músicas “revolucionárias” com meus primos mais velhos (com certeza eles nem se lembram disso, mas eu sim). Não entendia o que era Senado, sabia pouco sobre favelas e nossa última Constituição acabara de ficar pronta, mas ainda criança eu sentia que aquele “grito” tinha um propósito. Eu queria entender aquela conversa dos adultos – congresso, inflação a 200%, Diretas Já – mas ao mesmo tempo, eu não queria saber de ser adulta. Queria continuar a andar de bicicleta pelo quarteirão, a jogar queimada na rua, ver filmes dos Trapalhões no cinema, assistir aos Goonies na Sessão da Tarde, morrer de medo do DarthVader, sonhar em ser uma Changeman, “assaltar” pitangueiras de muros alheios, continuar achando que “Marcelo Marmelo Martelo” era O livro, ter crises de ciúmes do meu irmãozinho, tomar muito sorvete de cereja, escolher sempre o mesmo cavalinho preto no parquinho, atirar pão aos peixes no lago, acreditar que um anjo da guarda andava, literalmente, atrás de mim...
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O mundo bem que podia se resumir nessas coisas. E não era só eu a pensar e a viver assim! Nenhuma criança que eu conhecia tinha muito interesse em crescer. Vivemos dias de Peter Pan, nos anos 80.Hoje não vejo mais isso. Espanta-me a precocidade das crianças, a pressa com que crescem e com que adquirem uma certa malícia (e por que não dizer, maldade?). Malícia em saber como dobrar os pais e afrontar professores. Sem querer ser antiquada, mas na minha época, nesses anos 80, ainda nos levantávamos da carteira para receber a professora e cantávamos os 4 hinos (Nacional, da Bandeira, da Independência e da República) sem reclamar e sem errar! Hoje me entristece e envergonha ver uma geração de crianças e jovens ignorando e zombando das poesias dos nossos hinos, mas sabendo de cor as letras desconexas e vulgares do funk (conseguiram deturpar até a essência do funk, mas isso é uma outra história); gastando horas de suas vidas enfurnados em lan-houses quando podiam mergulhar em livros ou em simples e produtivas conversas com pessoas mais velhas... E eu disse “na minha época...” e nem faz tanto tempo assim! E não confundam criança inocente com criança boba. Não éramos bobas, éramos genuinamente felizes. E hoje entendo os motivos pelos quais os anos 80 são chamados, no Brasil, de Anos de Trevas. Não tiro a razão de os terem classificado de tal forma, mas ao me lembrar, não consigo sentir de imediato essas “trevas”, só saudades muito boas. Ainda há sujeira nas favelas, no senado e pra todo lado e acredito muito que essa geração de “inocentes Peter Pans” da qual fiz parte vai se encarregar de tentar fazer uma bela faxina.
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(escrito em junho/2006)