sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010


Bruno, Fagner,
LyLove e Das Schweigen:
muito obrigada pelas visitas e pelas palavras.
Sinto que ganhei a semana!
\o/

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

HERÓIS DE ONTEM.
HERÓIS DE HOJE.

Fui muito pichada pelo meu último texto, sobre a Colheita Feliz, pois creio, muitas pessoas não entenderam o espírito da coisa, mas tudo bem. Sei que dessa vez a receptividade vai ser a mesma já que vou pisar o calo de mais gente. Quem gosta de Big Brother aí, levante a mão. Mesmo aqueles que fingem que não gostam, mas que sempre dão suas espiadelas, conforme convida o Bial. Eu admito que assisti lá nos primórdios, quando a coisa ainda era novidade. Mas aí fui percebendo que circo inútil isso era e me curei. Mas respeito quem gosta. Só pergunto se essa mania de chamar os brother e sisters de “guerreiros” e “heróis” não é exagero. Eles mesmos se intitulam guerreiros. Guerreiros por quê? Cadê o heroísmo? Onde há bravura? Cadê a valentia? Ali só se vêem músculos, bundas, cabelos tingidos, silicones, cabeças ocas, conversas fiadas, piadas gratuitas, comentários sem nexo, modismo e uma pseudo-militância. E há quem pague para ver! Para mim ali não há, nunca houve e jamais haverá guerreiro algum, herói algum. Ali só existem oportunistas e preguiçosos. Mas eles estão crentes que são guerreiros! E com isso passam a idéia de que guerreiro ou herói é somente aquele que vence, é aquele que esmaga a cabeça de seus inimigos, é quem triunfa a preço for. Não. Os sábios gregos antigos já ensinavam que o verdadeiro herói é aquele que dá a sua vida por alguém ou por uma causa sem pensar em recompensas, sem almejar homenagens, sem esperar por aplausos. Os maiores heróis da antiguidade perderam suas vidas em nome daquilo em que acreditavam e nem sempre saíram vitoriosos, mas seus nomes ficaram imortalizados e alguns vencedores se perderam na História. Isso me lembra o caso de quando Fernando Pessoa, ainda engatinhando na literatura, ficou em segundo lugar numa espécie de concurso de textos. O segundo colocado foi o grande Pessoa, mas quem foi o primeiro? Ninguém sabe. O vencedor nem sempre é digno.

Antes de chamar esses situacionistas de heróis, Pedro Bial deveria botar a mão na consciência e se lembrar de quem realmente são nossos paladinos. E para aqueles que adoram um BBB, aí vai uma listinha, para que percebam o crime que se comete quando se nivela esses “famosos-quem?” com esses bravos homens e mulheres, guerreiros de fato:

1 - As antigas civilizações da América que se defenderam como puderam de seus algozes colonizadores.
2 - As centenas de mulheres queimadas pela Inquisição, acusadas de bruxaria (juntamente com seus gatos) simplesmente porque a Igreja via no sexo feminino a própria tradução do pecado.
3 - Jesus, que somente com suas palavras, arrebatou milhares de corações e sem derramar o sangue de ninguém, incomodou profundamente o Império Romano e mudou indelevelmente a História do mundo
4 - Siddhartha Gautama, o Buda, que se libertou dos ricos muros que o impediam de ver as mazelas do mundo, abdicou de tudo e alcançou a iluminação na intenção de abrir as mentes das pessoas e levá-las ao conhecimento.
5 - Sócrates que sob a acusação de corromper seus jovens discípulos, foi obrigado a beber cicuta, mas não retirou nenhuma palavra que disse, mantendo sua honra até o final.
6 - Francisco de Assis, que depois de uma revelação, se despojou de tudo que tinha e casou-se com a senhora pobreza, cantava as palavras do Cristo, espalhava sua alegria e contemplava a natureza.
7 - Lao-Tsé, grande pensador chinês que deu origem ao Taoísmo; entristecido com o pouco caso da sociedade de sua época recolheu-se nas montanhas do Tibet, porém seu único intuito era pregar a bondade.
8 - Gandhi que, disseminando o pacifismo, foi o grande responsável pela conquista da independência da Índia.
9 - Joana D´Arc, que ainda menina ouvia vozes santas, foi ridicularizada, acusada de louca, mas que reuniu um exército e levou os franceses à vitória sobre os ingleses em 1429. Quando capturada, foi também mandada à fogueira. Porém sua audácia e coragem nunca foram esquecidas.
10 - Maria Quitéria, valente baiana que, disfarçando-se de homem, lutou contra a coroa portuguesa pela independência do Brasil.
11 - As 103 tecelãs que morreram carbonizadas em uma fábrica em Nova Iorque em 08 de março de 1857, reivindicando melhores condições de trabalho.
12 - Anita Garibaldi, que combateu bravamente na Revolução Farroupilha e pela libertação e unificação da Itália.
13 - Machado de Assis, que tinha vários ingredientes para dar em nada, venceu preconceitos e ainda é (e será sempre) um dos maiores escritores da Língua Portuguesa.
14 - Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, que mesmo pobre e doente, produziu as mais belas obras do nosso barroco, deixando-nos um legado artístico ímpar.
15 - Sêneca (um dos meus filósofos favoritos) defendia o desapego dos bens materiais e uma vida feliz longe das ostentações. Foi conselheiro do imperador Nero e tentou orientá-lo no caminho do estoicismo, mas assim como Aristóteles com seus discursos, foi injustamente acusado e condenado a cometer suicídio.
16 - Anne Frank, a adolescente alemã que viveu 25 meses escondida num porão com sua família fugindo das ameaças nazistas. Privada de qualquer conforto e liberdade, ela escrevia em seu diário seus medos e esperanças. Porém eles foram dedurados e levados a Auchwitz. Somente seu pai, Otto, sobreviveu ao campo de concentração. Hoje seus escritos são uns dos mais conhecidos registros sobre as barbáries dessa época.
17 - Madre Teresa, ganhadora do Nobel da Paz em 1975, fundadora da ordem das Missionárias da Caridade, disse ter recebido um chamado de Deus quando abandonou a docência de Geografia para se dedicar integralmente aos pobres, preocupando-se e dando atenção especialmente às crianças, velhos, cegos, leprosos e mulheres. Era também conhecida por "Santa das sarjetas".
18 - Nossos antepassados que desembarcaram no Brasil com uma mão na frente e outra atrás, mas que, com muito trabalho, conseguiram ter seu pedaço de chão, seu teto, seu pequeno negócio, e sem prejudicar ninguém (e nem se valer de esmolas do governo), constituíram, honestamente, família e patrimônio.

E os bravos de hoje, quem são? Big Brothers acéfalos? Uma bunda imensa que se sacode no carnaval? Jogadores de futebol que ao invés de honrarem seus salários, promovem orgias na Europa? Quem foi que os colocou num pedestal? Não venham só culpar a mídia por essa inversão de valores, pois se os veículos de comunicação vendem, é porque existe quem compre. Os heróis que o povo quer têm que passar pelo crivo da mídia para ter significância. Isso é deprimente. O povo deixa passar batidos os guerreiros de hoje de verdade como os ativistas e voluntários do Greenpeace, WWF, S.O.S Mata Atlântica, Projeto Tamar, que fazem uso do tempo que têm e da ajuda que quase não têm para tentar resgatar animais e plantas ameaçados de desaparecer, de recolher bichinhos maltratados, de alertar as pessoas e de fazê-las enxergar que a natureza pede socorro. Médicos sem fronteiras que se desdobram para atender pacientes nos confins mais pobres do mundo. Professores, especialmente os dos grandes centros como São Paulo, que são mal pagos, destratados, ofendidos e até agredidos, mas que ainda assim honram a profissão; ou os dos lugarejos mais miseráveis dos sertões, onde não há condição alguma de trabalho, mas eles estão lá para seus alunos. Hoje quem realmente tem bravura e coragem não tem cara, não tem nome. Talvez na Grécia antiga eles fossem lembrados em belas odes. E, no entanto, adoradores dos Big Brothers, tão burros quanto os próprios, os divinizam, os tomam como exemplos e serão igualmente efêmeros. Cada um tem o herói que merece.
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São Francisco de Assis: o homem do milênio