quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Baleiros, recreios e outras saudades

BALEIROS, RECREIOS
E OUTRAS SAUDADES

Dessa vez o texto teve origem numa “polêmica” saudosista debatida entre meu namorado e eu acerca de algumas guloseimas oitentistas – claro. Qual era melhor: o Azedinho Doce ou os Minichicletes Adams? Ele defendia os chicletes compridinhos, fininhos e achatados que, como o nome já diz, eram azedos e me desgostavam. Eu tomei o partido dos Minichicletes que eram mais bonitinhos justamente por serem miniaturizados. Mas aí me lembrei do meu “campeão de vendas”, o Ploc Monsters, aquele chiclete duro pra caramba, que não fazia bola e que grudava em tudo, mas que vinha com figurinhas de monstros com nome de gente. Esse sim era o mais legal porque tinha aquele “desafio” de completar o álbum logo e achar algum monstro xará de algum amigo. Guardo até hoje o álbum – incompleto, para a minha frustração – assim como os do chocolate Surpresa. Minha mãe sempre me dava um Surpresa, aquele do tigre no papel, e eu ficava louca tentando fechar a coleção de cartões de vários animais.
Outra coleção impossível de se terminar era do Ping Pong Pantanal. Tenho certeza que muitos se lembram da mania que era aquilo e de toda molecadinha batendo bafo na hora do recreio. A maior raridade de todas era uma ave chamada “noivinha”, quase ninguém tinha e quem tinha tentava vender para os mais bobinhos. E falando em recreios, isso parece uma frase dita pelo Chaves, mas uma das maiores lembranças que eu guardo da minha infância na escola são os intervalos no Hilmar Machado, justamente por causa das merendas e outros acepipes. Tinha dia que não dava para resistir e eu entrava na fila do refeitório atrás das sopas de feijão, das canjicas, dos sagus e das macarronadas – que eram servidos aqueles pratinhos de plástico azul.
Ou então comprava tranqueirinhas na cantina da Elza: aqueles pirulitos de caramelo em forma de chupeta, que demoravam hoooras para acabar; chup-chup de doce-de-leite e pipoca doce. Super nutritivo. Então, para dar um reforço no lanche, minha mãe embrulhava uns pãezinhos Seven Boys com geléia pra eu levar. Aliás, esses agrados gastronômicos nunca faltaram: geléia de Mocotó Colombo, o saudoso BrownCow, aqueles suquinhos sem nome que vinham em embalagens no formato de revólver, cacho de uva, carrinho etc, e Danfrut, aquele iogurte que vinha com pedaços de frutas no fundo. Fora meu pai que era intimado a me comprar algodão-doce toda vez que íamos ver a banda no coreto nas noites de domingo. Mas tinha que ser do branco! O rosa ele dizia que tinha muita tinta.
Eu e meus primos também consumíamos muitas outras bobagens deliciosas no bar do seu Nelson, ali bem no centro. Ainda lembro perfeitamente daquele baleiro que girava – e chiava – em cima do balcão, das tirinhas de balas Klep´s, do refrigerador cheio de Brahma Guaraná e Malt 90 e das vitrines lotadas de doces, especialmente de suspiros e marias-moles que vinham com uns brinquedinhos bem mixurucas. Certa vez pedi uma que trazia um relógio de plástico bem vagabundo e sem ponteiros do Coisa (do Quarteto Fantástico), era simplesmente horroroso, mas eu o coloquei no pulso e o exibia como se estivesse usando um legítimo Cartier.
Mas a gente se contentava com pouco e com coisas simples como fazer limonada e comer uma panelada de pipoca salpicada com Aji-no-Moto (na época, a maior novidade em termos de tempero), na calçada, como minhas primas e eu fazíamos de tarde nos fins de semana, ou fazer favores para o meu primo Fernando em troca de Suflair, assaltar o baleiro da minha vó, que vivia lotado de balas Soft (que parecia ser feita de vidro), toffee (que grudavam no papel e no dente) e as clássicas Jane e Chita, de menta e abacaxi, da Ogawa. As mesmas que ganhávamos dos Papais Noéis de porta de loja quando o comércio abria a noite na época do Natal. Mas seria uma injustiça não citar aqui as balas Banda, 7 Belo, Juquinha e Xaxá – a do gatinho. Tinha também a Mentex, que minha mãe sempre tinha na bolsa e eu pensava que era remédio.

Do popular para o “chique”, quando eu era criança, a coisa mais espetacular do mundo, quando o assunto era porcarias mastigáveis, eram os chicletes importados dos Estados Unidos e do Japão. Cada vez que algum parente de algum amigo trazia isso de fora era a maior novidade e a gente ficava todo feliz quando ganhava um mísero chicletinho de lembrança, só porque era importado! Dava status! Tínhamos até dó de mascar e guardávamos as embalagens no meio do caderno como troféus. Até hoje tenho os papéis daqueles chicletes americanos que pareciam band-aids e que vinham numa latinha e aqueles japas que vinham numa caixinha quadradinha com estampas de frutas. Hoje isso tem em todo lugar, mas naquele tempo quem levava chicletes gringos na escola, a gente falava que era riquinho. Depois apareceram aqueles do Paraguai que estouravam na boca, mas o glamour já não era mais o mesmo. Mas doces de riquinho eram mesmos as balas de leite e as Línguas de Gato da Kopenhagen. Para nós do interior, isso era coisa de outro mundo! Artigo de luxo! Atualmente isso ainda não me foge muito à regra – só ganho no meu aniversário ou no Natal.
Por outro lado tínhamos os “carne-de-vaca”: uma vez na 4ª série inventamos de fazer um amigo-secreto só de chocolates. A maioria – sem exagero! – deu e ganhou a mesma clássica caixa amarela de bombons Garoto. Que falta de imaginação. E o pior é que aquela caixa sempre tinha aqueles bombons ruinzinhos de figo e ameixa que ninguém queria e ficava empurrando para os outros. Os outros mesmos-de-sempre que não podiam faltar eram os docinhos da Dizioli que o Fofão anunciava no programa dele – como o irrecusável Dadinho, os pirulitos de caramelo do Zorro (básicos em todo aniversário), os guarda-chuvinhas da Evelyn, os cigarrinhos e as moedinhas de chocolate da Pan e as maiores vítimas de lendas urbanas sobre envenenamento: o Dipn´Lik (o dos pozinhos coloridos) e as balas Van Melle, que deixavam as mães apavoradas, pois diziam que vinham com drogas injetadas no meio.

Ainda sobre anúncios, quem é que não se lembra da memorável propaganda do Cornetto? A molecadinha cantava tentando fazer voz de tenor: “Da-me um Cornetto/muito crocante/ é più cremoso/ é da Gelato/ Cornetto sei própria Italia/ Io voglio tanto/ Corneeeto mio!”. Ainda tinham os Trapalhões fazendo merchandising do Taffman-E (a bebida do Rei Pelé), o picolé Frutilly que vinha com algum brinde impresso no palito, o Danoninho que valia por um bifinho, a bala de leite Kids – “a melhor bala que há”, o Super Nescau “energia que dá gosto”...
Acho que nem preciso mencionar como sinto falta daqueles tempos em que não havia a gulodice que há hoje, não contávamos as calorias das coisas, nossos pais sabiam a hora certa de dosar essas tranqueirinhas pra gente, quase não se ouvia falar em criança diabética ou obesa, a gente ficava contente com qualquer balinha. Era uma época em que não se usava embalagens PET. Quem queria ter refrigerante na mesa no almoço de domingo, tinha que trocar os cascos no bar ou no mercado. E não havia frasco maior que o litro “tamanho-família”, que realmente satisfazia a família! – algo inconcebível hoje em dia. Acho que sou quadrada até nesse assunto.
Enfim, sou do tempo em que Kuat era Taí, Sprite era Fanta Limão, Milkybar era Lollo, Crunch era Kri; do tempo em que se ainda sabia o que era Yopa e Chambourcy, de quando as coisas não estavam tão à vontade e ao alcance da mão, de quando não se escancarava a geladeira sem ter fome, de quando doces eram recompensas e não mimos obrigatórios e do tempo em que quando a criança não tinha cão, caçava com gato, ou seja, quando não tinha bala, comia AAS infantil!
Creio que estou com “velhice precoce”, pois é incrível como até essas coisas me dão saudades. Saudades dos sabores dos anos 80.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

CLÁSSICOS DA SESSÃO DA TARDE


Ontem minha amiga Flávia me deu um mimo que foi muito mais que um presente. Foi um “passado”. Explico. Ganhei um bottom do Karatê Kid. Há coisa mais oitentista que bottom e Karatê Kid? Na verdade há, mas bastou esse pequeno agrado para que eu logo depois me visse relembrando de vários clássicos da minha infância.

A começar pelo próprio Karatê Kid. Que Van Damme que nada! Quem a gente queria ver lutando era o Daniel-San. Eu tenho certeza que muitos meninos já tentaram fazer aquela posição que ele fazia na praia – e não conseguiam. Aliás, eu acho aquela cena muito bonita (ainda que alguns achem brega): Daniel-San treinando seus golpes, sozinho na praia ao por-do-sol – fora a música-tema Glory of Love, de Peter Cetera & Chicago. E quanto às meninas, bom, só queríamos mesmo ver o rostinho lindo do Ralph Macchio. Até hoje ele conserva aquele rosto adolescente.

Assim como Matthew Broderick, que ainda exibe aquele sorriso de eterno Ferris Bueller, de Curtindo a vida adoidado – um filme que pode passar quantas vezes for que eu dou um jeito de assistir. Acho que todo adolescente (especialmente os saudosistas) já quiseram ser um pouco Ferris: acordar um dia e surtar, driblar o diretor carrasco da escola, juntar os melhores amigos, explorar as melhores coisas da vida e da cidade, quebrar a rotina, ter um dia memorável sendo apenar feliz.

Eu também já tive vontade de morar em Astoria, a bucólica cidade onde viviam os Goonies. Apesar de ser um grupo meio estereotipado, eles eram, e são até hoje, a melhor turma dos filmes. Quem nunca teve um amigo sensível, tímido e introspectivo como o Mikey, um patife como o Bocão ou o gordinho engraçado como o Bolão ou o japinha CDF como o Dado? Cada vez que escuto Goonies are good enough (da Cindy Lauper) me dá um desejo doido de fazer parte daquele grupo, sair caçando tesouros, decifrando charadas, achar um navio pirata e até fugir de mafiosos italianos super burros.

Ou então viver aventuras mais ousadas como Marty McFly que ia e vinha do futuro dentro do DeLorean, do Doc Brown. Dizem que originalmente a máquina do tempo do De volta para o futuro seria uma geladeira, mas mudaram de idéia com medo de influenciar as crianças a se fecharem nelas depois.

Bom, mas se as crianças não imitaram Marty entrando numa geladeira, certamente imitaram o Superman ao tentar voar. Pelo menos um primo meu fez isso de cima de uma antena. E não tem nada desses Clarks moderninhos não! O único Clark Kent que eu reconheço (e que muitos dizem que é um canastrão) sempre será o Christopher Reeves. Esse vai ser eternamente o melhor e mais bonito Superman.

Aliás, naquela época, as meninas ficavam naquela deliciosa dúvida platônica: quem vou namorar: Ferris, Marty McFly, Clark Kent ou Daniel-San? Podem caçoar, mas esses eram os bonitões do nosso tempo, e para mim, de todos os tempos. Os bonitões do cinema de hoje são todos iguais, não têm um pingo de graça, são fabricados para serem perfeitos e ultrapassam os limites da superficialidade. Ao contrário de um outro galã cheio de “poréns”, mas que até hoje me encanta: professor de História, Henry Jones. Ou melhor, Indiana Jones, o caçador de relíquias que enche a cara, briga com o pai, é mulherengo, tem pavor de ratos e leva muitas surras até que tudo acabe bem.

E falando em Harrison Ford, até hoje nunca consegui assistir a toda a saga de Star Wars – os geeks que me perdoem (porém tenho guardada uma recordação que, creio, poucos nerds têm: aquela famosa máscara do Darth Vader que vinha nas embalagens de Nescau!). E somente esses dias é que consegui assistir a Blade Runner. Ainda bem que foi só agora, pois se eu tivesse visto isso quando criança, com certeza eu teria ficado perturbada com aqueles replicantes e com aquela trilha sonora. Por outro lado, eu me perturbei com o Brinquedo Assassino (passei a acreditar nas lendas urbanas de bonecos amaldiçoados), a Mosca, Freddy Krueger e até os Gremlins!

Nada de filmes-cabeça! O que a gente queria era dar risada com lixinhos como Corra que a Polícia vem aí, Loucademia de Polícia ou Um tira da pesada – é impressão minha ou americanos gostam de zoar a polícia? Também queríamos ver namoricos adolescentes dando certo depois de muitos desencontros como em Namorada de aluguel, A garota de rosa schoking (com o lindinho Andrew McCarty), Gatinhas e gatões, Tuff Turf, Alguém muito especial ou O Clube dos Cinco. A gente também viu que seres de outros mundos não precisam ser necessariamente aterrorizantes: alguns eram ridículos como em Os Caça-Fantasmas e outros eram fascinantes como em História sem Fim.

Há ainda os filmes que nos faziam ter vontade de – assim que eles acabassem – colocarmos nossos collants e polainas e procurarmos uma academia de dança, como Dirty Dancing e Flashdance.

E antes que me perguntem dos filmes nacionais, eu já digo – sem culpa – que eu não assisti a muitos, pois quando eu era criança tinha na cabeça de que filme brasileiro era só sem-vergonhice, então me limitava a ver somente aqueles duzentos-e-não-sei-quantos filmes dos Trapalhões – ou “Os Tapaiões”, como minha tia conta que eu falava quando parávamos para ver os cartazes no hall do Cine São Miguel.

Que saudades dessas pequenas coisas: ver os cartazes no cinema (aquilo sim era um senhor cinema), ver a Sessão da Tarde esperando pelo café na casa da vó, achar que sabia dançar (I´ve had) the time of my life, morrer de dó do Ritchie Valens (de Lou Diamond Phillips, em La Bamba), temer um amanhã amedrontador como o de O vingador do Futuro, rir com a vigarista Oda Mae Brown, de Whoppi Goldberg em Ghost; querer viver num mundo de desenhos igual ao de Uma cilada para Roger Rabbit, aprender com tudo isso o que há de mais clichê: que no final tudo dá certo.

Como eu disse, não se tratam de filmes intelectualóides ou com mensagens altamente filosóficas. Na verdade são produtos descaradamente comerciais feitos para vender tudo quanto é tipo de tranqueira, mas que estão guardados com o maior carinho nos corações de uma geração – a geração Coca-Cola – e que mexem com nossas lembranças e que chamam de volta os nossos pirralhos interiores.

E do jeito que sou viciada em oitentismo, meu lado balzaquiana é sempre sufocado pela minha pirralhice que vive fazendo hora-extra. E viva Ferris Bueller!