quinta-feira, 24 de setembro de 2009

60 PÉROLAS DE UM CERTO MOLUSCO
parte 1

Todas as vezes que eu invento de publicar alguma coisa a respeito do nosso mais ilustre cefalópode, eu ouço tanto elogios quanto reclamações. Os elogios, é claro, são um estímulo para que eu continue a escrever – não somente sobre essa criatura, afinal, tenho mais em que pensar – mas as reclamações me deixam pensativa. Será que mesmo depois de tantas vergonhas alheias e de tanta varreção de sujeira pra debaixo do tapete, há ainda quem o defenda? Cada vez que eu pergunto isso a essa gente, eles sempre me dão as mesmas respostas evasivas de que ele veio do nada e hoje é o que é, de que ele não estudou, que de é gente simples e outras balelas. Vir do nada e se tornar alguém, isso muita gente fez – temos “N” exemplos, desde Machado de Assis (um dos meus exemplos favoritos) até o senhorzinho dono das Casas Bahia. Até aí, sem novidades.
Ele não ter estudado e estar ocupando o cargo mais importante da nação, apesar de soar muito bonito na teoria, na prática nos causa alguns constrangimentos, uns pequenos e até pitorescos, outros grandes que nos fazem ter vontade de mudar de país. A meu ver, não há nada que justifique a defesa de alguém que faz a ignorância parecer algo bonito e até engraçado. Isso sem falar no machismo, na falta de finesse, discrição, sensibilidade e setocol. Foi pensando nisso que reuni 60, das inúmeras baboseiras que esse presidente – que não é meu – tem proferido ao longo desses últimos anos. Se nada pode ser feito para que as coisas mudem, então que pelo menos aprendamos a rir dessa desgraceira toda. Não é esse o espírito de bobo-alegre que o brasileiro adora ostentar?
Aos que, como eu, não o vêem como autoridade de coisa alguma, vamos lamentar ou rir – ainda não sei. Aos que ainda o idolatram: varram isso pra debaixo de seus capachos.

[1] Estou vendo aqui companheiros portadores de deficiência física. Estou vendo o Arnaldo Godoy sentado, mas ele não pode me olhar porque ele é cego. Estou aqui à tua esquerda, viu Arnaldo? Agora você está olhando pra mim” (27/06/03)
[2] “Não adianta ter um bando de generais e soldados” (no Clube do Exército Brasileiro – 15/12/03)
[3] “Há males que vêm para o bem” (agradecendo o presidente da Rússia pelo apoio às investigações do acidente de Alcântara)
[4] “Tem lei que pega, tem lei que não pega. Essa do Primeiro Emprego não pegou”
[5] “Por que em vez de perguntar, você não enche a boca de castanha” (a uma repórter, sobre a saída de Henrique Meirelles do BC – 05/02/04)
[6] “Se fosse fácil resolver o problema da fome, não teríamos fome” (Expo Fome Zero – 10/02/04)
[7] “Será o maior programa social já visto na face da Terra” (Pará – 26/02/04)
[8] Sou filho de uma mulher que nasceu analfabeta” (08/03/04)
[9] “Estou com uma dor no pé, mas não posso nem mancar pra imprensa não dizer que estou mancando porque estou num encontro com os companheiros portadores de deficiência” (encontro de atletas paraolímpicos – dez/03)
[10] “Um brinde à felicidade do presidente Al Assad” (o presidente sírio não brindou porque muçulmanos não ingerem álcool)
[11] “Quando Napoleão foi à China” (01/05/04)
[12] “... a galega (primeira-dama) engravidou logo no primeiro dia, porque pernambucano não deixa por menos” (Pelotas – 17/06/03)
[13] “Estou surpreso porque quem chega a Windhoek não parece que está num país africano” (na capital da Namíbia – 08/11/03)
[14] “Constatei apenas o óbvio” (comentando o mal estar causado pelo seu comentário sobre Windhoek ser tão limpa e bonita que nem parece africana)
[15] “Um país que constrói um monumento daquela magnitude em tudo para ser mais desenvolvido do que é atualmente” (referindo-se ao Taj Mahal, na Índia – 29/01/04)
[16] “Em qualquer lugar do mundo que eu vou, eu tenho que levar flores ao túmulo do herói nacional. No Brasil não tem” (durante a campanha O Melhor do Brasil é o brasileiro – 19/07/04)
[17] “O governo tenta fazer o simples, porque o difícil é difícil” (17/06/04)
[18] “O Atlântico é apenas um rio caudaloso, de praias de areias brancas que une os dois países” (sobre a “proximidade” entre Brasil e Gabão – 27/07/04)
[19] “Vocês fazem parte de uma minoria de 8 milhões que pagam imposto de renda. São privilegiados os que ganham para pagar o IR” (sob vaias, aos metalúrgicos do ABC que pediam correção de tabela do IR – 26/04/04)
[20] “Cumprimento o presidente da Mercedes-Benz (...) Pois quero dizer na frente do presidente da Mercedes-Benz...” (Palácio do Planalto, em 06/02/04, ao presidente mundial da General Motors)
[21] “Conheço o Panamá só de dormir. Até recentemente quando eu ia a Cuba, tinha que dormir uma noite lá” (16/05/03 – ao embaixador do Panamá)
[22] “Na Amazônia vivem 20 milhões de cidadãos que têm mulheres e filhos. Mulheres e filhos são apêndices do cidadão” (01/05/04)
[23] “O continente sul-americano e o continente árabe (?) não podem mais, no século XXI, ficarem à espera de serem descobertos” (na Síria – 04/04/04)
[24] “O Brasil só não faz fronteira com o Chile, Equador e Bolívia” (em Nova Iorque, 23/06/04. A saber: temos 3 mil quilômetros de fronteira com a Bolívia)
[25] “Não pensem que você fizeram pouca coisa na história da humanidade, não. Possivelmente o cidadão que votou em mim não tem consciência do gesto dele num país importante como o Brasil” (em Osasco – 03/09/04)
[26] “Todo brasileiro tem motivos para ser otimista. As perspectivas só são ruins para os desempregados” (Brasília – 02/06/04)
[27] “Só um doido aceita um segundo mandato se as condições estão desfavoráveis” (discursando num encontro de educadores)
[28] “Política é olho no olho” (Nigéria – 2005 – defendendo suas constantes viagens internacionais)
[29] “Espero que vocês não sejam desaforadas e não comecem a pensar na Presidência da República” (Rio Grande do Norte, 08/03/2005, “elogiando” as conquistas das mulheres)
[30] “Tinha muita gente que estava desempregada e eu agora faz um biquinho. É assim que nosso querido Brasil vai se desenvolver” (2005 – sobre a oscilação do emprego)

(continua – porque bobagem pouca é bobagem)
60 PÉROLAS DE UM CERTO MOLUSCO
parte 2

Das parvoíces ditas recentemente pelo presidente – que repito, não é o meu – acho que todos lembram. Bom mesmo é poder recordar daquelas que nos constrangeram há alguns anos ou meses, notar como além de tudo, ele é incoerente e contraditório. Gostaria que algum advogado de defesa dessa pessoa me dissesse se é ou não no mínimo estranho e vexatório que o mesmo homem que um dia caiu matando em cima do Collor, hoje fique cheio de abracinhos com ele. Ou se pode ter caráter uma pessoa que já pichou o Sarney, e hoje, o coloca no colo e joga a culpa de todo esse circo na imprensa. Ou então que desculpa existe para alguém que defende a honra de Orestes Quércia – um sujeito que não fez cerimônia em afirmar que quebrou o Banespa? Isso sem falar em seus cupinchas José Dirceu, Palocci, Genoíno.
Mas eu sei que escrever, falar e relembrar tudo isso não adianta nada. Uma vez ouvi de alguém: “por que é que você não manda os seus textos lá pro Lula?”. Vontade não falta a nenhum cronista ou jornalista que meta o dedo nessa ferida, mas todos sabemos que nenhum tomate podre vai chegar até ele. Além de todas as razões práticas, há a mais lógica e conhecida: ele não lê! Ainda se fosse um texto sobre o Corínthians, ele até lesse, no máximo a manchete e o título. Depois disso ele cairia no sono.
Como bem comparou o jornalista Gaudêncio Torquato, Lula é um Zeus. Nada o atinge. Nada o derruba. Só mesmo ele próprio pode acabar consigo. Por enquanto estamos somente de mãos atadas. Mas do jeito que ele anda todo implicante com a imprensa e flerta com o jeito Fidel de governar, pode ser que ainda fiquemos de boca fechada. Enquanto isso não acontece, degustemos um pouco mais esses petiscos de sabedoria.

[31] “Nós sofremos muito em 2003 porque pegamos a Casa depois de um vendaval como aquele que deu na Ásia” (gafe em 2005, confundindo vendaval com maremoto)
[32] “Eu não quero que você seja mais otimista do que eu. Se for igual e mim já está ótimo” (2005 – Programa Café com o Presidente)
que era a relação de respeito criado em torno da minha mãe. Temos que fazer isso para que nossas noites fiquem mais gostosas” (2005 – Campanha de Auto-Estima, do Governo Federal)
[34] “É difícil arrumar um emprego sem dente” (2004, em inauguração de um centro odontológico em São Paulo)
[35] “Essa gente tem café no bule” (2004 – sobre o crime organizado)
[36] “Ontem eu estava assistindo ao filme do Cazuza e pensando: não é apenas a questão financeira que leva o jovem a fazer isso ou aquilo. Acho que as coisas estão mais ligadas à família, ao meio ambiente em que a pessoa vive” (2004)
[37] “A gente não reage contra isso com precipitação nem com o fígado” (2004 – expulsando do país o correspondente do New York Times que publicou que o presidente bebe demais)
[38] “Nós, que somos do sul do país, temos que aprender que não dá pra ficar dizendo que a Amazônia tem de ser um santuário (...) Aqui moram quase 20 milhões de seres humanos que têm o direito de viver dignamente como qualquer outro ser humano” (2004 – anunciando a construção de um gasoduto de 240km que cortará a selva amazônica)
[39] “Se não dá pra fazer dez coisas de uma vez, vamos fazer uma. Porque, se a cada ano a gente fizer uma, no final de quatro anos você terá quatro coisas feitas” (Goiás – 2004)
[40] “O Serra não será candidato porque sabe que perde” (2004 – Eleições a Prefeitura de São Paulo)
[41] “A verdade nua e crua é que ninguém gosta de viver de favores” (2003 – sobre seus programas assistencialistas)
[42] “Quem especular contra o Palocci, vai perder” (2003)
[43] “Já devo ter tirado umas 200 fotos com chapéu do MST na cabeça: vou continuar pondo” (Portugal – 2003)
[44] “Este episódio reforça a decisão do governo em dar combate à violência” (2003 – após saber que o segurança do seu filho foi morto)
[45] “Espero vê-lo e, breve, no jantar com os embaixadores da União Européia” (2003 – para o embaixador da Noruega – país que não faz parte da U.E)
[46] “Vem cá, me dê um abraço, você derrotou o Collor” (2002, para Ronaldo Lessa, que venceu as eleições de Alagoas)
[47] “Vou trabalhar 24 horas todos os dias enquanto houver gente passando hambre” (2002 – esbanjando seu espanhol, na Argentina)
[48] “O PMDB só não participará do governo se não quiser” (2002)
[49] “A lua está linda, olha só. Eu dedico essa lua a todos os homens e mulheres apaixonados do Tocantins e do Brasil” (Palmas – 2002)
[50] “Para resolver o problema da universidade, preciso eleger uma pessoa sem diploma” (2002 – discurso a reitores de Universidades públicas)
[51] “A elite que tem preconceito contra nós hoje, fez isso com Jesus Cristo” (eleições 2002)
[52] “Esse negócio de experiência sabe o que me lembra? Me lembra o Mandela. Sabe qual era a experiência do Mandela? 27 anos de cadeia” (2002)
[53] “Não houve acusação concretizada contra Quércia” (2002)
[54] “Gostaria que a Bíblia fosse obrigatória em todas as escolas públicas” (2002, para uma platéia de evangélicos)
[55] “Se disputasse uma eleição, os votos do Sarney não dariam para encher um penico”
[56] “O Holocausto foi um período obsceno na História da nossa nação. Quero dizer, na História deste século. Mas todos vivemos neste século. Eu não vivi nesse século”
[57] “O ser humano vê a vida com os olhos de onde pisa” (08/06/08)
[58] “Lá a crise é um tsunami. Aqui, se chegar, vai ser uma marolinha que não dá nem pra esquiar” (04/10/08)
[59] “Você (como médico) diria ao paciente: meu, si fu” (04/12/08 – discurso para artistas no Rio de Janeiro)
[60] “A crise foi causada por comportamentos irracionais de gente branca de olhos azuis” (27/03/09)

Essas são apenas pequenas amostras de como uma urna pode ser confundida com uma latrina.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

UMA CASA.
UM TEMPLO.
UMA ESCOLA.

“O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele”
(Immanuel Kant)

Já tem tempo que eu fico ensaiando escrever esse texto, mas sempre ficava adiando porque buscava as palavras perfeitas para definir aquilo que faz parte da minha história e que até hoje povoa meus pensamentos. Porém, por receio de parecer piegas, tais palavras nunca saíram do campo das idéias. Só que eu estava começando a me sentir devedora – e de algo tão simples. E ainda que tudo pareça muito brega, eu sinto que DEVO fazê-lo.
Aproveitando que nesse ano a escola Monsenhor Antônio Magliano completa 50 anos, achei que seria no mínimo decente que eu fizesse, não uma homenagem, mas um agradecimento a todos os profissionais que por lá passaram e que marcaram os “anos incríveis” de vários jovens. Jovens pivetes que se sentiam tão amadurecidos por estudarem entre os grandões do colegial. Entre 1991 e 1993 éramos as duas únicas classes de primeiro grau na escola; pirralhos de 11, 12, 13 anos circulando entre os “adultos” de 16, 17, 18. E queríamos ser tratados como iguais, mas éramos esnobados pelo pessoal do colegial (e eu não os culpo). Por outro lado éramos mimados pela escola, tínhamos aulas que os grandões não tinham como datilografia, eletricidade (não era eletrônica não, era eletricidade mesmo), mecânica (para os meninos) e corte e costura (para as meninas). Às vezes eu me sentia num daqueles filmes americanos que mostram aquelas escolas cheias de atividades extra-curriculares.
Eu nunca me dava muito bem em corte e costura, assim como em educação física – minhas maiores diferenças na época, mas havia algumas compensações, como os trabalhos de educação artística do professor Nicola e os jograis e teatrinhos das aulas de Português da D. Vera (minha mãe, aliás); além da hora da merenda, quando todo mundo entrava bonitinho na fila para pegar o seu pãozinho com manteiga e seu leitinho com groselha.
Ainda lembrando o estilo “escola americana”, uma vez inventaram de fazer uma espécie de “show de talentos” conosco, pondo a 5ªA competindo com a 5ªB. Na época o sertanejo estava muito na moda, então a maioria competiu cantando “bálsamos” como Pense em mim e É o amor. Havia outra coisa de gosto muito duvidoso que também estava em alta: o noticiário bizarro Aqui e Agora. Então me fizeram imitar o Gil Gomes. Até hoje eu não sei onde eu arrumei tanta cara-de-pau para fazer aquilo. Mas com aquela idade, timidez era o de menos. Ao longo desses anos encenamos Os Músicos de Bremen, História de uma gata, o quadro da velha surda da Praça é Nossa, Não se vá (de Jane e Herondi), Soy loco por ti America e o Charleston, sem um pingo de constrangimento. Tudo o que fazíamos naquela escola era sinônimo de diversão. Até nas mais sisudas aulas de matemática da professora Vandermara, víamos graça.
Ainda tinha a clássica rivalidade entre as turmas – e eu tinha que agüentar as provocaçõezinhas por ser a filhinha da professora – os meninos encapetados que atormentavam as meninas, os livrinhos de literatura (A pata da gazela era “A pata da Sganzela” para os engraçadinhos), os incontáveis mapas de Geografia da professora Lula – que todo começo de ano pedia pra gente levar o saudoso estêncil Pelicano para mimeografar os exercícios – e as aulas de História da professora Cleuza. Aliás, para que decorássemos os nomes de todos os nossos presidentes cronologicamente, cada aluno, ao responder a chamada, dizia um, desde o Marechal Deodoro. Eu, como sendo a última da lista, era o Fernando Collor de Mello. Escutei vaias o ano inteiro por conta disso.
E não podia me esquecer das broncas do Clóvis, mandando a gente parar de correr e entrar logo na classe. Quando retornei ao Monsenhor, em 1995, o Clóvis continuava dando seus pitos, só que agora era para regular o vestuário dos adolescentes: “bermuda só com um palmo acima do joelho!”, ou “vai pra sua casa trocar de roupa!”, quando via alguém de regata. Os bons costumes ainda tentavam prevalecer naquela década.
Quando chegou a nossa vez de sermos do colegial, o ensino era técnico e eu tenho que confessar que nunca fui muito chegada em informática, programação e afins. Só quis prestar o vestibulinho e voltar ao Magliano por paixão àquele lugar. Eu não conseguia me ver em outra escola senão naquela onde eu tinha passado anos tão alegres. Foi no “Cei” que conheci o Rafael Pioto – meu melhor amigo até hoje e sempre – foi nessa época que eu parei de fugir da educação física e aprendi a jogar futebol com os meninos (para quem duvida, há fotos que provam isso!), foi lá que escrevi minhas primeiras redações para participar de concursos literários; foi no Monsenhor que conheci o Shiro – o japonês mais pirado do mundo, que me passava muitas colas de Física (isso não é bonito) e que, ao ir embora para o Japão, me deixou toda a sua coleção de CDs do Michael Jackson.
Foi durante a Expotec de 1996 que uma aluna anunciou no microfone a morte do Renato Russo. Nem preciso mencionar que fiquei chateadíssima. Aliás, a Expotec era uma das coisas mais aguardadas pela gente. Apesar de toda a correria de ter que aprontar os trabalhos, tomar conta das classes com exposições, ciceronear as turmas infantis que nos visitavam de manhã e de tarde, jogar, nos apresentar no coral, dançar e até interpretar (!), quando tudo terminava, ficava aquela sensação de “como passou depressa”. Naqueles tempos parecia que estudar era algo tão legal (e de fato é) que fazíamos isso nos divertindo.
Antes do professor entrar na classe, na segunda-feira, minha prima Verenna, eu e a Fer (a Shaquille O´Neal) e outras meninas, tínhamos que nos juntar para tecer comentários sobre como tinha sido o fim de semana: o berimbau do Grêmio no sábado e a sorveteria depois da missa no domingo. Por vezes aquela escola tinha ares de clube – aparecia gente quem nem era aluno, ia atrás dos amigos e acabava ficando, só pelo prazer de estar lá. Fazíamos qualquer negócio para permanecermos ali o maior tempo possível: éramos parte do coral da professora (de Inglês) Eliana – não me sai da memória uma das músicas mais executadas pela gente, o “I Just call to say I Love you” – e entre uma aula e outra da professora Clery, dividíamos o espaço das quadras – quem jogava vôlei atrapalhava quem jogava basquete que por sua vez atrapalhava quem jogava futebol, mas ninguém ligava pra isso.
Sinto saudades das aulas de informática, principalmente da parte em que, quando o professor não estava de olho, o Rafa, o Shiro e eu desenhávamos coisas engraçadas no Paint; do jeito tranqüilo do professor Koshi, dos ensaios com a Eliana, das provas de Literatura da professora Vera (já citei que ela é minha mãe?), da paciência de Jó do professor Jackson, da biblioteca, da sala de vídeo – onde assistimos O Guarani, Vidas Secas, Inocência, O primo Basílio, A Moreninha. Sinto saudades das quadras, de como era tragicômico ver que o Rafa e aquele japa aloprado eram presenças constantes na sala da (minha tia) diretora Mariza; das Expotecs, de comprar paçoca na hora do intervalo, das risadas, das amizades, de sair para comer pastel na rua de cima, de cada pedaço daquele lugar...
Pode soar meio estranho, mas agora, nas raras vezes que entro no Cei, parece que vejo os nossos “fantasmas adolescentes” perambulando por lá, rindo, subindo e descendo as escadas, falando de alguma paquera, fazendo hora na cantina, comentando como tal prova tinha sido difícil ou levando outra chamada do Clóvis. Falar do Monsenhor Antônio Magliano, pra mim, é ao mesmo tempo fácil e complicado, pois me vem uma mistura de felicidade com melancolia, saudade boa e a certeza de que nada daquilo jamais se repetirá. Porém, o principal e o que me faz ser hoje o que sou, eu adquiri entre aquelas paredes, naquelas carteiras, naqueles laboratórios, naqueles corredores, naquela deliciosa década de 90 e são coisas que ninguém pode me roubar: sabedoria, experiências, educação, conhecimento e grandes amizades.
Por isso, Monsenhor Antônio Magliano me é também sinônimo de gratidão. E não tenho vergonha de dizer que amo aquela escola. Ela é uma prova concreta de que Educação não se faz só com intelecto, mas também com o coração.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

UM SUJEITO QUE NÃO LÊ ATRAPALHANDO A VIDA DE QUEM ESCREVE
“Aquele a quem a palavra não educar, também o pau não educará”
(Sócrates)
Definitivamente esse governo não me surpreende mais. E não é de hoje que eu espero sempre o pior do presidente. A idéia que saiu dessa vez daquele cabeção foi a de criar um novo imposto, mas agora sobre os livros. Através do Ministério da Cultura, planeja-se instituir o que eles batizaram de Intervenção do Domínio Econômico (Cide) – uma alíquota cobrada sobre o faturamento das editoras, que pode tingir até 2,1%. É um plano infeliz que afetará não somente as próprias editoras, mas também as livrarias e os autores. Aliás, eu tenho a leve impressão de que autor de livro nesse país não é levado muito a sério. Livros e escritores são considerados “coisas menores” no Brasil, e agora, para ajudar, o presidente, rei dos indolentes, tem a intenção de encarecer ainda mais os livros.
As livrarias de pequeno e médio porte, que já sofrem com a concorrência das mega stores e das vendas pela internet, sofrerão ainda mais com essa carga, já que qualquer aumento no preço dos livros significa o sumiço dos consumidores. A justificativa fantasiosa é a de que, ao criar essa taxa, o governo almeja estimular a leitura no país, além de democratizar o acesso aos livros e provocar o desenvolvimento do mercado editorial. Como assim? Não é possível que o presidente ache de verdade que somos tão idiotas a esse ponto para acreditar em tamanha “bondade”. Não faz um pingo de sentido, afinal além do risco evidente da queda das vendas de livros, da dificuldade de publicação e do aperto pelo qual passarão as pequenas livrarias, as editoras já avisaram que provavelmente terão de suspender seus patrocínios aos fóruns de debates e projetos de espaços de leitura para crianças e jovens.
Calma que ainda tem mais: como se não bastasse essa demonstração clara de incoerência, o ignorante-mor quer criar os postos de “mediadores da leitura” – ou seja, pessoas indicadas sabe-se lá por quem, como e por que, que promoverão o hábito da leitura para o povo. Engraçado, eu sempre pensei que os professores tivessem esse papel. Nossa, com o governo é bonzinho, além de querer que leiamos mais, ele ainda nos envia pessoas que nos indicarão as melhores leituras. E quem serão essas pessoas? Que autoridade elas terão para serem transmissores de cultura? Provavelmente será um bando de chegados do presidente que precisam dar uma mamadinha no governo e que ganharão esses cargos inventados.
Eu e meus colegas de APEG sabemos exatamente a dificuldade que se tem em tentar publicar um livro, não é nada barato – por isso, às vezes, recorremos às publicações “artesanais”, em gráficas, sem selo de editora alguma. São muitos meandros, são muitos Reais. Precisávamos de estímulos de verdade e não de mais barreiras. Meus colegas e eu também somos apaixonados por livros, mas nem sempre podemos comprar nossos objetos de desejo por causa do preço – e não colocamos a culpa nas livrarias, elas também devem amargar com a debandada dos compradores à internet. Enfim, esse é o tipo de notícia que consegue acabar com o meu humor, mas como eu disse, isso não me espanta mais, sabendo-se que o intento partiu de alguém que já deixou muitas vezes bem claro que não gosta de livros e que não lê porque dá sono.
Talvez eu esteja fazendo um grande drama e profetizando o improvável ao dizer que os livros estarão, em alguma era, fadados ao esquecimento, mas antes deste “reinado” as coisas nesse sentido já não iam bem. Agora, parece que tendem a piorar.
Certa vez li um poema de Manuel Bandeira chamado Versos escritos n´água, e talvez o finalzinho até se encaixe com a questão: “... Meus pobre versos comovidos / Por isso fiquem esquecidos / Onde o mau vento os atirou”.