quarta-feira, 9 de setembro de 2009

UM SUJEITO QUE NÃO LÊ ATRAPALHANDO A VIDA DE QUEM ESCREVE
“Aquele a quem a palavra não educar, também o pau não educará”
(Sócrates)
Definitivamente esse governo não me surpreende mais. E não é de hoje que eu espero sempre o pior do presidente. A idéia que saiu dessa vez daquele cabeção foi a de criar um novo imposto, mas agora sobre os livros. Através do Ministério da Cultura, planeja-se instituir o que eles batizaram de Intervenção do Domínio Econômico (Cide) – uma alíquota cobrada sobre o faturamento das editoras, que pode tingir até 2,1%. É um plano infeliz que afetará não somente as próprias editoras, mas também as livrarias e os autores. Aliás, eu tenho a leve impressão de que autor de livro nesse país não é levado muito a sério. Livros e escritores são considerados “coisas menores” no Brasil, e agora, para ajudar, o presidente, rei dos indolentes, tem a intenção de encarecer ainda mais os livros.
As livrarias de pequeno e médio porte, que já sofrem com a concorrência das mega stores e das vendas pela internet, sofrerão ainda mais com essa carga, já que qualquer aumento no preço dos livros significa o sumiço dos consumidores. A justificativa fantasiosa é a de que, ao criar essa taxa, o governo almeja estimular a leitura no país, além de democratizar o acesso aos livros e provocar o desenvolvimento do mercado editorial. Como assim? Não é possível que o presidente ache de verdade que somos tão idiotas a esse ponto para acreditar em tamanha “bondade”. Não faz um pingo de sentido, afinal além do risco evidente da queda das vendas de livros, da dificuldade de publicação e do aperto pelo qual passarão as pequenas livrarias, as editoras já avisaram que provavelmente terão de suspender seus patrocínios aos fóruns de debates e projetos de espaços de leitura para crianças e jovens.
Calma que ainda tem mais: como se não bastasse essa demonstração clara de incoerência, o ignorante-mor quer criar os postos de “mediadores da leitura” – ou seja, pessoas indicadas sabe-se lá por quem, como e por que, que promoverão o hábito da leitura para o povo. Engraçado, eu sempre pensei que os professores tivessem esse papel. Nossa, com o governo é bonzinho, além de querer que leiamos mais, ele ainda nos envia pessoas que nos indicarão as melhores leituras. E quem serão essas pessoas? Que autoridade elas terão para serem transmissores de cultura? Provavelmente será um bando de chegados do presidente que precisam dar uma mamadinha no governo e que ganharão esses cargos inventados.
Eu e meus colegas de APEG sabemos exatamente a dificuldade que se tem em tentar publicar um livro, não é nada barato – por isso, às vezes, recorremos às publicações “artesanais”, em gráficas, sem selo de editora alguma. São muitos meandros, são muitos Reais. Precisávamos de estímulos de verdade e não de mais barreiras. Meus colegas e eu também somos apaixonados por livros, mas nem sempre podemos comprar nossos objetos de desejo por causa do preço – e não colocamos a culpa nas livrarias, elas também devem amargar com a debandada dos compradores à internet. Enfim, esse é o tipo de notícia que consegue acabar com o meu humor, mas como eu disse, isso não me espanta mais, sabendo-se que o intento partiu de alguém que já deixou muitas vezes bem claro que não gosta de livros e que não lê porque dá sono.
Talvez eu esteja fazendo um grande drama e profetizando o improvável ao dizer que os livros estarão, em alguma era, fadados ao esquecimento, mas antes deste “reinado” as coisas nesse sentido já não iam bem. Agora, parece que tendem a piorar.
Certa vez li um poema de Manuel Bandeira chamado Versos escritos n´água, e talvez o finalzinho até se encaixe com a questão: “... Meus pobre versos comovidos / Por isso fiquem esquecidos / Onde o mau vento os atirou”.

Um comentário:

Espírito Beat disse...

Olá. Sou do Projeto Marginália. Marestoni me passou seu blog e vim conferir. Texto bom e forte. Gostei do que li, confesso que li pouco também. Venha se unir ao P.M.
Até mais ver