segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Correspondência entre amigos – Parte 4
UMA PAUSA PARA OS RECLAMES


Já é sabido que a Internet, entre outras coisas, é um poço interminável de bobagens, sacanagens e afins. Mas também é uma ferramenta indispensável para os saudosistas oitentistas como Fagner e eu. Primeiro porque, mais uma vez, trocamos mensagens orkutianas sobre essa “charrete que perdeu o condutor”, como diria Raul Seixas. Segundo porque reviramos o YouTube em busca de propagandas, clipes e programas dos quais guardamos ótimas lembranças. Mensagem de lá, mensagem de cá, convenientemente, mais uma vez, eu noto que isso poderia render outro texto. Então, para quem é da época do creme rinse, dos tênis Iate e dos batons Boka-Loka, creio que essa nossa conversa vai fazer algum sentido:
[Fagner] - Viu os vídeos que eu adicionei sobre a década de 80? Ia colocar alguns de comerciais que eu estava vendo no YouTube que é da nossa época... Tinha até achado um que eu nem me lembrava mais que era dos Trapalhões fazendo a propaganda do Chester Perdigão... Lembra daquela do "Habemus Chester"? (...) Achei umas que parecem com aquelas que passam no Pica Pau, lembra? O episódio chama-se "Propaganda Super", aquele que tem a do "Dentifrício Alegria... quatro cores diferentes combinando com a pele!". (...) Na época devia ser uma sensação, o cara fala no final que "Toddy fortifica!" Tá? Nem tinham preocupação com calorias naquela época...

[Eu] - Essa do Toddy "é gostoso, fortifica e é econômico" tem de tudo! Até cara bombado! Hahaha. Mas você reparou numa das moças da propaganda? Era a Norma Bengell! Ela era linda né? Mas gostei mesmo da latinha do Toddy, que bonitinha. E sim, tem mesmo cara das propagandas que passavam naquele episódio do Pica-Pau em que ele assistia a um programa cheio de merchans! Além do Dentifrício Alegria, eu me lembro das "Pastilhas Fininho - tome uma e fique fininho mesmo!" – Agora essa propaganda dos cotonetes com esse homenzinho azul saindo do banho é clássica!
Quer outra? Camisas Pool "Bonita camisa, Fernandinho!" - eu achava esse tal Fernandinho um nerd, com cara de que era super explorado naquela empresa.


[Fagner] – (sobre uma propaganda secular da Coca Cola em que se falavam – demoradamente - nomes de vários instrumentos musicais) Agora diz se você compraria esse produto por causa dessa propaganda... “Este é o reco-reco!”... aiaiaiaiai Isso é bem parecido com o que é a do guaraná Dolly hoje... Levou tempo até chegarem no "Pipoca na panela...". Pior é que não inventaram outra melhor do que a do Guaraná Antártica.

[Eu] – O que é essa propaganda? Como a TV tinha tempo para jogar fora! Como as propagandas eram demoradas e nada objetivas! Nossa, que sossego! Para se chegar à Coca-Cola o cara apresentou tudo que era instrumento musical - tocados, aliás, por uns tiozinhos vestidos de “malandros”, mas com uma cara de canseira... sinal que a Coca-Cola não deixava as pessoas tão ligadonas naquela época haha (...) Vixe, as propagandas do Guaraná Antáctica eram ótimas mesmo. Pizza com guaraná, pipoca com guaraná... até banana com guaraná tinha, você lembra? Mostrava um mocinho lindo de rabo de cavalo na beira da estrada pedindo carona e ninguém dava. Aí ele fazia uma "banana" para as pessoas. Eu achava aquele mocinho lindo de morrer! Daí o tempo passou, passou... hoje esse "mocinho" é conhecido por Rodrigo Santoro! Acho que foi o primeiro trabalho dele na TV. Ai ai... isso me lembra demais a minha 6ª série (...) Agora quero ver se você se lembra dessa musiquinha: "Estrela brasileira no céu azul / Iluminando de norte a sul / Mensagem de amor e paz/ Nasceu Jesus, chegou o Natal / Papai Noel voando a jato pelo céu / trazendo um Natal de felicidade / E um Ano Novo cheio de prosperidade / Varig! Varig! Varig!" Será que é do seu tempo? Eu já estou com idade para admitir que voei de Varig. Vasp e Transbrasil também! Só não voei de Pan Am porque aí já ia ser demais!

[Passei para o Fagner um vídeo do YouTube, um dos inúmeros sobre a programação da TV na década de 80] Vê só essa seqüência de propagandas, de “um sábado à noite de 1987 na Globo”, na hora do Supercine. Um monte de coisas me chamou a atenção nisso:
1) A vinheta do Supercine não mudou desde 1987!
2) Na chamada do Fantástico, uma das reportagens era os cuidados com a proliferação da dengue. Outra coisa que também não mudou.
3) E os musicais do Fantástico? Ivan Lins e João Bosco. Quando que hoje isso acontece?
4) Você se lembra daquela motinho italiana, Vespa? Muito mais charmosinha que essas motos de hoje e já era vista como uma alternativa para fugir do tráfego intenso!
5) Propaganda da Pepsi com Tina Turner e Blitz! Que máximo isso! Adorei!
6) Taffman-E! Chegou a tomar isso? Eu tomei porque via essa propaganda no programa dos Trapalhões, mas nem sabia do que essa bebida se tratava direito. Mas se os Trapalhões recomendavam... Era bom, mas tinha um gostinho de remédio.
7) Essa é pra acabar: propaganda de livro! Tá certo que era um daqueles romances ultra comerciais, mas mesmo assim... LIVRO!

[Fagner] - Nossa, esse vídeo foi longe, hein?
Quando passou esse Supercine eu tinha 4 ou 5 anos... A vinheta não mudou mesmo. É, não mudou nada, ainda há dengue... Ô tempo em que a TV tinha programas que passavam os mestres da MPB... A Vespa é parte da alma italiana! Ainda tomo TaffMan-E, tem gosto de remédio mas tudo bem... Agora, propaganda de livro hoje só se for de auto-ajuda e olhe lá que tranqueira que estarão vendendo. Lembro de uma vez que falaram que fizeram propaganda nos ônibus franceses do livro do Paulo Coelho, o pessoal de lá achou tão deselegante (...) Pior é que eu gostei da propaganda antiga do Toddy... Viu só a latinha, que diferente, nada a ver com a de hoje. Estava mais para lata da manteiga Aviação do que para achocolatado Toddy...E no final quando o cara fala que Toddy é o único, impossível de se copiar... Agora qualquer fabriquinha tá fazendo chocolate em pó... Não igual ao Toddy, mas já quebra o galho...

O mais curioso é que quando éramos crianças, tudo o que nós menos queríamos era ver propagandas, porque aquilo interrompia os nossos programas favoritos. E, no entanto, hoje, ficamos caçando essas mesmas propagandas, cheios de nostalgia. E é bom deixar claro que não ganhamos um centavo sequer para mencionar os produtos que apareceram neste texto! Não nos venderíamos tão barato e nossas saudades não têm preço.

terça-feira, 6 de julho de 2010

DAS e Fagner!
Mais uma vez obrigada!
Esqueci de mencionar que eu serei uma dessas velhas loucas e solitárias que criam muitos gatos.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

OS CLICHÊS QUE A GENTE ADORA

Quem é que nunca se deleitou com um desses filmes bem açucarados ou previsíveis de Sessão da Tarde? Quem é que não se lembra de, durante as férias, ter passado algumas horas na frente da TV assistindo a filmes nada dignos de Oscar, mas que independentes de serem uma obra-prima da sétima arte, nos prendiam e ficaram gravados na nossa memória?

[1] Ônibus escolar amarelo, que geralmente nunca espera pelo aluno retardatário.
[2] Acampamentos com marshmallow na fogueira e histórias de terror.
[3] Festa no ginásio da escola com ponche “batizado” e eleição de Rei e Rainha do Baile.
[4] Tirar fotocópias da bunda – que vão, acidentalmente, parar na mesa do chefe.
[5] Casa na árvore, onde “meninas não entram”.
[6] Xingamentos como “loser” e “ass hole”.
[7] Guerra de comida.
[8] Cachorros que falam, chimpanzés que solucionam crimes e bebês que são gênios.
[9] Trabalhadores que se humilham para ser promovidos.
[10] Crianças que vendem limonada .
[11] Liquidação de garagem.
[12] Perseguição que destrói metade da cidade.
[13] Bater em hidrantes .
[14] Pessoas que se engasgam e são salvas pela Manobra Heimlich.
[15] A tímida do colégio se apaixonar pelo capitão do time de futebol e o nerd gostar da líder de torcida.
[16] Clube de Xadrez, Clube de Espanhol, aulas de Economia do Lar, Marcenaria, Artes e demais atividades extracurriculares que os alunos usam só para conversar sobre seus dilemas adolescentes.
[17] Alunos de intercâmbio que causam o maior frisson na escola.
[18] Personagens hispânicos com sobrenome Gomez, Rodriguez, Sanchez.
[19] Todo japonês é geek, toda loira é idiota, todo mexicano tem subemprego, todo italiano é briguento.
[20] Receber os novos vizinhos com uma torta e xeretar a vida deles através da cerca do quintal.
[21] Ninguém nunca diz “tchau” ao terminar um conversa telefônica. Simplesmente desligam.
[22] Valentões da escola que trancam os nerds no armário.
[23] Treinadores estúpidos que pregam que o que importa é vencer.
[24] Adolescentes que querem ser “os mais populares”.
[25] Gente deprimida que assiste TV com um pote de sorvete no colo.
[26] Viagem em família num trailer.
[27] Algo “mágico” acontecendo numa noite de Natal.
[28] Cortar a grama da vizinhança para ganhar uns trocos.
[29] Máquina de guloseimas sempre enguiçada.
[30] Taxistas indianos.
[31] Enterro em dia de chuva.
[32] Xerifes gordinhos e/ou coroas que nunca concordam com os métodos dos jovens agentes do FBI
[33] Pescadores com chapéu cheio de iscas e caçadores com coletes vermelhos acolchoados.
[34] Livro do Ano.
[35] Baile da Primavera.
[36] Velha louca e solitária que cria muitos gatos.
[37] Catástrofes que só acontecem em Nova Iorque. Às vezes em Paris.
[38] Toda turma adolescente em filme de horror tem que ter um cara fortão, uma menina bonita, um sujeito inteligente e o rapaz piadista. Geralmente o engraçadinho morre primeiro.
[39] Discursos motivadores com a bandeira americana agitando ao fundo.
[40] Apostas para ver quem vai ficar com a feinha da escola.
[41] Baderneiros que arrebentam caixas de correio com taco de baseball.
[42] Cenas de dança em que rumba, salsa, samba e tchá-tchá-tchá são a mesma coisa.
continua...

sábado, 22 de maio de 2010

MOMENTO RETRÔ - PARTE 3
30 ANOS DE PAC MAN! \o/


Só não comemoro jogando porque meu Atari quebrou :(
Junto com Enduro, River Raid, Megamania e Super Dave, o Pac Man foi paixão à primeira vista. Que TV LCD que nada! Eu jogava numa Telefunken toda zuada e era ótimo! Puts, que saudades! :~)


quarta-feira, 7 de abril de 2010

MEU GRANDE QUARTO DE BRINCAR

MEU GRANDE QUARTO DE BRINCAR


“São mitos do calendário / Tanto o ontem como o agora / E o teu aniversário / É um nascer toda hora” (Carlos Drummond de Andrade)Esses dias ouvi uma expressão, também drummondiana, que me chamou muito a atenção: Fixação sentimental. Acredito que isso resume perfeitamente todo esse oitentismo e saudosismo que eu sempre sinto. Imagino que quem convive comigo deve estar farto dessa minha mania de ficar remexendo o que já foi, mas dessa vez vou tentar não aborrecer ninguém, mas sim fazer uma pequena homenagem a um lugar que marcou bastante um bom pedaço dessa minha curta vida de 30 anos: a loja A Eletrônica, que um dia foi do meu avô Antônio Sganzela (e também, por um tempo, do seu amigo e sócio Nelson Kerges), e depois do meu tio Carlão. Um pouco diferente das recordações precisas e históricas da minha mãe, o que eu tenho são lembranças de criança, são momentos que me remetem ás tais fixações sentimentais.Eu nunca levei aquela loja a sério. No bom sentido. Quando criança, eu nunca a vi como uma casa de comércio, muito menos como um local de trabalho. Eu a via realmente como um grande quarto de brincar, com suas prateleiras lotadas de bonecas, bibelôs, panelas, potes, potinhos, potões, ferramentas, talheres, vasos, jarras, porta-isso, porta-aquilo... Para mim tudo era brinquedo. Talvez as coisas com as quais eu nunca tenha brincado foram com os violões, porque eu era pequena demais para segura-los, porque eles ficavam pendurados lá no alto ou porque meu tio sabia que violão em mão de criança arteira não prestava. Mas confesso que “testei” muita coisa daquela loja – desde aqueles jipinhos com pedais até aquela pistolinha de acender o fogão, o Magiclick. Aliás, era só botar um Magiclick na minha mão e eu tinha diversão garantida durante boa parte da tarde. Como aquilo tinha mesmo forma de pistola, eu me sentia “a justiceira” atirando nos homens maus.E antes que a minha prima Evelyn diga que eu me esqueci dela, não tinha como esquecer, pois bastava a gente se encontrar na casa da minha avó para que ela viesse com essa: “Vamos brincar de lojinha?”. Aí as duas pirralhas ficavam transitando pela Eletrônica fingindo que uma era a atendente e outra era a “madame” que comprava. Mexíamos na caixa registradora para darmos nossos trocos imaginários, usávamos retalhos de papel de presente para fazermos as notinhas e acabávamos com as fitas, daquela quase secular, máquina de escrever (Remington? Royal? Não tenho certeza). E tudo isso em meio ao entra e sai dos fregueses de verdade. Eu não sei como o meu tio tinha paciência. Eu não teria! Mas o meu nonno já não era tão tolerante, porém até das suas broncas achávamos graça.
A gente só dava um tempo de atazanar na loja quando era hora de tomar café na casa da dona Valentina – a loja e a casa da minha avó eram literalmente grudadas, o que aumentava ainda mais as possibilidades para inventar brincadeiras. Creio que eu só não bagunçava com as imagens dos santos, talvez por medo de ser castigada, porque de resto, em tudo eu mexia, em tudo eu fuçava. Eu me sentia dentro de um outro mundinho, tudo eu queria ver, em tudo eu queria botar a mão. E cada brincadeira, cada tilintar daquela velha e bela caixa registradora, cada vez que a loja funcionava à noite nas semanas que antecediam o Natal, cada passa-fora do meu avô, cada piadinha do meu tio, cada reencontro com os primos, tudo isso traz à minha memória, não apenas a imagem empreendedora de uma família, um estabelecimento respeitado ou um nome que foi se consolidando através dos anos, mas especialmente me leva de volta à minha “Disneylândia” – a melhor e única que eu poderia querer.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

CORRESPONDÊNCIAS ENTRE AMIGOS – Parte 3
DAS ARTES AO FIM DO MUNDO

Em mais um texto da série “conversas orkutianas, porém relevantes”, Fagner e eu divagamos sobre o fim do mundo, passando pelas artes e pelo cinema, e percebendo como esse assunto tem se tornado ao mesmo tempo fascinante e cansativo. Nos tempos da minha avó, o fim do mundo despertava nas pessoas curiosidade e medo. Hoje, como quase tudo, isso está tomando ares de modismo. O fim dos tempos vem se anunciando desde que o mundo é mundo. Os homens das cavernas já olhavam para o céu vislumbrando o poder de algo que eles nem conheciam, mas que poderia acabar com a sua existência quando bem entendesse. O hinduísmo desde sempre falou sobre a destruição do mundo e sua reconstrução pelas mãos de Shiva. Os índios americanos, as civilizações da América Central, os egípcios, todos já sabiam que a humanidade nasceu com os dias contados porque somos imperfeitos, porque estamos sempre metendo os pés pelas mãos, porque somos algozes da natureza, somos egoístas, materialistas e merecemos uma lição. Mas à medida que 2012 chega, o espetáculo em cima desse assunto vai crescendo:

[Fagner] - Agora vou ver se escrevo sobre o filme 2012, tinha falado que não iria assistir, mas uma amiga emprestou...

[Eu] - 2012 eu queria muito assistir, gosto dessas coisas meio apocalípticas, se bem que esse assunto já deu o que tinha dar. Estou acompanhando a série documental O Efeito Nostradamus no The History Channel. É sobre fim do mundo também, mas cada episódio trata de um tema. Eles buscaram fim do mundo até nas obras do Da Vinci! O episódio sobre os Sete Selos me impressionou um bocado. Se tiver a chance de ver, "veje" hahaha

[Fagner] - Então, é por isso que eu não assisto esses filmes de fim do mundo, é alguma coisa tão batida. Mas esse do History Channel parece interessante. Apocalipse no Leonardo da Vinci... Então, isso cheira até coisa do Código Da Vinci.


[Eu] – Sim, sim, esse do History Channel é bem interessante. Isso sobre o Da Vinci, eles foram fuçar em três obras dele que - dizem - ele previu a revolta da natureza sob a forma de muitas chuvas, enchentes e um novo dilúvio. Isso aparece na Madona das Rochas, na Monalisa e no São João Batista. Fora as inúmeras gravuras dele - inclusive as Cabeças Grotescas! Pois é... Tem hora que eu acho que eles viajam demais, mas muita coisa ali até que faz sentido.

[Fagner] - Puxa, que leitura disso tudo, tenho reproduções da Madona das Rochas, da Monalisa daquelas da Caras, que é só colocar uma moldura, e livros com os outros quadros... Adoro as cabeças grotescas, parecem as bisavós das caricaturas. Mas nunca tive essa leitura. Até na crônica de hoje do Cony, na Ilustrada da Folha, ele cita a Ceia, daquela leitura que fizeram que João Batista era na verdade Maria Madalena e que na parte da junção dos dois formam um cálice. Sei lá. Eu acho que nós vamos acabar com o mundo antes do Apocalipse. Aí Deus irá dizer: Mas eu preparei tudo e os caras acabaram antes!


[Eu] - Essas cabeças grotescas eu fiquei conhecendo por causa da capa do disco Cabeça Dinossauro, dos Titãs. Achei medonhas, mas muito interessantes. Prendem a atenção, dão uma sensação muito esquisita. Não recordo exatamente o que disseram dessas cabeças quanto ao dilúvio, mas é como se elas fossem uma antecipação do que estaria estampado no rosto das pessoas nessa época de destruição. Era a angústia que Da Vinci sentia quando tinha essas "visões". Já em S. João Batista, os cabelos representam as ondas do mar invadindo a terra (muito resumidamente falando) e o dedo em riste é algo como "olhe para cima (procure por Deus), ainda há salvação".


[Fagner] - Sabia que o S. João Batista de Da Vinci na verdade é Baco? Repara bem quando você for ver novamente a imagem, a semelhança. Pensei que você ia dizer que as cabeças grotescas são aquela imagem da Bíblia que aos perdidos (os f***) só restará o choro e o ranger dos dentes... Aquelas cabeças me lembram essa passagem.


[Eu] - Pois então, antes eu confundia esse São João Batista com o Baco mesmo. Afinal ele está muito mais com cara de "profano" do que de santo. Nunca tinha associado as cabeças grotescas com essa passagem da Bíblia! Mas combina. A primeira vez que eu vi, eu me lembrei daquela gente eternamente doente e mal nutrida dos tempos medievais, aí depois me lembrava dos orks do Senhor dos Anéis. Do fim do mundo para as artes... (...) É ou não é uma coisa perturbadora? Dá até pra imaginar o tormento se passando pela cabeça dessas criaturas. Da Vinci era terrível - no bom sentido (...) Hoje eu estava revendo o Efeito Nostradamus - O Armagedom de Da Vinci. Esse tipo de coisa é bom a gente assistir mais de uma vez, pois tem muito detalhe! (...) O próprio Da Vinci fazia algumas previsões, deixou várias e várias frases escritas em forma de "charadas" sobre o fim do mundo. Medonho. (...) Finalmente consegui assistir a 2012 Tirando os clichês, algumas coisas ali ficaram meio estranhas, você percebeu? Americanos sem rumo dependendo da ajuda de russos e chineses! Isso sim é apocalíptico! E no fim das contas todo aquele carnaval da Diocese do Rio para censurar as cenas em que o Cristo desmorona, não deu em nada? Pra mim esse piti foi totalmente desnecessário, afinal a cena não durou nem 10 segundos. Pior foi a Capela Sistina rachando e os afrescos do Michelangelo virando pó.


[Fagner] - Viu o 2012? O que me irrita é essa coisa que tudo os EUA tem que resolver... Parece que o mundo é quintal: "Olha lá pai, tão mexendo na laranjeira lá no fundo do quintal." "Peraí, fio, vou jogar uma bomba nesses malditos!" Mas sei lá, não é o meu estilo de filme preferido. Leonardo da Vinci fazer previsões é coisa de gênio, o cara escrevia ao contrário para ninguém ficar lendo. Mas sei não quanto a prever o fim do mundo, acho que vamos acabar com ele antes do Apocalipse, e quando Deus chegar para acabar com tudo vai dar com os burros n' água: "Puxa, essa racinha acabou com a minha diversão!"


[Eu] - Estados Unidos... tudo tem que acontecer primeiro lá, inclusive o fim do mundo! Agora peguei para assistir outro desses seriados amedrontadores do History Channel: Deus Versus Satanás. É também sobre isso do final dos dias, da última e decisiva luta do bem e do mal, que dizem, tem até lugar certo para acontecer: Megido. Mas como você disse, do jeito que as coisas estão indo, o fim pode estar mais perto do que a gente imagina. Quando Deus descer para dar na cara do Satã, não vai ter mais Megido, nem Jerusalém, nem Oriente Médio, nem continente nenhum. Vão ter que brigar em outra freguesia.


[Fagner] Aí, escreve sobre o fim do mundo! Estava conversando ontem com o Leleco e ele me passou uma dica de um texto do Leonardo Boff. Além disso, tinha falado pra ele que se a nossa raça acabasse, segundo algumas leituras, entre elas a do nosso véinho querido, o Mark Twain, seria uma boa para o mundo. Sabe como é: não fazemos falta. E, se não existirmos mais, o mundo voltaria a ser o que era, lindo e limpo. Seria bom se isso acontecesse, o que eu acho que vai, porque somos frágeis, deixa mudar o tempo, ter uma catástrofe climática pra ver quem vai primeiro...


[Eu] Pois é, isso que você disse sobre a gente sumir e o mundo voltar a ficar limpo e bonitinho, teve também no THC uma série de documentários chamada O Mundo sem Ninguém, e falava exatamente disso. Se de repente todo mundo desaparecesse (por um motivo qualquer), o que seria do mundo? O que seria das cidades, dos monumentos, dos documentos, dos livros, dos nossos animais domésticos, dos prédios, das fábricas, das estradas? Muito interessante. A natureza simplesmente não sentiria a nossa falta, os animais reinariam sobre a terra e tudo TUDO MESMO sumiria em algumas centenas de anos, desde os livros e arquivos digitais, até os carros, usinas, museus, torre Eiffel, Estátua da Liberdade, Monte Rushmore (só para citar algumas das criações mais monumentais do homem), grandes rodovias. A natureza ia engolir tudo!


[Fagner] Tem até um filme assim. É no Planeta dos Macacos que eles aparecem do lado da cabeça da Estátua da Liberdade. É tudo seria perdido, coisas de valor inestimável. Mas e se viesse também alguma coisa do céu e acabasse com tudo, como aconteceu com os dinossauros? Outros seres iriam sobreviver, não nós e começariam tudo de novo. Em cima das nossas coisas, iriam evoluir e depois, quem sabe, até escavariam nossas coisas como fazemos com os dinossauros. (...) E, quem sabe, quando encontrarem algumas coisas, farão suposições de nossos costumes, como fazemos com bichos que nem sabemos direito como eram. Assim:
O Supremo Castigo
Mário Quintana
Em todos os aeródromos, em todos os estádios, no ponto principal de todas as metrópoles, existe - quem é que não viu? - aquele cartaz... De modo que, se esta civilização desaparecer e seus dispersos e bárbaros sobreviventes tiverem de recomeçar tudo desde o princípio - até que um dia também tenham os seus próprios arqueólogos - estes hão de sempre encontrar, nos mais diversos pontos do mundo inteiro, aquela mesma palavra. E pensarão eles que Coca-Cola era o nome do nosso Deus!” - (In: Caderno H) p. 273


[Eu] Agora esse trecho do Quintana me lembrou aquele outro filme Os Deuses devem estar loucos, em que o aborígene acha uma garrafa de Coca-Cola e imagina ser isso um sinal dos deuses. Mas vai ser bem por aí mesmo. De repente uma coisa bem banal como uma garrafa ou um tênis Nike daqueles bem horríveis, possam ser interpretados como coisas divinais, vai saber... Só sei que isso de fim do mundo está ultrapassando os limites da curiosidade e já está virando moda. Os documentários da TV a cabo só falam disso: catástrofes, apocalipse, os exércitos de Satã, a vingança da natureza, os escritos maias, as profecias de Nostradamus... vou voltar a ver Tom & Jerry que eu ganho mais.


[Fagner] Nostradamus... Ainda acreditam nele? O cara tem quantas profecias do fim do mundo? Desde pequeno ouço algumas e até agora nada... Pra você ver que estamos sob um efeito retardado, isso porque teorias apocalípticas deveriam ser feitas no fim do século, quando as luzes estão se apagando. Isso me lembrou o Antônio Conselheiro no final do século 19. Lembra do "sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão"? Já leu essa profecia? Lembro de uns caras (no fim do século que nascemos - estamos velhos, somos do século passado!) que se mataram quando o cometa Halle Boop ia passar porque teve um maluco que falou que seria o fim do mundo e que na cauda do cometa tinha uma espaçonave que iria pegar aqueles que se matassem numa data certa. Agora com isso eu me lembrei do Chaves entregando jornal: "Cinqüenta pessoas enganadas!"

Quem quiser aderir a uma seita bizarra e se matar, que se mate. Enquanto Deus não passa uma vassoura em tudo, o melhor a fazer é tentar ver as coisas por um lado mais espiritualizado e menos especulativo. Vou continuar lendo, escrevendo, adorando gatos, vendo os vexames do Palmeiras, fazendo palavras cruzadas, assistindo a desenhos e desfrutando da companhia das pessoas que amo do mesmo jeito de sempre. O final é algo certo para todos. Para uns mais cedo, para outros mais tarde. Mas mais importante do que escarafunchar sobre qual tragédia se abaterá sobre nós um dia, é aprendermos a tirar o melhor de nós todos os dias. E fim de papo.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010


Bruno, Fagner,
LyLove e Das Schweigen:
muito obrigada pelas visitas e pelas palavras.
Sinto que ganhei a semana!
\o/

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

HERÓIS DE ONTEM.
HERÓIS DE HOJE.

Fui muito pichada pelo meu último texto, sobre a Colheita Feliz, pois creio, muitas pessoas não entenderam o espírito da coisa, mas tudo bem. Sei que dessa vez a receptividade vai ser a mesma já que vou pisar o calo de mais gente. Quem gosta de Big Brother aí, levante a mão. Mesmo aqueles que fingem que não gostam, mas que sempre dão suas espiadelas, conforme convida o Bial. Eu admito que assisti lá nos primórdios, quando a coisa ainda era novidade. Mas aí fui percebendo que circo inútil isso era e me curei. Mas respeito quem gosta. Só pergunto se essa mania de chamar os brother e sisters de “guerreiros” e “heróis” não é exagero. Eles mesmos se intitulam guerreiros. Guerreiros por quê? Cadê o heroísmo? Onde há bravura? Cadê a valentia? Ali só se vêem músculos, bundas, cabelos tingidos, silicones, cabeças ocas, conversas fiadas, piadas gratuitas, comentários sem nexo, modismo e uma pseudo-militância. E há quem pague para ver! Para mim ali não há, nunca houve e jamais haverá guerreiro algum, herói algum. Ali só existem oportunistas e preguiçosos. Mas eles estão crentes que são guerreiros! E com isso passam a idéia de que guerreiro ou herói é somente aquele que vence, é aquele que esmaga a cabeça de seus inimigos, é quem triunfa a preço for. Não. Os sábios gregos antigos já ensinavam que o verdadeiro herói é aquele que dá a sua vida por alguém ou por uma causa sem pensar em recompensas, sem almejar homenagens, sem esperar por aplausos. Os maiores heróis da antiguidade perderam suas vidas em nome daquilo em que acreditavam e nem sempre saíram vitoriosos, mas seus nomes ficaram imortalizados e alguns vencedores se perderam na História. Isso me lembra o caso de quando Fernando Pessoa, ainda engatinhando na literatura, ficou em segundo lugar numa espécie de concurso de textos. O segundo colocado foi o grande Pessoa, mas quem foi o primeiro? Ninguém sabe. O vencedor nem sempre é digno.

Antes de chamar esses situacionistas de heróis, Pedro Bial deveria botar a mão na consciência e se lembrar de quem realmente são nossos paladinos. E para aqueles que adoram um BBB, aí vai uma listinha, para que percebam o crime que se comete quando se nivela esses “famosos-quem?” com esses bravos homens e mulheres, guerreiros de fato:

1 - As antigas civilizações da América que se defenderam como puderam de seus algozes colonizadores.
2 - As centenas de mulheres queimadas pela Inquisição, acusadas de bruxaria (juntamente com seus gatos) simplesmente porque a Igreja via no sexo feminino a própria tradução do pecado.
3 - Jesus, que somente com suas palavras, arrebatou milhares de corações e sem derramar o sangue de ninguém, incomodou profundamente o Império Romano e mudou indelevelmente a História do mundo
4 - Siddhartha Gautama, o Buda, que se libertou dos ricos muros que o impediam de ver as mazelas do mundo, abdicou de tudo e alcançou a iluminação na intenção de abrir as mentes das pessoas e levá-las ao conhecimento.
5 - Sócrates que sob a acusação de corromper seus jovens discípulos, foi obrigado a beber cicuta, mas não retirou nenhuma palavra que disse, mantendo sua honra até o final.
6 - Francisco de Assis, que depois de uma revelação, se despojou de tudo que tinha e casou-se com a senhora pobreza, cantava as palavras do Cristo, espalhava sua alegria e contemplava a natureza.
7 - Lao-Tsé, grande pensador chinês que deu origem ao Taoísmo; entristecido com o pouco caso da sociedade de sua época recolheu-se nas montanhas do Tibet, porém seu único intuito era pregar a bondade.
8 - Gandhi que, disseminando o pacifismo, foi o grande responsável pela conquista da independência da Índia.
9 - Joana D´Arc, que ainda menina ouvia vozes santas, foi ridicularizada, acusada de louca, mas que reuniu um exército e levou os franceses à vitória sobre os ingleses em 1429. Quando capturada, foi também mandada à fogueira. Porém sua audácia e coragem nunca foram esquecidas.
10 - Maria Quitéria, valente baiana que, disfarçando-se de homem, lutou contra a coroa portuguesa pela independência do Brasil.
11 - As 103 tecelãs que morreram carbonizadas em uma fábrica em Nova Iorque em 08 de março de 1857, reivindicando melhores condições de trabalho.
12 - Anita Garibaldi, que combateu bravamente na Revolução Farroupilha e pela libertação e unificação da Itália.
13 - Machado de Assis, que tinha vários ingredientes para dar em nada, venceu preconceitos e ainda é (e será sempre) um dos maiores escritores da Língua Portuguesa.
14 - Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, que mesmo pobre e doente, produziu as mais belas obras do nosso barroco, deixando-nos um legado artístico ímpar.
15 - Sêneca (um dos meus filósofos favoritos) defendia o desapego dos bens materiais e uma vida feliz longe das ostentações. Foi conselheiro do imperador Nero e tentou orientá-lo no caminho do estoicismo, mas assim como Aristóteles com seus discursos, foi injustamente acusado e condenado a cometer suicídio.
16 - Anne Frank, a adolescente alemã que viveu 25 meses escondida num porão com sua família fugindo das ameaças nazistas. Privada de qualquer conforto e liberdade, ela escrevia em seu diário seus medos e esperanças. Porém eles foram dedurados e levados a Auchwitz. Somente seu pai, Otto, sobreviveu ao campo de concentração. Hoje seus escritos são uns dos mais conhecidos registros sobre as barbáries dessa época.
17 - Madre Teresa, ganhadora do Nobel da Paz em 1975, fundadora da ordem das Missionárias da Caridade, disse ter recebido um chamado de Deus quando abandonou a docência de Geografia para se dedicar integralmente aos pobres, preocupando-se e dando atenção especialmente às crianças, velhos, cegos, leprosos e mulheres. Era também conhecida por "Santa das sarjetas".
18 - Nossos antepassados que desembarcaram no Brasil com uma mão na frente e outra atrás, mas que, com muito trabalho, conseguiram ter seu pedaço de chão, seu teto, seu pequeno negócio, e sem prejudicar ninguém (e nem se valer de esmolas do governo), constituíram, honestamente, família e patrimônio.

E os bravos de hoje, quem são? Big Brothers acéfalos? Uma bunda imensa que se sacode no carnaval? Jogadores de futebol que ao invés de honrarem seus salários, promovem orgias na Europa? Quem foi que os colocou num pedestal? Não venham só culpar a mídia por essa inversão de valores, pois se os veículos de comunicação vendem, é porque existe quem compre. Os heróis que o povo quer têm que passar pelo crivo da mídia para ter significância. Isso é deprimente. O povo deixa passar batidos os guerreiros de hoje de verdade como os ativistas e voluntários do Greenpeace, WWF, S.O.S Mata Atlântica, Projeto Tamar, que fazem uso do tempo que têm e da ajuda que quase não têm para tentar resgatar animais e plantas ameaçados de desaparecer, de recolher bichinhos maltratados, de alertar as pessoas e de fazê-las enxergar que a natureza pede socorro. Médicos sem fronteiras que se desdobram para atender pacientes nos confins mais pobres do mundo. Professores, especialmente os dos grandes centros como São Paulo, que são mal pagos, destratados, ofendidos e até agredidos, mas que ainda assim honram a profissão; ou os dos lugarejos mais miseráveis dos sertões, onde não há condição alguma de trabalho, mas eles estão lá para seus alunos. Hoje quem realmente tem bravura e coragem não tem cara, não tem nome. Talvez na Grécia antiga eles fossem lembrados em belas odes. E, no entanto, adoradores dos Big Brothers, tão burros quanto os próprios, os divinizam, os tomam como exemplos e serão igualmente efêmeros. Cada um tem o herói que merece.
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São Francisco de Assis: o homem do milênio

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

COLHEITA SEMPRE FELIZ

Sinto que há pessoas (além do blog) que não entenderam muito bem a proposta do meu texto sobre a Colheita Feliz. Ah, pelamordedeus! Será que não notaram que o texto não é para ser levado tão ao pé da letra? Quando criança eu roubava pitangas em algumas casas daqui de Garça. Hoje roubo as hortas virtuais da Colheita. Eu também jogo! Por isso me achei no direito de brincar com esse assunto.
Respeito o pensamento de todo mundo, mas só achei engraçado tantas pessoas se manifestarem irritadiças levantando a bandeira da Colheita Feliz sendo que nesse mundo há tantas outras causas mais importantes para se defender, enfim... Essa gente que leva tudo tão a sério o tempo todo tem que se cuidar: Isso dá úlcera!

OHM...