segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Correspondência entre amigos – Parte 4
UMA PAUSA PARA OS RECLAMES


Já é sabido que a Internet, entre outras coisas, é um poço interminável de bobagens, sacanagens e afins. Mas também é uma ferramenta indispensável para os saudosistas oitentistas como Fagner e eu. Primeiro porque, mais uma vez, trocamos mensagens orkutianas sobre essa “charrete que perdeu o condutor”, como diria Raul Seixas. Segundo porque reviramos o YouTube em busca de propagandas, clipes e programas dos quais guardamos ótimas lembranças. Mensagem de lá, mensagem de cá, convenientemente, mais uma vez, eu noto que isso poderia render outro texto. Então, para quem é da época do creme rinse, dos tênis Iate e dos batons Boka-Loka, creio que essa nossa conversa vai fazer algum sentido:
[Fagner] - Viu os vídeos que eu adicionei sobre a década de 80? Ia colocar alguns de comerciais que eu estava vendo no YouTube que é da nossa época... Tinha até achado um que eu nem me lembrava mais que era dos Trapalhões fazendo a propaganda do Chester Perdigão... Lembra daquela do "Habemus Chester"? (...) Achei umas que parecem com aquelas que passam no Pica Pau, lembra? O episódio chama-se "Propaganda Super", aquele que tem a do "Dentifrício Alegria... quatro cores diferentes combinando com a pele!". (...) Na época devia ser uma sensação, o cara fala no final que "Toddy fortifica!" Tá? Nem tinham preocupação com calorias naquela época...

[Eu] - Essa do Toddy "é gostoso, fortifica e é econômico" tem de tudo! Até cara bombado! Hahaha. Mas você reparou numa das moças da propaganda? Era a Norma Bengell! Ela era linda né? Mas gostei mesmo da latinha do Toddy, que bonitinha. E sim, tem mesmo cara das propagandas que passavam naquele episódio do Pica-Pau em que ele assistia a um programa cheio de merchans! Além do Dentifrício Alegria, eu me lembro das "Pastilhas Fininho - tome uma e fique fininho mesmo!" – Agora essa propaganda dos cotonetes com esse homenzinho azul saindo do banho é clássica!
Quer outra? Camisas Pool "Bonita camisa, Fernandinho!" - eu achava esse tal Fernandinho um nerd, com cara de que era super explorado naquela empresa.


[Fagner] – (sobre uma propaganda secular da Coca Cola em que se falavam – demoradamente - nomes de vários instrumentos musicais) Agora diz se você compraria esse produto por causa dessa propaganda... “Este é o reco-reco!”... aiaiaiaiai Isso é bem parecido com o que é a do guaraná Dolly hoje... Levou tempo até chegarem no "Pipoca na panela...". Pior é que não inventaram outra melhor do que a do Guaraná Antártica.

[Eu] – O que é essa propaganda? Como a TV tinha tempo para jogar fora! Como as propagandas eram demoradas e nada objetivas! Nossa, que sossego! Para se chegar à Coca-Cola o cara apresentou tudo que era instrumento musical - tocados, aliás, por uns tiozinhos vestidos de “malandros”, mas com uma cara de canseira... sinal que a Coca-Cola não deixava as pessoas tão ligadonas naquela época haha (...) Vixe, as propagandas do Guaraná Antáctica eram ótimas mesmo. Pizza com guaraná, pipoca com guaraná... até banana com guaraná tinha, você lembra? Mostrava um mocinho lindo de rabo de cavalo na beira da estrada pedindo carona e ninguém dava. Aí ele fazia uma "banana" para as pessoas. Eu achava aquele mocinho lindo de morrer! Daí o tempo passou, passou... hoje esse "mocinho" é conhecido por Rodrigo Santoro! Acho que foi o primeiro trabalho dele na TV. Ai ai... isso me lembra demais a minha 6ª série (...) Agora quero ver se você se lembra dessa musiquinha: "Estrela brasileira no céu azul / Iluminando de norte a sul / Mensagem de amor e paz/ Nasceu Jesus, chegou o Natal / Papai Noel voando a jato pelo céu / trazendo um Natal de felicidade / E um Ano Novo cheio de prosperidade / Varig! Varig! Varig!" Será que é do seu tempo? Eu já estou com idade para admitir que voei de Varig. Vasp e Transbrasil também! Só não voei de Pan Am porque aí já ia ser demais!

[Passei para o Fagner um vídeo do YouTube, um dos inúmeros sobre a programação da TV na década de 80] Vê só essa seqüência de propagandas, de “um sábado à noite de 1987 na Globo”, na hora do Supercine. Um monte de coisas me chamou a atenção nisso:
1) A vinheta do Supercine não mudou desde 1987!
2) Na chamada do Fantástico, uma das reportagens era os cuidados com a proliferação da dengue. Outra coisa que também não mudou.
3) E os musicais do Fantástico? Ivan Lins e João Bosco. Quando que hoje isso acontece?
4) Você se lembra daquela motinho italiana, Vespa? Muito mais charmosinha que essas motos de hoje e já era vista como uma alternativa para fugir do tráfego intenso!
5) Propaganda da Pepsi com Tina Turner e Blitz! Que máximo isso! Adorei!
6) Taffman-E! Chegou a tomar isso? Eu tomei porque via essa propaganda no programa dos Trapalhões, mas nem sabia do que essa bebida se tratava direito. Mas se os Trapalhões recomendavam... Era bom, mas tinha um gostinho de remédio.
7) Essa é pra acabar: propaganda de livro! Tá certo que era um daqueles romances ultra comerciais, mas mesmo assim... LIVRO!

[Fagner] - Nossa, esse vídeo foi longe, hein?
Quando passou esse Supercine eu tinha 4 ou 5 anos... A vinheta não mudou mesmo. É, não mudou nada, ainda há dengue... Ô tempo em que a TV tinha programas que passavam os mestres da MPB... A Vespa é parte da alma italiana! Ainda tomo TaffMan-E, tem gosto de remédio mas tudo bem... Agora, propaganda de livro hoje só se for de auto-ajuda e olhe lá que tranqueira que estarão vendendo. Lembro de uma vez que falaram que fizeram propaganda nos ônibus franceses do livro do Paulo Coelho, o pessoal de lá achou tão deselegante (...) Pior é que eu gostei da propaganda antiga do Toddy... Viu só a latinha, que diferente, nada a ver com a de hoje. Estava mais para lata da manteiga Aviação do que para achocolatado Toddy...E no final quando o cara fala que Toddy é o único, impossível de se copiar... Agora qualquer fabriquinha tá fazendo chocolate em pó... Não igual ao Toddy, mas já quebra o galho...

O mais curioso é que quando éramos crianças, tudo o que nós menos queríamos era ver propagandas, porque aquilo interrompia os nossos programas favoritos. E, no entanto, hoje, ficamos caçando essas mesmas propagandas, cheios de nostalgia. E é bom deixar claro que não ganhamos um centavo sequer para mencionar os produtos que apareceram neste texto! Não nos venderíamos tão barato e nossas saudades não têm preço.