quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

A colheita maldita

A COLHEITA MALDITA


Antes que eu fique com algum bloqueio mental por causa desse jogo, vou logo escrever o texto que alguns amigos meus me recomendaram e pediram. Na verdade o jogo em questão não se chama Colheita Maldita, mas Colheita Feliz (a versão brasileira do Happy Harvest). O “Maldita” é por minha conta, pois o que parece ser um inocente joguinho on line, na verdade é um terrível vício que desperta o que há de pior no ser humano: ganância, inveja, ostentação.
Para aqueles que ainda não conhecem o Colheita Feliz, em resumo se trata de uma brincadeirinha do Orkut, falsamente inofensiva, onde as pessoas mantém suas fazendinhas plantando, colhendo e criando animais – e ganhando algum dinheiro com isso. Dinheiro de mentirinha, claro. Só mesmo o Silvio Santos e o Lula para darem dinheiro à toa. O visual do jogo é bonitinho, quase infantilizado; as vaquinhas, ovelhinhas, galinhas, burrinhos e porquinhos são todos “fofinhos”. As plantinhas não fazem muito sentido, pois um pé de morango tem o mesmo tamanho de um pé de manga, mas tudo bem, o que interessa é a emoção do jogo. E não exagero quando uso a palavra “emoção”, pois como eu disse, esse passatempo tão inocente é capaz de nos transformar em verdadeiros Mr. Hyde. Para começar, ganhamos dinheiro roubando nossos amigos. Ficamos à espreita em suas hortas para colher os frutos maduros e os produtos dos animais e depois vendemos as mercadorias furtadas. Mas sempre tomando cuidado para não sermos nós os roubados. Roubar pode. Ser roubado, não! Aí começa o mais fiel retrato da vida real: tornamos-nos egoístas e trapaceiros.
Depois vem a raiva por termos sido furtados, a frustração por não termos tomado a devida conta de nossas plantas e bichos. Resulta daí que passamos a ver nossos amigos como rivais e traíras em potencial. No mundo real chamamos isso de competir de forma desleal. Em seguida vem a opção de infestarmos de pragas as hortas “inimigas”. Vingança, claro. Ele vem e me rouba, se eu não posso roubá-lo, então vou prejudicá-lo. Inveja. Rancor. Sadismo.
Ainda podemos regar e limpar as plantações, usando pesticidas para matar as tiriricas e os vermes. Mas não fazemos isso porque somos bonzinhos, mas sim porque também rende algum trocado. Ou seja: não existe nenhuma boa ação desinteressada.
Quando eu entrei nesse jogo, eu imaginava que isso era coisa de criancinha. Mas a Colheita Feliz é a mais cínica tradução da máxima que diz que “o homem é o lobo do homem”. Dramas à parte, quem joga, comece a reparar nisso: você já teve inveja da plantação de algum amigo, cheia de pêssegos, limões, uvas, kiwis, pitayas e flores que você nunca conseguiu? Enquanto ele planta coisas caras e exóticas você ainda está no estágio daqueles reles nabos e cenourinhas. Você já se pegou cobiçando o curral alheio cheio de animaizinhos lindinhos que produzem uma pancada de leite, ovos, lã e mel? Enquanto isso o seu terreno está tão vazio que se o jogo tivesse som, você só teria o som do silêncio. Você já se pegou meio desbundado quando viu os cenários bacanas dos outros, com paisagens diferentes e casinhas estilosas? Ao passo que você demorou uma vida em juntar grana e se mudar daquela casa sem-graça e trocar aquele jardim zoado. Ambição total. Humildade zero.
Para quem não joga a Colheita Maldita acha que isso é puro devaneio meu, mas tenho certeza que alguma idéia assim já deve ter incomodado algum “fazendeiro”. É natural, o sentimento de competitividade é inerente no ser humano. E tem sido assim cada dia na vida, seja em algo sério como brigar por uma vaga de trabalho ou em algo mais ameno como uma pelada de fim de semana e até numa bobeira como essa Colheita Feliz.
O que eu quis mostrar com esse texto é que até mesmo nas menores coisas, diante da “ameaça do outro” e da competição, nossos instintos mais primitivos afloram. Talvez um psicólogo ou um antropólogo explique bem melhor esse fenômeno de pessoas trancadas em seus mundinhos, se roubando entre si, cobiçando, querendo que o outro se dane, ainda que esse “se dane” não seja um desejo do fundo do coração. Mas é engraçado ver que até numa brincadeirinha assim, quem pratica ilegalidades é quem mais se dá bem. Semelhança total com o mundo exterior.
Semelhança maior ainda eu senti quando, dia desses, eu invadi um laranjal alheio e não senti um pingo de culpa. Invasão em laranjal sem culpa... Já vi isso em algum lugar.


quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Ai, que saudades daquelas garoas...

AI, QUE SAUDADES DAQUELAS GAROAS
Acompanhem esses fragmentos de mensagens orkutianas, que o meu texto vem já já:

[Eu] Como é que você conseguiu tirar fotos na sala da OSESP? Me diga! Eu levei um esporrinho da segurança só porque eu tirei uma fotinho de nada e sem flash! Ou eles estão relaxando com essa regra ou você é muito do descarado (segunda opção?)
Muito lindo lá, né? Momento Comentário-Maldoso: Nem parece que estamos no Brasil (isso me lembra Lula sobre a África) (...) Eu não me perdôo por não ter ido ao Museu da Independência, MASP, Casa das Rosas... fiquei um ano morando em Sampa, mas não dava pra ver tudo :/ Deve ser porque eu não saía da Liberdade =) (...) Quando eu fui à Osesp, acredita que eu dormi durante quase toda a apresentação? Ai que vergonha! É que eu tinha tomado uma dose cavalar de Dramin. Acordei com todo mundo batendo palmas.
[Fagner] Pra você ver como que as pessoas atrevidas vão longe... ou são expulsas da sala de concerto! Tirei mesmo!!! Só falaram que não podia quando o maestro iria entrar. Nem parece que é o Brasil mesmo, mas olha a foto que eu tirei da parte de fora, do entorno da Júlio Prestes, uma menina fumando droga e com uma boneca na mão... Há tanta desgraça lá, mas é uma cidade bonita, há alguns lugares bonitos que valem a pena. Achei pitoresco que mesmo sendo poluída (não agüentava de dor de cabeça por causa disso), de ter um trânsito louco, lixo espalhado pra tudo quanto é canto, as pessoas saem para caminhar, fazer exercícios, jogar futebol, passear. É uma cidade cheia de contrastes. Estranho, né? No domingo eles saem, vão muito longe se divertir... E nós, daqui do interior, às vezes nem saímos de casa. Quanto mais pra ir em museu, galeria, sala de concerto. Ou também pra caminhar, jogar futebol... (...) A sala São Paulo foi o lugar mais chique que você cochilou e o lugar mais chique que eu escrevi um soneto (...) Da próxima vou no Museu do Futebol... Você falou de "velharias", gosto de colecionar as minhas.[Eu] Mas no do Futebol eu fui! eeee \o/ Quando você tiver a oportunidade, vá sim! É bem moderno, mas tem uma parte de fotos antigas que é linda! E no do Imigrante também. Pra quem curte "velharia" como a gente, é uma diversão só! Ai que saudades de Sampa - eu achei que eu jamais fosse dizer isso!!! (...) Tanta gente diz que SP é a terra das disparidades e tal, mas a gente só comprova isso quando está lá. Morei num pedaço do Brás - antes redutos de italianos, portugueses e espanhóis. Lá se vêem muitos predinhos que no passado devem ter sido lindos: casarios com sacadas graciosas, colunas, portas altas de madeira com fechaduras de ferro todas trabalhadas, anjinhos e outras figuras esculpidas na fachada... um cenário até romântico. Hoje isso não passa de cortiço, lixo e pichação pra todo lado. É de dar dó e raiva ao mesmo tempo. Daí, uns minutos de metrô mais adiante, você desembarca na Paulista e dá de cara com aqueles bancos chiquérrimos com cara de Wall Street - alguns instalados em casarões dos barões do café - restaurantes e cafés que dá até vergonha de entrar, tudo limpo (quando não tem obras), um ar nova-iorquino... como pode?[Fagner] Pra você ver que a terra da realização de sonhos não é o paraíso.
Tinha visto isso, voltando do Ipiranga, passamos de frente com o Mercado Municipal e ali perto havia algo assim, casinhas antigas que deveriam ser lindas no passado e que hoje não passam de um cortiço. Parece que acertamos, mesmo com esse vácuo de cultura que há y otras cositas más, em termos nascido no interior. A vida aqui aparenta ser mais digna...

Nesse instante (11/11/09, 12:30) acabo de ter uma daquelas conversas um pouco “cabeça”, um pouco “nerd”, um tanto filosófica e outro tanto saudosista, com meu amigo Fagner. E na maioria das vezes sinto que essas conversas podem render um texto – vivo falando isso para ele. Só que dessa vez não deixei passar e o que parlamos, rendeu um texto sim! É que eu já estava incomodada com essas saudades me rondando e resolvi fazer uma espécie de declaração de paixão por São Paulo. Ainda não é declaração de amor, mas um dia quem sabe...
Sempre ouvia as pessoas falando de São Paulo, de suas belezas e perigos, terra das oportunidades, onde o dinheiro corre, lugar onde as diferenças sociais saltam aos olhos, cidade violenta, enchentes, seqüestros, sujeira. Tudo aquilo que todo mundo sabe. Então como pode alguém se apaixonar por uma cidade assim? Porque em meio a tanta desgraceira, existe uma São Paulo linda, convidativa, charmosa, inteligente, engraçada, pluralista. Não posso dizer que eu tenha incorporado uma “paulistanidade”- no meio daquela gentarada toda eu era apenas mais uma criatura vinda de algum lugarzinho tentando entender aquela confusão. E ainda não entendi, mas tentei tirar o melhor que pude de lá. Minha prima Lílian que o diga – como eu cheguei lá toda medrosa. E hoje, como sinto saudades daquele lugar com seu clima “4 em 1” (as quatro estações do ano num só dia) quando eu saía do Brás cheia de calor, chegava na República com o tempo fresco, voltava com aquele ventinho frio e ia dormir com o ar gelado.
Eu que vivi a minha vida toda entrando e saindo de casa com tanta facilidade, demorei um pouco a me habituar a sair e entrar no prédio depois de ser reconhecida pelo porteiro; ou disputar alguns centímetros dentro do metrô para ir ao centro, sendo que aqui isso se faz caminhando algumas quadras respirando um ar limpo e sem correr o risco de algum pivete nos encostar um estilete, ou fazer o sinal da cruz antes de atravessar uma rua, porque lá os motoristas não têm o mesmo sossego e tolerância que os daqui. Mas ainda assim, tenho saudades. Coisas da paixão, não tento mais entender. Sampa me ganhou justamente por esses pequenos desafios diários, que servem pra nos deixar mais alertas, mais espertos.

E Sampa também nos faz pensar. Como disse o Fagner, no mesmo espaço em que temos um lugar encantador como a Estação Júlio Prestes e a belíssima Sala São Paulo, vemos crianças se rendendo às drogas. Isso me lembra das vezes que fui ao elegante Teatro Abril e ao pitoresco Largo do Arouche, onde, ainda que veladamente, jovens se vendem em portas de casas noturnas. Ou na Praça da República, onde durante o dia artistas exibem e comercializam suas telas, esculturas e artesanatos, mas durante a noite, os mendigos “reinam”. Vi famílias desabrigadas montando barracas sob as pilastras do metrô, soube de um sujeito que se matou ao se atirar de lá e seu corpo ficou ali, estendido, esperando horas até que as autoridades competentes viessem levá-lo (e acabar com o espetáculo gratuito dos passantes), e logo ao lado as crianças de uma escolinha ficavam espiando a cena. Me habituei a ouvir sirenes da polícia e do Resgate – em Garça isso ainda gera curiosidade, mas lá isso é só mais um barulho. Aprendi a dizer NÃO às crianças mendicantes, às mães pedintes, às pesquisas de rua, aos distribuidores de panfletos e até aos perdidos em busca de informação. São Paulo nos faz indiferentes e mais duros, ainda que lutemos contra isso, mas o medo do desconhecido grita mais alto. Lá o medo e a vontade de ousar sempre andam juntos.
E aquele sentimento de contemplação sempre nos cutuca quando olhamos os prédios ora modernos, ora antigos; as praças ou lindas ou abandonadas, pensando “quem será que foi esse fulano homenageado com esse busto tão mal cuidado?”; os casarões preservados da Avenida Paulista e Higienópolis, a Catedral da Sé, a Estação da Luz (onde minha prima e eu fomos confundidas com gringas) e o maravilhoso Museu da Língua Portuguesa, os charmosíssimos cafés ao redor da Bolsa de Valores, o Pátio do Colégio, o Largo São Bento, o Mercado Municipal com suas cores, cheiros e sabores; o adorável Museu do Imigrante na Mooca, o apaixonante Museu do Futebol no Estádio do Pacaembu, os milhares de programas culturais gratuitos, os diferentes estilos arquitetônicos, as livrarias, os sebos, os grafites, os monumentos, as luzes. E é claro, o meu xodó: o bairro da Liberdade. Apesar de eu não ter nenhum pingo de sangue oriental nas minhas veias, lá eu me sinto em casa. Como diz minha mãe: isso deve ser coisa de vidas passadas.
Tantas belezas, tantos contrastes, tantas experiências, aprendizados, impressões, medos, alegrias, expectativas, surpresas boas e ruins. Sampa é uma mistura de tudo e, no entanto, como bem lembrou o Fagner, somos afortunados por termos nascido em Garça onde tudo é tão comum, tão igual, tão uniforme, tão parado, mas não há no mundo o que pague tanto sossego. Viver lá é para quem tem o sangue frio, que se anestesia diante de tantos “tudos”. Viver aqui é para quem tem sangue quente, que consegue fazer de Garça a sua própria terra de realização de sonhos. Sou garcense por amor, mas aspirante a paulistana por paixão.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Baleiros, recreios e outras saudades

BALEIROS, RECREIOS
E OUTRAS SAUDADES

Dessa vez o texto teve origem numa “polêmica” saudosista debatida entre meu namorado e eu acerca de algumas guloseimas oitentistas – claro. Qual era melhor: o Azedinho Doce ou os Minichicletes Adams? Ele defendia os chicletes compridinhos, fininhos e achatados que, como o nome já diz, eram azedos e me desgostavam. Eu tomei o partido dos Minichicletes que eram mais bonitinhos justamente por serem miniaturizados. Mas aí me lembrei do meu “campeão de vendas”, o Ploc Monsters, aquele chiclete duro pra caramba, que não fazia bola e que grudava em tudo, mas que vinha com figurinhas de monstros com nome de gente. Esse sim era o mais legal porque tinha aquele “desafio” de completar o álbum logo e achar algum monstro xará de algum amigo. Guardo até hoje o álbum – incompleto, para a minha frustração – assim como os do chocolate Surpresa. Minha mãe sempre me dava um Surpresa, aquele do tigre no papel, e eu ficava louca tentando fechar a coleção de cartões de vários animais.
Outra coleção impossível de se terminar era do Ping Pong Pantanal. Tenho certeza que muitos se lembram da mania que era aquilo e de toda molecadinha batendo bafo na hora do recreio. A maior raridade de todas era uma ave chamada “noivinha”, quase ninguém tinha e quem tinha tentava vender para os mais bobinhos. E falando em recreios, isso parece uma frase dita pelo Chaves, mas uma das maiores lembranças que eu guardo da minha infância na escola são os intervalos no Hilmar Machado, justamente por causa das merendas e outros acepipes. Tinha dia que não dava para resistir e eu entrava na fila do refeitório atrás das sopas de feijão, das canjicas, dos sagus e das macarronadas – que eram servidos aqueles pratinhos de plástico azul.
Ou então comprava tranqueirinhas na cantina da Elza: aqueles pirulitos de caramelo em forma de chupeta, que demoravam hoooras para acabar; chup-chup de doce-de-leite e pipoca doce. Super nutritivo. Então, para dar um reforço no lanche, minha mãe embrulhava uns pãezinhos Seven Boys com geléia pra eu levar. Aliás, esses agrados gastronômicos nunca faltaram: geléia de Mocotó Colombo, o saudoso BrownCow, aqueles suquinhos sem nome que vinham em embalagens no formato de revólver, cacho de uva, carrinho etc, e Danfrut, aquele iogurte que vinha com pedaços de frutas no fundo. Fora meu pai que era intimado a me comprar algodão-doce toda vez que íamos ver a banda no coreto nas noites de domingo. Mas tinha que ser do branco! O rosa ele dizia que tinha muita tinta.
Eu e meus primos também consumíamos muitas outras bobagens deliciosas no bar do seu Nelson, ali bem no centro. Ainda lembro perfeitamente daquele baleiro que girava – e chiava – em cima do balcão, das tirinhas de balas Klep´s, do refrigerador cheio de Brahma Guaraná e Malt 90 e das vitrines lotadas de doces, especialmente de suspiros e marias-moles que vinham com uns brinquedinhos bem mixurucas. Certa vez pedi uma que trazia um relógio de plástico bem vagabundo e sem ponteiros do Coisa (do Quarteto Fantástico), era simplesmente horroroso, mas eu o coloquei no pulso e o exibia como se estivesse usando um legítimo Cartier.
Mas a gente se contentava com pouco e com coisas simples como fazer limonada e comer uma panelada de pipoca salpicada com Aji-no-Moto (na época, a maior novidade em termos de tempero), na calçada, como minhas primas e eu fazíamos de tarde nos fins de semana, ou fazer favores para o meu primo Fernando em troca de Suflair, assaltar o baleiro da minha vó, que vivia lotado de balas Soft (que parecia ser feita de vidro), toffee (que grudavam no papel e no dente) e as clássicas Jane e Chita, de menta e abacaxi, da Ogawa. As mesmas que ganhávamos dos Papais Noéis de porta de loja quando o comércio abria a noite na época do Natal. Mas seria uma injustiça não citar aqui as balas Banda, 7 Belo, Juquinha e Xaxá – a do gatinho. Tinha também a Mentex, que minha mãe sempre tinha na bolsa e eu pensava que era remédio.

Do popular para o “chique”, quando eu era criança, a coisa mais espetacular do mundo, quando o assunto era porcarias mastigáveis, eram os chicletes importados dos Estados Unidos e do Japão. Cada vez que algum parente de algum amigo trazia isso de fora era a maior novidade e a gente ficava todo feliz quando ganhava um mísero chicletinho de lembrança, só porque era importado! Dava status! Tínhamos até dó de mascar e guardávamos as embalagens no meio do caderno como troféus. Até hoje tenho os papéis daqueles chicletes americanos que pareciam band-aids e que vinham numa latinha e aqueles japas que vinham numa caixinha quadradinha com estampas de frutas. Hoje isso tem em todo lugar, mas naquele tempo quem levava chicletes gringos na escola, a gente falava que era riquinho. Depois apareceram aqueles do Paraguai que estouravam na boca, mas o glamour já não era mais o mesmo. Mas doces de riquinho eram mesmos as balas de leite e as Línguas de Gato da Kopenhagen. Para nós do interior, isso era coisa de outro mundo! Artigo de luxo! Atualmente isso ainda não me foge muito à regra – só ganho no meu aniversário ou no Natal.
Por outro lado tínhamos os “carne-de-vaca”: uma vez na 4ª série inventamos de fazer um amigo-secreto só de chocolates. A maioria – sem exagero! – deu e ganhou a mesma clássica caixa amarela de bombons Garoto. Que falta de imaginação. E o pior é que aquela caixa sempre tinha aqueles bombons ruinzinhos de figo e ameixa que ninguém queria e ficava empurrando para os outros. Os outros mesmos-de-sempre que não podiam faltar eram os docinhos da Dizioli que o Fofão anunciava no programa dele – como o irrecusável Dadinho, os pirulitos de caramelo do Zorro (básicos em todo aniversário), os guarda-chuvinhas da Evelyn, os cigarrinhos e as moedinhas de chocolate da Pan e as maiores vítimas de lendas urbanas sobre envenenamento: o Dipn´Lik (o dos pozinhos coloridos) e as balas Van Melle, que deixavam as mães apavoradas, pois diziam que vinham com drogas injetadas no meio.

Ainda sobre anúncios, quem é que não se lembra da memorável propaganda do Cornetto? A molecadinha cantava tentando fazer voz de tenor: “Da-me um Cornetto/muito crocante/ é più cremoso/ é da Gelato/ Cornetto sei própria Italia/ Io voglio tanto/ Corneeeto mio!”. Ainda tinham os Trapalhões fazendo merchandising do Taffman-E (a bebida do Rei Pelé), o picolé Frutilly que vinha com algum brinde impresso no palito, o Danoninho que valia por um bifinho, a bala de leite Kids – “a melhor bala que há”, o Super Nescau “energia que dá gosto”...
Acho que nem preciso mencionar como sinto falta daqueles tempos em que não havia a gulodice que há hoje, não contávamos as calorias das coisas, nossos pais sabiam a hora certa de dosar essas tranqueirinhas pra gente, quase não se ouvia falar em criança diabética ou obesa, a gente ficava contente com qualquer balinha. Era uma época em que não se usava embalagens PET. Quem queria ter refrigerante na mesa no almoço de domingo, tinha que trocar os cascos no bar ou no mercado. E não havia frasco maior que o litro “tamanho-família”, que realmente satisfazia a família! – algo inconcebível hoje em dia. Acho que sou quadrada até nesse assunto.
Enfim, sou do tempo em que Kuat era Taí, Sprite era Fanta Limão, Milkybar era Lollo, Crunch era Kri; do tempo em que se ainda sabia o que era Yopa e Chambourcy, de quando as coisas não estavam tão à vontade e ao alcance da mão, de quando não se escancarava a geladeira sem ter fome, de quando doces eram recompensas e não mimos obrigatórios e do tempo em que quando a criança não tinha cão, caçava com gato, ou seja, quando não tinha bala, comia AAS infantil!
Creio que estou com “velhice precoce”, pois é incrível como até essas coisas me dão saudades. Saudades dos sabores dos anos 80.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

CLÁSSICOS DA SESSÃO DA TARDE


Ontem minha amiga Flávia me deu um mimo que foi muito mais que um presente. Foi um “passado”. Explico. Ganhei um bottom do Karatê Kid. Há coisa mais oitentista que bottom e Karatê Kid? Na verdade há, mas bastou esse pequeno agrado para que eu logo depois me visse relembrando de vários clássicos da minha infância.

A começar pelo próprio Karatê Kid. Que Van Damme que nada! Quem a gente queria ver lutando era o Daniel-San. Eu tenho certeza que muitos meninos já tentaram fazer aquela posição que ele fazia na praia – e não conseguiam. Aliás, eu acho aquela cena muito bonita (ainda que alguns achem brega): Daniel-San treinando seus golpes, sozinho na praia ao por-do-sol – fora a música-tema Glory of Love, de Peter Cetera & Chicago. E quanto às meninas, bom, só queríamos mesmo ver o rostinho lindo do Ralph Macchio. Até hoje ele conserva aquele rosto adolescente.

Assim como Matthew Broderick, que ainda exibe aquele sorriso de eterno Ferris Bueller, de Curtindo a vida adoidado – um filme que pode passar quantas vezes for que eu dou um jeito de assistir. Acho que todo adolescente (especialmente os saudosistas) já quiseram ser um pouco Ferris: acordar um dia e surtar, driblar o diretor carrasco da escola, juntar os melhores amigos, explorar as melhores coisas da vida e da cidade, quebrar a rotina, ter um dia memorável sendo apenar feliz.

Eu também já tive vontade de morar em Astoria, a bucólica cidade onde viviam os Goonies. Apesar de ser um grupo meio estereotipado, eles eram, e são até hoje, a melhor turma dos filmes. Quem nunca teve um amigo sensível, tímido e introspectivo como o Mikey, um patife como o Bocão ou o gordinho engraçado como o Bolão ou o japinha CDF como o Dado? Cada vez que escuto Goonies are good enough (da Cindy Lauper) me dá um desejo doido de fazer parte daquele grupo, sair caçando tesouros, decifrando charadas, achar um navio pirata e até fugir de mafiosos italianos super burros.

Ou então viver aventuras mais ousadas como Marty McFly que ia e vinha do futuro dentro do DeLorean, do Doc Brown. Dizem que originalmente a máquina do tempo do De volta para o futuro seria uma geladeira, mas mudaram de idéia com medo de influenciar as crianças a se fecharem nelas depois.

Bom, mas se as crianças não imitaram Marty entrando numa geladeira, certamente imitaram o Superman ao tentar voar. Pelo menos um primo meu fez isso de cima de uma antena. E não tem nada desses Clarks moderninhos não! O único Clark Kent que eu reconheço (e que muitos dizem que é um canastrão) sempre será o Christopher Reeves. Esse vai ser eternamente o melhor e mais bonito Superman.

Aliás, naquela época, as meninas ficavam naquela deliciosa dúvida platônica: quem vou namorar: Ferris, Marty McFly, Clark Kent ou Daniel-San? Podem caçoar, mas esses eram os bonitões do nosso tempo, e para mim, de todos os tempos. Os bonitões do cinema de hoje são todos iguais, não têm um pingo de graça, são fabricados para serem perfeitos e ultrapassam os limites da superficialidade. Ao contrário de um outro galã cheio de “poréns”, mas que até hoje me encanta: professor de História, Henry Jones. Ou melhor, Indiana Jones, o caçador de relíquias que enche a cara, briga com o pai, é mulherengo, tem pavor de ratos e leva muitas surras até que tudo acabe bem.

E falando em Harrison Ford, até hoje nunca consegui assistir a toda a saga de Star Wars – os geeks que me perdoem (porém tenho guardada uma recordação que, creio, poucos nerds têm: aquela famosa máscara do Darth Vader que vinha nas embalagens de Nescau!). E somente esses dias é que consegui assistir a Blade Runner. Ainda bem que foi só agora, pois se eu tivesse visto isso quando criança, com certeza eu teria ficado perturbada com aqueles replicantes e com aquela trilha sonora. Por outro lado, eu me perturbei com o Brinquedo Assassino (passei a acreditar nas lendas urbanas de bonecos amaldiçoados), a Mosca, Freddy Krueger e até os Gremlins!

Nada de filmes-cabeça! O que a gente queria era dar risada com lixinhos como Corra que a Polícia vem aí, Loucademia de Polícia ou Um tira da pesada – é impressão minha ou americanos gostam de zoar a polícia? Também queríamos ver namoricos adolescentes dando certo depois de muitos desencontros como em Namorada de aluguel, A garota de rosa schoking (com o lindinho Andrew McCarty), Gatinhas e gatões, Tuff Turf, Alguém muito especial ou O Clube dos Cinco. A gente também viu que seres de outros mundos não precisam ser necessariamente aterrorizantes: alguns eram ridículos como em Os Caça-Fantasmas e outros eram fascinantes como em História sem Fim.

Há ainda os filmes que nos faziam ter vontade de – assim que eles acabassem – colocarmos nossos collants e polainas e procurarmos uma academia de dança, como Dirty Dancing e Flashdance.

E antes que me perguntem dos filmes nacionais, eu já digo – sem culpa – que eu não assisti a muitos, pois quando eu era criança tinha na cabeça de que filme brasileiro era só sem-vergonhice, então me limitava a ver somente aqueles duzentos-e-não-sei-quantos filmes dos Trapalhões – ou “Os Tapaiões”, como minha tia conta que eu falava quando parávamos para ver os cartazes no hall do Cine São Miguel.

Que saudades dessas pequenas coisas: ver os cartazes no cinema (aquilo sim era um senhor cinema), ver a Sessão da Tarde esperando pelo café na casa da vó, achar que sabia dançar (I´ve had) the time of my life, morrer de dó do Ritchie Valens (de Lou Diamond Phillips, em La Bamba), temer um amanhã amedrontador como o de O vingador do Futuro, rir com a vigarista Oda Mae Brown, de Whoppi Goldberg em Ghost; querer viver num mundo de desenhos igual ao de Uma cilada para Roger Rabbit, aprender com tudo isso o que há de mais clichê: que no final tudo dá certo.

Como eu disse, não se tratam de filmes intelectualóides ou com mensagens altamente filosóficas. Na verdade são produtos descaradamente comerciais feitos para vender tudo quanto é tipo de tranqueira, mas que estão guardados com o maior carinho nos corações de uma geração – a geração Coca-Cola – e que mexem com nossas lembranças e que chamam de volta os nossos pirralhos interiores.

E do jeito que sou viciada em oitentismo, meu lado balzaquiana é sempre sufocado pela minha pirralhice que vive fazendo hora-extra. E viva Ferris Bueller!

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

60 PÉROLAS DE UM CERTO MOLUSCO
parte 1

Todas as vezes que eu invento de publicar alguma coisa a respeito do nosso mais ilustre cefalópode, eu ouço tanto elogios quanto reclamações. Os elogios, é claro, são um estímulo para que eu continue a escrever – não somente sobre essa criatura, afinal, tenho mais em que pensar – mas as reclamações me deixam pensativa. Será que mesmo depois de tantas vergonhas alheias e de tanta varreção de sujeira pra debaixo do tapete, há ainda quem o defenda? Cada vez que eu pergunto isso a essa gente, eles sempre me dão as mesmas respostas evasivas de que ele veio do nada e hoje é o que é, de que ele não estudou, que de é gente simples e outras balelas. Vir do nada e se tornar alguém, isso muita gente fez – temos “N” exemplos, desde Machado de Assis (um dos meus exemplos favoritos) até o senhorzinho dono das Casas Bahia. Até aí, sem novidades.
Ele não ter estudado e estar ocupando o cargo mais importante da nação, apesar de soar muito bonito na teoria, na prática nos causa alguns constrangimentos, uns pequenos e até pitorescos, outros grandes que nos fazem ter vontade de mudar de país. A meu ver, não há nada que justifique a defesa de alguém que faz a ignorância parecer algo bonito e até engraçado. Isso sem falar no machismo, na falta de finesse, discrição, sensibilidade e setocol. Foi pensando nisso que reuni 60, das inúmeras baboseiras que esse presidente – que não é meu – tem proferido ao longo desses últimos anos. Se nada pode ser feito para que as coisas mudem, então que pelo menos aprendamos a rir dessa desgraceira toda. Não é esse o espírito de bobo-alegre que o brasileiro adora ostentar?
Aos que, como eu, não o vêem como autoridade de coisa alguma, vamos lamentar ou rir – ainda não sei. Aos que ainda o idolatram: varram isso pra debaixo de seus capachos.

[1] Estou vendo aqui companheiros portadores de deficiência física. Estou vendo o Arnaldo Godoy sentado, mas ele não pode me olhar porque ele é cego. Estou aqui à tua esquerda, viu Arnaldo? Agora você está olhando pra mim” (27/06/03)
[2] “Não adianta ter um bando de generais e soldados” (no Clube do Exército Brasileiro – 15/12/03)
[3] “Há males que vêm para o bem” (agradecendo o presidente da Rússia pelo apoio às investigações do acidente de Alcântara)
[4] “Tem lei que pega, tem lei que não pega. Essa do Primeiro Emprego não pegou”
[5] “Por que em vez de perguntar, você não enche a boca de castanha” (a uma repórter, sobre a saída de Henrique Meirelles do BC – 05/02/04)
[6] “Se fosse fácil resolver o problema da fome, não teríamos fome” (Expo Fome Zero – 10/02/04)
[7] “Será o maior programa social já visto na face da Terra” (Pará – 26/02/04)
[8] Sou filho de uma mulher que nasceu analfabeta” (08/03/04)
[9] “Estou com uma dor no pé, mas não posso nem mancar pra imprensa não dizer que estou mancando porque estou num encontro com os companheiros portadores de deficiência” (encontro de atletas paraolímpicos – dez/03)
[10] “Um brinde à felicidade do presidente Al Assad” (o presidente sírio não brindou porque muçulmanos não ingerem álcool)
[11] “Quando Napoleão foi à China” (01/05/04)
[12] “... a galega (primeira-dama) engravidou logo no primeiro dia, porque pernambucano não deixa por menos” (Pelotas – 17/06/03)
[13] “Estou surpreso porque quem chega a Windhoek não parece que está num país africano” (na capital da Namíbia – 08/11/03)
[14] “Constatei apenas o óbvio” (comentando o mal estar causado pelo seu comentário sobre Windhoek ser tão limpa e bonita que nem parece africana)
[15] “Um país que constrói um monumento daquela magnitude em tudo para ser mais desenvolvido do que é atualmente” (referindo-se ao Taj Mahal, na Índia – 29/01/04)
[16] “Em qualquer lugar do mundo que eu vou, eu tenho que levar flores ao túmulo do herói nacional. No Brasil não tem” (durante a campanha O Melhor do Brasil é o brasileiro – 19/07/04)
[17] “O governo tenta fazer o simples, porque o difícil é difícil” (17/06/04)
[18] “O Atlântico é apenas um rio caudaloso, de praias de areias brancas que une os dois países” (sobre a “proximidade” entre Brasil e Gabão – 27/07/04)
[19] “Vocês fazem parte de uma minoria de 8 milhões que pagam imposto de renda. São privilegiados os que ganham para pagar o IR” (sob vaias, aos metalúrgicos do ABC que pediam correção de tabela do IR – 26/04/04)
[20] “Cumprimento o presidente da Mercedes-Benz (...) Pois quero dizer na frente do presidente da Mercedes-Benz...” (Palácio do Planalto, em 06/02/04, ao presidente mundial da General Motors)
[21] “Conheço o Panamá só de dormir. Até recentemente quando eu ia a Cuba, tinha que dormir uma noite lá” (16/05/03 – ao embaixador do Panamá)
[22] “Na Amazônia vivem 20 milhões de cidadãos que têm mulheres e filhos. Mulheres e filhos são apêndices do cidadão” (01/05/04)
[23] “O continente sul-americano e o continente árabe (?) não podem mais, no século XXI, ficarem à espera de serem descobertos” (na Síria – 04/04/04)
[24] “O Brasil só não faz fronteira com o Chile, Equador e Bolívia” (em Nova Iorque, 23/06/04. A saber: temos 3 mil quilômetros de fronteira com a Bolívia)
[25] “Não pensem que você fizeram pouca coisa na história da humanidade, não. Possivelmente o cidadão que votou em mim não tem consciência do gesto dele num país importante como o Brasil” (em Osasco – 03/09/04)
[26] “Todo brasileiro tem motivos para ser otimista. As perspectivas só são ruins para os desempregados” (Brasília – 02/06/04)
[27] “Só um doido aceita um segundo mandato se as condições estão desfavoráveis” (discursando num encontro de educadores)
[28] “Política é olho no olho” (Nigéria – 2005 – defendendo suas constantes viagens internacionais)
[29] “Espero que vocês não sejam desaforadas e não comecem a pensar na Presidência da República” (Rio Grande do Norte, 08/03/2005, “elogiando” as conquistas das mulheres)
[30] “Tinha muita gente que estava desempregada e eu agora faz um biquinho. É assim que nosso querido Brasil vai se desenvolver” (2005 – sobre a oscilação do emprego)

(continua – porque bobagem pouca é bobagem)
60 PÉROLAS DE UM CERTO MOLUSCO
parte 2

Das parvoíces ditas recentemente pelo presidente – que repito, não é o meu – acho que todos lembram. Bom mesmo é poder recordar daquelas que nos constrangeram há alguns anos ou meses, notar como além de tudo, ele é incoerente e contraditório. Gostaria que algum advogado de defesa dessa pessoa me dissesse se é ou não no mínimo estranho e vexatório que o mesmo homem que um dia caiu matando em cima do Collor, hoje fique cheio de abracinhos com ele. Ou se pode ter caráter uma pessoa que já pichou o Sarney, e hoje, o coloca no colo e joga a culpa de todo esse circo na imprensa. Ou então que desculpa existe para alguém que defende a honra de Orestes Quércia – um sujeito que não fez cerimônia em afirmar que quebrou o Banespa? Isso sem falar em seus cupinchas José Dirceu, Palocci, Genoíno.
Mas eu sei que escrever, falar e relembrar tudo isso não adianta nada. Uma vez ouvi de alguém: “por que é que você não manda os seus textos lá pro Lula?”. Vontade não falta a nenhum cronista ou jornalista que meta o dedo nessa ferida, mas todos sabemos que nenhum tomate podre vai chegar até ele. Além de todas as razões práticas, há a mais lógica e conhecida: ele não lê! Ainda se fosse um texto sobre o Corínthians, ele até lesse, no máximo a manchete e o título. Depois disso ele cairia no sono.
Como bem comparou o jornalista Gaudêncio Torquato, Lula é um Zeus. Nada o atinge. Nada o derruba. Só mesmo ele próprio pode acabar consigo. Por enquanto estamos somente de mãos atadas. Mas do jeito que ele anda todo implicante com a imprensa e flerta com o jeito Fidel de governar, pode ser que ainda fiquemos de boca fechada. Enquanto isso não acontece, degustemos um pouco mais esses petiscos de sabedoria.

[31] “Nós sofremos muito em 2003 porque pegamos a Casa depois de um vendaval como aquele que deu na Ásia” (gafe em 2005, confundindo vendaval com maremoto)
[32] “Eu não quero que você seja mais otimista do que eu. Se for igual e mim já está ótimo” (2005 – Programa Café com o Presidente)
que era a relação de respeito criado em torno da minha mãe. Temos que fazer isso para que nossas noites fiquem mais gostosas” (2005 – Campanha de Auto-Estima, do Governo Federal)
[34] “É difícil arrumar um emprego sem dente” (2004, em inauguração de um centro odontológico em São Paulo)
[35] “Essa gente tem café no bule” (2004 – sobre o crime organizado)
[36] “Ontem eu estava assistindo ao filme do Cazuza e pensando: não é apenas a questão financeira que leva o jovem a fazer isso ou aquilo. Acho que as coisas estão mais ligadas à família, ao meio ambiente em que a pessoa vive” (2004)
[37] “A gente não reage contra isso com precipitação nem com o fígado” (2004 – expulsando do país o correspondente do New York Times que publicou que o presidente bebe demais)
[38] “Nós, que somos do sul do país, temos que aprender que não dá pra ficar dizendo que a Amazônia tem de ser um santuário (...) Aqui moram quase 20 milhões de seres humanos que têm o direito de viver dignamente como qualquer outro ser humano” (2004 – anunciando a construção de um gasoduto de 240km que cortará a selva amazônica)
[39] “Se não dá pra fazer dez coisas de uma vez, vamos fazer uma. Porque, se a cada ano a gente fizer uma, no final de quatro anos você terá quatro coisas feitas” (Goiás – 2004)
[40] “O Serra não será candidato porque sabe que perde” (2004 – Eleições a Prefeitura de São Paulo)
[41] “A verdade nua e crua é que ninguém gosta de viver de favores” (2003 – sobre seus programas assistencialistas)
[42] “Quem especular contra o Palocci, vai perder” (2003)
[43] “Já devo ter tirado umas 200 fotos com chapéu do MST na cabeça: vou continuar pondo” (Portugal – 2003)
[44] “Este episódio reforça a decisão do governo em dar combate à violência” (2003 – após saber que o segurança do seu filho foi morto)
[45] “Espero vê-lo e, breve, no jantar com os embaixadores da União Européia” (2003 – para o embaixador da Noruega – país que não faz parte da U.E)
[46] “Vem cá, me dê um abraço, você derrotou o Collor” (2002, para Ronaldo Lessa, que venceu as eleições de Alagoas)
[47] “Vou trabalhar 24 horas todos os dias enquanto houver gente passando hambre” (2002 – esbanjando seu espanhol, na Argentina)
[48] “O PMDB só não participará do governo se não quiser” (2002)
[49] “A lua está linda, olha só. Eu dedico essa lua a todos os homens e mulheres apaixonados do Tocantins e do Brasil” (Palmas – 2002)
[50] “Para resolver o problema da universidade, preciso eleger uma pessoa sem diploma” (2002 – discurso a reitores de Universidades públicas)
[51] “A elite que tem preconceito contra nós hoje, fez isso com Jesus Cristo” (eleições 2002)
[52] “Esse negócio de experiência sabe o que me lembra? Me lembra o Mandela. Sabe qual era a experiência do Mandela? 27 anos de cadeia” (2002)
[53] “Não houve acusação concretizada contra Quércia” (2002)
[54] “Gostaria que a Bíblia fosse obrigatória em todas as escolas públicas” (2002, para uma platéia de evangélicos)
[55] “Se disputasse uma eleição, os votos do Sarney não dariam para encher um penico”
[56] “O Holocausto foi um período obsceno na História da nossa nação. Quero dizer, na História deste século. Mas todos vivemos neste século. Eu não vivi nesse século”
[57] “O ser humano vê a vida com os olhos de onde pisa” (08/06/08)
[58] “Lá a crise é um tsunami. Aqui, se chegar, vai ser uma marolinha que não dá nem pra esquiar” (04/10/08)
[59] “Você (como médico) diria ao paciente: meu, si fu” (04/12/08 – discurso para artistas no Rio de Janeiro)
[60] “A crise foi causada por comportamentos irracionais de gente branca de olhos azuis” (27/03/09)

Essas são apenas pequenas amostras de como uma urna pode ser confundida com uma latrina.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

UMA CASA.
UM TEMPLO.
UMA ESCOLA.

“O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele”
(Immanuel Kant)

Já tem tempo que eu fico ensaiando escrever esse texto, mas sempre ficava adiando porque buscava as palavras perfeitas para definir aquilo que faz parte da minha história e que até hoje povoa meus pensamentos. Porém, por receio de parecer piegas, tais palavras nunca saíram do campo das idéias. Só que eu estava começando a me sentir devedora – e de algo tão simples. E ainda que tudo pareça muito brega, eu sinto que DEVO fazê-lo.
Aproveitando que nesse ano a escola Monsenhor Antônio Magliano completa 50 anos, achei que seria no mínimo decente que eu fizesse, não uma homenagem, mas um agradecimento a todos os profissionais que por lá passaram e que marcaram os “anos incríveis” de vários jovens. Jovens pivetes que se sentiam tão amadurecidos por estudarem entre os grandões do colegial. Entre 1991 e 1993 éramos as duas únicas classes de primeiro grau na escola; pirralhos de 11, 12, 13 anos circulando entre os “adultos” de 16, 17, 18. E queríamos ser tratados como iguais, mas éramos esnobados pelo pessoal do colegial (e eu não os culpo). Por outro lado éramos mimados pela escola, tínhamos aulas que os grandões não tinham como datilografia, eletricidade (não era eletrônica não, era eletricidade mesmo), mecânica (para os meninos) e corte e costura (para as meninas). Às vezes eu me sentia num daqueles filmes americanos que mostram aquelas escolas cheias de atividades extra-curriculares.
Eu nunca me dava muito bem em corte e costura, assim como em educação física – minhas maiores diferenças na época, mas havia algumas compensações, como os trabalhos de educação artística do professor Nicola e os jograis e teatrinhos das aulas de Português da D. Vera (minha mãe, aliás); além da hora da merenda, quando todo mundo entrava bonitinho na fila para pegar o seu pãozinho com manteiga e seu leitinho com groselha.
Ainda lembrando o estilo “escola americana”, uma vez inventaram de fazer uma espécie de “show de talentos” conosco, pondo a 5ªA competindo com a 5ªB. Na época o sertanejo estava muito na moda, então a maioria competiu cantando “bálsamos” como Pense em mim e É o amor. Havia outra coisa de gosto muito duvidoso que também estava em alta: o noticiário bizarro Aqui e Agora. Então me fizeram imitar o Gil Gomes. Até hoje eu não sei onde eu arrumei tanta cara-de-pau para fazer aquilo. Mas com aquela idade, timidez era o de menos. Ao longo desses anos encenamos Os Músicos de Bremen, História de uma gata, o quadro da velha surda da Praça é Nossa, Não se vá (de Jane e Herondi), Soy loco por ti America e o Charleston, sem um pingo de constrangimento. Tudo o que fazíamos naquela escola era sinônimo de diversão. Até nas mais sisudas aulas de matemática da professora Vandermara, víamos graça.
Ainda tinha a clássica rivalidade entre as turmas – e eu tinha que agüentar as provocaçõezinhas por ser a filhinha da professora – os meninos encapetados que atormentavam as meninas, os livrinhos de literatura (A pata da gazela era “A pata da Sganzela” para os engraçadinhos), os incontáveis mapas de Geografia da professora Lula – que todo começo de ano pedia pra gente levar o saudoso estêncil Pelicano para mimeografar os exercícios – e as aulas de História da professora Cleuza. Aliás, para que decorássemos os nomes de todos os nossos presidentes cronologicamente, cada aluno, ao responder a chamada, dizia um, desde o Marechal Deodoro. Eu, como sendo a última da lista, era o Fernando Collor de Mello. Escutei vaias o ano inteiro por conta disso.
E não podia me esquecer das broncas do Clóvis, mandando a gente parar de correr e entrar logo na classe. Quando retornei ao Monsenhor, em 1995, o Clóvis continuava dando seus pitos, só que agora era para regular o vestuário dos adolescentes: “bermuda só com um palmo acima do joelho!”, ou “vai pra sua casa trocar de roupa!”, quando via alguém de regata. Os bons costumes ainda tentavam prevalecer naquela década.
Quando chegou a nossa vez de sermos do colegial, o ensino era técnico e eu tenho que confessar que nunca fui muito chegada em informática, programação e afins. Só quis prestar o vestibulinho e voltar ao Magliano por paixão àquele lugar. Eu não conseguia me ver em outra escola senão naquela onde eu tinha passado anos tão alegres. Foi no “Cei” que conheci o Rafael Pioto – meu melhor amigo até hoje e sempre – foi nessa época que eu parei de fugir da educação física e aprendi a jogar futebol com os meninos (para quem duvida, há fotos que provam isso!), foi lá que escrevi minhas primeiras redações para participar de concursos literários; foi no Monsenhor que conheci o Shiro – o japonês mais pirado do mundo, que me passava muitas colas de Física (isso não é bonito) e que, ao ir embora para o Japão, me deixou toda a sua coleção de CDs do Michael Jackson.
Foi durante a Expotec de 1996 que uma aluna anunciou no microfone a morte do Renato Russo. Nem preciso mencionar que fiquei chateadíssima. Aliás, a Expotec era uma das coisas mais aguardadas pela gente. Apesar de toda a correria de ter que aprontar os trabalhos, tomar conta das classes com exposições, ciceronear as turmas infantis que nos visitavam de manhã e de tarde, jogar, nos apresentar no coral, dançar e até interpretar (!), quando tudo terminava, ficava aquela sensação de “como passou depressa”. Naqueles tempos parecia que estudar era algo tão legal (e de fato é) que fazíamos isso nos divertindo.
Antes do professor entrar na classe, na segunda-feira, minha prima Verenna, eu e a Fer (a Shaquille O´Neal) e outras meninas, tínhamos que nos juntar para tecer comentários sobre como tinha sido o fim de semana: o berimbau do Grêmio no sábado e a sorveteria depois da missa no domingo. Por vezes aquela escola tinha ares de clube – aparecia gente quem nem era aluno, ia atrás dos amigos e acabava ficando, só pelo prazer de estar lá. Fazíamos qualquer negócio para permanecermos ali o maior tempo possível: éramos parte do coral da professora (de Inglês) Eliana – não me sai da memória uma das músicas mais executadas pela gente, o “I Just call to say I Love you” – e entre uma aula e outra da professora Clery, dividíamos o espaço das quadras – quem jogava vôlei atrapalhava quem jogava basquete que por sua vez atrapalhava quem jogava futebol, mas ninguém ligava pra isso.
Sinto saudades das aulas de informática, principalmente da parte em que, quando o professor não estava de olho, o Rafa, o Shiro e eu desenhávamos coisas engraçadas no Paint; do jeito tranqüilo do professor Koshi, dos ensaios com a Eliana, das provas de Literatura da professora Vera (já citei que ela é minha mãe?), da paciência de Jó do professor Jackson, da biblioteca, da sala de vídeo – onde assistimos O Guarani, Vidas Secas, Inocência, O primo Basílio, A Moreninha. Sinto saudades das quadras, de como era tragicômico ver que o Rafa e aquele japa aloprado eram presenças constantes na sala da (minha tia) diretora Mariza; das Expotecs, de comprar paçoca na hora do intervalo, das risadas, das amizades, de sair para comer pastel na rua de cima, de cada pedaço daquele lugar...
Pode soar meio estranho, mas agora, nas raras vezes que entro no Cei, parece que vejo os nossos “fantasmas adolescentes” perambulando por lá, rindo, subindo e descendo as escadas, falando de alguma paquera, fazendo hora na cantina, comentando como tal prova tinha sido difícil ou levando outra chamada do Clóvis. Falar do Monsenhor Antônio Magliano, pra mim, é ao mesmo tempo fácil e complicado, pois me vem uma mistura de felicidade com melancolia, saudade boa e a certeza de que nada daquilo jamais se repetirá. Porém, o principal e o que me faz ser hoje o que sou, eu adquiri entre aquelas paredes, naquelas carteiras, naqueles laboratórios, naqueles corredores, naquela deliciosa década de 90 e são coisas que ninguém pode me roubar: sabedoria, experiências, educação, conhecimento e grandes amizades.
Por isso, Monsenhor Antônio Magliano me é também sinônimo de gratidão. E não tenho vergonha de dizer que amo aquela escola. Ela é uma prova concreta de que Educação não se faz só com intelecto, mas também com o coração.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

UM SUJEITO QUE NÃO LÊ ATRAPALHANDO A VIDA DE QUEM ESCREVE
“Aquele a quem a palavra não educar, também o pau não educará”
(Sócrates)
Definitivamente esse governo não me surpreende mais. E não é de hoje que eu espero sempre o pior do presidente. A idéia que saiu dessa vez daquele cabeção foi a de criar um novo imposto, mas agora sobre os livros. Através do Ministério da Cultura, planeja-se instituir o que eles batizaram de Intervenção do Domínio Econômico (Cide) – uma alíquota cobrada sobre o faturamento das editoras, que pode tingir até 2,1%. É um plano infeliz que afetará não somente as próprias editoras, mas também as livrarias e os autores. Aliás, eu tenho a leve impressão de que autor de livro nesse país não é levado muito a sério. Livros e escritores são considerados “coisas menores” no Brasil, e agora, para ajudar, o presidente, rei dos indolentes, tem a intenção de encarecer ainda mais os livros.
As livrarias de pequeno e médio porte, que já sofrem com a concorrência das mega stores e das vendas pela internet, sofrerão ainda mais com essa carga, já que qualquer aumento no preço dos livros significa o sumiço dos consumidores. A justificativa fantasiosa é a de que, ao criar essa taxa, o governo almeja estimular a leitura no país, além de democratizar o acesso aos livros e provocar o desenvolvimento do mercado editorial. Como assim? Não é possível que o presidente ache de verdade que somos tão idiotas a esse ponto para acreditar em tamanha “bondade”. Não faz um pingo de sentido, afinal além do risco evidente da queda das vendas de livros, da dificuldade de publicação e do aperto pelo qual passarão as pequenas livrarias, as editoras já avisaram que provavelmente terão de suspender seus patrocínios aos fóruns de debates e projetos de espaços de leitura para crianças e jovens.
Calma que ainda tem mais: como se não bastasse essa demonstração clara de incoerência, o ignorante-mor quer criar os postos de “mediadores da leitura” – ou seja, pessoas indicadas sabe-se lá por quem, como e por que, que promoverão o hábito da leitura para o povo. Engraçado, eu sempre pensei que os professores tivessem esse papel. Nossa, com o governo é bonzinho, além de querer que leiamos mais, ele ainda nos envia pessoas que nos indicarão as melhores leituras. E quem serão essas pessoas? Que autoridade elas terão para serem transmissores de cultura? Provavelmente será um bando de chegados do presidente que precisam dar uma mamadinha no governo e que ganharão esses cargos inventados.
Eu e meus colegas de APEG sabemos exatamente a dificuldade que se tem em tentar publicar um livro, não é nada barato – por isso, às vezes, recorremos às publicações “artesanais”, em gráficas, sem selo de editora alguma. São muitos meandros, são muitos Reais. Precisávamos de estímulos de verdade e não de mais barreiras. Meus colegas e eu também somos apaixonados por livros, mas nem sempre podemos comprar nossos objetos de desejo por causa do preço – e não colocamos a culpa nas livrarias, elas também devem amargar com a debandada dos compradores à internet. Enfim, esse é o tipo de notícia que consegue acabar com o meu humor, mas como eu disse, isso não me espanta mais, sabendo-se que o intento partiu de alguém que já deixou muitas vezes bem claro que não gosta de livros e que não lê porque dá sono.
Talvez eu esteja fazendo um grande drama e profetizando o improvável ao dizer que os livros estarão, em alguma era, fadados ao esquecimento, mas antes deste “reinado” as coisas nesse sentido já não iam bem. Agora, parece que tendem a piorar.
Certa vez li um poema de Manuel Bandeira chamado Versos escritos n´água, e talvez o finalzinho até se encaixe com a questão: “... Meus pobre versos comovidos / Por isso fiquem esquecidos / Onde o mau vento os atirou”.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

120 maneiras de me irritar

120 MANEIRAS DE ME IRRITAR


O escritor norte-americano Mark Twain (um adorável rabugento) gostava de fazer listas. Guardando as devidas proporções, muito humildemente aproveito sua idéia para listar coisas que me são altamente irritantes.

[1] Gente que dá risada alta.
[2] Quem conta piada (sobretudo sem-graça e repetida) e fica explicando depois.
[3] TV com chuviscos.
[4] Rádio mal sintonizada.
[5] Locutor que não manja nécas de inglês e erra os nomes das músicas.
[6] Gente que tem mania de narrar filmes.
[7] Quando falam que rock é coisa do diabo (heavy metal então, nem se fala...)
[8] Quem inventa de acompanhar a música, mas não sabe a letra.
[9] Quem acha que poesia TEM que rimar.
[10] Os mesmos que forçam rimas desnecessárias e abusam do infinitivo, diminutivo, etc.
[11] Programa Silvio Santos.
[12] Quem caçoa quando eu conto que fui a um museu.
[13] Gente que fica cobrando satisfações: “E aí, já está trabalhando?”
[14] Gente que cutuca enquanto conversa.
[15] Motorista que não dá seta.
[16] Ciclista que anda na contra-mão e na calçada.
[17] Quem anda devagar no meio da calçada e não dá passagem.
[18] Gente que nem pergunta se pode e já vai acendendo um cigarro no meio dos outros.
[19] Forminha de gelo vazia.
[20] Caixa eletrônico travado.
[21] Os “lindos” que pensam que estão abafando com o escapamento furado da moto.
[22] Cantadas pé-de-chinelo.
[23] Mães que levam crianças birrentas ao supermercado.
[24] Caminhões gigantescos circulando no centro.
[25] Quem ainda faz brincadeirinhas manjadas como afrouxar a tampa do saleiro ou apertar a campainha e sair correndo.
[26] Corintiano insistindo que é campeão mundial.
[27] Banheiro encharcado.
[28] Estudantes de Humanas do primeiro ano que, já na primeira aula de Sociologia, pensam que descobriram o mundo, que só o Socialismo salva e que todos deveriam apoiar o MST.
[29] Discursos improvisados do Lula.
[30] Propagandas indecentes no Orkut.
[31] Correntes ameaçadoras do tipo “se você não passar essa oração para 30 pessoas dentro de 10 minutos, você vai morrer duro e seco”.
[32] Gente miserável que tem 10 filhos – e continua fazendo mais.
[33] Aquele discursinho de sempre: “A culpa é da sociedade”.
[34] Modismos.
[35] Gírias cariocas (com sotaque): “sinistro”, “coé”, “tô bolado”, “mermão”
[36] Gente que vai a Bahia e volta falando óxente.
[37] Quem anda arrastando o chinelo.
[38] Lojas cheias de papel picado no chão em dia de promoção.
[39] Metidos a engraçadões que fazem rodinha de samba no saguão do aeroporto.
[40] Mini gênios.
[41] Atores mirins.
[42] Concurso de Miss.
[43] Discurso de Miss (Qual o seu maior sonho? – A paz no mundo.)
[44] “Pra mim fazer”, “Menas gente”, “Eu tinha chego”, “Prefiro mais”
[45] Piadas óbvias.
[46] Músicas que apelam para o duplo sentido –como “se eu cozinho eu não lavo” – totalmente sem-graça.
[47] Playboyzinhos que nunca montaram um cavalo mas se vestem de cowboys para fazer tipo.
[48] Esses mesmos seres que acham que todo mundo é obrigado a ouvir as “músicas” que eles ouvem e cantam (muito mal, aliás).
[49] Adesivos de carros com mensagens absolutamente dispensáveis: “Propriedade de Jesus”, “A inveja é uma merda”, “Rastreado por linguarudos”, “Fui”.
[50] Quem inventa de batucar em mesa de restaurante – sempre tem uns tontos para acompanhar.
[51] Mulheres que se tratam por “querida”, “fofa” e “amiga”. É de uma falsidade...
[52] Quem aparece na casa da gente sem avisar.
[53] Gente sem personalidade: num dia se fantasia de gótica e no outro está na roda de pagode.
[54] Atendente de loja de roupa que fica colada na porta do provador perguntando: “e aí, ficou bom? Deixa eu ver?”. E ainda tem a cara-de-pau de dizer “nossa, mas ficou linda!”.
[55] Quem faz hang loose gritando “U-hu!”
[56] Uso abusivo do gerúndio.
[57] Uso indiscriminado de reticências – tem gente que acha vai dar uma certa carga dramática na frase (vejo muito em Orkut): “Eu.......te liguei........hoje........você saiu?........” – reparem que as reticências dessa gente tem bem mais que três pontinhos.
[58] Quem come salgadinho fedorento no ônibus.
[59] Festa de Peão.
[60] Tomar choque no registro do chuveiro.
[61] Meia molhada.
[62] Sônia Abrão.
[63] Merchandising em novela.
[64] Gente que segura o elevador.
[65] Propaganda solta dentro do jornal.
[66] Gente que se acha engraçada acordando os outros com susto.
[67] Pessoas que cortam nossa linha de raciocínio para fazer adendos idiotas.
[68] Criança chorando na Igreja.
[69] Carrinho de supermercado com a rodinha torta.
[70] Pessoas viciadas em “né” e “tipo assim”.
[71] Gente que se faz de surda e fica toda hora: “hã?”, “o que foi?”, sendo que entendeu muito bem a pergunta.
[72] Peruas que balançam as pulseiras para fazer barulhinho.
[73] Apelidos melosos de namorados: “guti-guti”, “buzunguinho”, “meu bebê”. ARGH!
[74] Aliança de compromisso.
[75] Interneteiros preguiçosos: “vo te add”, “kd vc?”, “vc eh d +”
[78] Gente insistindo para vender rifa.
[79] Criancinha vendendo votos de Rei e Rainha da quermesse.
[80] Aqueles que fingem que vão tirar foto, aí todo mundo fica paradinho fazendo pose e na verdade os babacões estão filmando.
[81] Propaganda partidária a cada 2 minutos.
[82] Repórter que faz pergunta imbecil, como “é muita tristeza, né?”, para um parente num velório. Ou quando alguém perde uma casa por causa da enchente: “como é que o senhor está se sentindo?”. Ou para um jogador que acaba de ganhar um campeonato; “e aí, tá feliz?”. Eu sinto vergonha.
[83] Pré-julgamento. A pessoa nem conhece o fulano e já comenta “hum, esse aí, pelo jeito, não vale nada”.
[84] Espertinhos que vêem um amigo no começo da fila do banco e pedem “você pode pagar isso aqui pra mim?”, e entrega uma pilha de boletos.
[85] Gente viciada em tecnologia e não fala de outra coisa.
[86] Homem debochado de bermuda, regata e chinelo em eventos solenes.
[87] Mini-adulta: menina que mal saiu da pré-escola e já passa batom, esmalte, quer andar de salto e faz chapinha.
[88] Gente bêbada debruçando no seu ombro e dizendo que você é o melhor amigo do mundo.
[89] Mulherada que fica conversando no banheiro do restaurante, ocupando espaço, entupindo a entrada e tirando nossa privacidade.
[90] Quando você não domina determinado assunto e vem um “gênio” e te diz: “nossa, mas como é que você não sabe uma coisa tão simples?”.
[91] Jornal molhado.
[92] Gente que está vendo que tem fila no posto de gasolina, e ainda assim estaciona na frente da bomba e desce para comprar coisinhas na loja de conveniência.
[93] Quando você está aguardando um telefonema importante e alguém te liga ensebando a conversa: “aaaaadiviiiinha que tá falaaaaaando?!”
[94] Preços quebrados: 4,99 ou 29,99. Nenhum caixa te volta 1 centavo. No máximo te dá uma balinha. E ruim.
[95] Gente que dança ou gesticula com um copo de cerveja na mão e respinga nos outros.
[96] Gracinhas idiotas: dedo na lente dos outros, peteleco na orelha, colar bilhetinhos nas costas do tipo “me chute”, pisar no tênis novo de alguém.
[97] Toques ridículos e manjados de celular, como o “tem pobre ligando pra mim”.
[98] Avós que ficam contando as façanhas dos netos.
[99] Quem puxa música em excursão: “Se a canoa não virar, olê, olê, olá... Eu chego lá!”, “O fulano roubou pão na casa do João...”, “Motorista, motorista, olha o poste, olha o poste. Não é de borracha, não é de borracha! Vai bater, vai bater!”.
[100] Gente que pega CD emprestado e devolve riscado.
[101] Quem pede caneta emprestada e não devolve – acha que é brinde.
[102] Pessoas que ficam te segurando numa conversa – e tem consciência disso: “ai, deixa eu falar logo porque você tá com pressa, né?”.
[103] Gente que não entende piadas espirituosas e fica questionando. Acaba a graça.
[104] Palitos de dente na areia da praia.
[105] Quando chamam o garçom de “ô amigô!”
[106] Impressora que mastiga o papel.
[107] Quando me vêem com uma camisa do Palmeiras e ainda perguntam: “Você é palmeirense?”. Não, sou são-paulina masoquista.
[108] Gente que pensa que fala outro idioma e fica inserindo palavras estrangeiras no meio das frases, só que totalmente fora de contexto.
[109] Programas de debates que pedem opinião de ex-Big Brother.
[110] Piadinhas machistas e homens que depreciam a mulher.
[111] Quem vê uma pessoa que está desempregada e ainda tem a insensibilidade de dizer “ê vida boa heim”.
[112] Gente que fica se fazendo de coitadinho do tipo “ninguém me ama, ninguém me quer”.
[113] Criança chata que faz de tudo para ser o centro das atenções.
[114] Quem acha engraçado maltratar animais.
[115] Gente que fica se metendo em conversas literárias e dando palpites sendo que nunca leu um livro inteiro.
[116] Pessoas que ficam fazendo baterias imaginárias.
[117] Gente que inventa de cantar dando um agudo, mas vê que não vai conseguir e já muda para o grave. Além de irritante é vergonhoso.
[118] Quem coloca meu nome numa lista sem me consultar.
[119] Aqueles que perdem o timing da piada, mas insistem em continuar contando.
[120] Tentar acabar uma lista que parecia que não ia ter fim.

sexta-feira, 31 de julho de 2009


MEIO PILATOS, MEIO NARCISO

“Eu me amo, eu me amo. Não posso mais viver sem mim”
(Eu – Ultraje a Rigor)

Eu havia dito muitas vezes a mim mesma e a quem me perguntasse, que eu não ia mais perder o meu tempo e gastar energia escrevendo sobre o Lula. Mas a raiva contida é tanta que se eu não dividir isso com mais gente, vou acabar falando sozinha. Se bem que, mesmo escrevendo, eu falo sozinha. A pequena parcela da população que detesta o Lula, fala sozinha. Não é ouvida e jamais será. Muito menos pelo próprio Lula (que deveria ser o maior interessado), que disse que jornal para ele, só fechado. Lula não lê livros, não lê jornais, também não deve assistir aos noticiários, documentários, entrevistas... A única coisa que parece prender sua atenção é o Corinthians. Ou seja, nada relevante.
Outra coisa que deve despertar seu interesse é saber as quantas anda a sua aceitação popular. Parece que ele já atingiu os 80% de aprovação, e eu ainda não sei se isso é preocupante ou se é bem feito para esse país.
Depois de tantas fanfarrices, viagens desnecessárias, de tantos “eu não sei”, tantas declarações infelizes, discursos ridiculamente improvisados que chegavam a soar preconceituosos e impensados, de todo o protecionismo escandaloso e de tanto passar a mão na cabeça de suas “crias” (como Palocci e Mercadante), tem gente que SOMENTE AGORA está chocada com essas atitudes lulianas. Como assim, somente agora? Só porque Lula está todo amiguinho de Fernando Collor, não quer dizer que tudo o que ele tenha feito ou dito antes não tenha importância ou não nos envergonhe. Ter confraternizado com Collor foi o de menos, desde que Lula assumiu a presidência.
A mais recente gracinha de Lula foi lavar as mãos sobre o afastamento (ou não) de Sarney do comando do Senado. Irritadinho com as perguntas dos jornalistas sobre o assunto, ele respondeu simplesmente: “O problema não é meu, eu não votei no Sarney”. Nada mais fácil do que jogar a responsabilidade no colo dos outros. Ainda que as decisões do Senado não compitam a ele, isso não é palavrório digno de um presidente. Qualquer um, até o mais abestalhado, tipo Hugo Chaves, teria uma declaração bem mais feliz do que essa. Ou no mínimo cômica. E nem isso Lula consegue fazer. Se ele fosse um ator de stand up comedy, certamente morreria de fome, pois até seus improvisos são deprimentes.
Mas como eu disse, essa indignação que eu sinto e que compartilho com poucos é inaudível. Parafraseando meu amigo Fagner, “somos profetas a pregar no deserto”. Não adianta gastarmos nosso bom Português com reclamações e explanações a cerca dessa criatura egoísta que gosta de fazer gentilezas com chapéu alheio. Porque enquanto esperneamos para ninguém ouvir, lá no sertão nordestino, lá nos confins do Brasil ou nas favelas, há uma multidão idolatrando Lula. E idolatram porque vêem nele alguém que sustenta com orgulho que nunca estudou, mas que chegou longe. Claro, é um exemplo para os marginalizados, descamisados e menos favorecidos.
Mas não estudar não é motivo de orgulho. Muito menos quando se é chefe de uma nação – apregoando a imagem de que estudar não vale a pena, ele estimula uma grande massa do povo a fazer o mesmo. Aí nasce uma imensa geração de gente emburrecida e surda às coisas realmente importantes. Lula faz surgir - propositalmente – uma multidão de ignorantes que, se não quer saber de estudar, também não quer saber de trabalhar, uma vez que quem não tem instrução, não arruma emprego. Quiçá um subemprego. E o que isso nos traz? Famílias e mais famílias mamando nos vale-isso e vale-aquilo. Com tantos vales pingando no bolso, o cidadão não vê vantagem alguma em trabalhar. Pra que se esforçar em procurar um emprego, pegar várias conduções, chegar tarde em casa, temer algum corte de funcionários, passar nervoso, se privar da companhia dos familiares e só ter o fim de semana para descansar se o governo pai-dos-pobres já provém o seu sustento?
Não estou dizendo que os mais pobres não devem ter direito a uma ajuda, um auxílio, mas o mal do povo brasileiro é ser mal acostumado, do tipo que ganha a mão e quer o braço. O povo não está habituado a fazer a parte dele e espera que alguém de fora resolva seus problemas. E é essa mentalidade preguiçosa que Lula estimula. E ele deve adorar isso, afinal, desse modo ele ganha mais e mais fãs – e garante votos para quem ele indicar a sua sucessão.
Mais do que tentar (em vão) entender os atos lulianos, eu tento compreender porque tem gente que só hoje está a se sentir desiludida com nosso ignorante mais ilustre. De repente resolveram sarar de sua cegueira, mas agora o estrago nas urnas já foi feito. Para uma anti-Lula como eu, só resta duas coisas a fazer: relaxar lendo um bom livro de literatura – em que nada me lembre esse ser – e aguardar a volta de Alckmin ao governo paulista (se os surdos e cegos do Brasil a fora não o quiseram, nós paulistas queremos). E quanto ao resto que só agora está se sentindo ultrajado, problema de vocês. Eu não votei no Lula.

Narciso, de Michelangelo Merisi di Caravaggio (1573 - 1610)

terça-feira, 14 de julho de 2009

PODE SER QUE UM DIA ELE NASÇA...


(APRESENTAÇÃO)

O embrião desse livro está no meu trabalho de conclusão de curso da faculdade – o famoso TCC. No íncio a idéia era abordar a dificuldade que se tem em encontrar no jornalismo impresso bons materiais e reportagens realmente revelantes para o público feminino. Praticamente todo veículo de comunicação que vemos destinado a esse nicho não traz um conteúdo que afete positivamente a vida prática das mulheres, sobretudo nos jornais, onde, na maior parte do tempo, os assuntos parecem direcionados somente às leitoras que vivem nos Morumbis da vida. Infelizmente não há biografias suficientes sobre tal assunto e o TCC teve de ser abortado.

Mas a “exclusão” do público feminino ainda não me saía da cabeça e daí para escolher a editoria de Economia como tema foi um pulo. Isso porque não somente como mulher, mas como leitora, eu me sinto, em certos momentos, excluída quando o assunto é Economia. E muitos leitores, tenho certeza, também se sentem. São tantos os termos empregados e não decifrados, que as pessoas começam a ver Economia como um tema chato, desinteressante e que só atrai quem trabalha com isso, quem aplica na Bolsa, quem é um grande empresário, quem tem conta no exterior.

E não é verdade. Economia é um assunto que deveria interessar a todos, pois TODOS fazem a economia girar. É o dinheiro de cada um de nós que ajuda essa engrenagem a funcionar e é quase um crime uma parcela da imprensa continuar a “enfeitar” textos com termos técnicos e com um linguajar tão complexo. Se os economistas falam esse dialeto – o Economês – é obrigação dos jornalistas traduzir esses dados e tentar trazer de volta os leitores desgarrados e alheios a esse universo tão importante.
Mas eu não poderia falar de Jornalismo Econômico sem antes contar – ainda que tão rapidamente – como se deu o início da imprensa no Brasil. Foram muitas e muitas tentativas de dar o pontapé inicial no jornalismo brasileiro, várias apreensões, prisões e perseguições sucederam-se.

Desde a vinda da família real até os dias de hoje evidentemente muita água rolou por debaixo dessa ponte – talvez o romantismo com que se fazia jornalismo já não exista mais, a concorrência cresceu vertiginosamente, a notícia deu lugar ao espetáculo – mas como tudo nessa vida é um ciclo, pode ser que chegue uma época em que, cansados de tanto “vale tudo pela notícia”, voltemos aos tempos dos idealistas, daqueles que estão sinceramente interessados em contar a verdade sem mascará-las com montanhas de números ou sem se deixar corromper pelos outros três poderes. Ou talvez esse seja apenas mais um sonho bobo de quem ainda – apesar de tantas coisas – ainda tem fé no Jornalismo.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

SERÁ A RUÍNA DO QUARTO PODER?

Acho que as pessoas que me conhecem bem já deveriam imaginar que uma hora ou outra eu ia acabar escrevendo sobre esse assunto. E não poderia ser de outro jeito, uma vez que não me conformo com a infeliz decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) quanto à exigência do diploma universitário do curso de Jornalismo. Muito ainda vai se falar sobre esse tema, mas gostaria de usar esse espaço para, ao menos, desabafar como uma ex-estudante de Comunicação Social. Não falo propriamente como jornalista, pois de fato não cheguei a exercer a profissão – as razões não vêm ao caso agora – mas sim como alguém que desde criança tinha vontade de escrever para outras pessoas, de questionar algumas regras, de levantar algumas verdades, de pesquisas e querer saber cada vez mais sobre o mundo e as pessoas. Falo como alguém que, durante a passagem pela faculdade, teve inúmeras dúvidas quanto a escolha feita; como alguém que se colocou várias vezes contra a parede para saber se havia tomado a decisão certa em dar continuidade aos estudos de jornalismo. E que, apesar de tantas “minhocas na cabeça”, decidiu continuar, pois a paixão pela escrita pesou mais. Mas não basta ter só paixão se os conhecimentos não forem bem direcionados, se não houver orientação, senso crítico, ética, postura, disciplina, especialização. E é isso o que vamos buscar numa faculdade.

Gostaria de saber quais argumentos foram levados em conta para que se abolisse a obrigatoriedade do diploma. Vir com aquele papinho de que a exigência do diploma vai de encontro à Constituição – uma vez que ela também prima pela liberdade de expressão – para mim não cola! Liberdade de expressão é uma coisa e Jornalismo é outra, embora ambas andem de mãos dadas. O que faço nesse espaço é exercer liberdade de expressão e isso qualquer cidadão está apto a fazer, até aquele que não tenha lá muita instrução. Todos devem ser ouvidos, com isso eu concordo totalmente. Agora, fazer Jornalismo é outro departamento.

A imprensa não passou a ser chamada de “O Quarto Poder” a troco de nada. As mídias têm uma força que o público ainda nem sabe. Através da imprensa o mundo toma conhecimento do mundo. E se isso for feito por pessoas despreparadas, não quero nem imaginar o caos que isso pode acarretar. E não estou sendo exagerada! Quem não se lembra do caso da Escola Base? Informações incompletas e desencontradas condenaram pela vida toda um casal acusado de abusar de criancinhas. No fundo eles eram inocentes, mas o estrago já havia sido feito e a vida deles, aposto, nunca mais foi a mesma. Estragos causados por uma meia dúzia de gente inapta.

Na faculdade exemplos como esse são citados aos montes para que os futuros jornalistas tenham a consciência de que seu trabalho pode alterar os rumos de muitas vidas, pode interferir na história de uma cidade ou de um país. Tanto o jornalista que assina um jornalzinho de associação de bairro (não estou pondo isso no sentido pejorativo) quanto um correspondente internacional, têm grandes responsabilidades sobre aquilo que dizem e escrevem. Uma afirmação feita sem certeza, pode deixar um rastro de mal entendidos e, consequentemente, de falta de confiança por parte do público. E depois pedir desculpas, não basta. Seu currículo já foi arranhado, e nesse meio, infelizmente, muitos erros não têm perdão.

Apurar uma notícia, ir atrás de fontes (e saber preserva-las), peneirar o que é útil daquilo que não presta, saber o momento certo para divulgar os fatos, não parar de pesquisar nunca, ser ético com os demais profissionais e colaboradores, tentar ao máximo não se envolver emocionalmente com as personagens da notícia, saber falar, saber se colocar, saber escrever. Isso não se aprende sozinho. Os professores de Jornalismo são os primeiros a nos dar uma noção dessas coisas todas. É claro que aprendemos muito e talvez até mais quando praticamos, quando o mercado de trabalho nos abraça. Mas são os professores (também jornalistas) que nos colocam as sementes da ética, do conhecimento, do interesse. O esforço dos nossos mestres e também dos alunos (tantos ingressam numa universidade muito sacrificadamente) não pode ser desprezado.

O que o STF fez parecer é que estudo e conhecimento não valem nada. Que qualquer zé-mané que acha que manja muito de Português pode exercer a profissão que tanto põe medo nos nossos governantes. A única razão que enxergo pela qual tal decisão tenha sido tomada, foi justamente a de criar uma nova geração de jornalistas idiotas, carentes de cultura, sem poder de argumentação. A imprensa é e sempre foi uma ameaça para o governo – seja ele qual for, independente de época. Mas agora a coisa ficou descarada. Até mesmo Lula, que, como era de se esperar, falou em defesa de Sarney, disse que tudo o que está sendo levantado sobre o “imortal” ex-presidente é puro denuncismo. Como denuncismo, se há provas? Agora a culpa pelo Sarney estar empregando a família toda e mais um pouco às custas do dinheiro público é da imprensa? Lula tem o costume de dar declarações ridículas, mas essa foi umas das piores.

A consequência dessa manobra, além da fragilidade da classe, será a aparição de inúmeros “jornalistas” semi analfabetos. Afinal, todo mundo tem certeza de que sabe, e muito bem, usar a Língua Portuguesa. Os editores-chefes e os revisores não vão dar conta de tantos abusos que vão começar a aparecer. Pois se até mesmo os jornalistas formados e experientes às vezes dão seus tropecinhos no Português (mas sabem corrigi-los imediatamente), imaginem que não passou por uma faculdade?

O presidente do STF, Gilmar Mendes, ainda teve a pachorra de dizer, em seu relatório, que diploma de Jornalismo é tão dispensável quanto diploma de culinária e corte e costura. Bom, para culinária e corte e costura realmente não são necessários cursos universitários, mas para quem deseja evoluir nas carreiras, existem faculdades de Gastronomia e Moda e Estilismo. Outro argumento totalmente furado, desnecessário e mal escolhido.

É por essas e por outras que ando botando cada vez menos fé nesse país. Quando a gente pensa que as coisas não podem ficar piores, vem alguém e nos prova o contrário. Como jornalista, como ex-aluna e como público, fiquei chocada, revoltada, triste e deprimida com tal julgamento. Tudo o que aprendi na faculdade não é jogado fora, claro. Mas o sentimento que fica é de que conhecimento, no Brasil, não tem valor. Uma redação bem feita e esmero quanto ao uso da Língua Portuguesa valem tanto quando um textinho sem-vergonha sem pé nem cabeça. Mas no fim das contas não há porque ficarmos chocados, afinal temos um presidente que nunca fez questão de estudar.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

LICENÇA PARA FICAR IRRITADA


“…Estou boquiaberto / Não sei o que é certo / Também já não sei o que é errado / Eu leio o que a lei / Me diz para fazer / Mas olho em volta e ninguem faz / Então não faço / Amasso a convenção / Fumo na condução / Jogo no chão o maço de cigarro / Avanço o sinal / Suborno o fiscal / E todo mundo faz igual...”
(Boquiaberto – Biquíni Cavadão)

Ainda não sei se é porque eu estou chegando à casa dos trinta, mas o caso é que reparei que estou ficando cada vez mais irritadiça com uma infinidade de coisas que antes não me provocavam tanto. Adolescente não é muito de reparar nas coisas erradas. No fundo adolescente é um grande egoísta que olha para o prórpio umbigo, ignora o que os pais dizem (os que dizem e quando dizem) e preferem ouvir os amigos tão ou mais inexperientes que eles. E só fazem porcaria. Creio que já faz um bom tempo que larguei a adolescência, então me dou o direito de meter a boca nessa fase tão linda e tão oca da vida. Oca sim. Quisera eu, poder voltar no tempo e ter aos dezesseis anos o mesmo conhecimento que tenho hoje (e que ainda não é muito). Quisera eu, aos dezessete ler tanto quanto leio hoje. E aos 18 deveria ter me espiritualizado mais. Mas como os mais velhos dizem: “a gente não pensa”. Balzac acertou em dizer que as mulheres de trinta são as melhores. Pelo menos eu, apesar de tantas interpéries, me sinto alguém melhor. Não A MELHOR, mas a melhor que eu tento ser. E como o tempo vai passando, vamos nos tornando pessoas mais seletivas, mais cautelosas, mas analíticas, mais racionais. E mais rabugentas! Eu tenho me sentido profundamente rabugenta a cada dia que passa – não confundam com mal educada.

E há coisas que me irritam mais, outras menos (estou para fazer uma lista), mas depois de ter me tornado passageira assídua de ônibus de Garça a Marília nesses últimos meses, vi que tenho razão em sentir tais irritações. A começar que, não sei por que (e gostaria muito que alguém explicasse), os ônibus ainda não conseguem atender a demanda de passageiros. Dependendo do horário, vamos todos espremidos e chacoalhando, levando cutucões, pisões, sendo obrigados a ouvir piadinhas de gosto duvidoso, levando guarda-chuvadas (se o termo não existia, passou a existir) e sacoladas – e daqueles pacotes enormes da Tanger! Um lembrete ao(s) dono(s) da Turismar: você(s) não transportam gado; transportam pessoas. Será que custa muito disponibilizar mais carros em determinados horários? Sei que é difícil, mas nessas horas não pensem só em dinheiro: respeito é algo que não tem preço.

Especialmente porque a falta de espaço incentiva a proliferação de gente folgada. Cansei de ver marmanjos e mocinhas sentados nos bancos reservados aos idosos e que não se levantam quando os vêem entrar no ônibus. Ou fingem que não estão olhando, fazem de conta que estão dormindo ou simplesmente não se movem por pura má vontade. Uma vez uma senhorinha entrou no ônibus e já não tinha mais lugar nem para uma agulha. E um adolescente, de uns treze ou quatorze anos, bem esparramadão no primeiro banco. Ele a viu em pé e nada fez. Voltou a olhar a estrada. Cedi meu lugar a senhorinha, com muita raiva não só desse empiasto, mas por causa da mãe dele, que devia ter dado a devida educação bem antes dessa criatura saber o que é um ônibus. A mamãezinha do folgado estava com ele e nem sequer esboçou a intenção de dizer “filho, dá o seu lugar pra essa senhora”. E na mesma viagem, ainda na rodoviária, uma estudante tira o boleto da universidade da mochila, rasga e atira os pedacinhos pela janela. Deve ser uma dessas mentes brilhantes que pensam “ah, a faxineira da rodoviária está sendo paga pra limpar mesmo”. É ou não é irritante esse tipo de mentalidade? Por que tem gente que tem mania de espalhar lixo por onde passa? Até a cobradora do ônibus, numa outra viagem, resolveu descarregar o furador de papel dentro do veículo, no meio do corredor. Foi “confete” pra todo lado. E ela ainda achou graça. Depois a gente diz que se isso acontecesse na Europa, nos Estados Unidos ou no Japão ia acabar em multa, as pessoas acham ruim. Eu já passei a ignorar essa gente que vem querendo dar liçãozinha de moral dizendo “você não valoriza as coisas do seu país” ou criticando quem cita os estrangeiros como exemplo. É lógico que no exterior nem tudo são flores, mas experimenta jogar um copinho descartável na rua no Japão. Ai de você se não ceder seu lugar para uma pessoa mais velha! Lá os mais velhos não são somente respeitados. São reverenciados.

O festival de irritação não pára por aqui. Ainda teve a vez da mocinha que tentou viajar com um bebê de colo e também ninguém quis se levantar. Ela passou por um adolescente que também ocupava os bancos especiais e que nada fez. E do lado dele, um homem que também não se levantou. Eu, que estava em pé do lado deles, ouvi o cara dizendo que depois do almoço ele sente preguiça. Um sujeitinho desse naipe, que decretou a morte do cavalheirismo, será que nunca teve mãe, irmã, filha? E será que esses moleques que se acham tão espertos não pensam que suas mamãzinhas um dia vão precisar de um acento num ônibus lotado?

Ainda tem a categoria dos metidos a engraçadinhos. Durante o período que tive que viajar, sempre pegava o ônibus no mesmo horário. É fatal encontrarmos basicamente as mesmas pessoas. E como toda turma do fundão é sempre a mais chata, dessa vez não ia ser diferente: uns e outros homens sempre fazendo gracinhas com as mulheres e contando piadinhas inconvenientes. Por outro lado, há moças permissivas que pensam que estão abafando, se sentindo as musas do ônibus, por causa de certas cantadas no mínimo nojentas. Como uma moça que – deu a entender – era vendedora de lingerie. Os caras aproveitaram a deixa e falavam bem alto, pra quem quisesse ou não quisesse ouvir: “amanhã você me traz a sua calcinha?”. E outro completou: “a preta!”. E ela ainda achava engraçado. Sinceramente, uma mulher que ouve frases dessa natureza e é conivente, é porque não tem muito respeito próprio. Ou então acha graça de qualquer bobagem. Ia esquecendo de mencionar, mas também me irrito com humor gratuito, a graça pela graça, piada de A Praça é Nossa, espírito de quem passa o domingo assistindo ao Gugu. Uma das coisas mais odiosas nesse mundo é música de duplo sentido, sobretudo as de conotação sexual com conteúdo machista e preconceituoso etnicamente. Deve ser por isso que eu detesto axé, funk e afins.

No meu último dia de curso em Marília, na volta, ainda tive que ouvir o motorista da Turismar gritar um retumbante “Seu véio f*d*p*!”, depois de ter sido cortado no semáforo. Isso com moças e senhoras a bordo. Eu gostaria de saber se ele se incomodaria se algum grosseirão gritasse palavrões perto de alguma mulher da família dele.Quem foi que disse que todo brasileiro é hospitaleiro e educado? Quem soltou essa frase deveria viajar mais de ônibus circular. E pensando bem, não seria o simples fato de aliviar o número de passageiros que ajudaria a melhorar a educação das pessoas. Pois se um adolescente é folgado e um homem é egoísta, preguiçoso e boca suja, eles não o serão somente num ônibus. Serão em qualquer lugar. Na escola, em casa, num supermercado, na padaria, num restaurante, em família. E esse papo de que educação começa em casa, é verdade, mas em partes. Acredito que a outra parte – além da escola – devesse ser inerente em cada ser humano. Eu prefiro acreditar que cada um de nós nasceu com um gene da boa educação. Os nossos pais e professores têm o papel de os fazer despertar. Porque não é possível que alguém veja uma pessoa idosa tentando se manter em pé dentro de um veículo cheio e requebrante e não faça nada! Não é preciso que a mãe fale. É instintivo que a pessoa se levante e ceder o lugar! Do mesmo modo que deveria ser nato numa mocinha universitária – que, em tese, tem mais noção das coisas – que é ridículo ficar atirando papel picado pela janela. Ela que vá fazer a faxina da sua mochila em casa. Os motoristas deveriam se tocar de que o trânsito não vai melhorar em nada com seus gritos chulos. E que certas mulheres que pensam que estão sendo muito liberais, na verdade estão sendo é libertinas.

São atos pequenos, são práticas que podem soar bobas, mas que dia após dia, cometidos repetidamente, vão irritando. E no meu caso, fazem com que eu perca gradativamente a fé nesse povo. E não estou falando de Garça ou Marília em especial. Falo do país. Gente indolente, imprestável, espertinha, maliciosa e individualista existe em todo lugar. E conhecendo muitas professoras, eu sou testemunha de que a escola faz o que pode para tentar educar essa nova geração inerte, mentalmente defasada e espiritualmente pobre. E também não adianta jogar tudo nas costas das instituições de ensino. Então, existe alguma solução ou essa é uma realidade sem conserto? Será que seria o caso de as pessoas irritadiças como eu começarem a se tornar insensíveis? Ou tentarmos correr pra longe, fugir? Para que eu não escreva mais nenhuma frase irritante para o leitor, deixo sábias e inspiradoras palavras de outra música do Biquíni (Discivilização): “Qualquer dia desses ainda pego o meu carro e sumo daqui. Vou aonde der a gasolina. Daí em diante ando a pé, até encontrar carona em carro de boi. Suspendo o meu ódio e salto num vale inatingível. Percorrerei a mata e me embrenharei por ela até chegar numa árvore, a mais alta, e tirar um cochilo jóia”.
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Desenho: Seu Donizildo (Mundo Canibal) - o personagem mais irritado do mundo.