quarta-feira, 23 de setembro de 2009

UMA CASA.
UM TEMPLO.
UMA ESCOLA.

“O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele”
(Immanuel Kant)

Já tem tempo que eu fico ensaiando escrever esse texto, mas sempre ficava adiando porque buscava as palavras perfeitas para definir aquilo que faz parte da minha história e que até hoje povoa meus pensamentos. Porém, por receio de parecer piegas, tais palavras nunca saíram do campo das idéias. Só que eu estava começando a me sentir devedora – e de algo tão simples. E ainda que tudo pareça muito brega, eu sinto que DEVO fazê-lo.
Aproveitando que nesse ano a escola Monsenhor Antônio Magliano completa 50 anos, achei que seria no mínimo decente que eu fizesse, não uma homenagem, mas um agradecimento a todos os profissionais que por lá passaram e que marcaram os “anos incríveis” de vários jovens. Jovens pivetes que se sentiam tão amadurecidos por estudarem entre os grandões do colegial. Entre 1991 e 1993 éramos as duas únicas classes de primeiro grau na escola; pirralhos de 11, 12, 13 anos circulando entre os “adultos” de 16, 17, 18. E queríamos ser tratados como iguais, mas éramos esnobados pelo pessoal do colegial (e eu não os culpo). Por outro lado éramos mimados pela escola, tínhamos aulas que os grandões não tinham como datilografia, eletricidade (não era eletrônica não, era eletricidade mesmo), mecânica (para os meninos) e corte e costura (para as meninas). Às vezes eu me sentia num daqueles filmes americanos que mostram aquelas escolas cheias de atividades extra-curriculares.
Eu nunca me dava muito bem em corte e costura, assim como em educação física – minhas maiores diferenças na época, mas havia algumas compensações, como os trabalhos de educação artística do professor Nicola e os jograis e teatrinhos das aulas de Português da D. Vera (minha mãe, aliás); além da hora da merenda, quando todo mundo entrava bonitinho na fila para pegar o seu pãozinho com manteiga e seu leitinho com groselha.
Ainda lembrando o estilo “escola americana”, uma vez inventaram de fazer uma espécie de “show de talentos” conosco, pondo a 5ªA competindo com a 5ªB. Na época o sertanejo estava muito na moda, então a maioria competiu cantando “bálsamos” como Pense em mim e É o amor. Havia outra coisa de gosto muito duvidoso que também estava em alta: o noticiário bizarro Aqui e Agora. Então me fizeram imitar o Gil Gomes. Até hoje eu não sei onde eu arrumei tanta cara-de-pau para fazer aquilo. Mas com aquela idade, timidez era o de menos. Ao longo desses anos encenamos Os Músicos de Bremen, História de uma gata, o quadro da velha surda da Praça é Nossa, Não se vá (de Jane e Herondi), Soy loco por ti America e o Charleston, sem um pingo de constrangimento. Tudo o que fazíamos naquela escola era sinônimo de diversão. Até nas mais sisudas aulas de matemática da professora Vandermara, víamos graça.
Ainda tinha a clássica rivalidade entre as turmas – e eu tinha que agüentar as provocaçõezinhas por ser a filhinha da professora – os meninos encapetados que atormentavam as meninas, os livrinhos de literatura (A pata da gazela era “A pata da Sganzela” para os engraçadinhos), os incontáveis mapas de Geografia da professora Lula – que todo começo de ano pedia pra gente levar o saudoso estêncil Pelicano para mimeografar os exercícios – e as aulas de História da professora Cleuza. Aliás, para que decorássemos os nomes de todos os nossos presidentes cronologicamente, cada aluno, ao responder a chamada, dizia um, desde o Marechal Deodoro. Eu, como sendo a última da lista, era o Fernando Collor de Mello. Escutei vaias o ano inteiro por conta disso.
E não podia me esquecer das broncas do Clóvis, mandando a gente parar de correr e entrar logo na classe. Quando retornei ao Monsenhor, em 1995, o Clóvis continuava dando seus pitos, só que agora era para regular o vestuário dos adolescentes: “bermuda só com um palmo acima do joelho!”, ou “vai pra sua casa trocar de roupa!”, quando via alguém de regata. Os bons costumes ainda tentavam prevalecer naquela década.
Quando chegou a nossa vez de sermos do colegial, o ensino era técnico e eu tenho que confessar que nunca fui muito chegada em informática, programação e afins. Só quis prestar o vestibulinho e voltar ao Magliano por paixão àquele lugar. Eu não conseguia me ver em outra escola senão naquela onde eu tinha passado anos tão alegres. Foi no “Cei” que conheci o Rafael Pioto – meu melhor amigo até hoje e sempre – foi nessa época que eu parei de fugir da educação física e aprendi a jogar futebol com os meninos (para quem duvida, há fotos que provam isso!), foi lá que escrevi minhas primeiras redações para participar de concursos literários; foi no Monsenhor que conheci o Shiro – o japonês mais pirado do mundo, que me passava muitas colas de Física (isso não é bonito) e que, ao ir embora para o Japão, me deixou toda a sua coleção de CDs do Michael Jackson.
Foi durante a Expotec de 1996 que uma aluna anunciou no microfone a morte do Renato Russo. Nem preciso mencionar que fiquei chateadíssima. Aliás, a Expotec era uma das coisas mais aguardadas pela gente. Apesar de toda a correria de ter que aprontar os trabalhos, tomar conta das classes com exposições, ciceronear as turmas infantis que nos visitavam de manhã e de tarde, jogar, nos apresentar no coral, dançar e até interpretar (!), quando tudo terminava, ficava aquela sensação de “como passou depressa”. Naqueles tempos parecia que estudar era algo tão legal (e de fato é) que fazíamos isso nos divertindo.
Antes do professor entrar na classe, na segunda-feira, minha prima Verenna, eu e a Fer (a Shaquille O´Neal) e outras meninas, tínhamos que nos juntar para tecer comentários sobre como tinha sido o fim de semana: o berimbau do Grêmio no sábado e a sorveteria depois da missa no domingo. Por vezes aquela escola tinha ares de clube – aparecia gente quem nem era aluno, ia atrás dos amigos e acabava ficando, só pelo prazer de estar lá. Fazíamos qualquer negócio para permanecermos ali o maior tempo possível: éramos parte do coral da professora (de Inglês) Eliana – não me sai da memória uma das músicas mais executadas pela gente, o “I Just call to say I Love you” – e entre uma aula e outra da professora Clery, dividíamos o espaço das quadras – quem jogava vôlei atrapalhava quem jogava basquete que por sua vez atrapalhava quem jogava futebol, mas ninguém ligava pra isso.
Sinto saudades das aulas de informática, principalmente da parte em que, quando o professor não estava de olho, o Rafa, o Shiro e eu desenhávamos coisas engraçadas no Paint; do jeito tranqüilo do professor Koshi, dos ensaios com a Eliana, das provas de Literatura da professora Vera (já citei que ela é minha mãe?), da paciência de Jó do professor Jackson, da biblioteca, da sala de vídeo – onde assistimos O Guarani, Vidas Secas, Inocência, O primo Basílio, A Moreninha. Sinto saudades das quadras, de como era tragicômico ver que o Rafa e aquele japa aloprado eram presenças constantes na sala da (minha tia) diretora Mariza; das Expotecs, de comprar paçoca na hora do intervalo, das risadas, das amizades, de sair para comer pastel na rua de cima, de cada pedaço daquele lugar...
Pode soar meio estranho, mas agora, nas raras vezes que entro no Cei, parece que vejo os nossos “fantasmas adolescentes” perambulando por lá, rindo, subindo e descendo as escadas, falando de alguma paquera, fazendo hora na cantina, comentando como tal prova tinha sido difícil ou levando outra chamada do Clóvis. Falar do Monsenhor Antônio Magliano, pra mim, é ao mesmo tempo fácil e complicado, pois me vem uma mistura de felicidade com melancolia, saudade boa e a certeza de que nada daquilo jamais se repetirá. Porém, o principal e o que me faz ser hoje o que sou, eu adquiri entre aquelas paredes, naquelas carteiras, naqueles laboratórios, naqueles corredores, naquela deliciosa década de 90 e são coisas que ninguém pode me roubar: sabedoria, experiências, educação, conhecimento e grandes amizades.
Por isso, Monsenhor Antônio Magliano me é também sinônimo de gratidão. E não tenho vergonha de dizer que amo aquela escola. Ela é uma prova concreta de que Educação não se faz só com intelecto, mas também com o coração.

Um comentário:

Unknown disse...

Olá Veridiana,

Gostei muito do que escreveu sobre o "CEI". Acho que é o sentimento da maioria dos que estudaram lá naquela época. Eu estudava a noite e tambem perticipei do coral da Eliana. Me formei em 1997, em Processamento de dados, a ultima turma de 4 anos. Lá fiz grandes amigos... alguns para a vida toda. E nossos nomes confundiam muito os professores, me chamavam de Veridiana e eu corrigia: é Verediana. Ai falavam: é que de manha tem uma Veridiana.heheheh

Parabéns pelo texto.

Verê