terça-feira, 18 de setembro de 2007

UMA PAUSA PARA A SINGELEZA DE DRUMMOND
ENTRE OS DIAS DA SEMANA
"Entre os dias da semana,
olhada à minha maneira,
de todos os mais bacana
sem dúvida é a quarta-feira".

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

A CAÇADORA DE PÉROLAS
Parte II – Surrando o Português.

Assaltaram a gramática, assassinaram a lógica.
Seqüestraram a fonética, violentaram a métrica

(Assaltaram a Gramática, por Paralamas do Sucesso)

No dia 8 deste mês, comemorou-se (?) o Dia Internacional da Alfabetização. Lembrança essa que casou perfeitamente com o segundo assunto da minha série sobre a caça às pérolas. É perfeitamente compreensível que na internet não haja uma preocupação em relação à acentuação, pontuação e ortografia. Haja vista a invenção do “internetês” – uma linguagem nova e típica de quem freqüenta assiduamente o “cyber espaço”. Uma letrinha aqui, outra li, a gente até pode deixar passar, às vezes pode ser apenas um erro de digitação, dada a pressa de como as pessoas se comunicam. Mas tem certos casos imperdoáveis. Alguns passeios em certas comunidades me bastaram para que eu visse, de um modo tragicômico, como pessoas supostamente alfabetizadas, estão dando cada vez menos sentido às frases.

Sendo filha, sobrinha e amiga de professoras, vejo de muito perto como situações como essas, matam de desgosto profissionais que penam para ensinar quem parece que não está muito a fim de aprender. Não sei se esse é o caso dos donos das seguintes pérolas. Se nunca estiveram a fim de aprender o bom Português, então estão no caminho certo. Caso contrário, colaborem com seus professores, abram suas mentes e leiam alguma coisa que preste! Posso ser chata, e talvez até seja, mas graças a Deus sou uma chata que foi alfabetizada no velho e eficiente sistema do “não aprendeu, não passou”. Nunca repeti um ano e nenhum dos meus colegas de classe também não. Deve ser porque nossas turmas eram menores, não tínhamos internet, líamos mais, não éramos mal-criados e nossos professores tinham total liberdade e apoio dos pais para nos repreender. Ainda sou da época em que aluno levava régua de pau na cabeça se enchesse muito o professor e isso era super normal. Definitivamente, certas mudanças na Educação foram como um chute no estômago dos professores, alunos e pais. Só gostaria de entender por que uma classe com 40 alunos e não duas com 20. Por que se aceita que uma criança escreva errado, desde que se entenda a idéia? Por que permitir que ela passe de ano cometendo tantas atrocidades com o idioma? Por que os professores perderam a autoridade? Por que tanta preguiça e tanta má vontade por parte dos alunos? Por que, cargas d’água, temos um presidente que incentiva a ignorância? Enquanto não temos as repostas, veremos muito disso (tentem decifrar, eu juro que não inventei nada):

“xeguei representandu!!!!! ai pesual....pa fla a verdadi eu nem conheço essa cidade...tao pouco sabia ki existia....digo isso 100 qre ofende!! mais oq me xamo atençao nessa comu...foi a fotu...ki porakazo é igual a minha..rsrs só daki d sao josé dos campos...e só conhecido comu o garça.....intao no fundo essa comu tem minha cara tbm...pq afinal eu so um garsence onorariu.....rsrsrsr....intao um abraçao pa tdos v6is..... vlwwwwwwwwwwwwwww”
Ou então:
“jah fui varias vezes no berimbau mas so no berimbau mas porq quando ia fazer trocar de mingau pra berimbal eu c escondia. atras das coisas hehehee”
(Eu “se” escondia? E o infeliz ainda ri...)
Temos ainda um sócio de um clube que diz: “Que deveria ser mais rígido o isame medico”, ou outra que lançou o tópico: “É precoseito da galera” . E no mundo do rodeio também há quem contribua: “Quem vai ser peão quando crecer?” e “ah tah certo cumpadi esses piao nao da muitu certo nao! us cara fik 4 5 segundus em cima do boi! para né tem que c uns caara miozinhu um poko!”. E sobre aquele velho discurso de não se ter nada para fazer na cidade nos fins de semana, alguém que pensa que é engraçado e que usa acento onde não precisa, listou o que tem de bom em Garça (usei asteriscos para substituir palavrões totalmente dispensáveis): “oloko pow olha só cachaçaria, dudas, kraoq, barraco, thot, compania, Texas... ops foi mals garça né? hehehe não sei, néssa b*** aqui so tem bar pow cada esquina um... puriso nem saoi aqui néssa b*** hehehehehehe bora marilia gente...”

E já que estamos no embalo, para fechar com chave de b***, uma das frases mais imbecis que eu já li: “garça preciza d uma casa d recreasão masculina!!” . Duplamente imbecil: pelos erros grotescos de ortografia e pela sugestão absurda. Se foi uma tentativa de fazer graça, esse sujeito nem passou perto de conseguir. Se falou sério, então devemos realmente ficar preocupados. De qualquer modo, eu que nem professora sou, já fico assustada diante dessas barbaridades, imagino como devem se sentir quem é encarregado de cuidar e orientar essas mentes. E saiba que, enquanto você lê esse texto, em algum lugar dessa cidade e desse país, o Português continua sendo espancado. Mas, para dar um ar menos triste a essa realidade, deixo aqui um poeminha muito simpático do mestre Drummond:
Professor
“O professor disserta
sobre o ponto difícil do programa.
Um aluno dorme,
cansado das canseiras desta vida.

O professor vai sacudi-lo?
Vai repreende-lo?
Não.
O professor baixa a voz
Com medo de acorda-lo”.
A CAÇADORA DE PÉROLAS
Parte I – Sobre as mulheres de Garça

Meu amigo Fagner já havia adiantado em um texto seu, que eu estava recolhendo algumas pérolas do Orkut, para usa-las posteriormente. De fato. O Orkut, decididamente é uma fonte inesgotável de surpresas – boas e más, e muito das coisas que já li me fizeram rir bastante. Pesquisei em várias comunidades relacionadas à Garça e selecionei as melhores – ou piores, depende do ponto de vista – manifestações de alguns jovens de nossa cidade, a respeito de diversos assuntos. Só quero ressaltar que, valeu a intenção por eles terem participado dos tópicos, mas bem que poderiam ter um pouco mais de respeito com a nossa surrada Língua Portuguesa e que eles precisam ler. Ler muito, para não dizerem tanta bobagem. E tais bobagens serão publicadas em doses pequenas, para não enjoar quem escreve e quem lê. E também que não sou autoridade em nada e não quero expor esses jovens pensadores ao ridículo. Eles o fazem por si mesmos.

O primeiro tópico se refere às mulheres de Garça. Alguns marmanjos escreveram reclamando de que as moças daqui não dão a devida atenção aos mancebos porque são por demais orgulhosas, porque só se interessam por quem tem um carro, dinheiro, influência. Essas coisas tão típicas que os homens adoram dizer quando são esnobados. Outros dizem que por aqui só existem barangas, e que por esse motivo devem ser umas desesperadas que saem com qualquer um. Mas esse sujeito, numa tentativa vã de melhorar a imagem das mulheres, escreveu: “... aqui nessa cidd so nao cata muié quem não quer!! pois aqui tem mulher bonita como todas as outras!! nao fis este tópico tirando as muié d garça!! so fiz para os cuecas pararem d criticar falando q Garça so tem veia e mulher feia!! bjus para todos!!!!”. A única coisa em que esse amante dos pontos de exclamação está certo é que em Garça há muitas mulheres bonitas. Mas o que ele – e muitos – tem que saber é que mulher não é muié, e que ela não deve ser catada e sim conquistada. Não somos milho para irmos à cata. Muitas de nós - prefiro acreditar - ainda gostam de conversar, trocar idéias sobre coisas aparentemente bobas do cotidiano como filmes, livros, faculdade, pretensões, valores; ainda valorizam um papo espirituoso e bem humorado (e não chulo) e aquelas gentilezas que nunca deveriam ter caído de uso como o homem se prestar a abrir a porta do carro para que a mulher entre, puxar a cadeira para que ela se sente, deixar que ela ande pela parte de dentro da calçada ou permitir que ela atravesse a porta primeiro (e disso eu não posso me queixar porque tenho quem faça isso por mim).

Na seqüência, a resposta para o “catador”: “muié até tem... mais a maioria é td metida msm... e curti mais $$... pra cata muié mesmo tem que te $$ se nao... vai fica com a sobra”. Ao adorador das reticências, o que podemos dizer? Que talvez essas meninas não sejam metidas ou orgulhosas, mas que são seletivas. Oras, todos querem o melhor pra si, e não creio que um cara com essa mentalidade seja coisa boa para alguém. É lógico que existem interesseiras que preferem um idiota motorizado a um cara legal a pé, mas gente pequena assim está presente em todos os meios, então, meu caro, não diga que só as garcenses são desse jeito. E nem todas são assim. Te garanto.

Por fim, uma última colocação sobre esse assunto: “Qem fica falando isso é por q não cata ninguem q tem umas par de gatinhas + o duro q tem umas pilantras metidas ao q não é qer dar uma de boysinha vai ver a roupa é imprestada ou p/ pagar em 10 vezes”. Tirando a cacetada na ortografia, o que deu para entender é que muitas de nós, mulheres de Garça, vivemos de aparência. Rejeitamos tantos esses pobres homens, mas no fundo não passamos de umas coitadas que usam roupas emprestadas ou compradas em prestações a perder de vista. Ou seja, quem somos nós para esnobar esses moços? É sabido que em todo lugar há quem finja ser o que não é, que existem aqueles ricos falidos que vivem de pose dizendo: “você sabe com quem está falando?”, e há as tais “boysinhas”, mas, volto a dizer, não se trata da maioria!

Chega a ser patético constatar o pensamento de homens ainda tão jovens a respeito das mulheres. Que são esnobes, pilantras, fingidas e dignas de serem catadas. Bom, se eles passaram por esse tipo de experiência, então é provável que eles não tenham procurado direito – por preguiça ou incompetência. Se só se envolveram com as tais pilantras é porque somente elas correspondem ao tratamento que recebem. Por mais que o tempo passe, a essência da mulher nunca vai mudar – e sim se apurar. Ainda gostamos das coisas mais manjadas como lembrar de certas datas, flores inesperadas, um passeio sem motivo. Por outro lado, todo esse falso testemunho contra a maioria das mulheres de Garça pode ser puro despeito. Para que as mulheres certas apareçam, basta começar a abandonar essa infeliz mentalidade de “catar”, pois como já disse Cartier: “Quem compra cópia, merece-a”.
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Foto: usei esse lindo bichano com carinha de cansado, metaforicamente. Afinal, ler tanta besteira, desanima...