quinta-feira, 13 de setembro de 2007

A CAÇADORA DE PÉROLAS
Parte II – Surrando o Português.

Assaltaram a gramática, assassinaram a lógica.
Seqüestraram a fonética, violentaram a métrica

(Assaltaram a Gramática, por Paralamas do Sucesso)

No dia 8 deste mês, comemorou-se (?) o Dia Internacional da Alfabetização. Lembrança essa que casou perfeitamente com o segundo assunto da minha série sobre a caça às pérolas. É perfeitamente compreensível que na internet não haja uma preocupação em relação à acentuação, pontuação e ortografia. Haja vista a invenção do “internetês” – uma linguagem nova e típica de quem freqüenta assiduamente o “cyber espaço”. Uma letrinha aqui, outra li, a gente até pode deixar passar, às vezes pode ser apenas um erro de digitação, dada a pressa de como as pessoas se comunicam. Mas tem certos casos imperdoáveis. Alguns passeios em certas comunidades me bastaram para que eu visse, de um modo tragicômico, como pessoas supostamente alfabetizadas, estão dando cada vez menos sentido às frases.

Sendo filha, sobrinha e amiga de professoras, vejo de muito perto como situações como essas, matam de desgosto profissionais que penam para ensinar quem parece que não está muito a fim de aprender. Não sei se esse é o caso dos donos das seguintes pérolas. Se nunca estiveram a fim de aprender o bom Português, então estão no caminho certo. Caso contrário, colaborem com seus professores, abram suas mentes e leiam alguma coisa que preste! Posso ser chata, e talvez até seja, mas graças a Deus sou uma chata que foi alfabetizada no velho e eficiente sistema do “não aprendeu, não passou”. Nunca repeti um ano e nenhum dos meus colegas de classe também não. Deve ser porque nossas turmas eram menores, não tínhamos internet, líamos mais, não éramos mal-criados e nossos professores tinham total liberdade e apoio dos pais para nos repreender. Ainda sou da época em que aluno levava régua de pau na cabeça se enchesse muito o professor e isso era super normal. Definitivamente, certas mudanças na Educação foram como um chute no estômago dos professores, alunos e pais. Só gostaria de entender por que uma classe com 40 alunos e não duas com 20. Por que se aceita que uma criança escreva errado, desde que se entenda a idéia? Por que permitir que ela passe de ano cometendo tantas atrocidades com o idioma? Por que os professores perderam a autoridade? Por que tanta preguiça e tanta má vontade por parte dos alunos? Por que, cargas d’água, temos um presidente que incentiva a ignorância? Enquanto não temos as repostas, veremos muito disso (tentem decifrar, eu juro que não inventei nada):

“xeguei representandu!!!!! ai pesual....pa fla a verdadi eu nem conheço essa cidade...tao pouco sabia ki existia....digo isso 100 qre ofende!! mais oq me xamo atençao nessa comu...foi a fotu...ki porakazo é igual a minha..rsrs só daki d sao josé dos campos...e só conhecido comu o garça.....intao no fundo essa comu tem minha cara tbm...pq afinal eu so um garsence onorariu.....rsrsrsr....intao um abraçao pa tdos v6is..... vlwwwwwwwwwwwwwww”
Ou então:
“jah fui varias vezes no berimbau mas so no berimbau mas porq quando ia fazer trocar de mingau pra berimbal eu c escondia. atras das coisas hehehee”
(Eu “se” escondia? E o infeliz ainda ri...)
Temos ainda um sócio de um clube que diz: “Que deveria ser mais rígido o isame medico”, ou outra que lançou o tópico: “É precoseito da galera” . E no mundo do rodeio também há quem contribua: “Quem vai ser peão quando crecer?” e “ah tah certo cumpadi esses piao nao da muitu certo nao! us cara fik 4 5 segundus em cima do boi! para né tem que c uns caara miozinhu um poko!”. E sobre aquele velho discurso de não se ter nada para fazer na cidade nos fins de semana, alguém que pensa que é engraçado e que usa acento onde não precisa, listou o que tem de bom em Garça (usei asteriscos para substituir palavrões totalmente dispensáveis): “oloko pow olha só cachaçaria, dudas, kraoq, barraco, thot, compania, Texas... ops foi mals garça né? hehehe não sei, néssa b*** aqui so tem bar pow cada esquina um... puriso nem saoi aqui néssa b*** hehehehehehe bora marilia gente...”

E já que estamos no embalo, para fechar com chave de b***, uma das frases mais imbecis que eu já li: “garça preciza d uma casa d recreasão masculina!!” . Duplamente imbecil: pelos erros grotescos de ortografia e pela sugestão absurda. Se foi uma tentativa de fazer graça, esse sujeito nem passou perto de conseguir. Se falou sério, então devemos realmente ficar preocupados. De qualquer modo, eu que nem professora sou, já fico assustada diante dessas barbaridades, imagino como devem se sentir quem é encarregado de cuidar e orientar essas mentes. E saiba que, enquanto você lê esse texto, em algum lugar dessa cidade e desse país, o Português continua sendo espancado. Mas, para dar um ar menos triste a essa realidade, deixo aqui um poeminha muito simpático do mestre Drummond:
Professor
“O professor disserta
sobre o ponto difícil do programa.
Um aluno dorme,
cansado das canseiras desta vida.

O professor vai sacudi-lo?
Vai repreende-lo?
Não.
O professor baixa a voz
Com medo de acorda-lo”.

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