sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

Discurso feito nas coxas
(literalmente)
*******
"Uma vez publicado, um texto é como um aparelho que cada um pode servir-se à sua maneira e segundo seus meios"
(Paul Valéry - 1871 / 1945 - poeta, ensaísta e crítico francês)
*******
"Escrever é uma questão de colocar acentos"
(Machado de Assis - 1839 / 1908 - escritor carioca)
*******
Blog, em resumo é diário, não é? Então deixa eu contar: ontem estive na casa do professor Letterio - nosso presidente de APEG - e fiquei sabendo de uma novidade muito simpática. O dono de uma farmácia de Garça ia deixar um espaço no estabelecimento para quem quisesse lá expor alguma mensagem. Tem um tempão que não vejo isso. A última vez que vi foi na minha escola de inglês e eram bilhetinhos de "Valentine's Day". Na minha ex-universidade também tinha e estava apinhado de oferta e procura de caronas. Mas mural para poemas e pensamentos eu não via desde sei lá quando. O caso é que fui "intimada" - no bom sentido, a fazer um discursinho sobre isso, amanhã de manhã, na inauguração oficial do lugar. E eis que fiz, de um jeito bem meia-boca - rascunhando num caderno e nas coxas mesmo, o tal discurso. Para quem não estava nem sabendo do negócio, deixo o texto e o aviso de que, em algum lugar de Garça (Farmagarça, ex-locadora Vídeo Verde, para ser mais exata), a gente pode dar uma "viajada" (também no bom sentido) e escrever algumas linhas.
*******

Um mural de encontros

Assim que o professor Letterio nos contou sobre a iniciativa de se fixar um mural em uma farmácia, tive a feliz surpresa de saber que pessoas de diferentes segmentos apóiam a cultura e a prestação desinteressada de serviços em nossa cidade.

Ao contrário do que normalmente aconteceria – o “causar” estranheza de ver um espaço destinado a mensagens, poemas e pensamentos soltos, em uma farmácia – senti satisfação e apreço por tal proposta. Pode ser que alguém ainda pense que essas são coisas que aparentemente não combinam, mas creio que todo e qualquer lugar e momento são oportunos para exposição de idéias.
Há muito tempo encontrei outros murais em outros lugares, e pude conhecer pessoas através de simples mensagens neles postas. É sempre interessante notar como pessoas desconhecidas, anônimos ou tímidos convictos tomam a liberdade de escrever quando se vêem com um pedaço de papel, caneta e um espacinho num mural. Um ato que pareceria sem importância, mas nos limites de um pedaço de papel cabem pensamentos sem limites.

Podemos passar desinteressadamente por um punhado de recados e alguns deles nos deixar uma mensagem cheia de significados. Alguém, sem saber, pode nos ensinar alguma coisa – do mesmo modo que nós podemos transmitir outras tantas aos demais. São gestos simples e idéias generosas como essa que unem artistas e escritores – renomados ou modestos – às pessoas de diversas áreas, que, ainda que não percebam, têm um “quê” de artista. Todos temos.

Pensamentos, pequenos anúncios, ofertas de emprego, poemas, pequenos contos, frases inteligentes... Qualquer tipo de mensagem, no fim das contas, aproxima pessoas e torcemos para que esse objetivo seja alcançado. O discurso é breve, mas as congratulações são intensas. Em nome da Associação de Poetas e Escritores de Garça, parabéns ao Sr. Antônio Seabra e família.
THE MAJOR ATTRACTIONS OF BRAZIL

Durante uma das minhas limpezas no meu quarto, encontrei uma revista de bordo da Transbrasil, que peguei durante uma viagem que fiz a Alagoas, em 1990. Não resisti e fui matar as saudades de fotos que eu já havia visto, mas que nem me lembrava que ainda existiam. Na época eu só tinha 10 anos, portanto, só prestava atenção mesmo nas fotos, não na parte escrita. Até porque a revista está toda em inglês. Agora que até posso me aventurar nesse idioma, tive a infeliz surpresa de ler uma das propagandas (cujo título é homônimo ao desta crônica) sobre o Brasil, destinada aos gringos que nada sabem daqui: “Bem vindo ao colorido país chamado Brasil. A terra onde o futebol é o rei e o Carnaval é a rainha. Famoso pelo seu café, renomado pelas suas pedras preciosas e amado pelo seu samba. Eles são o ‘Número 1’ no Brasil”. Publicidade de mau gosto, vendendo um país que não pode ser resumido apenas nisso. Mas e daí? Tem uma foto tão bonita e, sabemos bem, a maior parte dos estrangeiros não está nem aí se o Brasil é bem mais do que futebol, café, gemas e carnaval. Corrijam-me se eu estiver errada, mas há tempos que o café representa apenas 3% do que exportamos e competimos, focinho a focinho com nossos hermanos colombianos e nicaragüenses nesse mercado. Nossa supremacia cafeeira, antes mesmo dos anos 90 já não era a mesma. A extração desmedida de nossas gemas e ouro empobreceu muitas regiões – tanto o povo quanto o solo (lembram de Serra Pelada? Não passa de um buraco cheio de lama e de sonhos desperdiçados). Futebol e carnaval não são mais o que foram. Em um, jogadores se vendem por salários indecentes e em outro, mulheres se exibem indecentemente.

Peço aos leitores que me perdoem, mas me senti provocada com o anúncio (de uma certa empresa de cartão de crédito) da revista, e aproveito que estou atravessando uma fase meio ácida da minha vida, para incrementar essa lista de retratos feios que o Brasil ainda ostenta, se fazendo de coitadinho para o mundo e empurrando um punhado de imagens distorcidas para os gringos que engolem tudo sorrindo e sambando.

O Brasil se orgulha de abraçar povos de todas as partes do mundo e se diz um país livre de preconceitos, porém ainda convivemos com o exercício da discriminação entre nós mesmos: negros, homossexuais, nordestinos, pobres e mulheres ainda estão no topo da lista das piadinhas e dos olhares tortos de muita gente. Um bando de mestiços que não se toleram. O roto maldizendo o rasgado. Muitos de nossos homens ainda cultivam aquela mentalidade tipicamente latina de que mulher se “pega”, não importa quem, mas quantas e que inteligência e personalidade não interessam, desde que ela seja escultural. Aliás, a culpa não é só deles. Se existem os “consumidores”, é porque existe o produto: mulheres lindas, talhadas na mesa do cirurgião plástico, ávidas por alguns trezentos mililitros de silicone (brinco dizendo que muitas nem podem chegar perto do fogo, senão derretem), as mais salientes se penduram no pescoço de algum jogador de futebol e depois que conseguem atrair alguns flashes, realizam o sonho de ser capa e recheio das Playboys da vida. Outras são chamadas para ser Big Brother e viram ídolos instantâneos, outras – por inocência ou pretensão – se dizem “modelo/atriz/apresentadora/cantora” e o que mais couber no pacote – para desespero e desgosto dos artistas de verdade. Mulheres que não pensam. Homens que nem pensam se elas pensam e todos eles, sem pensar, estão desfigurando a famosa e verdadeira beleza da mulher brasileira.

O Brasil também tem orgulho da natureza que Deus plantou aqui. Tanto orgulho que deu e continua dando muitas de nossas plantas para cientistas japoneses, que as patenteiam como se fossem deles, as transformam em medicamentos e lucram horrores. Não há fiscais suficientes nas florestas e os poucos que existem são ameaçados de morte pelos madeireiros (clandestinos) – que por sua vez “trabalham” sossegados em reservas que, em teoria deveriam ser protegidas e pertencer aos índios. E isso acontece porque muitos indígenas maçãs-podres negociam com esses extratores pedaços de terras que ganham do governo, em troca de televisores, celulares e uma infinidade de brinquedinhos. Tal qual seus ancestrais, bem mais inocentes e bem menos ambiciosos. Também desperdiçamos água, jogamos lixo na rua, entupimos bueiros, gastamos energia, somos o 14º maior poluidor do mundo e consideramos o rodeio um esporte – ou seja – judiar de animais é um espetáculo para a toda a família.

Também não podemos nos esquecer dos patriotas de época. Aqueles que só de quatro em quatro anos se lembram que o Brasil tem um hino lindo, mas que ninguém sabe a letra. Já vi gente confundir o hino Nacional com o da Independência. E não basta confundir. Tem que confundir errado: “Japonês a pátria livre...”. Patriotas que se inflamam para discutir um pênalti, mas que não têm paciência para conversar sobre política. Política é uma coisa chata. Leitura também é outra coisa chata. Leitura é coisa de intelectuais, e os intelectuais são chatos. E os intelectuais e chatos não são queridos. Logo, isso explica a popularidade do nosso presidente... Melhor eu parar de filosofar antes que eu também fique mal quista.

Chata mesma é a burocracia que emperra nosso país: um vai-e-vem de carimbos, fotocópias, protocolos, taxas, preencher não sei quantos formulários e guias, esperar não sei quantos dias úteis, filas, greves, filas ainda maiores... Um teste para os nervos e um laboratório para se criar os espertalhões. A burocracia é a mãe do “jeitinho brasileiro”. Todo mundo acha graça, mas quando algum de nós é vítima de um trambiqueiro, aí xingamos Deus e o mundo. Só que depois a raiva passa. As coisas são assim mesmo. O Brasil é assim mesmo. E a vida continua. Brasileiro não tem sangue quente o suficiente, mas tem um talento insuperável para fazer piadas de si mesmo e ainda acha isso uma vantagem.

E por falar em levar vantagem, muitos de nossos políticos são mestres nessa arte. Mal assumem um cargo e logo tratam de arrumar uma cadeirinha para um filho, sobrinho, afilhado, nora, cunhado. Um festival de parentes. Mas e daí? Brasileiro é tão sentimentalóide, é a coisa mais linda ver uma família unida. E amigos unidos também: vocês souberam do caso dos vereadores de Guaribas (cidade-piloto do Programa Fome Zero), no Piauí? Dentre os nove edis, seis coitadinhos se beneficiam de Bolsa Família, Vale Gás e Vale Alimentação. É de cortar o coração ver que nossos políticos têm que apelar para esses recursos. Foi-se o tempo em que vereadores trabalhavam de graça, por amor à política. Aliás, foi-se o tempo em que se tinha amor e respeito por muita coisa: pela escola, pelos professores, por patrimônios públicos, pela nossa História; por nossos poetas, pensadores e escritores.

Ao contrário do que parece, eu amo o país em que nasci e vivo. Tenho orgulho da minha miscigenação e do meu idioma (ninguém me tira da cabeça que a Língua Portuguesa é a mais bonita, melodiosa e romântica do mundo). E é justamente por amar tanto que digo essas verdades. Aprendi que só quem ama é que tem autoridade para apontar não só as qualidades, mas os defeitos do “objeto” amado. Não temos que ficar nos melindrando porque vimos uma manchete do New York Times falando coisas negativas a nosso respeito ou porque nossa má fama de malandros e mulheres fáceis corre o mundo. Ao invés de ficarmos nos fazendo de rogados, poderíamos experimentar assumir o que somos – ou o que temos nos tornado – e tentar largar certos vícios, parar de arreganhar os dentes e exercitar a crítica. E não só a crítica pela crítica. Só se fala com propriedade aquilo que se conhece e não há jeito melhor de conhecermos quem somos e o que podemos vir a ser se abandonarmos os preconceitos, a visão limitada e a resistência aos debates, cultura e leitura.

A propaganda que vi já tem 17 anos, mas parece que pouca coisa, ou quase nada mudou de lá para cá. Carnaval, pedras preciosas, café e futebol fazem parte da nossa cultura e natureza, mas nossa vontade de querer melhorar, aprender, nos superar, limpar a política e resgatar nossos personagens também deveriam ser as maiores atrações do Brasil.
________________
(escrito em 20 de janeiro de 2007)
CARTA ABERTA AOS MEMBROS DA APEG

“Andar por terras distantes e conversar com diversas pessoas torna os homens ponderados”
(Miguel de Cervantes – 1547 / 1616 – escritor espanhol)

Quando comentei com o meu amigo Fagner que ainda nessa semana eu escreveria algo sobre a Apeg e como ela havia mudado a minha vida, eu até brinquei dizendo que esse “mudar a vida” parecia um exagero. Mas para alguém, como eu, que durante um bom tempo não acreditava na própria capacidade de escrever, ter entrado em contato com a associação de poetas e escritores foi em passo importante. Diria até, um divisor de águas. Uma jornalista por formação ter medo de expor o que escreve soa tão absurdo quando um médico ter medo de sangue.

Comecei a freqüentar algumas reuniões da Apeg meio que de brincadeira, mais para matar a curiosidade de saber aonde minha mãe ia e o que faziam os tais poetas. Acho que, assim como eu imaginava antes, muitos outros devem pensar que na Apeg se reúnem pessoas inacessíveis que declamam versos ininteligíveis, conversam como sebos, com ares aristocráticos e que até zombam da ignorância alheia quanto a poesias e literatura. Confesso que fiquei com um pouco de medo de entrar para a associação e perceberem que eu não manjo nada de poesia. Admiro, mas não tenho talento para tal.

Receios bobos e sem sentido à parte, a Apeg realmente quebrou uma visão errada que eu tinha e me fez transitar por terras onde antes eu não havia me imaginado. Graças aos meus colegas de Apeg, passei a olhar para outros lados e possibilidades de escrita, entrei em contato com diversos gostos literários e impressões, vi finalmente que poetas são pessoas absolutamente normais – mas com um dom invejável de brincar com as palavras. Têm uma pitada de loucura, é verdade. Mas é uma loucura sadia, típica dos escritores livres e de quem ama e respeita qualquer manifestação artística.

Diferente do que vivi na universidade – onde meus textos eram puramente jornalísticos e onde eu tentava chegar mais perto da imparcialidade quanto possível – pois assim fomos doutrinados – na Apeg aprendi a colocar um pouco mais de calor e pimenta em minhas frases. Estar entre meus colegas da associação tem sido um valioso exercício e uma experiência inesquecível. Agradeço a todos – aos veteranos e aos novatos – por, de alguma forma – ainda que indireta – me ajudarem a me descobrir a cada dia e a cada texto.

Meu obrigado especial à minha mãe (prof.ª Vera) – meu primeiro canal de acesso a Apeg – e aos meus amigos Letterio Santoro, Luiz Maurício Teck de Barros e Fagner Roberto Sitta da Silva pela recepção, incentivo, palpites e consideração. Parabéns e vida longa a Associação de Poetas e Escritores de Garça.
_______________________
06/01 – Dia da Gratidão
16/01 – Segundo aniversário da Apeg
_______________________
(escrito em 14 de janeiro de 2007)
O peso de dois “Nãos”

Fecho o ano de 2006 e começo 2007 com um assunto ainda a me incomodar. O tema pode parecer meio velho e fora da agenda, mas ainda me causa estranheza. Na verdade são dois tipos de “Não” que chamaram a atenção no ano que já se foi – e ainda não sei qual me soa mais absurdo.

David Irving, um revisionista britânico, teve o sangue frio de sustentar – no início de 2006 – que não houve nenhum plano ou premeditação quanto à execução de milhões de judeus durante a Segunda Guerra. Em seus discursos públicos e entrevistas, Irving negou a existência da câmara de gás de Auschwitz, que a caçada aos judeus nunca ocorreu (pelo menos não por culpa dos nazistas) que se houve algum crime contra esse povo, foram casos isolados e poucos. Disse que campos de concentração e perseguições não passaram de “contos de fadas e mentiras”. Negou que a morte desses “poucos” judeus tenha se dado por envenenamento e maus tratos (entre tantas outras formas de execução), mas sim por causas naturais e epidemias.

Com esses “nãos”, David Irving – que antes de ser revisionista é historiador – foi condenado pelo Tribunal Regional de Viena a três anos de prisão sem condicional. Ainda que pouco tempo depois ele tenha retirado o que disse, pleiteando um abrandamento da pena, a justiça foi precisa. Ou pelo menos se fez o mínimo que se podia. Na Áustria, terra de origem de Adolf Hitler – um dos maiores autores do tal conto de fadas – negar o holocausto resulta em 10 anos de prisão. Tanto austríacos quanto judeus reivindicam isso, exigem respeito à memória de seus antepassados e não permitem que se rasguem essas páginas da História.

Do lado de lá um historiador negou o holocausto e pagou justa e imediatamente. Do lado de cá, um presidente já negou tantas coisas e recebeu o que em troca? Mais quatro anos no comando. Isso sim poderia ser um conto de fadas – ainda que de fadas bem safadas. O presidente mais inocente de todos os tempos se negou a participar de debates, negou ter conhecimento sobre o dossiê contra os tucanos, negou saber dos envolvidos e de onde veio o dinheiro para pagar tais documentos; negou saber sobre o mensalão (esquema para comprar votos de parlamentares) e classificou esses eventos como “sandices que tem que acabar”. Agora Lula nega que o fato de ele dar preferência aos pobres em seus planos de governos não implica em num abandono da classe média. Não? O rolo em que se encontra a aviação civil é um indício. Ele está respondendo um grande “que se lixem” para a classe média – fatia da sociedade onde muitos eram desejosos de Alckmin na presidência e que talvez por isso mesmo esteja experimentando essa “vingancinha” refletida no problema dos aeroportos.

Fechando o ano, lembremos do reajuste de 91% nos salários de nossos congressistas sem noção. Lula disse que ainda não tinha uma opinião formada sobre isso. De quanto tempo ele precisa? Eu não tenho idéia. Ele, menos ainda. Só sei que me entristece ver como esses nãos tem pesos tão distintos. Um “não” coloca em dúvida capítulos horríveis da História da humanidade, mas que graças ao brio de um povo, seu autor foi castigado. Guardadas as devidas proporções, aqui inúmeros nãos puseram em xeque a inteligência e a dignidade de tanta gente e nada aconteceu. Estou começando a achar que brasileiro só demonstra ter sangue quente quando é época de Copa do Mundo, ou quando chega o carnaval.
______________
(escrito em 03 de janeiro de 2007)


Eu tenho medo do Ronald McDonald

Não. Não se trata de um medo gratuito de palhaços. Apenas desse – e do que ele representa - de um modo particular (além de ser meio esquisito e feio). Desde novembro do ano passado, há um tópico na página de Garça, no orkut, com o seguinte título: “Queremos um McDonald’s em Garça”. Queremos? Alguém aí pediu um McDonald’s? Não convém citar quem lançou essa idéia, mas o erro já começa na afirmação, usando-se a primeira pessoa do plural. Felizmente o dono da proposta não teve muitos aliados (só um e ou outro achou simplesmente “legal”). Na verdade, fiquei feliz por saber que muitos jovens dessa cidade rechaçaram completamente a hipótese de um dia termos em nossa paisagem um par de arcos dourados. Para começo de conversa, não corremos esse risco, uma vez que qualquer unidade de uma grande cadeia de lanches só se instala em uma cidade cuja densidade demográfica atingiu os três dígitos. Mas aí vocês me perguntam: “então por que o medo?”. Bem, vejamos:

Uma empresa como a McDonald’s – que visa lucros acima de qualquer coisa e mascara isso com uma falsa responsabilidade social – num primeiro momento sugere geração de empregos. Ótimo, alguns de nossos jovens sairão da fila de espera e tirarão um troquinho. Trabalharão como uns camelos a fim de conquistar o almejado título de “O Funcionário do Mês” – nada mais que um quadrinho na parede; um símbolo que incita os empregados a competir entre si, a se matar por horas extras enquanto imaginam que estão demonstrando eficiência, quando no fundo, estão sendo explorados e privados de terem ligação com sindicatos. Se falamos de jovens, falemos das crianças: desde cedo são induzidas a comer de modo errado, e que, sem querer parecer trágica, correm o risco de enfartar antes dos 40 anos. Mais do que seduzidas pelo cardápio, as crianças são fisgadas pelas centenas de tranqueirinhas, brindes, caixinhas e brinquedinhos inúteis e descartáveis que acompanham um “lanche feliz”. E tantas embalagens lembram o que? Agressão ao meio ambiente. Uma quantidade incalculável de isopor (material não degradável) e papel é lançada na natureza. Da embalagem, passemos para o lanche. É fato que a McDonald’s devasta áreas de florestas tropicais a fim de manter suas criações de gado e não repõem o que derrubam. Isso levou o Greenpeace a colocar, por várias vezes, a McDonald’s no banco dos réus e adivinhem só quem levou a melhor?

Eu não estou tirando esses argumentos do nada. Além da simples observação, creio também em fontes como a jornalista Naomi Klein – autora do livro “Sem Logo” – e em Morgan Spurlock – diretor do documentário “Super Size Me – A dieta do palhaço”, de 2004. Numa das várias passagens sobre o império McDonald’s, Klein conta uma história, no mínimo revoltante e que compartilhei com meus colegas do orkut de Garça. Simplesmente a empresa resolveu processar um cidadão americano porque seu nome era Ronald McDonald. Coincidência, fazer o quê? Afinal, que tipo de pais pensa em dar ao filho o nome de um palhaço símbolo de uma marca, de propósito? Até mau gosto tem limite. Mc é uma partícula presente na maioria dos sobrenomes de origem escocesa (significa “filho de”), mas parece que a empresa não perdoa nem um caso de ascendência, nem de coincidência. O que a McDonald’s ganha com esse processo, além de esfolar um cidadão cujo dinheiro não lhe faz falta, mas que, provavelmente a ele sim?

Já Spurlock mostra, com o próprio corpo, as conseqüências que uma dieta a base de mcporcarias causa. Fora isso, registra o pouco caso que a empresa tem em relação às informações nutricionais de seus produtos. Numa das cenas, quando ele solicita uma tabela de calorias e valores nutricionais a uma funcionária de uma dessas lojas, tem a triste surpresa de saber que eles não usam mais isso e que a última que restava, foi encontrada escondidinha num depósito. Esse desleixo pode acostumar mal o consumidor que já nem liga mais para o que põe para dentro. Isso me lembra a famosa lenda urbana dos anos 80 que dizia que a carne dos hambúrgueres tinha aquela liga por causa da carne de minhoca – misturada à bovina. Antes fosse verdade: provou-se que carne de minhoca é riquíssima em proteínas.

Além da questão de exploração de funcionários, da “sedução” de criancinhas, dos problemas ambientais e da ingestão de mctranqueiras, quando se tem um McDonald’s por perto (ou um Bob’s, Wendy’s, KFC ou Burguer King), as lanchonetes menores podem tender a morrer. Vem uma grande de fora e esmaga as menores, “filhas da cidade” (e cá entre nós, os lancheiros daqui são bem mais generosos nos recheios e nos preços). Isso não vale. O pai do tópico, o da proposta indecente, ainda teve a pachorra de argumentar o seguinte (palavras do próprio, com erros de português incluídos no pacote): “depois os garrrrrrcenses não sabem por que a cidade não cresce!!! sabe por q??? por q vcs não aceitam o progresso vcs se fecharam num mundinho de carrinho de hamburguer!!!fala serio Garaça não vai por causa da mente fechada de certos moradores”.

Vocês entenderam, garcenses? Não passamos de gente atrasada, cabecinha fechada, avessa ao progresso. Para que nossa cidade progrida e prospere só precisamos de um McDonald’s! Como não pensamos nisso antes? Precisou um gênio da língua portuguesa e um exemplo de polidez nos abrir os olhos. E eu que sempre pensei que progresso e civilidade viessem de uma boa educação, de boas escolas, da valorização dos frutos e da cultura da nossa terra, de colaborar com a limpeza da cidade, de não depredar patrimônios públicos, de espalhar cordialidade... Agora é que me caiu a ficha de que o progresso se resume em 2 hambúrgueres, alface, queijo, molho especial, cebola e picles num pão com gergelim. Ah, e fritas acompanham!
______________________
(escrito em 25 de novembro de 2006)

A CULPA É DO "SERTANOJO"

Eu bem que ia deixar um texto aqui hoje - tava precisando - mas com um show de Guilherme&Santiago a poucos metros da porta da minha casa, não há Cristo que consiga se concentrar. Podem dizer que eu estou fazendo desse evento uma muleta para não escrever, mas queria ver se fosse com vocês... experimentem ter uma idéia redondinha na cabeça, tudo ordenadinho, aquela alegria de começar a escreve-la e daí, tão de repente e doído quanto um soco no estômago, sua mente começa a ser invadida por vozes chorosas, versos pobres, rimas previsíveis, letras de música que mais parecem redações românticas de 8º série, solinhos bregas de guitarra. Estragou até o meu momento "iê iê iê"!! Eu estava calma e tranquila ouvindo uma coletânea feroz dos Beatles e eis que Eleanor Rigby foi morta - de novo - só que dessa vez pelo sertanojo. Fora o axé que ficou tocando antes do show começar! Acho que me comportei muito mal essa semana para estar pagando desse jeito.
Não tenho preconceito nem prefiro o inglês ao brasileiro, mas convenhamos... Guilherme&Santiago? Nada pessoal, nada contra os meninos, mas bem que eles podiam estar tocando do outro lado da cidade.
Por que ninguém traz Djavan pra cá?
As últimas celebridades (detesto essa palavra) da música decente que tive a chance de ver em Garça, foram os caras do Ultraje a Rigor. Em 2001, se não me engano. O show mais legal que já vi, depois disso, foram só trevas!! Até a decadente da Gretchen veio em Garça e ninguém mais teve a lúcida idéia de trazer uma banda boa (tirando as de cover, que não temos do que reclamar).
Uma cidadã oitentista como, eu sofre pacas com essas coisas! Muitas das bandas que eu gosto ou não existem mais porque se desmancharam ou porque alguém morreu. Só me resta recorrer à programação noturna das rádios, aquelas que tocam fhash-backs. Mas hoje, nem isso!!! O som sertanojo atravessa minhas paredes. Então não esperem que eu produza um texto agradável. Ah, também ponho a culpa no calor. Calor infernal. Só que também não tenho como abrir as janelas. Oh, meu Zeus, essa noite vai ser longa...
Sem mais delongas (nem tem como ter mais),
até quando tudo estiver mais calmo.
_________
(escrito em 24 de novembro de 2006)
PARA ONDE VOAM OS TUCANOS?

Esse texto pode ficar com cara de um apanhado de “achismos”, de teorias estranhas e de pura dor-de-cotovelo de uma eleitora que, na maioria das vezes, levantou a bandeira azul e amarela do PSBD. Mas depois de ler, ouvir e conversar em família e com amigos, juntei muitas idéias e fiz um mosaico de indícios que me levam a crer que um dos maiores motivos da reeleição de Lula seja culpa também da oposição (além do manjado Bolsa-Esmola, claro, pois muitos de seus eleitores foram fisgados pelo bolso e não pela consciência). Senão, vejamos: o primeiro “culpado” é Fernando Henrique Cardoso, o “tucano-mor”, o garoto-propaganda do PSDB. Eleito por duas vezes seguidas, despertou em Lula aquele olho-gordo de criança do “se ele pode, eu também quero!”. E seus seguidores, embalados naquela de que “em quatro anos não se resolve nada, vamos dar outra chance a ele”, ou pior “Deixa o homem trabalhar”, o puseram lá de novo. Essa história de reeleição deveria ter sido extinta bem antes, assim não sofreríamos desse mal novamente. E assim, FHC teria saído em 2002 e colocado um de seus escudeiros do lugar (eu sei que os petistas me odeiam; essa frase foi só para alfinetar mesmo!). Ainda sobre o pai do Real, esperava-se mais de uma figura – ainda – respeitada. Pelo menos eu tinha certeza de que Fernando Henrique seria presença constante nos comícios de Geraldo Alckmin e estamparia sua cara por alguns segundos, ao menos, nas propagandas na TV. Me atrevo a dizer que ele foi estranhamente omisso.

Depois dele, reparou-se que tanto José Serra quanto Aécio Neves também não fizeram muita conta em dar as mãos a Alckmin. Dizem as más línguas que Serra guarda rancor de Geraldo por este ter sido escolhido para se lançar à vaga de presidente e que só lhe restou se contentar com o governo paulista. Mas convenhamos que administrar São Paulo, de certo modo, é uma valiosa escola para aprender como administrar o Brasil, não é “qualquer coisa”. Então creio que esse pouco caso não deva vir dessa possibilidade tão infantil. Evidente que no Estado de São Paulo, Alckmin teria vitória certa, pois aqui, há tempos, convivemos com a hegemonia tucana. E grandes esperanças também foram depositadas nos Estados do Sul e do Centro Oeste, lugares onde os agricultores estão “de mal” com Lula. Mas ansiava-se por mais atitude da parte de Aécio Neves – reeleito governador de Minas Gerais com 77% dos votos – que, descaradamente a contra-gosto, ofereceu um apoio meia-boca a Geraldo e em cima da hora. Durante toda a fase que antecedeu o primeiro turno, quase não vi Neves nas propagandas de Alckmin e raríssimas vezes ele participou dos programas de rádio. Quem apostava, como eu, que os mineiros, “seduzidos” por Aécio, fossem votar maciçamente no tucano paulista, perdeu. Não houve nem sequer um flerte. Nem de Aécio e nem de Tasso Jereissati – senador pelo Ceará. Duas lideranças PSDbistas que parecem não ter movido uma palha para levar o nome de Geraldo Alckmin pelos seus Estados aos ouvidos dos eleitores que ainda não o conheciam ou que se mostravam indecisos. Uma das raras figuras que trabalhou em prol de Geraldo, foi o governador de Roraima, Ottomar Pinto – haja vista que Roraima foi o único Estado a furar o esquema do Norte para dar a cadeira a Lula.

E falando no presidente que prefere dar o peixe a ter que ensinar a pescar, ele declarou nessa semana que vai receber os seis novos governadores tucanos com “tapete vermelho”, no dia da posse, e que eles serão tratados a “pão de ló”. E também não deixa de dizer que Serra e Aécio compartilham consigo uma boa relação de amizade (inclusive têm se telefonado muito ultimamente). Não parece estranho, um rival do PSDB badalando tanto os tucanos? Justo os governadores dos dois maiores colégios eleitorais do Brasil. De onde veio tanto coleguismo? Afinal, o “casalzinho” também disse que não vai adotar uma posição agressiva frente ao presidente. Parece que vão estar mais para comadres do que para uma boa dupla de oposição (em potencial eles o seriam). Não entendo porque dão sinais de mansidão diante de um presidente que, enquanto eterno candidato de esquerda, sempre fez questão de aporrinhar a paciência de quem governava. Não seria essa a hora de darem o troco? Claro que não é bom criar atritos com o “chefe”, mas umas trocas de farpas e umas boas cutucadas fazem parte do jogo e dão um tempero à política. Que sentem-se e conversem, mas que não deixem de lado aquela boa guerrinha de esquerda e direita, oposição e situação. Pelo jeito, uns dos poucos PSDbistas que não pretendem lamber as botas do presidente são a governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crussius e o atual líder do PFL na Câmara, o deputado José Carlos Aleluia (BA) – que é uma figurinha engraçada, diga-se de passagem.

Diante disso, ficam essas impressões: os próprios tucanos graúdos fizeram pouco caso de Alckmin por não acreditarem que ele se revelaria uma liderança tão forte, jogaram-no na fogueira sozinho, deram um apoio mequetrefe de propósito e, ao meu ver, não se comoveram tanto por ele não ter ganhado a eleição. Ele sai de cena agora para dar lugar, mais tarde, a quem? Aécio Neves, oras! Porque é óbvio que ele lançará seu nome em 2010. E sinceramente, eu não duvido que até lá, ele já não esteja no PT. Sua amizade com Lula não é de hoje, e pelo andar da carruagem, Serra pode ir pelo mesmo caminho. Ou fica amiguinho do presidente ou funda mesmo um outro partido – como se cogita.

Por isso é que eu pergunto: para onde voam os tucanos? Eu sou uma novata nesse mundo onde se discute política, ainda estou engatinhando, mas a impressão que eu tenho é que o PSDB corre o risco de ficar muito mal das pernas no futuro. Posso e espero estar errada. Mas parece que quando eu era criança o time dos tucanos era muito mais temido, tinha líderes com pulso mais firme – como o “Mister Simpatia” Mário Covas. Agora, vejo um Fernando Henrique um tanto apático e nomes como Serra e Aécio Neves adotando uma posição de cordeirinhos. A maior perda, sem dúvida é Geraldo Alckmin. Tudo indica que ele pretende se afastar da vida política, não quer saber de ser prefeito nem governador. E nem presidente do partido. Não, ele não está lavando as mãos, entregando os pontos, dando as costas e dizendo a todos para se lixarem. Ele só está retomando, na medida do possível, a vida que tinha em sua cidade natal, no interior de São Paulo. Não acredito que isso seja uma forma de protesto. Mas uma forma de se manter longe desses joguinhos de interesses. Deve estar fazendo como Antônio Ermínio de Moraes fez, nos 80 quando - inesperadamente – perdeu o governo paulista para Orestes Quércia: enojado que ficou com a política, abandonou-a por completo para se dedicar à sua vida de empresário e escritor. Agora a história tende a se repetir. Perdemos uma opção, um líder, uma referência. Acho que só quem saiu lucrando nisso tudo foi mesmo Pindamonhangaba, que ganhou de volta, ao mesmo tempo, um médico e um professor.
____________
(escrito em 28 de novembro de 2006)


Não acredito em bruxas.
(mas que elas existem, existem).

Entre acreditar em pesquisas (encomendadas e feitas sabe-se lá onde) e em premonições, eu, dentro da minha mui modesta sabedoria, escolhi dar crédito às pessoas de visão. Visão premonitória e visão política. Sinceramente acreditava que a partir de janeiro de 2007 viveríamos praticamente uma Nova Era. Sentia isso pelos resultados dos debates, pelas conversas em casa e com os amigos e pela fé em dias mais limpos. E no meio disso tudo também não pude deixar de achar muito convenientes as previsões feitas sobre as eleições.

Por esses dias, uma senhora que afirmava ter o dom de sentir o que pode acontecer num futuro em curto prazo e fã declarada de Lula, esteve em um de seus comícios. Num dado momento ela não se conteve e começou a chorar e queria a todo custo tirar uma foto ao lado do nosso querido bagre ensaboado. Depois lhe entregou uma carta onde ela relatava a revelação que tivera num sonho. Tal insistência tinha uma razão: essa seria sua última oportunidade de posar ao lado de Lula como presidente, já que, de acordo com a carta, ele perderia o segundo turno e logo em seguida ficaria muito doente (depois de ter feito a Ética ir parar na UTI). No início dessa semana, circulou que o professor Juscelino Nóbrega da Luz (de Maringá -PR), famoso por seus sonhos premonitórios, proferiu em uma palestra no Rio de Janeiro, no dia 03/06/2006 que Geraldo Alckmin ganharia a eleição e se tornaria o melhor presidente que o Brasil já teve nos últimos tempos. Calma, senhores lulistas! Não façam um juízo errado do professor! Ele não fazia propaganda do candidato tucano, apenas relatou um sonho. E que sonho...

Ainda circulou pelos e-mails, uma brincadeirinha com números em que se dizia: no dia da eleição é melhor somar do que subtrair: 29 + 10 + 06 = 45 / 29 – 10 – 06 = 13. No fim das contas: memória de menos e mais do mesmo. Só mesmo tendo a memória muito curta ou um conformismo muito grande para deixar Lula na cadeira por mais quatro anos. O engraçado é que a memória de muita gente funciona bem para condenar Fernando Collor até hoje. O “mauricinho das Alagoas” nunca foi santo, mas foi crucificado por muito menos. Na época, eu tinha uns 12 anos e me lembro dos jovens militantes e engajados pintando seus rostos cheios de ira, agarrados à bandeira e saindo às ruas para pedir a cabeça de Collor. Hoje sei que aquele bando de caras-pintadas estava mais para comunistinhas de meia-tigela que só queriam uma boa desculpa para enforcar aula e bagunçar na rua. Senão o fossem, por que então não se manifestaram agora? E motivos não faltaram. Será que eles não se sentiram traídos? Ainda que os caras-pintadas dos anos 90 não estivessem com ânimo para tal manifesto, porque essa nova geração não se mexeu? Bancaram os justiceiros com o “presidente atleta” e apáticos frente ao presidente “eu-não-sei-de-nada”.

Os “estrelas vermelhas” que me perdoem, sei que muitos, a essa altura do texto devem estar pensando: “quem essa menina pensa que é?”, e coisas do gênero. Estão no seu direito de pensar assim, bem como estou no meu direito de não me conformar até agora com o resultado da eleição. Esse texto é apenas um desabafo e, modestamente, creio estar falando em nome de outras pessoas ao afirmar que, maior que nosso inconformismo é ainda a nossa certeza de que dias melhores virão. E só para encerrar: na semana passada li na Internet (por isso não dêem tanto crédito) que um cientista e astrônomo russo, Nikolai Fedorovsky (mas que sobrenome sugestivo) disse que um cometa havia mudado de rota e se dirigia a Terra. A colisão, que “atrapalharia um bocado” a eleição, estava prevista para o dia 28/10. Certamente que foi mais uma notícia inventada e o mundo não acabou nesse sábado. Só o Brasil que deu mais um passinho em falso no domingo

___________________

(escrito em 30 de outubro de 2006)
O preguiçoso mata o português
Os profs e os amantes da boa lg portuguesa q me desculpem, + o texto da vez foi feito p/ mostrar como 1 nova modalidade d escrita tem irritado mta gente. A mim, pelo menos. Axo q to fikando velha d+ ou devia ter nascido em outra época pq me recuso a aceitar certas koisas. Tem pelo menos uns 10 anos q entrei em contato c/ esse universo d Internet e desde sempre vejo as pessoas scrverm assim, c/ esse desleixo, c/ esse poko kaso. Qdo descobri as primeiras salas d bate papo, eu sempre demorava 1 poko p/ responder as pessoas pq eu keria scrver td direitinho. Keria colocar as vírgulas, os acentos, as plvras inteiras. E p/ q? C eu scrvesse dc modo irritante, iam me entender do msm jeito.Já li artigos q diziam q o cérebro sta treinado p/ entender as plvras msm q elas venham s/ algumas vogais e q o q importa no fim das contas é a idéia. C a pessoa entendeu, já basta. Isso me lembra a desculpa esfarrapada q daum p/ justificar os alunos passados d ano q ñ sabem scrver direito. Alguns educadores modernos dizem q ainda q os alunos ñ formem 1 frase completa, q ñ haja concordância e q as palavras stejam c/ erros ortográficos, ñ importa. O q vale é q eles saibam c expressar e c façam entendidos. Ok. A gente entende do msm jeito qdo dizem “a gente fomos” e “a gente foi”. Mas nossos ouvidos e a língua portuguesa ñ merecem ser agredidos. Respeito é bom e a gramática tb gosta.+ voltando à preguiça incitada pela Internet, lembrei-me d outra explicação do prof Pasquale. Axei q ele condenasse esse jeito d scrver, tinha ctz q ele diria q essa mania deixa as pessoas mal acostumadas e q futuramente nossa escrita staria fadada a 1 punhado d códigos. + ñ. D acordo c/ ele, esse modo d c expressar é mto bom, economiza tempo. É aquele velho papo d q c/ a velocidade das koisas e c/ o advento da Net, ng tem tempo a perder. Q c fosse p/ scrver td certinho, fika + fácil usarmos o telefone. Tb bem. Por esse lado até q a koisa ñ parece taum catastrófica. Só ñ vale a gente sair por aí usando essa lgg nas escolas, em fichas d inscrição, em currículos, em teses d mestrado...
E td cuidado é poko. Como c ñ bastasse a Net, a TV tb foi contaminada c/ essa “praga de praticidade”. 1 dos canais da rede Telecine – o Telecine Premium (da Sky) – exibe toda terça às 23:00, 1 sessão d filmes cujas legendas trazem essas gracinhas d palavrinhas mordidas. É o Cyber Movie. E como irrita! Ñ to exagerando. Tanta plvra picotada, X no lugar d CH, K no lugar d C, naum, taum, vaum, daum (o til foi aposentado), pq, vc, kd, td, nd, s/, c/, p/... por + treinado q 1 cérebro seja, isso é esteticamente insuportável. Tentei deixar esse texto 1 tanto agastante (ao menos visualmente) p/ q percebam como tds os dias nossa ortografia leva 1 surra, + ñ sei c consegui o suficiente. P/ 1 “velha”, scrver errado d propósito tb dá trabalho. Ñ estou me gabando d nada, ñ sou melhor q ng e ainda vou comer mta poeira até q meus textos sejam levados a sério. Eu tb tenho minha parcela d culpa pq ñ tem como fugir d scrver dessa forma qdo teclamos. Admito q é msm prático e q raramente fikamos s/ entender o q foi expresso (c bem q isso varia mto d pessoa p/ pessoa), + td tem limite! Só quero fazer 1 apelo p/ q ñ permitam q esse vício saia da Net e invada o resto do mundo. Blz?
____________________________________
Dicionário de Internetês
Foi disponibilizada no site do Telecine uma listinha com algumas das palavras que aparecem nas legendas do Cyber Movie. Eu até concordo que algumas abreviações sejam práticas, mas outras... convenhamos, são desnecessárias. Mas há quem curta.
(http://globosat.globo.com/telecine/cybermovie/home.htm)
Aqui - Aki
Beijos - Bjs
Maluco - Maluko (já que o sujeito "perde tempo" teclando o K, por que não tecla o C?)
Novidades - 9dades
No - Nu (repito a pergunta)
Comigo - Cgm
Pequeno - Pekeno
Ir - I (oh, Deus...)
É - Eh
Está - Tah
Cara - Kra
Casa - Ksa
Chamar - Xamar
Show - Xou (isso é coisa da Xuxa)
____________________________
Entaum? O q vo6 axam? ; )
____________________________
(escrito em 17 de outubro de 2006)
O exibicionista mata o Português.

Na madrugada de 14 para 15 de outubro, eu estava me sentindo meio down e resolvi ver TV. Foi quando sintonizei o respeitado e multi-midiático professor Pasquale Cipro Neto no programa Altas Horas, do Serginho Groisman. Sua entrevista era o start que eu precisava para escrever esse texto. Queria muito já ter abordado esse tema, mas o havia deixado em stand by para quando eu tivesse mais assunto para add. Entre uma música de flash back e outra (já que a banda de Dado Villa-Lobos também estava lá), o professor fazia suas explanações sobre como anda a nossa boa e velha Língua Portuguesa. Foi perguntado se, com a invasão de termos estrangeiros no nosso vocabulário, o nosso Português corria riscos de empobrecer e acabar sendo engolido pelo idioma yankee.

Resumidamente, a resposta foi a seguinte: houve um tempo em que falar francês era básico. Nas famílias mais ricas da sociedade, as pessoas conversavam entre si em francês e só usavam o português com a criadagem. As mocinhas casadoiras tinham que ter no currículo a língua de Sartre – além de saber tocar piano e coser. Herdamos muita coisa do francês e nem por isso nosso português morreu. Também temos muito da Grécia em nosso vocabulário e até dos árabes. Os latinos são, por excelência, uma mistura de muita coisa e acabamos por aglutinar em nosso vocabulário palavras cuja origem são países que em determinada época eram referência política e econômica. Agora é a vez dos Estados Unidos. Mas, o professor garantiu que, mesmo com essa invasão do inglês, não corremos o perigo de contaminar nosso já judiado idioma de Camões. Ainda não dizemos que vestimos uma “azul camisa”, mas sim uma camisa azul. E que existem palavras inglesas que, por enquanto não têm seus equivalentes aqui. Geralmente são termos técnicos que chamamos de “empréstimos lingüísticos”. Portanto não precisamos temer a extinção da Língua Portuguesa, pois sua estrutura nunca vai ser alterada.

Mas, mesmo sendo tranqüilizada por uma autoridade como o professor Pasquale, ainda penso: então porque a minha geração não foi simplesmente chamada de adolescentes e sim de teens? E teens que adoram shopping center, fast food, games, se preocupam se estão fashion e até celebram o Halloween. Muitos sonham em ser pop star, aparecer num Hit Parade, figurar na MTV, dar entrevistas em um talk show (ou protagonizar um reality show) e querer parecer underground quando na verdade é tudo marketing. A questão é business. Puro make up. Uns bancam o bad boy, outros se fingem de dark, outros adotam um visual clean; apelam para qualquer look para serem mais cool. E eles não têm grandes amigos; têm brothers. Dão tanto valor ao design e se esquecem da essência das coisas. Só lhes interessa ser the best. Uns têm ainda personal trainner, personal stylist - só não têm personal...idade. Okay, eu percebo que esse discurso está ficando muito chato. Sorry e relax.

Que fique bem claro que eu não condeno de forma alguma o aprendizado de outras línguas. Estaria me traindo se o fizesse, afinal sou filha, prima, amiga e sobrinha de professoras de português e outros idiomas – inclusive eu também já me aventurei a lecionar e acredito que, vivendo cada vez mais nessa Torre de Babel que virou o mundo, nada mais urgente que saber se virar em inglês, espanhol, francês, italiano, japonês ou seja lá o que for. Só lamento que a contaminação desses modismos lingüísticos tenha atingido esse nível insuportável. Esse boom de palavrinhas aparentemente bobas, acaba por nos deixar preguiçosos. A Língua Portuguesa, acredito, além de ser uma verdadeira melodia, é uma das mais ricas em termos de vocabulário. Temos um apanhado de palavras para definir uma mesma coisa, temos à disposição um leque de opções para formar uma frase, uma sentença, uma idéia coerente, conexa, clara, objetiva, compreensível (percebem?). Acho um desperdício não as usarmos.

Desculpem-me se neste texto eu me expressei como uma professora das antigas. Juro que tentei ser bem light com as palavras, mas às vezes sinto que nosso Português está na marca do penalty.
___________________
(escrito em 15 de outubro de 2006)

Crianças, poesias e
uma luz no fim do túnel.

“Eu gostaria de ter estudado latim, assim eu poderia me comunicar melhor com o povo da América Latina”.

Antes de qualquer coisa, gostaria de esclarecer que essa infeliz frase foi atribuída ao nosso atual (e, com sorte, nunca mais) presidente Lula. Trata-se de uma das várias pérolas que circulam pela internet e que, sabe-se lá quem, disse ter sido proferida por ele. Pelo sim, pelo não, prefiro acreditar na autenticidade desse tipo de declaração. Combina com Lula. O caso é que me lembrei dessa frase e de outras, e de tantos momentos vexatórios do nosso presidente no dia em que tive uma experiência até então inédita para mim.

A APEG (Associação de Poetas e Escritores de Garça) acabou por se envolver no projeto de Incentivo a Leitura, em conjunto com a escola Edson Puga. A cada sábado, um membro da associação se reúne com crianças – com idade média de 8, 9 anos – a fim de fazer explanações sobre poesias, contos, histórias. Um meio de mostrar às crianças que os poetas e escritores são “pessoas normais”, que o ato de apreciar poesias não é algo elitizado, não depende de idade; as obras estão aí para serem apreciadas. Confesso que no início, quando ouvi falar desse projeto, imaginei que os meus colegas da APEG estivessem tendo um pouco de trabalho para aproximar as crianças da leitura. Afinal, o fato de vermos crianças sendo passadas de ano mal sabendo escrever uma frase conexa, é muito desanimador.

Porém, no dia 16/09, vi bem mais que uma luz no fim do túnel. Para quem diz que a educação está perdida, que criança não gosta de ler, que poesia é maçante, que livro bom é livro que tem figura grande, essa visita seria um tapa na cara. Tive a felicidade de estar com “gente pequena” que aprecia “gente imortal”. Para quem gosta de letras, uma das coisas mais gostosas de se ver é uma criança recitando Cecília Meireles e Vinícius de Morais. E muitas vezes, de cor. Meninos e meninas disputando a vez para ler em voz alta, declamar, interpretar e até fazer seus próprios versinhos, remexendo os livros sem saber qual pegar primeiro. A gente nem percebe o tempo passar. Mas percebe como existe um abismo entre essa “gente pequena” e a pequenez de um presidente que já afirmou que livros são chatos. De um lado, temos crianças fascinadas com histórias, atentas às dicas quanto à postura para ler, tratando os livros com carinho e respeito. De outro lado um ogro (posso ganhar inimigos por dizer isso, mas também sei que muitos hão de concordar) que maltrata a língua portuguesa, que se orgulha de não haver estudado. Se tivesse estudado, não precisaria se prender tanto aos discursos prontos saberia improvisar – quem lê mais, fala melhor. Mas toda vez que Lula resolve inventar seus textos acaba por nos envergonhar. Quem é que não se lembra de uma visita feita ao continente africano, onde soltou essa: “Aqui é tão limpo que nem parece África”. Ou o absurdo mais recente, em que, pelo fato de não ter sido reeleito logo no primeiro turno, tentou justificar o número de votos dados a Alckmin com essa delicadeza de frase: Dessa vez a sabedoria popular não funcionou.

Se a sabedoria não funcionou, então funcionou o que, senhor presidente? A burrice? É assim que o nosso comandante vê grande parte do eleitorado. Burros. Bem, se acreditar que o Brasil AINDA é um país promissor e que a educação tem salvação e é definitivamente a cura para todos os males sócio-econômicos de um país, ainda que em longo prazo (discurso de Cristovam Buarque do qual compartilha Alckmin), então também sou burra. Vivemos numa sociedade de valores invertidos mesmo... Acho que sou burra porque vi que um grupo de crianças se dedica verdadeiramente à leitura e que isso alimenta as esperanças de qualquer um que acredite na educação, que tenha fé no poder das letras, que vê nos livros as melhores armas e que deseja ver longe um presidente que, sem muito esforço, levanta a bandeira da ignorância. Imagino que muitos lulistas fiéis podem dizer que ele não estudou porque não teve chance, coitado... É. Para Machado de Assis as coisas também não caíram do céu e, no entanto ele sempre será Machado de Assis (será que peguei pesado ao compara-los?!). Mas nunca é tarde para estudar latim! A América Latina está doida pra trocar idéias com nosso líder.

Eu sei que é um lugar-comum dizer que as crianças também têm muito a ensinar. Mas realmente, essas crianças me surpreenderam. Certamente são motivo de orgulho para seus professores, seus pais e membros da APEG. Ficam aqui meus agradecimentos à escola Edson Puga e a APEG pela chance de tal experiência. E fica aqui a minha torcida para que os “burros” como eu, que acreditam em novo governo e na educação, façam a diferença nessas eleições.
_____________________
(escrito em 04 de outubro de 2006)

ÁRVORE: MAIS QUE UM SÍMBOLO
ENTRE CÉU E TERRA Quando olho uma árvore, ou apenas penso em uma, vejo um símbolo perfeito da ligação que existe entre céu e terra, pelas suas raízes fincadas no solo em busca de água e de seus galhos que avançam para cima em busca do sol. Esse simbolismo é muito antigo. Faz parte das crenças – seria preferível chamar de estudos – dos celtas, povo que viveu na Irlanda, durante a Idade Média. Para eles, a árvore, além de um elo entre céu e terra, era também a perfeita representação dos quarto elementos fundamentais da natureza: da água, que circula por dentro dela; do ar que ela nos fornece; da terra que a abriga e do fogo que obtemos friccionando seus galhos secos. A partir disso, os celtas passaram a ver nas árvores um objeto de devoção, a própria essência da vida, fonte de curas e de previsão do futuro. Tinham com elas uma relação de cumplicidade e respeito. Em troca, as árvores lhes forneciam lenha, alimento, sombra, abrigo e caça.

Mas como disse, isso é coisa muito antiga. É um bem que já se perdeu. Porém, uma coisa ficou. Uma parte dos estudos dos celtas dura até os dias de hoje e se refere à observação da natureza de cada árvore e de como tais características podem ser associadas à personalidade das pessoas – dependendo da época do ano em que elas nasceram. Funciona mais ou menos como um horóscopo e do mesmo modo, há quem acredite, há quem duvide, há quem respeite, há quem ridicularize, mas pude conferir e, de certo modo até que faz algum sentido. Esse “Horóscopo das Árvores” foi trazido para os trópicos e as plantas foram adaptadas a nossa flora. Exemplos? Só alguns, para não me estender muito:



- o cedro simboliza a inteligência e a praticidade de quem sabe administrar, representa a racionalidade,
- a quaresmeira é a vaidade e o poder de atração – conseqüentemente representa a arrogância,
- o cipreste remete à jovialidade, carinho e fidelidade;
- a amoreira representa o orgulho extremado;
- o coqueiro representa a coragem e o bom humor,
- o eucalipto é dinamismo, perfeccionismo e criatividade,
- a mangueira representa os carentes e sonhadores,
- a figueira simboliza a auto-confiança exagerada, típica dos egocêntricos,
- a goiabeira é a árvores dos românticos, sinceros e leais,
- o cajueiro é a imagem do amor generoso, daqueles que se sacrificam pelo bem dos outros,

Enfim, não digo que acredito piamente que haja uma relação entre o jeito de nascer e crescer de uma árvore com a personalidade de uma pessoa que tenha nascido em determinada época, mas também não podemos negar que é algo muito interessante e que, independente de se tratar de crença ou estudo, chama a nossa atenção. Não pelo fato de ser um assunto de cunho místico, mas de ver como um povo se dedicou a simplesmente observar as árvores. Quantos anos e quantas gerações não passaram horas de seus dias contemplando árvores, memorizando cada espécie, catalogando-as ao seu modo primitivo, preservando-as e cuidando-as como fariam autênticos servos. Afinal, elas eram o elo que os ligavam aos céus.

De longe, sem querer me comparar aos celtas e à sua sabedoria, me atrevi a pegar uma árvore em especial para ser um dos símbolos da minha vida, da minha infância. Esse simbolismo nada tem a ver com minha data de nascimento, mas esteve presente em boa parte do meu crescimento. Ela já estava lá há muito tempo quando eu nasci e achei que ainda pudesse estar quando a nova geração da minha família viesse. Era uma vez uma jabuticabeira no quintal da minha a avó. Uma árvore frondosa que, plantada pelo meu avô, presenciou a família crescendo, viu meus primos – hoje quase trintões e quarentões – brincarem à sua sombra, montarem seus cirquinhos e teatrinhos. Viu os mais novos – meu irmão e eu – correndo atrás dos gatos pelo quintal e levando broncas da minha avó. Me fez gostar de jabuticabas e sustentou meu irmão em seus galhos. Essa árvore, posta na terra pelas mãos do meu avô, é um dos símbolos da infância saudável que tive e de uma das grandes saudades que tenho: das tardes que passávamos na casa de minha avó, o nosso pequeno paraíso no centro da cidade. Hoje a jabuticabeira não está mais lá. Foi morta e jogada aos pedaços numa caçamba. Claro que não pelas mãos de quem aprendeu a ama-la. Há gente que não tem amor às arvores e nem à memória das pessoas.

Porém, os celtas também diziam que as árvores representavam a mutação, a regeneração, a contínua mudança, a vida sempre renovada e a imortalidade da alma. Se a nossa jabuticabeira não está mais lá fisicamente, sabemos que tudo de bom que ela nos representa vai nos acompanhar durante as nossas mudanças. Todas as horas boas que passamos com essa árvore como cenário, essas sim são imortais.
____________________
(21 de setembro - Dia da Árvore)


Forza, Palestra!
Força, São Paulo!


Dessa vez resolvi registrar uma declaração de amor que vale por duas: pela Sociedade Esportiva Palmeiras e pelo Estado de São Paulo. Se existe alguma ligação entre os dois, além do fato de o Palmeiras ser um time paulista? Existe sim. É uma ligação muito forte, significativa e bonita. Como lembrança pelos 92 anos do clube resolvi publicar esse texto e como estamos em ano de eleição, não custa lembrar aos paulistas de bom senso das providências a serem tomadas no dia 01 de outubro. Não vou discutir aqui os temas indiscutíveis: política e futebol. Quero somente contar a história de um clube que aprendi a amar e que, de certo modo, teve passagem importante no desenvolvimento da cidade de São Paulo – e conseqüentemente, do Estado. É impossível separar a trajetória de um e de outro. Para começar, o nascimento do Palestra Itália se deu por um dos fenômenos mais importantes da história do Brasil: a imigração italiana.

Era uma vez... Em 1884, o Brasil vivia seus últimos anos de escravidão e a Itália, as guerras de unificação. Nativos de Campanha, Apúlia, Lombardia, Calábria, Trento, Vêneto e Nápoles, decididos a fugir dos conflitos, resolveram “fazer a América”. Éramos um continente até então desconhecido para eles, nosso Brasile, era, aos olhos e ouvidos italianos, uma terra de animais ferozes e famintos, um lugar inóspito e selvagem, cheio de lendas. Mas eles acreditavam que valia a pena correr tais riscos, pois aqui havia a promessa de terra para todos, onde eles pudessem progredir e prosperar. Assim, aberta a imigração, os italianos lideravam os contingentes. Até 1900, o serviço de imigração havia registrado quase 1.040.000 pessoas que atravessaram o Atlântico em condições muito precárias e em navios lotados rumo às lavouras de café do interior de São Paulo. Inicialmente a dura vida no campo quase os levou ao arrependimento: os fazendeiros, ainda habituados aos escravos, não sabiam como lidar com trabalhadores livres. Quando notícias de maus tratos chegaram aos ouvidos das autoridades italianas, muitos imigrantes foram proibidos de vir para cá e outros se mudaram para a cidade, exercendo atividades modestas de artesãos e pequenos comerciantes. Sem se darem conta, estavam dando início a uma tarefa da qual não haviam dimensionado a importância: colaborando com o desenvolvimento e consolidação de São Paulo.

1912. São Paulo contava com 320 mil habitantes. Bondes cruzavam a já famosa Avenida Paulista. Era o início da imigração japonesa. As lojas de departamentos, como o Mappin Stores, ocupavam grandes espaços e atraíam famílias diante das vitrines durante os passeios de domingo após as missas. Os mais afortunados se divertiam no Theatro Municipal, assistindo às óperas. Porém, eram os imigrantes italianos os detentores da maior cultura musical daquela sociedade. Mas as colônias ainda estavam um pouco divididas – entre Mooca, Bixiga, Bom Retiro, Brás e Barra Funda. Em 1913, a equipe Pró-Vercelli (campão italiano) e em 1914 o Torino, fizeram 11 partidas de futebol em São Paulo. Quatro homens, particularmente, ficaram encantados com as exibições e viram nesse esporte um espetáculo democrático. Logo, decidiram criar um clube que pudesse unir e representar os italianos. Esses homens eram Luigi Cervo, Vicenzo Ragognetti, Luigi Emmanuelle Marzo e Ezequiel Simone, membros da Sociedade Recreativa Bela Estrela, que reunia famílias em eventos lítero-musicais e danças.

Precisando de adeptos, Ragognetti (jornalista e intelectual do grupo) escreveu, no jornal da colônia – a Fanfulla – uma carta aberta aos patrícios, em 14 de agosto de 1914. Se reuniram no Salão Alhambra, na rua Marechal Deodoro, nº 2 (atual região da Praça da Sé) 35 italianos, divididos entre os que queriam apenas um time de futebol e os que desejavam um clube social. Com o entendimento dos dois grupos, Cervo e Marzo elaboraram um Statuto, todo regido em italiano, aprovado em 26 de agosto de 1914. Acabava de nascer o Palestra Itália: “um clube de italianos para italianos, mas dedicado também a integra-lo aos filhos do País e membros de outras nacionalidades”. A comemoração, como não poderia deixar de ser, foi regada com muito vinho.

Entretanto, sua partida de estréia, em janeiro de 1915, não ocorreu no Parque Antárctica (sublocado do Nacional que o locava da Companhia Paulista Antáctica), mas sim em Sorocaba, contra o Savóia de Votorantim (2 a 0 para os palestrinos, que ironicamente, levavam em seu primeiro uniforme, uma vistosa Cruz de Savóia). Nessa época acontecia a I Guerra Mundial, e a Itália, que lutava contra o kaiser alemão Guilherme II, não tinha muitas chances diante do poder do general. Por isso passou a recrutar todos os italianos espalhados pelo mundo e isso afetou diretamente o Palestra, que esteve à beira de fechar suas portas – se antes quase não havia dinheiro, com a guerra menos ainda: a colônia deixou de enviar suas contribuições ao clube para destina-las à Cruz Vermelha e à Pró-Itália. Para que sua falência não fosse decretada, mais jogos de futebol foram organizados, a fim de chamar a atenção de mais pessoas.

1923. São Paulo estava em ebulição com a chegada de várias indústrias e os negócios fervilhavam. O meio político também estava em polvorosa, com muita gente disposta a pegar em armas e lutar por uma nova Constituição - e os imigrantes não ficaram de fora. Os paulistas foram derrotados e dias apáticos se seguiram. Por outro lado, o Palestra não parava, conquistando títulos no futebol e no basquete. Entre 1933 e 1935 o Parque Antarctica ganhou cara nova, era o mais novo estádio da cidade, expandiu, criou seu Departamento Social e começou a ganhar as feições que tem hoje. Em 1937 já era uma referência nos meios aristocráticos com seus torneios noturnos de tênis em suas quadras iluminadas (um avanço para a época).

Porém a situação política mexia novamente com a vida do clube. França e Inglaterra declararam guerra contra a Alemanha, com a qual a Itália formara uma aliança, em 1936. O Brasil ficou neutro até 1942, quando cinco navios nacionais foram atacados por alemães. Getúlio Vargas, governando como um ditador, se viu na obrigação de declarar guerra contra o Eixo, enviando quase 25.500 “pracinhas” a Europa. Em guerra com a Itália, o Brasil não podia admitir a exibição de nomes relacionados aos países do Eixo em firmas ou entidades. Em 14 de setembro de 1942, chegou às portas do Parque Antarctica, um ultimato, bem às vésperas da final do Campeonato Paulista contra o São Paulo. Caso o Palestra não mudasse de nome, não entraria em campo no dia seguinte. Uma reunião foi organizada às pressas no mesmo dia e depois de virarem a madrugada, decidiu-se que o novo nome do clube seria Sociedade Esportiva Palmeiras e o escudo perdeu a cor vermelha, para não fazer nenhuma referência à bandeira italiana. E ainda, no dia seguinte, o time acumulou mais um título paulista!

1950. Para aqueles que duvidam que o Palmeiras também é um campão mundial, eis o que vai provar o contrário: o time conquistou esse título em 22 de julho de 1950, na Copa Rio Internacional, e tem o mesmo valor que tem hoje os mundiais ganhos por São Paulo, Santos, Flamengo e Grêmio. Essa competição foi idealizada pela Confederação Brasileira de Desportos a fim de animar a torcida depois da derrota na Copa para o Uruguai. Jogaram por São Paulo: Palmeiras, Juventus (Itália), Olympique Nice (França) e Estrela Vermelha (Iugoslávia). Jogaram pelo Rio: Vasco, Sporting (Portugal), Nacional (Uruguai) e Áustria Viena (Áustria). O Palmeiras ganhou do Juventus na final por 1XO e 2X2. Pouco tempo depois, seu escudo perdeu o “I” (que ainda era Itália) e ficou apenas com o “P”.

1963/1965. Nessa época o Palmeiras se destacava em outras modalidades: futebol de salão, tênis de mesa, natação, saltos ornamentais e vôlei. O Departamento de Patinação Artística e Esportiva deu origem ao grupo Periquitos em Revista, espetáculo famoso e aplaudido por todo o país e que recebeu a Grã Cruz do Mérito Social outorgada pela Unesco. E o Parque Antáctica, recebendo cada vez mais investimentos, podia ser considerado o Parque Ibirapuera da época, onde confraternizavam imigrantes e paulistanos. (foi lá, em 1908, que ocorreu a primeira corrida automobilística do Brasil e da América Latina). Desde então, o Verdão vem acumulando títulos não só no futebol, mas também no futebol de salão, basquete, vôlei, ciclismo, peso, judô, patinação (heptacampeão brasileiro) e hóquei.

Hoje a Sociedade Esportiva Palmeiras – bem como uma infinidade de outros clubes – aos nossos olhos parece mais uma empresa, que trabalha com parcerias, franchisings, patrocínios. Muito dinheiro é investido em todas essas modalidades, nos diversos departamentos do clube, em tecnologias empregadas em uniformes e materiais de treino. Graças a esses investimentos, o time vem se sobressaindo década após década, vem tendo destaque no cenário mundial e com isso sua cotação nunca esteve em baixa. Entretanto o caráter de empresa que os times têm hoje, não pode fazer do futebol algo mais frio. A história desse time foi contada para provar isso. Sonhos, lágrimas, noites em claro, emoções e speranza foram depositados nesse clube desde o seu nascimento. O mesmo me atrevo a dizer de São Paulo. Visto especialmente como o coração financeiro do Brasil, nós paulistas, somos mais que o estereótipo do executivo com uma maleta ou, no caso de nós interioranos, como a figura de uns cavalgaduras, “bichos do mato”. Somos filhos desses imigrantes. Somos filhos da Itália, de Portugal, da Espanha, da Síria, do Líbano, do Japão, dos negros e dos índios. Acho de uma frieza muito grande caracterizar um time com uma história tão rica como sendo simplesmente mais uma empresa. Também é frio chamar São Paulo apenas de “terra da garoa”, “terra da pizza”, “terra dos negócios”. Nesse, e em outros pontos, as histórias do Palmeiras e de São Paulo se mesclam: nasceram pelas mãos de gente sem medo, pessoas movidas a sonhos, visionários. Não é bairrismo, é somente uma declaração de amor a essa terra onde tive a sorte de nascer e que, por uma feliz coincidência é o berço do meu time do coração.

Não importa em que parte do mundo eu possa estar, sempre terei orgulho de dizer que sou paulista, sou garcense, sou fruto de uma feliz mistura de Itália com Portugal e que sou palmeirense.
________

(escrito em 14 de agosto de 2006)
"QUANDO ACABAR, O MALUCO SOU EU"

Diante de um apanhado de coisas estranhas que tenho visto nesses últimos dias, não tinha como eu não me lembrar dessa frase do mestre Raul Seixas (toca Raul! - adoro essa frase!). Vi e ouvi muitas, mas a essas alturas o sono não me permite lembrar de todas, então, por agora, aponto as mais recentes. As mais fresquinhas, de hoje mesmo. Pra começar fiquei sabendo que no dia 23 desse mês se comemora o quê? O Dia da Injustiça. Não sei se é mesmo para se comemorar ou para se lamentar, mas o caso é que isso existe! Afinal, seria muita injustiça deixar os injustos de fora das celebrações... Mas que seria estranho você chegar para alguém e dizer: "Oi! Feliz Dia da Injustiça pra você pra toda a sua família!", isso seria.
Outra bizarrice: streap-tease em velório. Alguém já viu? Alguém que ver? (aposto que sim). Basta dar um pulinho em qualquer cidade do interior, mas bem do interior da China e procurar por uma casa onde se esteja velando alguém. Simples assim. Li no jornal, não é invenção (os jornais inventam um pouco, mas acho que não chegariam a tanto). É comum em comunidades rurais chinesas a apresentação de moçoilas despidas em velórios. Jovens, senhoras, senhores, crianças, transeuntes... qualquer um serve como platéia. O intuito disso é aumentar o cartaz do morto. Dizem que, lá, quanto mais gente a velar o finado, maior é sua honra. Tudo bem, cultura é cultura, cada povo tem a sua, mas que honra pode haver numa apelação dessa? Se é preciso chamar pelos serviços dessas senhoritas, então é sinal que o morto não era tão honrado assim. Também não dá para evitar de pensar na famosa frase: "Se a moda pega aqui no Brasil..."
Em época de eleição não tem como não haver coisas insanas nas mídias. Me peguei a rir sozinha quando vi um candidato a deputado federal pedindo votos montado num avestruz. Isso me remeteu a outro, que pleiteava o cargo de vereador de São Paulo, em 2003: esmagava uns 3 ou 4 cachorrinhos no colo enquanto falava suas propostas. Fora um outro - de uma certa religião que não estou a fim de citar, mas que rima com "quente" - que terminou seu tempo com isso: "Eu abençôo vocês e vocês me abençoam com seus votos". Definitivamente o Horário Eleitoral Gratuito é um "book" de figuraças.
E para encerrar as sandices do dia: a nova pesquisa Ibope continua dizendo que Lula venceria já no primeiro turno... Como disse uma vez o professor Marins: "Tem muito louco solto por aí".
_____________________
(escrito em 30 de agosto de 2006)

quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

"GAMBÁ" TEM CADA UMA...

Corintiano é mesmo uma criatura a ser estudada. Pode ter "N" defeitos, mas não vou negar que é criativo. Esse fim de semana ouvi um caso, como outros, que eu não podia deixar passar. No meio da semana passada o Internacional de Porto Alegre foi campeão da Taça Libertadores da América, isso todos sabem. Ganhou o título inédito em cima do São Paulo, que já é tri e creio que por isso mesmo, não tenha despertado a ira dos são -paulinos. Claro, ficaram desapontados, mas não com raiva. Perderam com classe. E, cá entre nós, para quem já é tri na Libertadores, essa derrota nem pode ser considerada uma mancha no currículo do clube. Já foi. O que se passou foi que houve uma comemoração regada a rojões por toda a minha vizinhança, não de torcedores do colorado, mas de corintianos. Celebravam como se o título fosse deles. Lógico, eles projetam nos outros o sonho que têm de vencer a Libertadores, coitados. Desde que esses outros não sejam São Paulo, Palmeiras e Santos. O caso que ouvi foi o de um senhor (não vou citar nomes, mas foi a esposa dele quem contou) que, após o término do jogo, lá pela meia-noite, resolveu sair de casa só para se deleitar com as caras tristes dos são-paulinos nos botecos. O corintiano ia sair de casa, a essas horas, passar de bodega em bodega unicamente para conferir a expressão de desconsolo dos tricolores. E ainda jurava que isso era uma fonte garantida de diversão. Agora eu me pergunto: será que não anda faltando um pouco de emoção na vida dessas pessoas? Uns gastam dinheiro com rojões para comemorar a derrota do rival - seja contra quem for. Outro se diverte procurando os infelizes perdedores. Será que eles se contentam com pouco ou é pura ausência de felicidade? Deve ser alguma válvula de escape para não se lembrarem da campanha vexatória no Campeonato Brasileiro. É aquela velha história do macaco que caçoa do rabo dos outros, mas não olha o seu. Engraçado mesmo foi ver o Leão tirando a braçadeira de capitão do Tevez só por não entender o que ele fala! Carlitos pode até jogar bem, mas comunicação é tudo.

_________

(escrito em 21 de agosto de 2006)
ZzZzZzZzZzZz
(Houve algum debate? Nem percebi)

Com certeza eu não sou a única pessoa a se decepcionar com o debate promovido ontem pela Band, com a presença dos presidenciáveis - infelizmente sem a contribuição do nosso amantíssimo presidente, o que nos privou de dar boas risadas - para não dizer de momentos de indignação... Aliás, esse foi um dos pontos altos desse meu desapontamento. Na falta de bons programas de humor na TV às segundas-feiras, eu esperava para ver um duelinho verbal entre Lula, Alckmin e Heloísa Helena, mas não foi dessa vez. No lugar disso o que se viu foi uma combinação descarada dos três candidatos mais fracos - Bivar, Eymael e Buarque - de se perguntarem entre si, pelo menos nos dois primeiros blocos (e meio) para aparecerem mais e não darem espaço aos donos dos discursos com muito mais conteúdo, o tucano e a líder do Psol. Por um lado foi uma atitude de esperteza e até interessante, afinal, cada um luta do jeito que pode, mas por outro, beirou o patético. Perguntas sem sal, respostas mais aguadas ainda. Definitivamente, foi um debate-sonífero. Cristovam Buarque chegou ao ponto de gastar sua vez, o tempo na TV e nossa paciência ao perguntar a Luciano Bivar se ele havia se decepcionado mais com a atuação do Brasil na Copa ou com o governo Lula. Sim, é verdade! E numa outra rodada de perguntas, a dupla voltou a desperdiçar segundos valiosos para trocar figurinhas sobre os tempos em que jogavam futebol. Tudo entre amigos, que beleza... E, juntos com Eymael, eles se elogiavam mutuamente, concordando em número, gênero e grau com os projetos de cada um. Ou seja, três vezes mais do mesmo. Nada acrescentado, nada contestado, nenhuma frase diferente de "agora é comigo", "vou fazer uma revolução", "quero fazer do Brasil um Estado servidor", "quero um país para todos", blá blá blá... Fora as piadinhas manjadas sobre a ausência de Lula - em poucos minutos isso acabou por se tornar lugar-comum no "debate". Juro que só não mudei de canal porque estava esperando pela rodada de perguntas feitas pelos jornalistas - Franklin Martins, Joelmir Beting e José Paulo de Andrade - que aí sim, ALELUIA, fizeram aparecer frases objetivas e contestadoras através de questões pertinentes dirigidas aos candidatos que têm 100% de certeza do que estão a falar: Heloísa Helena e Alckmin. Confesso que até me deixo prender pelo discurso da candidata - é sempre muito interessante ouvir uma mulher envolvida com a política, ainda mais uma que tagarela como um professor universitário de filosofia - e sou fã assumida do nosso ex-governador, portanto ainda tinha esperanças de ver o circo pegar fogo, só um pouquinho. Sem barracos, sem apelações, sem ofensas, óbvio. Só ansiava por discussões um tanto mais inflamadas, o que também não aconteceu. Ela foi contestadora, ele foi objetivo. Ela, como não podia deixar de ser, chamou o governo do PSDB de irresponsável, e ele jogou na cara tudo o que fez por São Paulo. Falatório ótimo, mas um tanto previsível. Foram polidos demais pro meu gosto (ah, Geraldo Alckmin tem classe...). Como comentou, ao fim do programa, o mediador Ricardo Boechat, provavelmente eles ainda estão se estudando. Pode ser que se apresentem um pouco mais "agressivos" nos próximos encontros. Afinal de contas, queremos DEBATE! Não um papinho de coleguinhas. Senhores - e senhora - presidenciáveis: estudem-se logo. Um espetáculo como esse só acontece uma vez a cada quatro anos!
____________
(escrito em 15 de agosto de 2006)
CURTINHAS


***************


AÍ, BLAU BLAU!
Dia desses eu assisti na MTV ao Tribunal de Pequenas Causas Musicais, onde se debatia o seguinte: o reggae virou ou não virou "palha" depois da morte de Bob Marley? Ao meu ver, sim. Mas tanto faz, não curto muito reggae mesmo... Mas agora percebi a pá de cal que faltava para terminar de enterrar de vez tal estilo: Armandinho, e seu "Ursinho de dormir". Se Armandinho for "regueiro"e Ursinho de dormir for reggae, então eu sou a versão feminina de Mário Prata. Aliás, existem ursinhos com outras finalidades?
*******
PAULISTAS, UNI-VOS!
A última pesquisa do CNI/Ibope (de 04/08) me deixou preocupada e desapontada: se as eleições fossem hoje, Lula venceria já no primeiro turno. Alguém pode me explicar como é que, a essas alturas do campeonato, ele ainda consegue angariar 44% das intenções de votos? Será que todos esses tapas na cara que levamos não foram suficientes? Será que ele ainda não queimou o filme do Brasil o bastante? Não imaginava uma legião tão grande de dependentes do Bolsa-Família. Sim, porque só isso justifica uma pessoa ser levada a cometer o mesmo erro de novo. E quem, provavelmente pode acompanhar Lula no segundo turno, Alckmin, conta com 25% de prováveis votos. E aí seriam 50% para o sujeito que acha que tatame é tapume, que afirma que ler é chato e se vangloria de não ter estudado, contra 36% para o homem que continuou a fazer de São Paulo o Estado mais rico do país (dando atenção ao interior, outro motor importantíssimo do Brasil) . Sei que vou ser cruxificada por isso, mas fica aqui o apelo para os paulistas com juízo: não permitam que o Lula vença! Ou, pelo menos, vamos tentar. E esse assunto não morre aqui.
*******
O MEDO DA BESTA
Segunda-feira estive a assistir à reprise do show do IRON MAIDEN no Rock in Rio, quando minha mãe chegou na sala e se aventurou a ver um pouco - isso bem na hora da execução de "The Number of The Beast". Ela, inconformada, lançou essa:
- "Mas isso é música?"
- "É, e música da boa." - (acho engraçado cutucá-la assim e, se me dão licença, é música da boa mesmo)
- "Mas eles só ficam falando de demônio, inferno, fogo, invocando o diabo... ai, credo"
Ah, mãe! É só brincadeirinha. Quer mesmo ver gente a falar de inferno e a invocar o diabo? Basta assistir a um comício do Lula.
*******
FALANDO EM MEDO...
Não sei por que me veio isso agora - provavelmente porque toquei no tema de eleições ou simplesmente porque, ao falar do IRON, logo pensei no Ed, o mascote da banda - mas o caso é que me lembrei daquele candidato a prefeito de Bauru, o Sandrin. Se não me engano, foi nas eleições retrasadas que ele aparecia na TV falando diretamente às crianças, pedindo-lhes que mandassem seus pais votarem nele. E terminava a mensagem dizendo: "É para o bem de todos!"
Quantos pequeninos devem ter ficado sem dormir depois de uma ameaça dessa?
____________
(escrito em 09 de agosto de 2006)
SAUDADES DAQUELE JEITO


Ontem, milagrosamente meu irmão pediu-me um livro emprestado. Digo milagrosamente não para zomba-lo, mas porque ele sempre foi mais dado a ler partituras do que livros. Mas gostei da novidade e emprestei. Dicas Úteis para uma Vida Fútil - Um manual para a maldita raça humana, de Mark Twain. Desde o dia em que o li, no ano passado, andei fazendo a maior propaganda desse livro e volto a fazer. É que ontem, depois de um certo tempo sem ver a cara desse livro, lembrei-me de um dos principais motivos que levaram-me a gostar tanto dele. Em muitas passagens, ao contar suas aventuras e desventuras, seus gostos e desgostos, sua vida em família e seus pontos de vista sobre as coisas do mundo, Mark Twain lembrou-me muito o meu avô Antônio. Ria-me muito ao ler e ao lembrar dos tempos que passei em sua casa, enchendo os "pacová" daquele senhor de quem eu sempre desejei ter herdado os olhos verdes - hoje nem tanto, ensinaram-me a gostar dos meus olhos castanhos assim mesmo. As respostas de Twain às mais diversas situações levaram-me de volta no tempo e pude ver claramente meu avô distribuindo suas "chapudas" curtas e grossas, que ao mesmo tempo em que impunham respeito, também eram engraçadas. Se naquela época ele já achava os netos uns malucos, hoje ele teria a confirmação. Adoraria saber o que ele pensa de nós e que bronca hilária teria para nos dar.
Uma das passagens que eu acho que mais tem a cara dele é Política Econômica, em que um instalador de pára-raios não lhe dá descanso, interrompendo sua concentração para lhe perguntar mil vezes se ele podia colocar mais um pára-raios, só por precaução, esgotando a paciência de Twain:
****************
"Pelo amor de Deus! - gritei - Ponha cento e cinquenta! Ponha um em cima da cozinha! Uma dúzia no celeiro! E dois na vaca! Mais um na cozinha! Espalhe por tudo aí até que fique parecendo um bambuzal de zinco espiralado e prateado! Anda! Use todo o material que puder e quando não tiver mais pára-raios, ponha varetas de espingarda, alavancas, escadas, pistões, qualquer coisa que atenue sua fome de cenário artificial, deixe em paz meu cérebro e cure minha alma dilacerada! - Sem se alterar (a não ser por um leve sorriso) aquele ser de ferro apenas girou as mãos e disse: - Pois vou mesmo."
*****************
É o tipo de bronca que dá até gosto de ouvir. Tenho certeza que todo mundo tem pelo menos um Twain na família - se não com inclinação para a literatura, mas com um dom muito doce para chamar a atenção, ensinar coisas e passar valores. E adoraria mesmo poder ouvi-los daquele típico italianão deliciosamente rabugento, que já há quase vinte anos está a nos espionar lá de cima.
Baccio, vô!

____________

(escrito em 05 de agosto de 2006)
A autêntica piada de português.
Ou melhor, dos portugueses.


Não sei se o problema é só comigo ou se isso pode ser chamado de problema, mas sinto muita falta de um humor inteligente de verdade na TV. Sobretudo na TV aberta. Volta e meia, essa “terra de fantasias” chamada Rede Globo cria programas até muito interessantes, com um humor ágil, uma linguagem quase como as usadas em seriados tipo Will&Grace ou Seinfeld (ambos do canal Sony), em que, quem não estiver pelo menos um pouquinho por dentro de política, livros, filmes, costumes e notícias do mundo, nem vai ver vestígios de piada. Talvez o problema seja esse. Provavelmente por esse motivo foram experimentados e depois tirados do ar programas como Os Normais, Sexo Frágil ou Minha Nada Mole Vida. Já vi gente “boiar” com esses programas e dizer que eles eram chatos. Uma lástima. O mesmo acontece com o Casseta&Planeta – que ainda bem, está durando – mas muita gente chama de sem graça (andam meio fracos, é verdade, mas ainda são respeitáveis). Não entendem que o problema não é com o programa, mas com quem assiste! Sacadinhas com políticos, com personalidades, com a História, com regionalismos... nada disso faz sentido para uma legião! E se ainda existissem os saudosos TV Pirata, Viva o Gordo, O Cabaré do Barata e Chico City, com certeza sofreriam do mesmo mal. Não é que falte humor inteligente. Há investidas nesses sentido.

O problema é o público que emburreceu! Não digo todos, por favor. Também não digo que eu seja um poço de inteligência, mas sinto a maior falta desses programas e lamento que os que surjam agora não passem de laboratórios. Fiquei feliz quando descobri Hermes & Renato, na MTV. Um humor que beira o non sense. O inconveniente é que quando os caras entram em férias, ficam praticamente meio ano fora do ar! Então, cadê? Cadê um programa humorístico que não emburreça, que não tenha risadinhas forçadas de fundo, que não tenha um texto quadradinho e limitado, que seja isento de piadas previsíveis e velhas? E mais: cadê um programa de não deva nada a ninguém e que não se submeta às regras de uma emissora atrelada aos interesses do governo? Existe algum programa que pratique o exercício do humor sem temer a tesoura da censura? Achei. Por acaso, zapeando, como sempre. Fuçando a programação da Sic Internacional, atrás de alguma coisa que eu pudesse ver para, de algum modo, ficar mais perto de uma terra que admiro, que está – em partes - no meu sangue e onde adoraria estar um dia. E, de cara já achei ótimo. A começar pelo nome: Gato Fedorento. Não vou entrar em muitos detalhes sobre o programa, - quem tiver algum interesse, procure outras informações, e eu recomendo e assino em baixo. Só adianto que é o tipo de humor que precisávamos por aqui. Quem escreve os esquetes e atua são quatro jovens e talentosos humoristas portugueses: Ricardo de Araújo Pereira, Miguel Góis, Tiago Dores e Zé Diogo Quintela (que lembra um pouco o nosso Casseta, Marcelo Madureira). Mesclam cutucadas na política e na religião, coisas do cotidiano e da natureza das pessoas e pitadas da mesma loucura de Hermes & Renato (mas não chegam a ser tão escatológicos ou pornográficos quanto). E ainda que digam que não, são atores muito bons – são cínicos, irônicos e galhofeiros. Mas quero chegar a um outro ponto, com esse meu texto. O caso é que também tive a grata surpresa de conhecer o blog desse quarteto, (www.gatofedorento.blogspot.com) com textos igualmente excelentes e pelos quais me inteirei de mais algumas coisinhas sobre Portugal – especialmente quanto à política e economia.

Li um texto do Ricardo de Araújo Pereira (jornalista por formação), de 23 de janeiro de 2005, intitulado “Portugal vai ter um rumo e eu também”. Lá ele conta que foi convidado a participar de um jantar do Bloco de Esquerda, uma vez que os apóia e isso não é segredo para ninguém. Mas por esse motivo ele foi achincalhado por um colunista, Paulo Pinto Mascarenhas, que disse o seguinte, em seu blog “O Acidental”:
*******
“O Bloco Fedorento
Depois de ver o famoso comediante Ricardo de Araújo Pereira num encontro do Bloco de Esquerda, pergunto-me se ele é o Gato de Esquerda ou o Bloco Fedorento.
[PPM]
PS: Eu sei que a piada não tem graça nenhuma, não se preocupem, eu não tenho aspirações à humorista. Só que o humorista também não devia ter aspirações políticas. (...)”
*******
Repararam? Se eu fiquei indignada com esse comentário infeliz, fico imaginando o próprio Ricardo (sua resposta brilhante está no blog “fedorento”). Ou qualquer pessoa que não tem uma vida política, mas que se interessa, se engaja, assume um lado, apóia causas. Que preconceito é esse, numa democracia? Atores, comediantes, escritores, não podem confraternizar com políticos? Ou o problema é ser de esquerda? Fico envergonhada especialmente porque foi um jornalista a dizer isso. É mal de jornalista querer ser o dono da verdade – “fulano NÃO DEVIA isso”, “fulano NÃO DEVIA aquilo”– mas isso beira quase que à intolerância, ou “é uma atitude que cheira a coisa antiga”, como escreveu, depois, Zé Diogo Quintela.

Aqui no Brasil, em todas as eleições, vemos atores, escritores e até jornalistas que se envolvem na política. Cansamos de ver os “globais” no horário eleitoral – sobretudo levantando a bandeira do PT. Se quebraram a cara depois, como muitos quebraram (e foi bem feito), não importa. O que interessa é que assuntos políticos devem estar ao alcance de todos, devem figurar em todas as rodas de conversa, em todas as mesas, em todos os cenários. Política só serve para políticos? Quem disse? E mais: política e humor, de um jeito ou de outro, andam juntos. Os políticos fazem piadas com os eleitores e os humoristas fazem piadas dos políticos...

Para alguns pode parecer que fugi um pouco do assunto, mas pelo menos falei de algumas coisas que queria: lamentar a falta de humor de qualidade na TV aberta (o que parece ser proposital, já que a TV que emburrece é mais conveniente para quem governa), tecer elogios e recomendar (a quem tiver meios) a malta do Gato Fedorento e lembrar que não é pecado nenhum aderir a um lado na política, independente da atividade que a pessoa exerça. Esquerda, direita, centrista... NINGUÉM TEM NADA COM ISSO! Vista uma camisa e assuma os riscos.
________________________
(escrito em 03 de julho de 2006)

DA "ARTE" DE COMEÇAR UMA GUERRA


Não, não é por modismo que me coloquei a escrever sobre guerras - afinal guerras sempre estiveram am alta e são sempre um grande negócio. Não é só porque hoje se fala tanto em ataques no Líbano, no julgamento interminável de Saddam, no sumiço de Bin Laden, em faixa de Gaza, Jihad, facções político-partidárias, armas químicas e outros termos correntes nos jornais. Nem porque estamos nos acostumando às guerrilhas nas selvas da América do Sul e às urbanas, de traficantes contra traficantes, traficantes contra a polícia, da polícia contra estudantes, de estudantes contra a própria família, de famílias contra Deus, e por aí vai... Na verdade nada disso me inspirou - o que cansa, não dá muita inspiração. Inspirados mesmo foram alguns personagens da História, quando deram início aos conflitos mais esdrúxulos de que se tem notícia. Quando pensei nesse tema para criar um texto, logo me lembrei de um livro, "O Guia dos Curiosos", do jornalista Marcelo Duarte. Encontrei passagens sobre algumas guerras, que me atrevo a citar aqui, para que notem como o ser humano é criativo, e que, graças à sua originalidade, conseguiu dar um tom tragicômico às lutas.
:: A Guerra da Barba - entre França e Inglaterra (1152 a 1453) - começou quando rei Luís VII, casou-se com a filha de um duque francês e recebeu como dote duas províncias ao sul da França. Quando ele retornou das Cruzadas, raspou a barba, para desaprovação da esposa, que divorciou-se, casou-se com Henrique II, da Inglaterra, e quis suas províncias de volta. Luís VII não quis negócio e a guerra começou.
:: A Guerra do Balde - ocorrida na Itália (1325 a 1337) - se deu quando uma tropa de soldados de Modena foi roubar um balde de carvalho na Bolonha, que fez de tudo para ter o balde de volta - tanto é que muita gente morreu, mas os bolonheses recuperaram seu tesouro.
:: A Guerra da Esposa Sumida - envolvendo Inglaterra e Nação Zulu (1879) - teve início quando a mulher do chefe zulu resolveu deixá-lo e refugiou-se em território ocupado pelos ingleses. Ela foi seguida e fuzilada pelos zulus. A Inglaterra entrou na briga alegando violação de fronteira.
:: A Guerra do Cachorro Fujão - provocada por Grécia e Bulgária (1925) - começou porque um soldado grego que atravessou a fronteira atrás de seu cão, foi fuzilado por um sentinela búlgaro. Como resposta, tropas gregas invadiram a Bulgária , matando 48 pessoas.
:: A Guerra do Futebol - entre El Salvador e Honduras (1969) - ocorreu depois que os ânimos se exaltaram em uma partida entre as seleções desses países. Suas diferenças ultrapassaram os limites do campo e imigrantes salvadorenhos foram deportados de Honduras. Nessa guerra de 16 dias, 2 mil pessoas morreram.

*******
Contadas dessa maneira, diante de razões tão absurdas, parecem até situações engraçadas. Porém, absurda mesmo é a capacidade que essa gente teve para criar motivos ridículos para fomentar batalhas sem sentido. Uma barba raspada, um balde, uma partida de futebol... desculpas esfarrapadas para se continuar no comando de umas províncias, para invadir território vizinho, para expulsar imigrantes indesejáveis. Toda e qualquer forma de luta armada é dispensável, pois em brincadeirinhas como essas, vidas foram tiradas, famílias foram separadas, muito rancor deve ter sido herdado.
E hoje não é tão diferente, as "justificativas" - igualmente absurdas - continuam a variar:
- você é judeu, seu povo matou Cristo, você vai pagar por isso!
- eu tenho certeza que você está escondendo armas de destruição em massa, só por causa disso vou invadir o seu país!
- queremos nos separar de vocês, seus folgados, pois nós é que te carregamos nas costas (quem não se lembra do NOSSO Rio Grande do Sul querendo ser um país independente? República dos Pampas. Tá bom...)
Até parece pirraça de criança, mas é só e velho orgulho besta e a velha falta de diálogo de todos esses nossos líderes.

________________

(escrito em 26 de julho de 2006)