sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

PARA ONDE VOAM OS TUCANOS?

Esse texto pode ficar com cara de um apanhado de “achismos”, de teorias estranhas e de pura dor-de-cotovelo de uma eleitora que, na maioria das vezes, levantou a bandeira azul e amarela do PSBD. Mas depois de ler, ouvir e conversar em família e com amigos, juntei muitas idéias e fiz um mosaico de indícios que me levam a crer que um dos maiores motivos da reeleição de Lula seja culpa também da oposição (além do manjado Bolsa-Esmola, claro, pois muitos de seus eleitores foram fisgados pelo bolso e não pela consciência). Senão, vejamos: o primeiro “culpado” é Fernando Henrique Cardoso, o “tucano-mor”, o garoto-propaganda do PSDB. Eleito por duas vezes seguidas, despertou em Lula aquele olho-gordo de criança do “se ele pode, eu também quero!”. E seus seguidores, embalados naquela de que “em quatro anos não se resolve nada, vamos dar outra chance a ele”, ou pior “Deixa o homem trabalhar”, o puseram lá de novo. Essa história de reeleição deveria ter sido extinta bem antes, assim não sofreríamos desse mal novamente. E assim, FHC teria saído em 2002 e colocado um de seus escudeiros do lugar (eu sei que os petistas me odeiam; essa frase foi só para alfinetar mesmo!). Ainda sobre o pai do Real, esperava-se mais de uma figura – ainda – respeitada. Pelo menos eu tinha certeza de que Fernando Henrique seria presença constante nos comícios de Geraldo Alckmin e estamparia sua cara por alguns segundos, ao menos, nas propagandas na TV. Me atrevo a dizer que ele foi estranhamente omisso.

Depois dele, reparou-se que tanto José Serra quanto Aécio Neves também não fizeram muita conta em dar as mãos a Alckmin. Dizem as más línguas que Serra guarda rancor de Geraldo por este ter sido escolhido para se lançar à vaga de presidente e que só lhe restou se contentar com o governo paulista. Mas convenhamos que administrar São Paulo, de certo modo, é uma valiosa escola para aprender como administrar o Brasil, não é “qualquer coisa”. Então creio que esse pouco caso não deva vir dessa possibilidade tão infantil. Evidente que no Estado de São Paulo, Alckmin teria vitória certa, pois aqui, há tempos, convivemos com a hegemonia tucana. E grandes esperanças também foram depositadas nos Estados do Sul e do Centro Oeste, lugares onde os agricultores estão “de mal” com Lula. Mas ansiava-se por mais atitude da parte de Aécio Neves – reeleito governador de Minas Gerais com 77% dos votos – que, descaradamente a contra-gosto, ofereceu um apoio meia-boca a Geraldo e em cima da hora. Durante toda a fase que antecedeu o primeiro turno, quase não vi Neves nas propagandas de Alckmin e raríssimas vezes ele participou dos programas de rádio. Quem apostava, como eu, que os mineiros, “seduzidos” por Aécio, fossem votar maciçamente no tucano paulista, perdeu. Não houve nem sequer um flerte. Nem de Aécio e nem de Tasso Jereissati – senador pelo Ceará. Duas lideranças PSDbistas que parecem não ter movido uma palha para levar o nome de Geraldo Alckmin pelos seus Estados aos ouvidos dos eleitores que ainda não o conheciam ou que se mostravam indecisos. Uma das raras figuras que trabalhou em prol de Geraldo, foi o governador de Roraima, Ottomar Pinto – haja vista que Roraima foi o único Estado a furar o esquema do Norte para dar a cadeira a Lula.

E falando no presidente que prefere dar o peixe a ter que ensinar a pescar, ele declarou nessa semana que vai receber os seis novos governadores tucanos com “tapete vermelho”, no dia da posse, e que eles serão tratados a “pão de ló”. E também não deixa de dizer que Serra e Aécio compartilham consigo uma boa relação de amizade (inclusive têm se telefonado muito ultimamente). Não parece estranho, um rival do PSDB badalando tanto os tucanos? Justo os governadores dos dois maiores colégios eleitorais do Brasil. De onde veio tanto coleguismo? Afinal, o “casalzinho” também disse que não vai adotar uma posição agressiva frente ao presidente. Parece que vão estar mais para comadres do que para uma boa dupla de oposição (em potencial eles o seriam). Não entendo porque dão sinais de mansidão diante de um presidente que, enquanto eterno candidato de esquerda, sempre fez questão de aporrinhar a paciência de quem governava. Não seria essa a hora de darem o troco? Claro que não é bom criar atritos com o “chefe”, mas umas trocas de farpas e umas boas cutucadas fazem parte do jogo e dão um tempero à política. Que sentem-se e conversem, mas que não deixem de lado aquela boa guerrinha de esquerda e direita, oposição e situação. Pelo jeito, uns dos poucos PSDbistas que não pretendem lamber as botas do presidente são a governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crussius e o atual líder do PFL na Câmara, o deputado José Carlos Aleluia (BA) – que é uma figurinha engraçada, diga-se de passagem.

Diante disso, ficam essas impressões: os próprios tucanos graúdos fizeram pouco caso de Alckmin por não acreditarem que ele se revelaria uma liderança tão forte, jogaram-no na fogueira sozinho, deram um apoio mequetrefe de propósito e, ao meu ver, não se comoveram tanto por ele não ter ganhado a eleição. Ele sai de cena agora para dar lugar, mais tarde, a quem? Aécio Neves, oras! Porque é óbvio que ele lançará seu nome em 2010. E sinceramente, eu não duvido que até lá, ele já não esteja no PT. Sua amizade com Lula não é de hoje, e pelo andar da carruagem, Serra pode ir pelo mesmo caminho. Ou fica amiguinho do presidente ou funda mesmo um outro partido – como se cogita.

Por isso é que eu pergunto: para onde voam os tucanos? Eu sou uma novata nesse mundo onde se discute política, ainda estou engatinhando, mas a impressão que eu tenho é que o PSDB corre o risco de ficar muito mal das pernas no futuro. Posso e espero estar errada. Mas parece que quando eu era criança o time dos tucanos era muito mais temido, tinha líderes com pulso mais firme – como o “Mister Simpatia” Mário Covas. Agora, vejo um Fernando Henrique um tanto apático e nomes como Serra e Aécio Neves adotando uma posição de cordeirinhos. A maior perda, sem dúvida é Geraldo Alckmin. Tudo indica que ele pretende se afastar da vida política, não quer saber de ser prefeito nem governador. E nem presidente do partido. Não, ele não está lavando as mãos, entregando os pontos, dando as costas e dizendo a todos para se lixarem. Ele só está retomando, na medida do possível, a vida que tinha em sua cidade natal, no interior de São Paulo. Não acredito que isso seja uma forma de protesto. Mas uma forma de se manter longe desses joguinhos de interesses. Deve estar fazendo como Antônio Ermínio de Moraes fez, nos 80 quando - inesperadamente – perdeu o governo paulista para Orestes Quércia: enojado que ficou com a política, abandonou-a por completo para se dedicar à sua vida de empresário e escritor. Agora a história tende a se repetir. Perdemos uma opção, um líder, uma referência. Acho que só quem saiu lucrando nisso tudo foi mesmo Pindamonhangaba, que ganhou de volta, ao mesmo tempo, um médico e um professor.
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(escrito em 28 de novembro de 2006)


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