sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

O exibicionista mata o Português.

Na madrugada de 14 para 15 de outubro, eu estava me sentindo meio down e resolvi ver TV. Foi quando sintonizei o respeitado e multi-midiático professor Pasquale Cipro Neto no programa Altas Horas, do Serginho Groisman. Sua entrevista era o start que eu precisava para escrever esse texto. Queria muito já ter abordado esse tema, mas o havia deixado em stand by para quando eu tivesse mais assunto para add. Entre uma música de flash back e outra (já que a banda de Dado Villa-Lobos também estava lá), o professor fazia suas explanações sobre como anda a nossa boa e velha Língua Portuguesa. Foi perguntado se, com a invasão de termos estrangeiros no nosso vocabulário, o nosso Português corria riscos de empobrecer e acabar sendo engolido pelo idioma yankee.

Resumidamente, a resposta foi a seguinte: houve um tempo em que falar francês era básico. Nas famílias mais ricas da sociedade, as pessoas conversavam entre si em francês e só usavam o português com a criadagem. As mocinhas casadoiras tinham que ter no currículo a língua de Sartre – além de saber tocar piano e coser. Herdamos muita coisa do francês e nem por isso nosso português morreu. Também temos muito da Grécia em nosso vocabulário e até dos árabes. Os latinos são, por excelência, uma mistura de muita coisa e acabamos por aglutinar em nosso vocabulário palavras cuja origem são países que em determinada época eram referência política e econômica. Agora é a vez dos Estados Unidos. Mas, o professor garantiu que, mesmo com essa invasão do inglês, não corremos o perigo de contaminar nosso já judiado idioma de Camões. Ainda não dizemos que vestimos uma “azul camisa”, mas sim uma camisa azul. E que existem palavras inglesas que, por enquanto não têm seus equivalentes aqui. Geralmente são termos técnicos que chamamos de “empréstimos lingüísticos”. Portanto não precisamos temer a extinção da Língua Portuguesa, pois sua estrutura nunca vai ser alterada.

Mas, mesmo sendo tranqüilizada por uma autoridade como o professor Pasquale, ainda penso: então porque a minha geração não foi simplesmente chamada de adolescentes e sim de teens? E teens que adoram shopping center, fast food, games, se preocupam se estão fashion e até celebram o Halloween. Muitos sonham em ser pop star, aparecer num Hit Parade, figurar na MTV, dar entrevistas em um talk show (ou protagonizar um reality show) e querer parecer underground quando na verdade é tudo marketing. A questão é business. Puro make up. Uns bancam o bad boy, outros se fingem de dark, outros adotam um visual clean; apelam para qualquer look para serem mais cool. E eles não têm grandes amigos; têm brothers. Dão tanto valor ao design e se esquecem da essência das coisas. Só lhes interessa ser the best. Uns têm ainda personal trainner, personal stylist - só não têm personal...idade. Okay, eu percebo que esse discurso está ficando muito chato. Sorry e relax.

Que fique bem claro que eu não condeno de forma alguma o aprendizado de outras línguas. Estaria me traindo se o fizesse, afinal sou filha, prima, amiga e sobrinha de professoras de português e outros idiomas – inclusive eu também já me aventurei a lecionar e acredito que, vivendo cada vez mais nessa Torre de Babel que virou o mundo, nada mais urgente que saber se virar em inglês, espanhol, francês, italiano, japonês ou seja lá o que for. Só lamento que a contaminação desses modismos lingüísticos tenha atingido esse nível insuportável. Esse boom de palavrinhas aparentemente bobas, acaba por nos deixar preguiçosos. A Língua Portuguesa, acredito, além de ser uma verdadeira melodia, é uma das mais ricas em termos de vocabulário. Temos um apanhado de palavras para definir uma mesma coisa, temos à disposição um leque de opções para formar uma frase, uma sentença, uma idéia coerente, conexa, clara, objetiva, compreensível (percebem?). Acho um desperdício não as usarmos.

Desculpem-me se neste texto eu me expressei como uma professora das antigas. Juro que tentei ser bem light com as palavras, mas às vezes sinto que nosso Português está na marca do penalty.
___________________
(escrito em 15 de outubro de 2006)

Nenhum comentário: