quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

DA "ARTE" DE COMEÇAR UMA GUERRA


Não, não é por modismo que me coloquei a escrever sobre guerras - afinal guerras sempre estiveram am alta e são sempre um grande negócio. Não é só porque hoje se fala tanto em ataques no Líbano, no julgamento interminável de Saddam, no sumiço de Bin Laden, em faixa de Gaza, Jihad, facções político-partidárias, armas químicas e outros termos correntes nos jornais. Nem porque estamos nos acostumando às guerrilhas nas selvas da América do Sul e às urbanas, de traficantes contra traficantes, traficantes contra a polícia, da polícia contra estudantes, de estudantes contra a própria família, de famílias contra Deus, e por aí vai... Na verdade nada disso me inspirou - o que cansa, não dá muita inspiração. Inspirados mesmo foram alguns personagens da História, quando deram início aos conflitos mais esdrúxulos de que se tem notícia. Quando pensei nesse tema para criar um texto, logo me lembrei de um livro, "O Guia dos Curiosos", do jornalista Marcelo Duarte. Encontrei passagens sobre algumas guerras, que me atrevo a citar aqui, para que notem como o ser humano é criativo, e que, graças à sua originalidade, conseguiu dar um tom tragicômico às lutas.
:: A Guerra da Barba - entre França e Inglaterra (1152 a 1453) - começou quando rei Luís VII, casou-se com a filha de um duque francês e recebeu como dote duas províncias ao sul da França. Quando ele retornou das Cruzadas, raspou a barba, para desaprovação da esposa, que divorciou-se, casou-se com Henrique II, da Inglaterra, e quis suas províncias de volta. Luís VII não quis negócio e a guerra começou.
:: A Guerra do Balde - ocorrida na Itália (1325 a 1337) - se deu quando uma tropa de soldados de Modena foi roubar um balde de carvalho na Bolonha, que fez de tudo para ter o balde de volta - tanto é que muita gente morreu, mas os bolonheses recuperaram seu tesouro.
:: A Guerra da Esposa Sumida - envolvendo Inglaterra e Nação Zulu (1879) - teve início quando a mulher do chefe zulu resolveu deixá-lo e refugiou-se em território ocupado pelos ingleses. Ela foi seguida e fuzilada pelos zulus. A Inglaterra entrou na briga alegando violação de fronteira.
:: A Guerra do Cachorro Fujão - provocada por Grécia e Bulgária (1925) - começou porque um soldado grego que atravessou a fronteira atrás de seu cão, foi fuzilado por um sentinela búlgaro. Como resposta, tropas gregas invadiram a Bulgária , matando 48 pessoas.
:: A Guerra do Futebol - entre El Salvador e Honduras (1969) - ocorreu depois que os ânimos se exaltaram em uma partida entre as seleções desses países. Suas diferenças ultrapassaram os limites do campo e imigrantes salvadorenhos foram deportados de Honduras. Nessa guerra de 16 dias, 2 mil pessoas morreram.

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Contadas dessa maneira, diante de razões tão absurdas, parecem até situações engraçadas. Porém, absurda mesmo é a capacidade que essa gente teve para criar motivos ridículos para fomentar batalhas sem sentido. Uma barba raspada, um balde, uma partida de futebol... desculpas esfarrapadas para se continuar no comando de umas províncias, para invadir território vizinho, para expulsar imigrantes indesejáveis. Toda e qualquer forma de luta armada é dispensável, pois em brincadeirinhas como essas, vidas foram tiradas, famílias foram separadas, muito rancor deve ter sido herdado.
E hoje não é tão diferente, as "justificativas" - igualmente absurdas - continuam a variar:
- você é judeu, seu povo matou Cristo, você vai pagar por isso!
- eu tenho certeza que você está escondendo armas de destruição em massa, só por causa disso vou invadir o seu país!
- queremos nos separar de vocês, seus folgados, pois nós é que te carregamos nas costas (quem não se lembra do NOSSO Rio Grande do Sul querendo ser um país independente? República dos Pampas. Tá bom...)
Até parece pirraça de criança, mas é só e velho orgulho besta e a velha falta de diálogo de todos esses nossos líderes.

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(escrito em 26 de julho de 2006)

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