sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

ÁRVORE: MAIS QUE UM SÍMBOLO
ENTRE CÉU E TERRA Quando olho uma árvore, ou apenas penso em uma, vejo um símbolo perfeito da ligação que existe entre céu e terra, pelas suas raízes fincadas no solo em busca de água e de seus galhos que avançam para cima em busca do sol. Esse simbolismo é muito antigo. Faz parte das crenças – seria preferível chamar de estudos – dos celtas, povo que viveu na Irlanda, durante a Idade Média. Para eles, a árvore, além de um elo entre céu e terra, era também a perfeita representação dos quarto elementos fundamentais da natureza: da água, que circula por dentro dela; do ar que ela nos fornece; da terra que a abriga e do fogo que obtemos friccionando seus galhos secos. A partir disso, os celtas passaram a ver nas árvores um objeto de devoção, a própria essência da vida, fonte de curas e de previsão do futuro. Tinham com elas uma relação de cumplicidade e respeito. Em troca, as árvores lhes forneciam lenha, alimento, sombra, abrigo e caça.

Mas como disse, isso é coisa muito antiga. É um bem que já se perdeu. Porém, uma coisa ficou. Uma parte dos estudos dos celtas dura até os dias de hoje e se refere à observação da natureza de cada árvore e de como tais características podem ser associadas à personalidade das pessoas – dependendo da época do ano em que elas nasceram. Funciona mais ou menos como um horóscopo e do mesmo modo, há quem acredite, há quem duvide, há quem respeite, há quem ridicularize, mas pude conferir e, de certo modo até que faz algum sentido. Esse “Horóscopo das Árvores” foi trazido para os trópicos e as plantas foram adaptadas a nossa flora. Exemplos? Só alguns, para não me estender muito:



- o cedro simboliza a inteligência e a praticidade de quem sabe administrar, representa a racionalidade,
- a quaresmeira é a vaidade e o poder de atração – conseqüentemente representa a arrogância,
- o cipreste remete à jovialidade, carinho e fidelidade;
- a amoreira representa o orgulho extremado;
- o coqueiro representa a coragem e o bom humor,
- o eucalipto é dinamismo, perfeccionismo e criatividade,
- a mangueira representa os carentes e sonhadores,
- a figueira simboliza a auto-confiança exagerada, típica dos egocêntricos,
- a goiabeira é a árvores dos românticos, sinceros e leais,
- o cajueiro é a imagem do amor generoso, daqueles que se sacrificam pelo bem dos outros,

Enfim, não digo que acredito piamente que haja uma relação entre o jeito de nascer e crescer de uma árvore com a personalidade de uma pessoa que tenha nascido em determinada época, mas também não podemos negar que é algo muito interessante e que, independente de se tratar de crença ou estudo, chama a nossa atenção. Não pelo fato de ser um assunto de cunho místico, mas de ver como um povo se dedicou a simplesmente observar as árvores. Quantos anos e quantas gerações não passaram horas de seus dias contemplando árvores, memorizando cada espécie, catalogando-as ao seu modo primitivo, preservando-as e cuidando-as como fariam autênticos servos. Afinal, elas eram o elo que os ligavam aos céus.

De longe, sem querer me comparar aos celtas e à sua sabedoria, me atrevi a pegar uma árvore em especial para ser um dos símbolos da minha vida, da minha infância. Esse simbolismo nada tem a ver com minha data de nascimento, mas esteve presente em boa parte do meu crescimento. Ela já estava lá há muito tempo quando eu nasci e achei que ainda pudesse estar quando a nova geração da minha família viesse. Era uma vez uma jabuticabeira no quintal da minha a avó. Uma árvore frondosa que, plantada pelo meu avô, presenciou a família crescendo, viu meus primos – hoje quase trintões e quarentões – brincarem à sua sombra, montarem seus cirquinhos e teatrinhos. Viu os mais novos – meu irmão e eu – correndo atrás dos gatos pelo quintal e levando broncas da minha avó. Me fez gostar de jabuticabas e sustentou meu irmão em seus galhos. Essa árvore, posta na terra pelas mãos do meu avô, é um dos símbolos da infância saudável que tive e de uma das grandes saudades que tenho: das tardes que passávamos na casa de minha avó, o nosso pequeno paraíso no centro da cidade. Hoje a jabuticabeira não está mais lá. Foi morta e jogada aos pedaços numa caçamba. Claro que não pelas mãos de quem aprendeu a ama-la. Há gente que não tem amor às arvores e nem à memória das pessoas.

Porém, os celtas também diziam que as árvores representavam a mutação, a regeneração, a contínua mudança, a vida sempre renovada e a imortalidade da alma. Se a nossa jabuticabeira não está mais lá fisicamente, sabemos que tudo de bom que ela nos representa vai nos acompanhar durante as nossas mudanças. Todas as horas boas que passamos com essa árvore como cenário, essas sim são imortais.
____________________
(21 de setembro - Dia da Árvore)


Nenhum comentário: