quinta-feira, 1 de outubro de 2009

CLÁSSICOS DA SESSÃO DA TARDE


Ontem minha amiga Flávia me deu um mimo que foi muito mais que um presente. Foi um “passado”. Explico. Ganhei um bottom do Karatê Kid. Há coisa mais oitentista que bottom e Karatê Kid? Na verdade há, mas bastou esse pequeno agrado para que eu logo depois me visse relembrando de vários clássicos da minha infância.

A começar pelo próprio Karatê Kid. Que Van Damme que nada! Quem a gente queria ver lutando era o Daniel-San. Eu tenho certeza que muitos meninos já tentaram fazer aquela posição que ele fazia na praia – e não conseguiam. Aliás, eu acho aquela cena muito bonita (ainda que alguns achem brega): Daniel-San treinando seus golpes, sozinho na praia ao por-do-sol – fora a música-tema Glory of Love, de Peter Cetera & Chicago. E quanto às meninas, bom, só queríamos mesmo ver o rostinho lindo do Ralph Macchio. Até hoje ele conserva aquele rosto adolescente.

Assim como Matthew Broderick, que ainda exibe aquele sorriso de eterno Ferris Bueller, de Curtindo a vida adoidado – um filme que pode passar quantas vezes for que eu dou um jeito de assistir. Acho que todo adolescente (especialmente os saudosistas) já quiseram ser um pouco Ferris: acordar um dia e surtar, driblar o diretor carrasco da escola, juntar os melhores amigos, explorar as melhores coisas da vida e da cidade, quebrar a rotina, ter um dia memorável sendo apenar feliz.

Eu também já tive vontade de morar em Astoria, a bucólica cidade onde viviam os Goonies. Apesar de ser um grupo meio estereotipado, eles eram, e são até hoje, a melhor turma dos filmes. Quem nunca teve um amigo sensível, tímido e introspectivo como o Mikey, um patife como o Bocão ou o gordinho engraçado como o Bolão ou o japinha CDF como o Dado? Cada vez que escuto Goonies are good enough (da Cindy Lauper) me dá um desejo doido de fazer parte daquele grupo, sair caçando tesouros, decifrando charadas, achar um navio pirata e até fugir de mafiosos italianos super burros.

Ou então viver aventuras mais ousadas como Marty McFly que ia e vinha do futuro dentro do DeLorean, do Doc Brown. Dizem que originalmente a máquina do tempo do De volta para o futuro seria uma geladeira, mas mudaram de idéia com medo de influenciar as crianças a se fecharem nelas depois.

Bom, mas se as crianças não imitaram Marty entrando numa geladeira, certamente imitaram o Superman ao tentar voar. Pelo menos um primo meu fez isso de cima de uma antena. E não tem nada desses Clarks moderninhos não! O único Clark Kent que eu reconheço (e que muitos dizem que é um canastrão) sempre será o Christopher Reeves. Esse vai ser eternamente o melhor e mais bonito Superman.

Aliás, naquela época, as meninas ficavam naquela deliciosa dúvida platônica: quem vou namorar: Ferris, Marty McFly, Clark Kent ou Daniel-San? Podem caçoar, mas esses eram os bonitões do nosso tempo, e para mim, de todos os tempos. Os bonitões do cinema de hoje são todos iguais, não têm um pingo de graça, são fabricados para serem perfeitos e ultrapassam os limites da superficialidade. Ao contrário de um outro galã cheio de “poréns”, mas que até hoje me encanta: professor de História, Henry Jones. Ou melhor, Indiana Jones, o caçador de relíquias que enche a cara, briga com o pai, é mulherengo, tem pavor de ratos e leva muitas surras até que tudo acabe bem.

E falando em Harrison Ford, até hoje nunca consegui assistir a toda a saga de Star Wars – os geeks que me perdoem (porém tenho guardada uma recordação que, creio, poucos nerds têm: aquela famosa máscara do Darth Vader que vinha nas embalagens de Nescau!). E somente esses dias é que consegui assistir a Blade Runner. Ainda bem que foi só agora, pois se eu tivesse visto isso quando criança, com certeza eu teria ficado perturbada com aqueles replicantes e com aquela trilha sonora. Por outro lado, eu me perturbei com o Brinquedo Assassino (passei a acreditar nas lendas urbanas de bonecos amaldiçoados), a Mosca, Freddy Krueger e até os Gremlins!

Nada de filmes-cabeça! O que a gente queria era dar risada com lixinhos como Corra que a Polícia vem aí, Loucademia de Polícia ou Um tira da pesada – é impressão minha ou americanos gostam de zoar a polícia? Também queríamos ver namoricos adolescentes dando certo depois de muitos desencontros como em Namorada de aluguel, A garota de rosa schoking (com o lindinho Andrew McCarty), Gatinhas e gatões, Tuff Turf, Alguém muito especial ou O Clube dos Cinco. A gente também viu que seres de outros mundos não precisam ser necessariamente aterrorizantes: alguns eram ridículos como em Os Caça-Fantasmas e outros eram fascinantes como em História sem Fim.

Há ainda os filmes que nos faziam ter vontade de – assim que eles acabassem – colocarmos nossos collants e polainas e procurarmos uma academia de dança, como Dirty Dancing e Flashdance.

E antes que me perguntem dos filmes nacionais, eu já digo – sem culpa – que eu não assisti a muitos, pois quando eu era criança tinha na cabeça de que filme brasileiro era só sem-vergonhice, então me limitava a ver somente aqueles duzentos-e-não-sei-quantos filmes dos Trapalhões – ou “Os Tapaiões”, como minha tia conta que eu falava quando parávamos para ver os cartazes no hall do Cine São Miguel.

Que saudades dessas pequenas coisas: ver os cartazes no cinema (aquilo sim era um senhor cinema), ver a Sessão da Tarde esperando pelo café na casa da vó, achar que sabia dançar (I´ve had) the time of my life, morrer de dó do Ritchie Valens (de Lou Diamond Phillips, em La Bamba), temer um amanhã amedrontador como o de O vingador do Futuro, rir com a vigarista Oda Mae Brown, de Whoppi Goldberg em Ghost; querer viver num mundo de desenhos igual ao de Uma cilada para Roger Rabbit, aprender com tudo isso o que há de mais clichê: que no final tudo dá certo.

Como eu disse, não se tratam de filmes intelectualóides ou com mensagens altamente filosóficas. Na verdade são produtos descaradamente comerciais feitos para vender tudo quanto é tipo de tranqueira, mas que estão guardados com o maior carinho nos corações de uma geração – a geração Coca-Cola – e que mexem com nossas lembranças e que chamam de volta os nossos pirralhos interiores.

E do jeito que sou viciada em oitentismo, meu lado balzaquiana é sempre sufocado pela minha pirralhice que vive fazendo hora-extra. E viva Ferris Bueller!

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