Descaradamente estou aderindo à moda de exaltar agora os nos 80 e faço isso com o maior prazer do mundo. Ao contrário de muita gente que já era adulta nessa época, eu tenho ótimas recordações desses anos e poderia gastar linhas e mais linhas elencando tudo de bom que essa “charrete que perdeu o condutor” produziu. No entanto, do que mais sinto falta é da inocência de da vontade de não crescer jamais que as crianças ainda cultivavam (e eu me incluo nesse meio). Lembro-me de ter ouvido o famoso trecho de Que País é Esse?, da Legião Urbana: “Nas favelas, no Senado, sujeira pra todo lado. Ninguém respeita a Constituição, mas todos acreditam no futuro da nação” – aquilo era um verdadeiro grito de guerra para os adolescentes e jovens dos anos 80 e eu, como era a mais nova da família, aprendia a cantarolar esses versos, entre outras músicas “revolucionárias” com meus primos mais velhos (com certeza eles nem se lembram disso, mas eu sim). Não entendia o que era Senado, sabia pouco sobre favelas e nossa última Constituição acabara de ficar pronta, mas ainda criança eu sentia que aquele “grito” tinha um propósito. Eu queria entender aquela conversa dos adultos – congresso, inflação a 200%, Diretas Já – mas ao mesmo tempo, eu não queria saber de ser adulta. Queria continuar a andar de bicicleta pelo quarteirão, a jogar queimada na rua, ver filmes dos Trapalhões no cinema, assistir aos Goonies na Sessão da Tarde, morrer de medo do DarthVader, sonhar em ser uma Changeman, “assaltar” pitangueiras de muros alheios, continuar achando que “Marcelo Marmelo Martelo” era O livro, ter crises de ciúmes do meu irmãozinho, tomar muito sorvete de cereja, escolher sempre o mesmo cavalinho preto no parquinho, atirar pão aos peixes no lago, acreditar que um anjo da guarda andava, literalmente, atrás de mim...
:D
O mundo bem que podia se resumir nessas coisas. E não era só eu a pensar e a viver assim! Nenhuma criança que eu conhecia tinha muito interesse em crescer. Vivemos dias de Peter Pan, nos anos 80.Hoje não vejo mais isso. Espanta-me a precocidade das crianças, a pressa com que crescem e com que adquirem uma certa malícia (e por que não dizer, maldade?). Malícia em saber como dobrar os pais e afrontar professores. Sem querer ser antiquada, mas na minha época, nesses anos 80, ainda nos levantávamos da carteira para receber a professora e cantávamos os 4 hinos (Nacional, da Bandeira, da Independência e da República) sem reclamar e sem errar! Hoje me entristece e envergonha ver uma geração de crianças e jovens ignorando e zombando das poesias dos nossos hinos, mas sabendo de cor as letras desconexas e vulgares do funk (conseguiram deturpar até a essência do funk, mas isso é uma outra história); gastando horas de suas vidas enfurnados em lan-houses quando podiam mergulhar em livros ou em simples e produtivas conversas com pessoas mais velhas... E eu disse “na minha época...” e nem faz tanto tempo assim! E não confundam criança inocente com criança boba. Não éramos bobas, éramos genuinamente felizes. E hoje entendo os motivos pelos quais os anos 80 são chamados, no Brasil, de Anos de Trevas. Não tiro a razão de os terem classificado de tal forma, mas ao me lembrar, não consigo sentir de imediato essas “trevas”, só saudades muito boas. Ainda há sujeira nas favelas, no senado e pra todo lado e acredito muito que essa geração de “inocentes Peter Pans” da qual fiz parte vai se encarregar de tentar fazer uma bela faxina.
:D
(escrito em junho/2006)
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