terça-feira, 16 de outubro de 2007

LIVRO DE SETEMBRO (embora já seja Outubro)
LATIDOS E MIADOS
Confesso que assim que vi a capa do livro pela primeira vez (na Feira de Leitura que houve no CSA), me interessei logo pelos contos de gatos. E foi basicamente por isso que o comprei. Claro que o que me deu ainda mais certeza de estar levando para casa um ótimo livro foi a lista de autores selecionada e organizada pelo jornalista, tradutor e escritor Flávio Moreira da Costa: Homero, Mark Twain, La Fontaine, O. Henry, Machado de Assis, Balzac, Artur Azevedo. Enfim, a lista é grande. Sinceramente eu não imaginava que houvesse tantos textos lindos, densos, profundos e apaixonantes sobre cães e gatos. E no fim das contas, acabei por me render aos contos caninos (inclusive há um textinho muito simpático de Leonardo da Vinci). Não que eu não goste de cachorros, pelo contrário, mas às vezes, por mais alegres que esses bichinhos pareçam, eles me passam um pouco de melancolia. Só que isso não faz com que eu goste menos deles. E no caso dos contos, alguns autores conseguiram traduzir exatamente esse sentimento, narrando histórias de cães companheiros, servis e obedientes aos seus donos, mesmo que estes não merecessem.

Mark Twain, mais uma vez, me prendeu. Agora foi com seu conto A História de um Cão, em que, já em sua época (entre 1835 e 1910) chamava a atenção para a crueldade das experiências com animais. A frieza e ingratidão de um homem cujo filho ainda bebê foi salvo pela cachorrinha da família parece não diferir muito do se passa hoje. Tão tocante quanto o famoso conto russo Mumu, de Ivan Turgueniêv (1818 – 1883), em que um empregado solitário de uma senhora muito rica e amarga se vê obrigado a se desfazer de sua companheirinha. Chega um ponto em que não se sabe se quem é mais servil é o cão ou o homem.

E como não podia deixar de ser, os contos felinos são bem mais alegres e engraçados. Expõem a natureza dos gatos e sua personalidade: espertos, curiosos, corajosos, desconfiados, farristas, mimados, contemplativos. Destaque para o hilário conto do americano Damon Runyon (1884 – 1946), Lillian: uma gatinha abandonada nas ruas frias de Nova Iorque, encontrada e adotada por um ator bêbado e decadente que perambula pela Broadway vivendo de pequenas apresentações. Ambos vivem de modo quase insalubre num hotel vagabundo, mas não se desgrudam. Um dia, o hotel pega fogo, e ambos se metem no meio do incêndio e “sem querer” salvam uma criança. Mas o verdadeiro motivo desse ato heróico é o que fecha de modo cômico a história – que contrasta drasticamente com o conto de Edgar Allan Poe (1809 – 1849), O gato preto, perturbador e com grande densidade psicológica, e com o romântico O gato marinheiro, de John Coleman Adams (1849 – 1922).

Mesmo para quem não cria um cão ou um gato, o livro vale muito para despertar para a importância de se ter um bichinho por perto, de que animais não são meros enfeites dentro de casa. Eles têm sentimentos quase humanos (ou mais humanos que nós), se comunicam a seu modo doce, são desinteressados, amam seu dono pelo simples prazer de amar e não se questionam o por que. Cães e gatos têm suas diferenças, mas rendem ótimas histórias – não necessariamente historinhas para crianças, mas contos com mensagens que penetram na alma. Pelo menos foi essa a sensação que tive.

Os Melhores Contos de Cães & Gatos
Organização: Flávio Moreira da Costa
Páginas: 367
Editora: Ediouro

Um comentário:

Anônimo disse...

boa a indicaçao. eu nao tenho o livor, mas já li a maioria dos contos que estao ali. Sao mestres da literatura escrevendo sobre animais. Meus preferidos sao os contos do Poe e do Turgeniêv. Aproveitando indico Pais e Filhos do Turgueniev. Clássico imperdível.

clóvis brondani