quinta-feira, 9 de junho de 2011

Indicação de leitura
Zadig, ou o Destino – História Oriental



Voltaire, ou François-Marie Arouet (1694-1778) é um dos maiores representantes do Iluminismo, e só por isso já o adoro e o recomendo. Entretanto, é ainda um filósofo altamente irônico e sarcástico, apontando as falácias da sociedade através do riso, mostrando quão ridículos são os conservadores e intolerantes.
Suas obras de tão ácidas chegam a ser destrutivas, com o objetivo de atacar os poderosos, os invejosos, os orgulhosos, os fanáticos religiosos, enfim, os mal-amados que, envoltos em sua atmosfera antiquada, pregam o falso moralismo que lhes é tão característico.
E Voltaire, através de sua ironia “gentil” rompe com este cenário e busca novas formas de pensamento, livre, equilibrado, sensato e até bem humorado. É o tipo de pensador que me ganhou como sua fiel seguidora, logo na primeira obra sua que li. Na verdade Zadig foi a segunda. A primeira foi “Tratado sobre a Tolerância”, igualmente apaixonante e bem provocativa para quem tem a mente ainda um tanto fechada, sobretudo quanto às questões da Igreja. Por isso desta vez escolhi Zadig, a fim de evitar maiores confrontos filosóficos.

Zadig, ou o Destino não é um tratado, mas uma novela sobre um filósofo da antiga Babilônia – meio perdido no tempo e no espaço, já que Voltaire não se apega muito a detalhes de datas e mapas. O que ele quer é retratar, através de Zadig e de suas desventuras, as mazelas presentes em seu próprio cotidiano, cutucar as feridas sociais e políticas de seu tempo.
Nesta obra, em que tudo parece estar sempre perdido para Zadig, temos a impressão de que o homem não é e nunca será senhor de seu próprio destino. É como se fossemos marionetes controladas por algo bem maior, por um Destino sacana e sádico que nos leva para onde bem entende, sempre nos testando e rindo de nós. O livro é descrito por alguns estudiosos como uma “história de ortodoxia religiosa e metafísica”, ambas provocadas pela revolução moral que Voltaire plantou em Zadig – personagem com toques orientais, uma vez que o Oriente estava em pauta desde a segunda metade do século XVII. Voltaire, em 1747, “inaugurou” o gênero de contos filosóficos com esta obra, inspirando posteriormente outros gênios, como Edgar Allan Poe.

Zadig tem a noiva raptada e, ao tentar resgatá-la, tem um olho gravemente ferido. O grande médico Hermes tenta lhe dizer que ele não ficará curado, mas Zadig não dá atenção e indo ao encontro da noiva Samira, ele desafortunadamente descobre que ela detesta caolhos e que acabou se casando com o bandido que a havia sequestrado.
A partir daí a vida de Zadig passa por altos e baixos. Muitos mais baixos do que altos, aparecendo em seu caminho pessoas invejosas, dilemas morais e indivíduos ambiciosos.
Através disso, Voltaire fez uma alusão às pessoas de sua época, às arbitrariedades, à intolerância. Com isso, claro, ele colecionou ao longo de toda a sua produtiva vida literária, tanto admiradores quanto inimigos, chegando a passar duas temporadas preso na Bastilha. Ele gostava e sabia viver bem, mas tratava a todos como iguais. Não se prendeu somente à filosofia, mas produziu tragédias, romances, contos, poesias, ensaios e sátiras. Deixou também mais de 10 mil cartas, um verdadeiro baú de documentos jornalísticos.
Zadig é apenas uma das várias evidências da beleza do espírito voltaireano, despido de preconceitos, engenhoso, um pouco maligno às vezes, mas rebelde e repleto de todo o frescor do Iluminismo.

Zadig, ou o Destino pode ser lido em
www.ebooksbrasil.com.br ou www.livrosgratis.net

Nenhum comentário: