quinta-feira, 15 de março de 2007

NÃO TENHO VOCAÇÃO PARA SER SANTA


“Beleza é a outra forma da verdade”
(Alejandro Casona, 1903 – 1965, dramaturgo espanhol)


Na semana passada estive, por alguns dias, em Bauru, e justamente no dia 08 de março, quando se comemora o Dia Internacional da Mulher, tive a oportunidade de conhecer mais de perto algumas mulheres diferentes daquelas com as quais convivo. Não que elas valham mais – ou menos – do que as mulheres da minha vida. São só apenas diferentes. Como um carrapato, acompanhei uma repórter do Jornal da Cidade até o Monastério da Imaculada Conceição e São José a fim de buscar informações sobre a saída das irmãs da cidade de Bauru para Piratininga. O que acontece é que a casa onde elas vivem fica no bairro Ferradura Mirim, um local meio “barra pesada” na periferia da cidade, onde para elas, que vivem enclausuradas, não há muita segurança e nem sossego para levar suas vidas em oração. Em off, a madre que nos atendeu, contou a repórter que não adianta ter rottweiler, grades ou sistema de alarme. Elas já foram roubadas algumas vezes, tiveram os fios de telefones cortados e, como ficam isoladas, não têm a quem pedir socorro. Policiamento? Raras vezes. Lá, hoje, as missas são realizadas com as portas fechadas. Os fiéis se trancam na capela e ao fim da celebração, vão embora em grupos, com medo de serem atacados. Diante disso, elas resolveram procurar um lugar mais tranqüilo.

Durante 1 hora, a entrevista girou principalmente em torno desse problema, mas por mais que eu prestasse atenção no drama das irmãs, não pude deixar de notar as duas freirinhas (não digo isso em sentido pejorativo) que acompanharam a madre na conversa. Duas meninas que, calculo, deviam ter mais ou menos a minha idade – ou até menos. Muito bonitas. Do tipo que se pára para olhar na rua. Rostos delicados, traços finos, sorrisos serenos, fala tranqüila. Meninas que, sem dúvida, se estivessem do lado de fora e livres dos hábitos, seriam assediadas onde quer que estivessem. Meninas tão lindas que qualquer um diria: “Que desperdício!”. Confesso que esse pensamento me passou pela cabeça. “Se eu fosse tão bonita como elas, não estaria aqui”, ou “Como pode? Tão bonitas e jovens e no entanto, isoladas, passando o dia todo a orar pelo alívio das mazelas desse mundo...”. Como se freira não pudesse ser bonita.

Mas esse é o pensamento típico de alguém que já se deixou seduzir pelas futilidades do cotidiano. Admito: dificilmente eu me acostumaria a viver sem telefone, internet, tv, meus “profanos” livros de filosofia, praia em janeiro, meus cds de rock, minhas revistas em quadrinhos e um bom chopinho de vez em quando. Realmente não tenho vocação para ser santa, porque fora isso, ainda minto um pouquinho (quem diz que não mente, está mentindo), tenho uma pontinha de inveja de algumas coisas, sinto ciúmes, guardo uns rancores, falto às missas. Sou uma católica toda torta. Sou filha de Deus e fã de São Francisco de Assis, mas estou longe de ser um modelo de fé – embora eu treine isso diariamente. E assim como eu, existem vários jovens que, num primeiro momento, pensariam a mesma coisa ao ver freirinhas tão encantadoras: “um desperdício de beleza e juventude”. Mas logo percebi que para Deus pouco importa se quem está do lado de dentro ou de fora de um monastério é bonito ou não. A beleza está naquilo que fazemos. É óbvio, mas muita gente se esquece disso.

Acho que Deus não quer saber se a freira é bonita, mas sim como ela emprega a sua fé. Deus não quer saber se uma “ovelha torta” como eu tem esse ou aquele vício bobo, mas sim se acredita de fato em Sua existência e se O ama de verdade. As pessoas nascem esteticamente bonitas por acaso e suas vocações não tem nada a ver com isso. São Chico, por exemplo, se julgava um moço feio e sem um pingo de talento como orador e, no entanto fez coisas lindas e deixou-nos ensinamentos preciosos.

O caso é que fiquei admirada em conhecer meninas tão jovens que resolveram dedicar sua vida à oração e à clausura. Em tempos tão cheios de tentações, acho que seguir esse caminho deve ser uma decisão complicada de se tomar. Nada de viagens, nada de festas, nada de praia, nada de cervejinha com os amigos, nada de ficar acordada até tarde vendo filmes, nada de contar piadas de duplo sentido, nada de muita coisa sem as quais muitos mortais já não vivem sem. Apenas o silêncio, a oração, recolher-se às 21:00 e levantar-se às 5:00. Que mulher super moderna, hoje em dia, levaria uma vida assim de bom grado? Que mulher vaidosa, hoje, se contentaria em se esconder do mundo, deixar de lado as chapinhas, escovas, rímel, batom, academia, celular, baladas, carro, namorados, faculdade, mestrado, intercâmbio, bons cargos em empresas, independência, o sonho de ser mãe... É uma infinidade de coisas que se deixa para trás, e eu tenho certeza que essas meninas sabiam exatamente do que abriram mão quando resolveram se entregar à vida religiosa.

Admiro e respeito. Só não seria capaz de fazer igual. E como disse, não creio que quem decide seguir uma vida de privações tenha mais valor do que quem resolve ficar do lado de fora dos muros e encarar as loucuras deste mundo. Ao meu ver, mulheres “santas” e pecadoras têm sua singular importância. Gostei de te-las conhecido e fico feliz por saber que há jovens que entregaram suas vidas e sua juventude a uma causa em que acreditam, que orem pelo bem das pessoas, que trabalhem pela Igreja. São mulheres tão importantes quanto aquelas que nos rodeiam todos os dias; que enfrentam filas, que ouvem desaforos, que têm dupla – ou tripla - jornada de trabalho, que agüentam maridos chatos, que brigam com a balança, que nunca param de estudar, que se sacrificam pelos filhos, que aprendem e que ensinam. Nesse último Dia Internacional da Mulher aprendi mais uma lição e fiquei ainda mais agradecida a Deus por ter nascido menina.

Vivam as diferenças e vivam os diferentes tipos de mulher. No fim das contas – e sem falsa modéstia – nós somos fundamentais para colocar este mundo nos eixos e fazer dele um lugar bem melhor.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olha eu aqui de novo!!!
Que visão bonita e interessante vc teve dessas religiosas,e da mulher.
Eu que gosto de deixar comentários longos, vou agora resumir o meu comentário sobre essa sua história em: P A R A B É N S!!!
A D O R E I
Beijosss Veri's e continue a escrever coisas boas como essas!!!