segunda-feira, 25 de junho de 2007

DIVAGANDO SOBRE ÁRVORES

Para compor uma nova crônica, peguei um livro de Lima Barreto, porque tinha a certeza de que ele me inspiraria. Feito. O livro é uma coletânea de textos desse nosso “mulato de todos os tempos”, e uma de suas crônicas, “O cedro de Teresópolis”, é uma das provas de que as letras e a natureza casam perfeitamente. Não estou julgando ou desmerecendo os demais, mas todos os amantes das letras e poesias têm uma ligação maior e diferente com a natureza – provavelmente pela sua já sabida sensibilidade, que muitos confundem com frescura e falta do que pensar.

Enfim, “O cedro de Teresópolis” me encantou e me fez, automaticamente, tecer um paralelo com algumas árvores de Garça. Lima Barreto conta que um amigo seu ficara indignado quando soube que um comerciante pretendia cortar um cedro centenário, que já estava lá, adulto, antes mesmo do nascimento de Teresópolis. O cedro estava na propriedade desse comerciante, ele, portanto, até que teria o direito de corta-lo, mas a árvore era uma das poucas que restavam naquela rua, era um cedro histórico, não incomodava ninguém. Afeiçoado ao cedro, o amigo de Lima propôs ao sujeito, a compra de seu terreno. Mas, infelizmente, suas posses modestas – já que ele também era um poeta – estavam aquém do que o homem pedia como pagamento.

Não se sabe o que se deu, mas certamente o cedro veio abaixo. Lima Barreto lamenta e, já naquela época, 1920, destaca o mau gosto de certas pessoas pela cara totalmente urbana que se estava dando à paisagem, e seu desprezo pela natureza. Como é sabido, Lima viveu no Rio de Janeiro, lugar onde, antigamente, era comum haver casas com aspecto de chácaras, mesmo dentro da cidade, com grandes jardins, pomares, palmeiras e bambuais. Porém, o que ele notava e desgostava, era o pouco caso com a população passou a tratar suas árvores, independente da classe social: “Os nossos arrebaldes e subúrbios são uma desolação. As casas de gente abastarda têm, quando muito, um jardinzito liliputiano de polegada e meia, e as da gente pobre não têm coisa alguma”. Ele lembra que as ruas eram repletas de jasmineiros em cercas, laranjeiras, mangueiras, jaqueiras e até a esquisita fruta-pão: “Os subúrbios e arredores do Rio guardam dessas belas coisas roceiras, destroços como recordações”.

Que diria Lima Barreto, hoje? Nossas áreas verdes ficam cada vez menores e houve um atraso enorme para que grande parte das pessoas se tocasse da importância que as árvores têm. Não apenas agrupadas em florestas e reservas, mas em nossos próprios quintais. Não vou passar um sermão ecologicamente correto nesse texto – pelo menos não hoje. Mas assim como Lima Barreto, apelo para o bom senso estético. O Rio, em sua época, já era uma cidade muito grande e era até compreensível a mudança rápida na paisagem, mas aqui mesmo em Garça percebo a falta de árvores em jardins (nem todos os públicos, mas em muitos particulares) e calçadas. Em algumas ruas, são metros e metros de calçada sem árvores alguma. Convenhamos que toda essa nudez dá um aspecto triste a qualquer lugar.

Lembro-me de ter visto fotos antigas da Praça Pedro de Toledo, onde as copas das árvores, que de tão vastas e juntas, pareciam uma coisa só (não que as quaresmeiras de hoje não agradem). Por que elas foram tiradas de lá, por uma questão de segurança? Afinal, conta-se que a sombra que elas faziam era realmente escura e densa. Seja como for, é uma pena que tenham saído de lá. Lamento também não ter tido tempo de conhecer a famosa aldrava da Praça Tancredo Neves, cantada e lembrada por alguns amigos da APEG e do teatro.

Com algumas exceções (como tudo na vida), alguns jardins de Garça me remetem aos jardins do Rio de Lima Barreto. Algumas poucas polegadas de verde e uma carência óbvia da beleza que as árvores têm. Seria uma questão de praticidade ou puro mau gosto? Já ouvi gente dizer que não quer nem saber de árvores ou qualquer planta em casa porque não quer ver sujeira de folhas. Nesse caso reina a preguiça. Temo só em pensar se todos tivessem essa mentalidade. Hoje vejo que plantas e flores dão lugar a grades de todos os tipos – umas até parecem gaiolas e fazem questão de enfear a rua. Segurança é uma coisa, falta de sensibilidade é outra. Será que tanta grade e quase nada de verde, não causa depressão? Eu não sei, já que afortunadamente sempre vivi cercada de plantas. De algumas poucas até sei o nome, reconheço folhas, flores e aromas, mas o que mais gosto nelas é sua presença, é simplesmente o fato de elas estarem ali.

Quando nasci, meus pais providenciaram uma arvorezinha que crescesse junto comigo. Era tão magrinha quanto eu, mas viveu saudável e graciosa até meus 25 anos. Mas esse gesto foi muito bonito. Ainda hoje existe esse costume, de fazer com que os filhos cresçam junto com uma árvore? Ainda há tempo e preocupação com isso? A resposta é tão rápida quanto conveniente: “sabem como é, a vida hoje anda tão corrida... ninguém tem tempo para plantar nada”. Nem de plantar, nem de contemplar.

Quando eu era criança, existia na rua Coronel Joaquim Piza, uma pizzaria chamada Flamboyant. Em seu terreno havia uma árvore enorme, linda, cheia de vagens carregadas e flores vermelhas – daí o nome da pizzaria. Muitas famílias freqüentavam o lugar, só que os adultos esperavam pelas pizzas e as crianças não queriam saber de descer do flamboyant. Ir àquele lugar, para mim, não era sinônimo de comer, mas sim de brincar naquela árvore. Vinte e tantos anos depois, tenho curiosidade de saber que fim levou aquele gigante varal de flores vermelhas.

Hoje tenho um carinho em particular por uma arvorezinha do lago. Sei que o lago é o lar dos ipês amarelos e, sobretudo das cerejeiras, mas falarei delas com gosto numa outra ocasião. Agora é a vez da tímida pitangueira que vive no terreno onde um dia foi um brejo repleto de taboas. De tanto caminhar por ali, vi aquela pitangueira crescer, florescer e dar frutos – muito gostosos, aliás; vi sua troca de folhagem e já temi algumas vezes que ela sumisse por conta de vandalismo. Sempre que passo por lá, dou uma conferida para ver se há uma ou outra pitanguinha “temporão” disponível, e isso já virou um hábito. Vejo essa pitangueira como se fosse também um pouco minha, não que eu a tenha posto lá, mas porque a vi crescer e por gostar de parar para olha-la, nem que seja por alguns segundos.
Plantar, colher, preservar, observar, contemplar e cantar em versos uma árvore poderia ser algo inerente a todas as pessoas, já que isso – sem querer fazer nenhum trocadilho – semeia em nossas almas apenas idéias e sentimentos positivos. Mas a preguiça, o descaso e o mais puro mau gosto ainda imperam em muitas cabeças. Há uma frase que diz que temos que passar pela vida e ter filhos, escrever um livro e plantar uma árvore. Só sei de gente fazendo gente. Onde estão os livros e as árvores?

Um comentário:

Anônimo disse...

Você está com inspirações ecológicas hein!!!rsrs
To adorandoooooooo!!!