quarta-feira, 8 de agosto de 2007

ESTADO DE SÍTIO”:
NOSSAS RAÍZES E NOSSA REALIDADE

Será que alguém já teve saudades de um tempo que não viveu? Alguém já sentiu aquele tipo de melancolia gostosa ao ouvir histórias de uma época ou de um lugar não conhecidos? Falando desse jeito, fica difícil explicar, mas quando se passa por uma experiência de assistir a uma peça de teatro, cujo texto é tão sensível e verdadeiro, as coisas ficam muito claras e se explicam não com palavras, mas com sensações.

Desde a última quarta-feira, dia 01, estava para escrever alguma coisa sobre a peça “Estado de Sítio”, mas – falando num bom e descarado português – fiquei enrolando, porque temia não achar as palavras certas para definir as impressões tão boas que o espetáculo me causou. Mas aí percebi que não são necessárias tantas pompas. Basta falar com a mesma simplicidade e sensibilidade com que o texto da peça foi concebido.

Quando digo que tenho saudades de um tempo não vivido, é porque os relatos das pessoas, transformados nos diálogos das personagens, foram executados com tanta delicadeza e graça, que, por alguns instantes, foi possível que nos sentíssemos inseridos naquele cenário de roça e pés de café. Ainda que algumas passagens do texto exprimissem as mazelas e os desgostos de se viver no campo, creio que todos ali se sentiram um pouco Toninho, Flor, Valdo, Amaral, Vô e Elza. Todos têm um pouco de cada um: meio românticos, meio realistas, meio sonhadores, meio sofredores, meio esperançosos. Nossos pais, avós e bisavós foram um pouco de cada uma dessas personagens. Viram no café a esperança de uma vida melhor, sofreram com os estragos das geadas, já se depararam com o desânimo por estar sob o jugo de um patrão, já quiseram cruzar a porteira para não mais voltar, já se deslumbraram com a vida na cidade. Sei de passagens assim pelos dois lados da minha família, e mesmo eu não tendo vivido essa realidade, pude, por alguns minutos, me enxergar na época dos meus avós, parar para pensar com maior profundidade nesses galhos tão fortes da minha árvore genealógica. Através dos dilemas, alegrias e tristezas das personagens, consegui me desligar do mundo lá fora e enxergar somente a história que deu origem à região, a Garça e a tantas famílias que ainda vivem aqui.

Uma deliciosa viagem no tempo, uma compreensão maior do que é a vida num “estado de sítio”, pitadas de sonhos e realidade e algumas doses de um romantismo inocente, tudo dentro de uma peça, passados em alguns minutos, mas ingredientes que só fizeram bem aos olhos e a alma. Venho através desse texto agradecer e congratular a Escola Municipal de Cultura Artística (EMCA), o grupo teatral “Evoé ou não é”, ao amigo (e ator) Bruno Antiqueira e as diretoras Susy Mey e Katya Magaly – e ao prefeito, pela intenção de se fazer real a finalização do nosso teatro. São iniciativas e trabalhos dessa natureza que mostram que Garça finalmente está voltando a ter aquela mentalidade que parecia perdida, de apreciar a arte.

Creio que desde a minha infância, a cidade não tinha grupos de teatro tão atuantes, tantas exposições, tantos novos músicos, tantos poetas e escritores tirando seus textos da gaveta. Eu, que já cheguei a presenciar cenas de gente caçoando de teatro, depreciando poesias e zombando de pinturas, fico aliviada por ver e saber que nem tudo está perdido, que ainda há quem pense que não é só porque Garça é uma cidade relativamente pequena, que tem que ficar alheia a movimentos culturais. Claro que há mentes pequenas e pobres que acreditam que cultura é coisa “das elites”. Eu só lamento por esse tipo de pensamento, mas torço para que essa caminhada em prol da disseminação da cultura não acabe nunca. Vida longa ao teatro, à poesia, às artes plásticas e à música. Bom trabalho e boa sorte aos que semeiam a cultura em Garça e sobre Garça. Como disse, certa vez, o general Tchekhov: “Canta a tua aldeia e cantarás ao mundo”.

Um comentário:

Anônimo disse...

Algumas coisas boas acontecem em nossa cidade?
Profana Inquisição eis a resposta para a questão.

O Grupo agradece .Estamos juntos!

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