quarta-feira, 15 de agosto de 2007

O QUE FALTA PARA GAA?
“Problemas nunca serão solucionados se usarmos o mesmo raciocínio que os criou”
(Albert Einstein)

De vez em quando eu faço uma visita a Comunidade de Garça no Orkut, só para constatar o que os jovens – sobretudo os adolescentes da cidade andam pensando. Alguns pensam, outros não, mas de um modo geral, existem certos tópicos que não merecem passar em branco. Por esses dias vi um com o título: “O que falta pra Garça embalar?”. A mesma pessoa que lançou a pergunta, deixou sua resposta (reproduzida com a mesma brilhante ortografia): “Aqui, na minha opinião, só o tenis presta falando de balada... O lago anda perigoso demais ultimamenteO q falta pra Garça, em termos de balada, pra cidade fikar mais completa???Bom, pra mim falta tipo um shopping mesmo, mas SHOPPING, nao essa galeria q tem aki... Um lugar grande, se bem que garça nao suporta tanta coisa... afinal nem mc donald's tem...”.

Parece que o que falta para Garça virar um lugar de “baladas” é uma questão que não vai ter fim nunca. Ou essa nova geração anda realmente muito insatisfeita, ou então Garça não tem nada. Só que, se me permitem dar um testemunho, vivi minha adolescência toda em Garça, e tanto para mim quanto para as turmas com as quais eu andava, nunca pareceu faltar coisa alguma. Evidentemente que na nossa época os bons e velhos berimbaus do Grêmio eram diferentes, andar pelo lago não representava tanto perigo quanto hoje (depois de uma determinada hora) e ainda tivemos tempo de curtir o Cine São Miguel. Isso porque ainda nem dirigíamos. Dependíamos de carona ou de nos deslocarmos a pé.

E é claro que as coisas mudam. Talvez as “baladas” de uns 15 anos atrás não se pareçam com as de hoje e não tiro de todo a razão de uma ou outra reclamação sobre ter o que fazer nos fins de semana em Garça. Só que fico me perguntando se um grande shopping ia resolver esse problema. E se sim, por quanto tempo? Não vai ser a construção de um shopping que vai transformar Garça numa referência de lazer. Quando eu era criança, eu achava o passeio num shopping o máximo – ainda que fosse o de Bauru, naquelas clássicas excursões de escola. Não sei se era porque raramente a gente ia ou porque o nome “shopping” impressionava. Mas depois o encanto se quebrou e ao meu ver, a menos que se tenha o propósito de comprar alguma coisa ou de ir ao cinema, shopping, pra mim, é sinônimo de passeio de gente sem imaginação. Vamos encarar a realidade: os jovens – em sua maioria (e eu me incluo nisso) – são uns durangos. Então, fazer o que num shopping se você não vai comprar nada? Os lojistas iriam à falência em pouco tempo, o shopping teria que fechar suas portas e tudo voltaria a ser como era. Quanto ao McDonald’s, não acho necessário tecer mais comentários, seria falar “mais do mesmo”.

Agora é minha vez de levantar uma pergunta: “O que aconteceu com a juventude, que anda tão sem criatividade?”. Ou eu estou ficando velha muito depressa ou os adolescentes de hoje só se contentam com boates – o que seria um pensamento muito limitado. Existem coisas boas para se fazer em Garça nos fins de semana, e coisas que não envolvem luz negra, gente se trombando, fumaça de cigarro na sua cara, bêbados pendurados no seu pescoço, filas intermináveis em banheiros nojentos, lasers atrapalhando a visão e um som estourando os tímpanos. Diversão não se resume em boate. Quando se vive numa cidade do interior, nada mais gostoso do que reunir uma turma de amigos – que geralmente não se vêem durante a semana – sentar numa calçada, tomar um vinho (moderadamente e para quem já é maior!), jogar conversa fora, falar bobagem, de futuro, de presente, de frustrações, de vontades, sobre “o que queremos ser quando crescer”.

Viver aqui, num lugar ainda relativamente tranqüilo, é poder andar pelas ruas sem um roteiro determinado, comer um lanche na frente da igreja, comprar uma garrafinha de qualquer coisa e ir a praça “filosofar”. É aproveitar os pores-do-sol no lago, ficar ali com os amigos até escurecer enquanto se conta histórias. É tomar um café na padaria e trocar idéias sobre música, literatura, (e até política, por que não?), sobre passagens e tempos bons que já se foram. E como se não bastasse, essa cidade ganhou de presente da natureza uma porção de quedas d’água e trilhas. E isso não é se contentar com qualquer coisa, é saber aproveitar momentos especiais com pessoas realmente relevantes que têm disposição para falar e ouvir. É ver que a vida é muito mais do que um techno na orelha; é partilhar de horas únicas com amigos de verdade, é, entre uma conversa e outra, descobrir idéias novas, conceitos diversos, é colecionar instantes preciosos que, convenhamos, boate nenhuma no mundo pode proporcionar. Então, o que falta para Garça? Gente com imaginação.

Mas voltando ao Orkut, uma outra resposta me chamou a atenção pela pobreza de sensibilidade: “enterrar e fazer uma nova cidade ou afunda td e muda pa uma cidade melhor aqui naum tem nada”. Eu não sei de tudo que Garça precisa, mas sei do que ela NÃO precisa. Eu adoro esse lugar, me sinto uma pessoa de sorte por ter nascido numa terra tão bonita e por isso me acho no direito de dizer que Garça não precisa de gente tão pequena, de verdadeiros abutres que torcem pelo pior da cidade, de pessoas amargas que não participam de modo algum da vida da comunidade e que atiram pedras em quem o faz. Garça não precisa de gente que queira enterra-la porque não é de cabeças simplistas assim que se faz o progresso de um lugar; Garça não precisa de pessoas que depredam praças, que tombam lixo na rua, que atiram papeizinhos pelas janelas dos carros, que levam cães para passear só para que eles sujem calçadas alheias. Garça não precisa de gente preguiçosa que teima em não plantar árvores, alegando que elas sujam a calçada. A cidade não precisa de jovens tontos que erguem o som do carro no último volume (sem querer fazer nenhum trocadilho, mas isso me parece mais um problema de auto-afirmação). Não precisamos de gente egoísta e de má vontade que lava calçadas e carros usando mangueira, de comerciantes que sempre nos “tungam” um ou dois centavos, de alunos vândalos que ofendem professores e arrebentam carteiras e ainda dizem que a escola é que é uma porcaria. Garça não precisa de quem diga que aqui não tem nada. O lugar onde não tem nada é na cabeça de gente desse tipo, onde nem noção de Língua Portuguesa existe.

Ontem li um texto belíssimo do Fagner (amigo e membro da APEG) falando sobre um animal morto que ele encontrou em um local público – e não se trata de qualquer lugar. Não vou entrar em detalhes porque gostaria que ele publicasse o texto e eu não quero estragar a surpresa, mas só posso dizer que Garça também não precisa de pessoas que negligenciem os animais, tanto os vivos quanto os que foram mortos. Quem puder ler o texto do Fagner antes, eis o endereço: http://asasdeanjotorto.blogspot.com/.

Eu não pretendia parecer agressiva nesse texto, mas também não me importo se eu tenha sido – despretensiosamente pode ser que isso sirva para dar um toque em alguém – se bem que eu acho que pessoas tão agourentas e azedas nem devam ler jornal. Mas caso leiam, deixo-lhes uma frase ótima do escritor francês Vitor Hugo: “Os infelizes são ingratos, isso faz parte da infelicidade deles”.

Um comentário:

Unknown disse...

Ai Veri, vc está de Parabéns!!!!!!!
Gostei muito do texto!!!
Como dizia uma certa pessoa muito querida nossa: É "Phoda"...
Continue assim!!!
Bjs...