quinta-feira, 21 de abril de 2011

FLORBELA ESPANCA

Sonetos



- Página de Cultura do Jornal Comarca de Garça, de 21/04/11 -

Uma vez eu disse a uns amigos: “Eu queria ser como Florbela Espanca, menos na parte em que ela se mata no dia do aniversário”. Isso porque Florbela é um dos maiores nomes da literatura portuguesa, uma sonetista perfeita. E uma mulher muito apaixonada, passional, dramática, visceral – percebe-se pela escolha mórbida de se encher barbitúricos na madrugada de seu 36° aniversário, em 8 de dezembro de 1930, após outras duas tentativas de suicídio. Por isso que fique bem claro que eu queria ser Florbela só sob o aspecto literário!
Sua vida repleta de inquietude, tumultos, paixões e dilemas íntimos, reflete-se em suas obras nitidamente feminilizadas, erotizadas e panteístas. Casou-se e descasou-se várias vezes, ainda jovem perdeu a mãe, sofreu um aborto, teve complicações nos ovários e pulmões, apresentou crises de neurose, seu adorado irmão morreu em um trágico acidente de avião, agrava-se sua doença mental e, em meio a esse turbilhão de eventos, Florbela jamais interrompe seus estudos e sua produção.
Este compêndio resume suas mais afamadas obras, separadas em 4 livros e todas, de algum modo, revelam os sofrimentos de Florbela, suas paixões, a solidão, seu saudosismo. Mas ao contrário do que possa parecer, seus escritos não nos contaminam com suas angústias, mexem conosco de outro modo, eles nos encantam de tal modo que acabamos por devorar esse livro na mesma hora. É claro que esse é um testemunho muito pessoal de quem admira a arte do soneto e que ao ler Florbela, chega a imaginar e ouvir sua voz com o doce e inconfundível sotaque lusitano. Elegi, com muito custo, meus sonetos favoritos: Eu, Amiga e Tédio (Livro de Mágoas – 1919), O nosso livro, Fumo e Horas rubras (Livro de Sóror Saudade – 1923), Rústica, Se tu viesses ver-me..., Ser poeta, In Memoriam (uma homenagem ao irmão, a seu “morto querido”), Árvores do Alentejo e Teus olhos (do livro Charneca em Flor – 1930), À morte e O meu soneto (Reliquiae – 1931).
Alguns críticos apontam o fato de Florbela nunca ter abordado temas humanistas ou sociais em seus escritos (que não se resumem apenas em sonetos, mas contos, epístolas, diários e textos diversos), que giravam muito em torno de si e de seu mundinho pequeno burguês. Mas o que poderia fazer uma moça, no começo do século passado, em Portugal em meio a uma sociedade ainda tão patriarcal? Ela assumia-se conservadora e até um pouco egocêntrica, e creio que, mesmo com tantos “eus” e com tantos rompantes de paixão, que até podem beirar à pieguice, nada consegue tirar a beleza e a singularidade da obra de Florbela Espanca.

Sonetos – Florbela Espanca
Coleção A obra-prima de cada autor
Editora: Martin Claret
Páginas: 128

2 comentários:

Anônimo disse...

Ninguém comenta nada aqui? O conteúdo até que é bom, mas o nome do Blog não ajuda...
Mas vim atraído por Garça, quantos anos...
prometo voltar
Thomás

Veridiana Sganzela disse...

Thomás,
antes, obrigada pel visita!
Algumas pessoas já andaram comentando, apenas os amigos mais chegados para quem eu passei esse endereço. Mas outras pessoas acabam caindo de pára-quedas...
Mas fico contente que tenha aparecido por aqui!
Abraço, Veridiana