sexta-feira, 13 de abril de 2007

"COMO É QUE CHAMA
O NOME DISSO?" *
A bizarrice é tanta que eu prefiro ir direto ao ponto: no dia 13 de março, uma menina sueca de 6 meses foi batizada como Metallica. Como diz uma amiga minha: tirando o cartão de crédito de uns e outros, tudo nessa vida tem limite! Por mais que eu goste de Metallica, acho que daria um nome desse, no máximo, para uma cachorra ou gata. O casal, que vive no condado de Gotenborg, pôde batizar a filha, mas ainda não conseguiu convencer as autoridades do local a providenciar os documentos da criança. Representantes do governo alegam que a menina vai ser alvo de piadas e que não é bom que ela seja associada à banda. O pai acha que isso não passa de implicância porque as pessoas acharam o nome feio. Além disso, já existe outra Metallica na Suécia. E esses pais achando que foram criativos... Seja como for, não existem mais nomes normais hoje em dia?

Estou começando a proferir frases como “no meu tempo não era assim...”, e isso assusta. Mas realmente, no meu tempo Metallica e Creedence Clear Water eram apenas nomes de bandas de rock. Sou da geração de Vanessas, Rafaéis, Rodrigos, Andrés, Tatianas, Carolinas, Fernandas, Fabrícios. Nomes normais, simples e bonitos. Nomes com raízes, com significado, com origens latinas ou gregas. Nomes que não nos levam a perguntar “como é?”. Li a notícia desse batizado por acaso, passeando pela internet. Caí no Fórum da Rock Brigade e li outros exemplos de pais que judiaram dos filhos: No nordeste (e isso deu no Fantástico) um menino foi brindado com o nome de “Roléston”, em homenagem aos velhinhos Rolling Stones. Essa acho que muita gente sabe: o jogador Odivam tem esse nome por causa do pai, fã da música do Roberto Carlos, “O divã”. Na cidade de Ipitanga (BA) tinha um garçom chamado Óxito. A mamãezinha dele estava pensando em quê? Na capital dos Estados Unidos. Se lembram do jogador Capitão que passou pela Portuguesa e pelo São Paulo? Foi batizado de Oliúde. Já mataram a charada? Elementar: Hollywood! Certa vez, na faculdade conheci um Rock. E ele ainda teve que explicar: não é Roque, é Rock mesmo!

Além do mundo da música e entretenimento, temos os elementos da natureza. Quem já não viu um filho de hippie com nome de Orvalho, Cristal, Manhã? Eu já conversei com uma Raio de Luar. Romântico, mas nada prático. Houve um tempo em que os órgãos públicos desse país eram muito permissivos, o que acabou por originar uma onda de “Máicon” Jacksons, Lady Dis e Hitlers. Imaginem, Hitler! Para começo de conversa, isso nem nome é. Assumo que sou “das antigas” e não sei se lamento ou se fico aliviada por saber que não é só brasileiro que tem um dom especial para escolher certos nomes.

O curioso é que nessa mesma semana li o livro do jornalista Alberto Villas, “O mundo acabou!”. Uma ótima pedida para os saudosistas dos anos 50/60/70 e indicado para pessoas – como eu – que têm saudades de um tempo que não viveram. Em uma das passagens do livro, ele comenta: “Não nasce mais Valdir nesse mundo. O último Valdir de que tenho notícias nasceu há cinqüenta e poucos anos...”. Pelo menos eu sei que não lamento sozinha o sumiço dos nomes normais, inofensivos, discretos. E antes que me venham com aquele discurso clichê de que vivemos em uma democracia e as pessoas são livres para escolher os nomes de seus rebentos, peço que leiam, se possível, uma lista de chamada escolar ou um daqueles cadernos de votação (onde o eleitor tem que assinar antes de ir para a urna) e saberão do que estou falando. Ninguém é dono da verdade, nem todos gostam das mesmas coisas e o que pode ser bonito para mim, pode ser feio para você, mas convenhamos: Creedence, Roléston, Odivam? O que houve com Mário, César, Jorge? Soam como nomes de senhores. Mas pense: seu filho, um dia, vai ser um senhor.

No livro, o Alberto Villas ainda diz: “Existem nomes de uma pessoa só. Você conhece outro Fagner? E um segundo Djavan?”. Não sei de outro Djavan além daquele cantor que eu adoro, mas conheço outro Fagner sim – meu amigo da APEG – e acho um barato saber dessas raridades. Raridades que não deveriam ser. Tipo Vicente! Tirando a cidade do litoral, eu só conheço um Vicente (um amigo corintiano sofredor). Só conheço uma Lúcia, uma Lígia, uma Cinira, uma Isaura – minhas tias. Acho que do final dos anos 80 para cá houve uma invasão de “inglesinhas e francesinhas” nos cartórios.

Futuros pais ponham a mão na consciência e pensem que um nome traz toda uma carga de significados e pode até dizer muito sobre a personalidade de uma pessoa. A mãe da Metallica usou esse discurso para justificar sua escolha: disse que o nome era ideal porque a menina já era decidida e sabia o que queria. Bem, até onde sei, os integrantes do Metallica não foram 100% do tempo decididos e questionaram várias vezes se a banda deveria chegar ao fim ou não. Ainda bem que não chegou. Mas essa onda de homenagens exageradas pode estar com os dias contados.

Já que é para homenagear com música, então que peguemos exemplos de algumas do legionário Renato Russo: Clarisse, Andrea, Maurício. Aliás, faço minhas as palavras desse poeta: “Meu filho vai ter nome de santo. Quero o nome mais bonito...”.
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* “Como é que chama o nome disso?” é o título de um livro de Arnaldo Antunes
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Veridiana Sganzela Santos (sganzela@yahoo.com.br) é jornalista, palmeirense, torce por um mundo livre de nomes esdrúxulos e é membro da APEG (Associação de Poetas e Escritores de Garça).

2 comentários:

Anônimo disse...

POXA!!!
O que posso dizer disso tudo?
POXA mais uma vez!!!
Tenho o meu nome digamos "inglesinha",escolhido pela minha mãe, que ainda grávida assistindo um filme de época ouviu o rapaz chamar a mocinha de:MILEIDI,pois é ,não tenho o nome simples e normal,mas não culpo minha mãe ou os anos oitenta,só sei que esse nome agradou aos ouvidos de minha mãe,sei também que tem muitos nomes por aí que chega ser constrangedor para a pessoa,mas acredito eu que os os pais ao querer resgistrar, o cartório recuse sim esses absurdos!
Mas o que posso dizer?
Digo talvez que não sou Maria, mas sou Mileidi simplesmente!
Só to defendendo o meu nominho,hein...rsrsrs...beijos Veri!!!

Anônimo disse...

Hahahaah
Adorei o texto!
Vc já ouvi falar do Valdisnei?Pois é, nada mais que Walt Disney. Esse eu não me conformou até hoje. Tem também o Letisgo (paciente de uma prima), ou simplismente Let´s Go!


De tantas invenções na minha família como, por exemplo, o meu nomezinho, quero filhos Ana, Maria, Luiza, João, Pedro e assim vai!!

Mais bonito do que enfei(t)ar é ser simples e sincero!

Baci a te, Veri, mi è tantissimo piaciuto questo blog!