quinta-feira, 5 de julho de 2007

UMA LISTA DE IMORTAIS EM UM SITE À BEIRA DA MORTE

"Uma biblioteca digital é onde o passado encontra o presente e cria o futuro"
(Dr. Avil Pakir Abdul Kalam - Presidente da Índia - 09/09/03)

Em meio a tantas bobagens que se recebe por e-mail, um aviso, no mínimo interessante, chamou-me a atenção pelo apelo inicial: "Precisamos impedir um desastre", referindo-se a sobrevida de um site. Quando recebi pela primeira vez, ignorei por achar que se tratasse de mais um daqueles tantos vírus que não cansam de nos mandar. Só que recebi essa mesma mensagem outras vezes, e já que um vírus a mais ou a menos no meu computador não ia fazer diferença, entrei no link. Num primeiro momento parece exagero que a extinção de um site seja qualificada de desastre, mas, no entanto, a palavra cabe bem já que se refere a um apanhado importante de grandes obras da pintura, filosofia, literatura (inclusive a de cordel) e outras ciências dos campos de Humanas, Exatas e Biológicas (abrangendo teses e dissertações).

Trata-se do site www.dominiopublico.gov.br, criado pelo Ministério da Educação e que está correndo o risco de sair do ar por falta de acesso - o que seria um desperdício. São vários arquivos de texto, som, imagem e vídeo, destinados a consulta de alunos, professores, pesquisadores e, porque não, curiosos e adeptos da apreciação despretensiosa de quadros, fotografias (de cunho histórico e com os principais pontos do Brasil e do mundo), ou da leitura de poemas, contos, crônicas, teorias e discursos filosóficos. Diversos profissionais podem encontrar textos relacionados desde Arquitetura, Agronomia, Veterinária e Economia, até Direito, Sociologia, Teologia, Informática.

O desastre implica justamente na iminência de se perder a chance de agregar outros conhecimentos ou de enriquecer os estudos – isso sem falar em melhorar vocabulário, cultura, articulação, repertório, escrita e tantas outras vantagens que só a leitura proporciona e que a maioria faz questão de ignorar. Parte do desastre já acontece quando tantos alunos jogam fora seu tempo na internet repassando piadas, copiando arquivos "suspeitos", criando perfis esdrúxulos no orkut, criando comunidades sem serventia alguma e desaprendendo a Língua Portuguesa. Sabe-se que inúmeros alunos – e até aqueles que já saíram da escola – lêem muito menos do que deveriam e vários deles ainda reconhecem isso sem um pingo de vergonha na cara. Pensam que com o advento do computador, os livros ficaram obsoletos. Se pensam assim, o que é um equívoco, então que ao menos, usem o computador para pôr algo nessas mentes vazias e preguiçosas que acham que cabeça só serve para levar boné e decorar letras de funk. (Os leitores que me perdoem, mas tudo tem limite e eu já me enchi de ouvir dessa nova geração que livro é chato e ler é perda de tempo). Peço aos professores que divulguem e usem – na medida do possível – com seus alunos, esse site. São obras maravilhosas, consagradas e atemporais, que podem virar temas de debates, seminários e desenvolvimento de textos.

Saliento especialmente as áreas de arte, filosofia e literatura, onde a lista dos grandes imortais é vasta. São quadros de Da Vinci, Michelangelo, Botticelli, Van Gogh e Pissarro. Discursos importantes e passíveis de discussões de Rousseau, Diderot, Schopenhauer, Descartes, Bacon, Kant, Cícero, Voltaire, Platão, Nietzsche, Marx, Sêneca, Comte, Aristóteles, Engels. Confesso que essa é a minha segunda parte favorita do site, já que a primeira é a de Literatura, onde se destacam Mark Twain, Julio Verne, Artur Azevedo, José Alencar, Pero Vaz de Caminha, Charles Dickens, Aluísio de Azevedo, Alexandre Dumas, Honoré de Balzac, Machado de Assis, Camilo Castelo Branco, Bernardo Guimarães, Dante Alighieri, Edgar Allan Poe, Oscar Wilde, Frederico Garcia Lorca, Sófocles, Goethe, Euclides da Cunha, O. Henry, Esopo, Shakespeare, Francisco de Quevedo, Eça de Queirós, Victor Hugo, Olavo Bilac, Miguel de Cervantes, Florbela Espanca, Franz Kafka, Leo Tolstoy... E a lista não pára. São, só aí, 13.396 obras. São nomes que não me canso de conhecer, pesquisar e ler.

Desde que saí do colegial – e nisso já se vão dez anos – eu não tinha mais tido tanto contato com obras da literatura, já que na faculdade a maior parte dos livros era técnica. Voltei a redescobrir e me “reapaixonar” por Machado, Florbela, Lima Barreto, Eça, Drummond, Fernando Pessoa. Quase utopicamente gostaria que um dia algum cabeça de vento passasse pela experiência de conhecer esses imortais e que alguém lhes mostrasse que computador não foi feito para passar vírus, escrever mensagens sacanas, ver fotos indecentes, ofender-se mutuamente em comunidades, assistir a Cicarelli na praia e uma infinidades de baboseiras. No caso desse site que pede socorro, o computador pode funcionar como uma imensa prateleira de livros incríveis. Penso que não há nada que supere o livro de verdade em mãos, mas não custa nada colaborar para que tantas obras não passem despercebidas.
E todos esses artistas e pensadores estão à disposição gratuita para qualquer um baixar, salvar e curtir. Fica, portanto, o recado e o apelo (inclusive para os professores): gaste alguns minutos do seu dia entre essas obras e divulgue-as. É mais do que um favor aos mantenedores do site: é um favor a si mesmo.

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