sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

O diabo coxo



Aparentemente despretensiosa, levemente cômica e muito simpática, essa obra de Guevara, na verdade é uma caçoada à sociedade espanhola dos anos de 1600.

Assim como muitos, eu só tinha ouvido falar no Guevara guerrilheiro, aquele político cubano-argentino revolucionário de sonhos utópicos que depois de morto virou ícone pop do mundo capitalista. Mas foi fuçando na prateleira de uma livraria que eu encontrei o Guevara espanhol. Luis Vélez de Guevara, sevillano nascido em 1579, novelista e dramaturgo do auge do Barroco, autor de várias obras dramáticas e cômicas, que costurava temas históricos e heróicos com romances populares e tragédias amorosas.

Não sei ainda se o que mais me chamou a atenção foi o nome do livro ou do autor. O caso é que levei para a minha estante uma história ao mesmo tempo leve e impertinente. Mas uma impertinência que provoca a aponta o ridículo de uma sociedade. El diablo cojuelo foi o último feito de Guevara, em 1641, mas assim como todo clássico, segue bem atual. Aqui, o diabinho, libertado de uma redoma pelo estudante Cléofas, leva seu benfeitor por um passeio por várias cidades espanholas, mostrando-lhe o comportamento das pessoas, toda a falsidade reinante e a hipocrisia que delas aflora. Sentimentos pequenos que só servem para atrasar e estacionar o progresso daquela gente. Mais atual impossível. E a meu ver, ainda bem mais atual do que Ernesto, o Guevara que preferiu as armas às penas.

O diabo coxo
Autor: Guevara
Editora: Escala
Páginas: 90

22 de setembro de 2011 (Jornal Comarca de Garça - Cultura)

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