sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

O Livro de Ouro da Mitologia – Histórias de Deuses de Heróis - (A idade da fábula)




Na semana anterior, quando citei mestre Osho falando sobre as diferenças entre história e mitologia, acabei me prendendo em uma de suas passagens sobre a existência ou os “mitos” de Jesus, Mahavira, Krishna e Buda: “Foi esse o motivo do desentendimento entre Freud e seu discípulo Carl Gustav Jung (...) Freud é muito pragmático; Jung é muito mais poético. Jung confia enormemente na mitologia e não confia na história (...) Todas as mitologias do mundo estão mais próximas da verdade do que as suas chamadas histórias. Mas é a história que ensinamos a nossos filhos, e não a mitologia”.

Isso me levou imediatamente a uma outra obra belíssima, daquelas que não devem ser lidas apenas uma vez na vida, mas sempre, para mergulharmos e entendermos todos esses elementos da mitologia greco-romana que ainda estão muito presentes em nossa cultura e em nosso cotidiano, ainda que não percebamos.

É claro que a história, área que amo, tem seu inegável valor; tudo é história, a humanidade nada seria sem ela, mas como bem disse Osho, muitas vezes a história só se lembra dos momentos de dor, só se recorda daquilo que não deu certo, só cita os déspotas, os usurpadores, os algozes das sociedades ao passo que os mansos, a quietude, a prosperidade e a beleza ficam eclipsados pelo caos. A mitologia também nos mostra guerras, violência, crueldade, inveja, conflitos, mas traz à tona sentimentos sublimes como amizade, compaixão, contemplação, fidelidade, honra.

Expressões e conceitos que usamos comumente derivam da mitologia: toque de Midas, afrodisíaco, erótico, voto de Minerva, psique, narcisismo, cronológico, titânico, abrir a caixa de Pandora, ninfeta, trabalho hercúleo, bacanal, o pomo da discórdia, tendão de Aquiles, complexo de Electra. E muitos repetem essas palavras, até as usam de modo equivocado e nem desconfiam de sua origem, das belas histórias por trás delas.

O surgimento da mitologia se perde no tempo, sua autoria é desconhecida já que ela foi sendo transmitida oralmente para as gerações através dos séculos, mas o fascínio que ela causa é atemporal. Os romanos, com toda a sua cultura própria, herdada ou absorvida, se apaixonaram pelos mitos gregos e os adaptaram, dando nomes diferentes aos mesmos deuses, mantendo suas essências maravilhosas.

Thomas Bulfinch (Estados Unidos, 1796 – 1867) reuniu nesta obra 50 histórias encantadoras que misturam guerras, aventuras e paixões que, numa primeira análise, podem parecer absurdas ou fantasiosas demais – para as mentes deficitárias – mas que devem ser lidas e relidas por quem tem sede de conhecer o mundo, outros conceitos e uma cultura tão apaixonante quanto a greco-romana. Muito do que temos e somos (as partes boas a aproveitáveis) devemos a ela.

Se as religiões pagãs não sobreviveram ao tempo, ao menos as sagas de seus protagonistas dão mais beleza e profundidade às artes, como literatura e pintura (vide a capa do livro que reproduz um pedacinho da minha tela favorita, O nascimento de Vênus, do brilhante renascentista Sandro Boticcelli). O Livro de Ouro da Mitologia está longe de ser um dicionário ou um almanaque, embora as consultas possam ser feitas aleatoriamente. A meu ver é uma bíblia, nem tanto no sentido religioso, mas como leitura obrigatória e permanente para quem não se sacia facilmente com qualquer explicação sisuda sobre a origem do universo, dos continentes, dos fenômenos da natureza, das paixões e das desgraças humanas. E ainda que nada disso seja verídico, pelo menos despertam em nós a imaginação e a contemplação.

Bulfinch traz ainda monstros que caíram em nossas graças, como a Esfinge, Centauro, Quimera, Grifo, Pégaso, Salamandra, Harpia, Basilisco, Unicórnio e Fênix, além das divindades dos elementos e as sibilas. Utiliza poemas épicos para explicar alguns personagens, citando trechos de artistas influentes como Safo, Ovídio, Homero, Virgílio e Simônides. Cita divindades egípcias como Osíris e Ísis; lembra a mitologia oriental (hinduísmo e budismo) e os mitos nórdicos de Thor, Lóki, Odin, as valquírias e o palácio de Valhala, bem como a mitologia teutônica ou germânica, runas, elfos e druidas.
Toda essa grande colcha de retalhos é costurada com a mais bela filosofia e pura arte, sendo uma peça que não deve deixar a cabeceira dos estudiosos, curiosos e apaixonados.

O Livro de Ouro da Mitologia – Histórias de Deuses e Heróis (A idade da fábula)
Autor: Thomas Bulfinch
Coleção A obra-prima de cada autor – Edição ilustrada
Editora: Martin Claret
Páginas: 472

18 de agosto de 2011 (Jornal Comarca de Garça - Cultura)

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