quinta-feira, 1 de março de 2012

Antônio & Cleópatra


Uma rainha caprichosa, fogosa e dominadora e um líder respeitado e influente, mas apaixonado e que diante de sua amante, se porta como um cordeirinho. Intrigas, ambição, desencontros.

Ingredientes que caberiam muito bem em alguma comédia shakespiriana, famosas por seus amores atrapalhados, suas matronas cheias de personalidade e suas futriquinhas pelo poder. Mas neste caso, William tece um drama épico, um dos mais famosos não só da literatura, mas do mundo – já que aqui falamos de pessoas do mundo real, do militar romano e da soberana egípcia, de Marco Antônio e Cleópatra.

Antônio e Cleópatra até que tinham tudo para viverem felizes para sempre, mas como é de costume na história da humanidade, há um detalhe para estragar tudo: política. A peça de tragédia, dividida em 5 atos, foi escrita por volta de 1607, tem algumas passagens mais leves, alguns diálogos por vezes um pouco cansativos por conta do número (exagerado, eu diria) de personagens, mas de repente, a trama ganha impulso e como sempre acontece, William nos prende até a última página, costurando as intrigas políticas com fervorosas conversas apaixonadas.

O desfecho, como muitos devem saber, seria quase digno de um dramalhão mexicano, um final realmente dramático causado por informações desencontradas, meias-verdades e o desespero da rainha ao imaginar que perdeu seu amor para sempre.

Confesso que nunca fui muito afeita a histórias de amor, mas resolvi comprar o livro por dois motivos óbvios: é uma obra shakespiriana e envolve dois grandes vultos de nossa História. Tinha curiosidade em saber como William os havia retratado, e não me decepcionei. Alerto que Antônio & Cleópatra merece uma leitura muito atenciosa, pois em vários trechos temos a sensação de estarmos meio perdidos. Então, a quem for lê-la, recomendo que não faça como eu, que lia no metrô ou durante algumas aulas de matemática. Tive que ler novamente, com calma, pois a trama, embora pareça simples, tem vários detalhes importantes.

Imagino que há quem pense que Cleópatra era somente uma rainha fútil que passava os dias tomando banho em leite de cabra e dando ordens, sendo abanada com penas de pavão por seus criados só esperando Marco Antônio regressar de Roma para satisfazê-la e que, um dia, assim do nada, só porque ficou um pouquinho deprimida, resolveu se deixar picar por um cobra.

Muito pelo contrário; a vida de ambos, juntos ou separados, poderia render grandes obras, e Shakespeare provou isso. Contou, através da relação amorosa da famosa egípcia com o emblemático romano, a ambição de se estabelecer no Oriente um grandioso império, pois Cleópatra era naturalmente uma grande governante. Mas ela viu seus planos serem interrompidos pelos interesses políticos de Otávio Augusto que, em 43 d.C formava, ao lado de Marco Antônio e Emílio Lépidus, o segundo triunvirato do império romano. 

Para começar Marco Antônio era casado, mas ainda assim vivia no Egito com a amante, e como parecia estar definitivamente preso a ela deixando seu lado político a desejar, Otávio Augusto inventa que a esposa de Antônio, Fúlvia, havia morrido. Quando ele volta à Roma para checar a história, Otávio empurra sua irmã Otávia para casar-se com Marco Antônio, mantendo-o assim, mais atrelado ao governo. Sabendo que seu amado fora obrigado a casar-se, Cleópatra manda espalhar a notícia de que ela havia se matado.

O que ela não imaginava é que nessa tentativa, talvez, de fazer a consciência de Antônio pesar ou de simplesmente “fazer um charme”, Cleópatra causou a morte do amante, de verdade. Ainda muito apaixonado e agora muito triste, Marco Antônio comete suicídio. Em seguida quem se mata é Cleópatra, envenenada por uma víbora. Não sei se é impressão só minha, mas esse morre-não-morre me lembrou um pouco Romeu e Julieta. Mas entre os apaixonados de Verona e os amantes imperadores, sou muito mais Antônio e Cleópatra.



Morte de Cleópatra, por Guido Cagnacci, 1652

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